O Bailarino
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O Bailarino - Luciano Araujo
Parte 1
Quem Sou...
— Hum!!! Duas vezes quatro é oito! Coloca aí, logo!
— Olha na questão três a resposta é cinco, tá bom?!
— Mas, como assim, cinco? Ah, depois eu explico. Só coloca aí, está acabando o tempo.
— Girdo, para de conversar ou vou tirar sua prova! Gritou a professora.
Já não era a primeira vez que Dona Gertrudes lhe chamava a atenção por conversar na hora da prova. Em reunião na sala dos professores, ela ficou sabendo que ele falava sozinho também no recreio.
Um menino de cabelos fios de ouro, não muito comprido e nem bem penteado, não aparentava ser uma criança feliz, mas também não parecia triste, parecia normal. Usava e gostava muito de usar, porque usava sempre, uma camisa de manga curta e sem gola, listrada na vertical de vermelho e branco com um desenho amarelo no meio, que ficava entre o peito e a barriga.
Como toda criança, gostava muito de brincar e conversar. Conversava bastante, falava de coisas bem engraçadas às vezes e parecia saber de tudo e de todas as coisas, até das matérias das provas. Gostava de falar sobre as matérias e quais eram as questões certas até que era surpreendido aos berros por Dona Gertrudes.
Aquela escola era muito divertida, sim! Depois de ter passado pela Castinauta, onde um tal de ‘Péxoto’ corria atrás da gente todos os dias e, se pegasse, batia, tudo parecia ser melhor. Quando corria atrás de nós, muitas vezes a gente caia naquelas valetas de cimento feitas para escoar água da chuva e fazia um galo na testa... daí o ‘Péxoto’ sumia e alguns ficavam dando risadas enquanto a gente ia pra cozinha mostrar para as merendeiras.
As merendeiras cuidavam da gente, do galo na testa e davam até um remedinho para passar a dor. Era bem gostoso o remédio, lembrava água com açúcar, mas era bom pra daná e as dores passavam logo. Éramos muito amigo das merendeiras! Elas eram as melhores pessoas da escola, sempre enchiam o nosso prato e até guardavam um pouco de merenda extra pra gente e, às vezes, dava até um saquinho de merenda em pó pra levar pra casa daí era só colocar água e deixar ferver, ficava uma delícia.
Nossa! Nós adorávamos aquele leite em pó vermelho, enchia o copo e depois colocava um pouquinho só de água, virava um doce de morango. É, era leite de morango, uma delícia! Também tinha a canjica e uns caldos de feijão, mas preferíamos o leite de morango.
— Olha mãe, não tem jeito! Você vai ter que conversar com ele e ver o que está acontecendo.
Não podíamos ouvir o que a Dona Gertrudes estava falando, mas a mãe só concordava e disse que ia procurar um meio de resolver a questão.
Aquele dia na Rua Quinze...
Água encanada? Só na escola, em casa não tinha. Na maioria das vezes a roupa e a louça eram lavadas com a água que passava no córrego no fundo da nossa casa, que era de madeira, não tinha piso, era chão mesmo! Mas aqui era bom, na outra, lá da favela dos Amarais, o chão era mole e o pé afundava no barro preto — pé da gente e os pés da cama também.
A água a gente pegava num poço que havia no meio do quintal, não do nosso quintal porque não tínhamos quintal. Era um quintal que todo mundo usava, tinham várias casas