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Inverno Quente
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E-book347 páginas6 horas

Inverno Quente

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Sobre este e-book

O Natal nunca mais será o mesmo!


Tudo que Sebastian Cameron quer é colocar as mãos na casa que ele esperou metade de sua vida para herdar. Mas ele não poderia imaginar que enfrentaria um problema irritante chamado Barbara, que insiste em realizar uma festa de Natal na sua casa.


Bem, isso significa guerra.


Para Barbara Jameson, organizar o festival anual de Natal para o Refúgio para Crianças Ethan Ashford é uma forma de redenção. Quando um advogado infernal e avarento ameaça cancelar o evento, ela prepara um plano maluco.


Mas com tantos arranjos de natal sobre suas cabeças, os dois inimigos podem estar fadados a ter um destino muito diferente do que uma batalha.


Um romance encantador e atemporal da série bestseller EMOÇÕES que o fará acreditar no poder redentor do amor.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de dez. de 2021
ISBN6599483968
Inverno Quente

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    Inverno Quente - Cristiane Serruya

    Chapter 1

    Inglaterra, Londres


    Quinze dias antes do Natal


    Anotícia que Sebastian Cameron rezou metade de sua vida para receber chegou precisamente às seis e meia da manhã em uma quinta-feira normal, enquanto ele já estava correndo na esteira. 

    — Obrigado, doutor, agradeço todo o tempo que o senhor dedicou para deixar meu pai mais confortável nos seus dias finais. — Dez meses, uma semana, cinco dias e… Ele olhou para o relógio. E treze horas. Ele sabia disso porque estava contando o tempo, esperando que seu pai finalmente morresse após o último alarme falso. 

    — Sr. Coutts era mais do que meu paciente, Sr. Cameron. Ele era um grande amigo da comunidade e um grande homem — disse o médico.

    Claro, claro. Sebastian se desligou das palavras, pensando cinicamente na grande doação que seu pai havia feito para a clínica particular onde tinha ficado. 

    Assim que encerrou a ligação e decidiu que trinta minutos correndo esta manhã eram mais do que suficientes, Sebastian ligou para sua assistente. 

    — Bom dia, meu pai acabou de morrer e… — Sebastian fez uma pausa quando Sital Patel o interrompeu com as palavras habituais de condolências antes de continuar: — Por favor, providencie o mais simples dos enterros, o mais rápido possível. Cancele todas as minhas reuniões e marque a leitura do testamento para as oito e meia e… sim, em uma hora e… dez minutos. Não, Patel, não estarei presente no funeral — ele suspirou em voz alta, deixando sua assistente saber seu descontentamento com tantas perguntas. Ela deveria conhecê-lo melhor, já que trabalhava com Sebastian desde que ele se tornou sócio do Kingsley & Grimes, um dos escritórios de advocacia mais prestigiados da Grã-Bretanha, sete anos atrás. — Vou enviar-lhe o resto das instruções por mensagem de texto.

    Mais fácil dessa forma, além disso, ele evitaria quaisquer gestos desnecessários de conforto, palavras falsas sem sentido e também perguntas de sondagem desnecessárias.

    Sebastian sabia que as pessoas não apenas se distanciavam umas das outras; ele sabia que às vezes deixavam a distância se estabelecer.

    No caso dele, ele não apenas permitia que isso acontecesse, mas também encorajava. Sebastian saudava a distância entre ele e os outros, convidando-a de braços abertos. 

    As pessoas estavam muito enganadas sobre o que realmente era o amor. Porque na opinião de Sebastian, as pessoas se enganavam sobre o que o amor realmente era. Do amor puro nas relações familiares aos sentimentos nebulosos de flertes inocentes, borboletas esvoaçantes e o desejo de estar juntos o tempo todo, o amor era a coisa mais linda do mundo. Quando era real e correspondido.

    Quando não era, o que acontecia na maioria das vezes, o amor exigia sacrifício e dor.

    Era mais fácil manter as portas de seu coração bem fechadas com segurança, evitando que ele se machucasse ainda mais, e novamente.

    Ou então essa era a mentira que ele dizia a si mesmo todos os dias.

    Escócia


    Aprimeira coisa que Sebastian fez após a leitura do testamento foi alugar um jato particular para levá-lo às Terras Altas da Escócia. Um motorista que aguardava sua chegada o levou para visitar o túmulo de sua mãe. Em seguida, fez com que o motorista o levasse ao porto para se encontrar com seu meio-irmão mais velho, que também era seu melhor amigo – ou melhor, seu único amigo.

    Raymond MacPhee já o esperava ao leme de seu barco quando Sebastian chegou ao porto.

    Os dois homens sorriram um para o outro enquanto Sebastian embarcava. Raymond deixou o leme e abraçou o irmão contra o peito.

    Raymond recuou e fingiu choque por um segundo. — Eu não acredito!

    Sebastian ficou alarmado. — O quê? O que está errado?

    — Você continua tão feio quanto da última vez que te vi.

    Sorrindo, Sebastian respondeu: — Você ainda continua bonito, mas ainda tenho todo o cérebro.

    Além dos mesmos olhos verdes emoldurados por cílios exuberantes, herdados de sua mãe, eles eram opostos: Raymond era o típico escocês louro-avermelhado, onde o cabelo de Sebastian era preto-azulado; Raymond era magro, com corpo de nadador, onde os ombros e o peito de Sebastian se alargaram por anos de musculação.

    Ambos eram altos, mas Sebastian era ainda mais alto que os um metro e noventa e quatro de seu pai, enquanto Raymond tinha puxado o um metro e noventa da família de antigos invasores vikings do pai dele.

    Mas, acima de tudo, Raymond conseguiu de alguma forma manter uma aura de inocência que fazia Sebastian se sentir cansado e profano.

    Depois que se instalaram e estavam a caminho da ilha, Sebastian estudou seu irmão. O tempo tinha formado rugas nos cantos dos olhos verdes de Raymond, e seu cabelo louro-avermelhado estava salpicado de mechas grisalhas, apesar de ter apenas quarenta e quatro anos. 

    Eles viajaram em silêncio por um tempo até se aproximarem de Muck, quando Raymond desacelerou. Felizmente, o barco moderno que ele dera a Raymond como presente de casamento não demorou as mesmas duas horas e meia que levaria na balsa. 

    — Nunca envelhece, não é? — perguntou Raymond.

    — O quê?

    Raymond acendeu um cigarro e gesticulou para Muck, que era a menor das quatro principais pequenas ilhas escocesas, florescendo no horizonte com a Ilha de Skye atrás dela. — Esse visual.

    Ao contrário da emoção que sabia que Raymond sentia ao ver Muck, onde passou a maior parte de sua infância e adolescência, Sebastian sentia falta de ar. Quando finalmente conseguiu sair com uma bolsa de estudos na Cambridge Law School, ele nunca olhou para trás, exceto para visitas ocasionais a seu irmão. — Mesmo depois de todas as vezes que você a viu?

    — Ainda amo isso.

    Como alguém poderia amar um pequeno pedaço de terra chamado esterco? A única coisa que Sebastian queria fazer quando se tratava de Muck era sair dali.

    — Você pode sair daqui agora. — Embora a ilha tivesse mudado muito desde que ele partiu, décadas atrás, tornando-se um destino turístico e hospedando eventos esportivos tradicionais com um público internacional, ele já planejava inconscientemente sua fuga. — Saia um pouco pelo mundo.

    Raymond deu uma longa tragada no cigarro e jogou as cinzas cuidadosamente no cinzeiro. — Ir aonde? Fazer o quê?

    Sebastian suspirou. Era um tema antigo entre eles. Ele poderia contar a seu irmão um milhão de possibilidades diferentes, mas não o faria. Devia sua vida a Raymond e não iria criticar a maneira que o outro escolheu de viver.

    — Você poderia levar Madalena em uma lua de mel decente. Seria meu primeiro presente de aniversário para você. — Querendo compartilhar um pouco do que havia herdado com seu irmão e sua esposa, cutucou Raymond: — Eu meio que me sinto responsável por ela ter se casado com você, sabe?

    — Hmmm, agora isso é um pensamento interessante. — Raymond sorriu para ele enquanto manobrava o barco até Port Mòr. — A propósito, como está sua namorada? Marina, certo?

    — Minha ex-namorada. — Sebastian deu de ombros novamente quando pegou a corda que Raymond jogou para ele e a amarrou ao poste, prendendo firmemente o barco a bombordo, como fizera tantas vezes durante sua adolescência com o velho barco de Raymond. — Ficou velho.

    — O mesmo vale para um bom vinho, se você permitir — repreendeu Raymond.

    — Essas coisas vão te matar — disse Sebastian, acenando com a cabeça para o cigarro que Raymond apagou cuidadosamente no cinzeiro da lata de lixo da rua antes de jogá-lo dentro.

    — Não mais rápido do que trabalhar vinte horas por dia vai te matar — ele revidou.

    Touché. — Sebastian riu.

    Quando eles estavam na estrada para o outro lado da ilha, Raymond perguntou: — Quando você está planejando tirar uma folga para a licença médica?

    Sebastian bufou. — Um simples ataque de ansiedade…

    — Você estava suando e sem fôlego. Madalena pensou que você estava tendo um ataque cardíaco — Raymond o interrompeu.

    — Bobagem, Lena é apenas excessivamente protetora. Não houve necessidade de chamar um médico. Era apenas muito pouco sono, muito trabalho, muito estresse.

    — O Dr. McCoy ordenou que você tirasse um mês de folga.

    — Impossível. — Sebastian acenou para Ewen MacEwen – cuja família era dona de quase toda Muck por mais de cem anos – quando passaram por ele pastoreando ovelhas em sua bicicleta, mas sem fazer nenhum movimento para parar e conversar. Ele queria terminar esta visita e sair da ilha o mais rápido possível.

    — Madalena pode obrigar você a fazer isso se eu disser que está pensando em não seguir as ordens do médico.

    — Você não ousaria. — Sebastian lançou-lhe uma carranca ameaçadora porque sabia que Madalena o acorrentaria a uma cama e provavelmente a uma ali em Muck, o que o mataria. 

    Raymond riu. — O que isso vale para você?

    — Você não acha que precisa de um carro? Que tal um Range Rover? — perguntou Sebastian, e não estava brincando.

    Raymond apenas riu e passou o resto do caminho até a casa dos MacPhees contando a Sebastian notícias sociais da enorme sociedade de Muck, sobre as mesmas cerca de quarenta pessoas que ele conhecera durante toda a vida, exceto sua professora primária, Srta. Matilda, que morrera no mês passado, mais dois – ou foram três? – bebês que ele não conhecia.

    Sebastian ouviu educadamente, mas sem interesse. As únicas duas pessoas na ilha com quem se importava eram seu irmão e a esposa de seu irmão. Nesse aspecto, Raymond tinha algumas novidades. Madalena abrira recentemente uma pousada e se dedicava a maior parte do tempo a isso. Mas o turismo ainda engatinhava nas ilhas vizinhas e dependia de muitos fatores, uma tendência ainda não totalmente saudável, e Sebastian se preocupava com eles.

    Pela porta dos fundos aberta, Sebastian pôde ver que Madalena estava na cozinha, provavelmente dando os retoques finais em um cullen skink, uma sopa farta de haddock defumado, batata e cebola. Era seu prato favorito de todos os tempos.

    — Lena, chegamos — chamou Raymond. Quando ela se virou, Sebastian foi atingido pelo mesmo sentimento agridoce que sempre o enchia quando estava em sua presença.

    Ela estava linda, como sempre. Seu cabelo loiro-dourado em um rabo de cavalo deixava seu rosto nu para o olhar dele. Ela sorriu para eles com seus olhos castanhos tão abertos, tão confiantes e iluminados de felicidade.

    — Oi!

    Ela pulou nos braços abertos de Raymond, dando-lhe um beijo e então se moveu para abraçar Sebastian. — Muito tempo sem te ver, seu traidor.

    Ela parecia tão pequena em seus braços, seu corpo ágil e magro, e embora ela fosse dois anos mais velha que os trinta e sete anos dele e vivesse aqui no meio do nada, ela parecia uma boneca de porcelana perfeita.

    No entanto, ele não podia querer nada disso: não aquele corpo incrível, não aquela mente linda, muito menos, seu coração gentil.

    Ele não conseguia descrever o golpe que levou no cérebro quando conheceu Madalena na Faculdade de Direito de Cambridge, onde ela deu uma aula sobre questões ambientais. Quando ele a levou para visitar Muck, soube que não tinha chance. Porque se ele levou um golpe, Raymond levou uma bola de demolição no coração. Com Sebastian, Madalena caíra no interesse mútuo à primeira vista, mas com Raymond era o clichê clássico do amor à primeira vista.

    Sebastian preferia morrer com o coração murchando que machucar as únicas pessoas que amava no mundo.

    — Tenho estado ocupado. — Sebastian sorriu, fingindo felicidade. Nunca iria mostrar a ela – ou a seu meio-irmão – o quanto lhe custava vir a casa deles. — Então, o que há para o almoço?

    — Não é cullen skink — respondeu ela, piscando para ele.

    — Ela nunca faz isso para mim. — Raymond deu-lhe um tapa nas costas. — Você deve voltar em breve.

    Sebastian sorriu para eles, mas já inventava motivos para não voltar para Muck.

    — O brigado pelo almoço, Lena. Delicioso, como sempre — disse Sebastian enquanto se levantava, pronto para acabar com a tortura de assistir os pombinhos sorrindo um para o outro. — A propósito, vou me mudar para a Casa Coutts amanhã de manhã.

    — O quê? — A forma como Madalena alongou as palavras disse a Sebastian o quão chocada ela estava com a decisão dele. — Por que não vender e comprar algo novo? Começar de novo?

    — Porque eu preciso. — Com os olhares curiosos, ele suspirou. Ele mesmo não sabia até a leitura do testamento. — Outra das… travessuras do meu querido pai. Ele colocou uma cláusula no testamento dizendo que eu tenho que começar a morar na casa imediatamente, e ficar por pelo menos um ano, e preciso repassá-la aos meus filhos. Ou então eu perco tudo.

    Madalena fez uma careta, mas não disse mais nada ao se despedir, abraçando-o mais forte do que normalmente fazia. — Não demore tanto para voltar.

    — Não vou — prometeu a ela, sentindo-se mal por estar mentindo.

    Assim que saíram de casa e voltaram para o porto, Raymond acendeu um cigarro. — A casa não foi emprestada a alguma fundação de caridade ou outra?

    — Verdade. — Ele balançou sua cabeça. — Apenas o prédio da garagem.

    — Mas Sebastian, você e seus modos grosseiros não arruinariam o Natal deles? No momento em que eles começarem a cantar e você começar a exigir silêncio? Você sabe como você é… a morte da festa nesta época do ano.

    Ele não conseguia desviar o olhar do irmão, tão penetrante como só poderia ser alguém que sobreviveu aos contornos de seus defeitos. — Não tinha pensado muito nisso.

    — Claro, você não pensou. — Raymond jogou esta flecha com naturalidade. 

    Sebastian se encolheu. — Jesus, Ray.

    Metade das vezes desejava que Raymond e Madalena fossem morar com ele. Menos em momentos como este, quando queria apenas afastar o irmão. Gostaria de poder esquecer o peso que tinha sido para seu irmão e sua mãe. 

    — Muitas vezes você não pensa nos outros — acrescentou Raymond. 

    — Eu sempre penso nos outros. — A crítica doeu. Mesmo que seu irmão tenha afirmado isso quase suavemente. — É por causa de você e de Lena que eu…

    — Estamos felizes aqui, Bastian. Não precisamos disso. — Raymond simplesmente balançou a cabeça. — Você não precisa disso.

    — De quê?

    — Morar em uma casa que você odeia; herdar o dinheiro, as empresas de Coutts, tudo o que ele deixou para você; nada que ele te dê vai te fazer diferente, te fazer feliz — Raymond suspirou. — Estamos felizes aqui… Você também poderia ser. Você não precisa dessa… vingança.

    Aí estava o problema de Sebastian. Ele precisava disso. 

    Precisava de cada cômodo daquela casa para compensar o que Coutts fizera à sua mãe. Precisava de uma refeição completa de quatro pratos para cada jantar suprimido a que assistira de fora de uma janela da Casa Coutts; por aquele ano de sua infância que seu pai o fizera passar na privação.

    Esperara muitos anos por isso. — Eu preciso disso. Achei que você, acima de qualquer outra pessoa, entenderia isso.

    — Acredite em mim, eu quero entender. — Então Raymond acrescentou: — Mas às vezes me pergunto se você aprendeu a lição mais profunda, porque ainda pisca, quase como ele, deixando pequenos redemoinhos de destruição em seu rastro enquanto tenta tapar o buraco em seu peito.

    Porra. Se a culpa não era ruim o suficiente, ter seu irmão apontando suas falhas era chocante. — Bem, não é como se aquele velho demônio facilitasse minha vida.

    Mesmo que mais de vinte e cinco anos tivessem se passado, Sebastian ainda podia se lembrar claramente do dia em que Raymond casualmente sugeriu que talvez Coutts poderia ajudá-lo financeiramente, já que Sebastian não morava com seu pai – se Sebastian estivesse disposto a ir e pedir a ele. No dia seguinte, Sebastian partiu para Londres, sozinho, determinado a sacudir algum dinheiro dos bolsos apertados de seu pai para mandar de volta para sua mãe e Raymond em Muck. 

    Ele conseguiu algum dinheiro, mas isso lhe valeu sua lição mais cara. Apesar de seus melhores esforços para ajudar a melhorar as coisas com algum dinheiro extra, alguns meses depois sua mãe havia morrido. Por ela, teria feito tudo de novo.

    Também nunca seria capaz de esquecer o horror no rosto de Raymond meses depois, quando seu irmão foi a Londres e descobriu Sebastian, pálido e magro, com olhos verdes assombrados que falavam de tragédias indizíveis que sua boca nunca abriu para contar, vivendo na mesma rua, fora da mesma casa para a qual estava se mudando amanhã.

    Nada que ele fizesse poderia reparar o que havia acontecido com ele – com eles – por causa da miséria de seu pai. Eles nem mesmo falavam daqueles meses.

    — Muito bem — disse ele rigidamente enquanto recolhia as amarras e pulava para dentro do barco de Raymond. — Você tem razão. Eu falhei com a mãe. Eu falhei com você…

    Um olhar perplexo cruzou o rosto de Raymond quando ele ligou o motor do barco. — Por que é que estamos falando de mim?

    A viagem de volta ao continente foi mais rápida que a viagem a Muck, graças às correntes marítimas.

    O aperto em torno de seu peito afrouxou e Sebastian respirou mais fundo quando Raymond parou em Mallaig. 

    Ele sentiu a mão do irmão em seu ombro. — Você está bem?

    Não, ele não estava. A culpa era tão pesada em seu coração quanto o peso do mundo, mesmo naquele momento, tornando a respiração difícil, mas quando ele se levantou, sorriu para Raymond. — Estou.

    Talvez ele realmente precisasse de um tempo de folga.

    Chapter 2

    Inglaterra, Londres


    Quatorze dias antes do Natal


    Alguns poderiam dizer que Bárbara Jameson era tendenciosa, mas ela acreditava que ninguém poderia dar uma festa de Natal melhor do que Sophia MacCraig, sua amiga e chefe da Fundação Sophia Leibowitz para Mulheres e Crianças. Só que Sophia estava no Brasil naquele momento e sem planos de voltar para o Natal, e Bárbara estava na Inglaterra sem planos de ir para o Brasil.

    Bárbara não se sentia suficiente capaz para o trabalho, sabendo que não poderia planejar uma festa tão bem quanto Sophia. Para piorar as coisas, recentemente o Natal a fazia se sentir excessivamente triste e solitária. Se pudesse, passaria a noite encolhida em um velho pijama de flanela, lendo um livro e fingindo que era uma noite normal como qualquer outra do ano. Isso a fez duvidar ainda mais de si mesma, mas havia prometido a Sophia que ofereceria não apenas uma festa de Natal, mas uma celebração especial para aqueles que viviam e trabalhavam no Refúgio para Crianças Ethan Ashford, onde ela era diretora e benfeitora.

    Ela fechou os portões do Refúgio e antes de entrar no caminho do jardim, acendeu as inúmeras luzinhas de fada que iluminavam coroas de flores, azevinhos e ornamentos de todos os tamanhos e descrições que decoravam as árvores do enorme jardim.

    Então cruzou para a ampla mansão branca, os flocos de neve caindo lentamente ao seu redor enquanto admirava a casa irradiando calor no crepúsculo cinza-escuro com milhares de pequenas luzes brilhando em meio às guirlandas verdes exuberantes envoltas em fitas vermelhas que adornavam as balaustradas cobertas por neve falsa e geada. 

    Não importava para onde ela se virava para olhar, a mansão simplesmente brilhava. Trabalhar ali a deixava ainda mais consciente de quem e o que havia perdido por sua inabilidade e ganância. Porque mesmo que sua vida tenha mudado para melhor desde que Ethan Ashford morreu e a deixou uma mulher muito, muito rica, seu coração ainda estava partido. 

    Ela balançou a cabeça para afastar a tristeza e se concentrou no que fazer antes do início do festival de Natal na quarta-feira, o que era muito, especialmente considerando que já era sábado à tarde.

    Desde o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, os professores, as crianças e todos os funcionários estavam praticando para uma reconstituição de A Christmas Carol, de Dickens.

    Ela havia conversado com Sophia sobre a expansão do Refúgio para receber mais crianças, com o que Sophia concordou imediatamente, mas isso significaria que precisariam de outra casa. 

    Que casa seria melhor do que a Casa Coutts, que era separada do Refúgio por uma mera cerca da altura da cintura e cujo dono era um senhorzinho querido, que também contribuía para a festa de Natal? 

    Este ano, sua chefe louca chamara convidados ainda mais importantes e poderosos para assistir à apresentação.

    Bem, convidado não era o termo apropriado, já que ela vendeu os convites por mil libras cada. Além disso, Sophia tinha lhe deixado a incumbência de fazer os convidados VIP abrirem suas carteiras e bolsas e doar dinheiro antes e depois da peça, enquanto eram servidos coquetéis na casa principal.

    O plano era reunir dinheiro suficiente para que pudessem comprar a enorme e velha mansão de Coutt e a garagem muito grande – mais um celeiro, já que outrora abrigara 24 carros antigos e muito caros. Se não esta casa, então alguma casa perto do Refúgio.

    Quando Bárbara empurrou a porta do Refúgio, ela quase esbarrou em Esperanza Leighton, uma das mulheres vítimas de abuso que havia sido ajudada pela fundação de Leibowitz e agora trabalhava lá.

    Bárbara se desculpou imediatamente. — Eu sinto muito. Quase te derrubei. Você estava indo embora, Esperanza?

    — Não, senhora. Eu ia pendurar esta coroa do lado de fora da porta — disse a moça, levantando uma coroa em uma das mãos e um martelo e um prego na outra.

    — A porta é toda sua — disse Bárbara, dando um passo para o lado. Ela então tirou o chapéu, o sobretudo e o cachecol e colocou tudo no guarda-volumes perto da porta.

    — Eu perdi o ensaio? — perguntou Bárbara, ao notar que a casa estava muito quieta.

    — Não. Na verdade, ainda não começamos — respondeu Esperanza.

    Antes que Bárbara pudesse perguntar porquê, ela abriu a porta do auditório improvisado, onde todos pareciam estar reunidos.

    Lewis Nelson, o professor de arte, segurava sua bengala como um colete salva-vidas. As professoras gêmeas, Lily e Rose Walters, estavam de mãos dadas, e o professor de música, Manoel Jones, que sempre parecia à vontade, agora estava tudo menos isso. 

    As crianças, normalmente barulhentas e bagunceiras, estavam sentadas lado a lado em silêncio. Rachel, a garota mais corajosa que Bárbara já conhecera, estava trançando e desfiando seus longos cabelos ruivos.

    Professores e crianças estavam preocupados. 

    Bárbara não tinha ideia do que havia transformado aquele grupo ordinariamente alegre e turbulento na massa taciturna em que se tornaram. Preocupava-a especialmente que Manoel estivesse igualmente afetado tão adversamente quanto todos os outros. 

    Ela precisava falar com ele e descobrir o que havia acontecido. Com o tempo perfeito, ele estava indo direto para ela agora.

    — Você ama isso aqui, não é? — perguntou Manoel, sem prelúdio ou contexto. — E você realmente ama o que fazemos aqui na época do Natal, não é?

    — Mais do que nada. — Ela não precisava pensar nisso por mais de um segundo. Desde a morte de Ethan, toda a sua vida girava em torno do Refúgio. Sabia que para as crianças que moravam ali, o Natal era a melhor época do ano. Não pelos presentes ou pela comida, embora isso certamente fizesse parte, mas pela esperança que

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