Tudo, sem exceção, me incita a escrever se a rima permite e a verve admite: Delírios retóricos em meio a uma poética quarentena
De Kaju Filho
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Sobre este e-book
Para o autor, escrever, até mais do que uma paixão, é um vício do qual não consegue – e não quer – abrir mão. Um incidente do dia a dia, um fato no noticiário, a situação do país, um amor perdido, uma palavra ao acaso, tornam-se ponto de partida para seus versos que, ágeis e certeiros, com um toque de ironia, trazem ocultos reflexões sobre a vida e sobre nós mesmos.
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Tudo, sem exceção, me incita a escrever se a rima permite e a verve admite - Kaju Filho
Apresentação
Apresentar é o ato de colocar-se diante ou na presença de; expor-se à vista de; mostrar-se. Exatamente o que encontraremos nessas laudas. O autor desvela a vida em sua própria pluralidade, mostrando-se em fragmentos de amor.
Percebe-se com clareza, em mais esse livro, uma força vital, um vigor, uma energia que transborda em entusiasmo, traduzido em ações poéticas, contagiantes, essenciais e indispensáveis em momentos atuais, na construção de um constante caminhar, que busca a superação dessa fase pandêmica, afastando as brumas densas da ilusão. Traduz em verdades as experiências de uma vida plena e singular, repleta de poesias, amores, dores, sonhos e artes.
E porque existe apenas um de nós, apenas um Kaju Filho, em toda a eternidade, uma expressão única fugaz e efêmera. Convido o leitor para conhecer um pouco da vida desse ser humano único, essencial nos dias atuais e apaixonante em sua essência, verdade e singular escrita.
Mergulhe de cabeça nessa trajetória poética, deixe seu coração transbordar de amor e a mente viajar nas palavras escritas com cuidado e beleza, uma verdadeira ode à vida e à superação.
É chegada a hora de retirar o véu que esconde nossas origens, chegou a hora de nos reconectarmos. Assim, imbuídos dessa verve
, desse entusiasmo na criação do poeta, desejo a todos uma excelente e apaixonante leitura.
Cyro Novello
Para minha paciente esposa:
Sueli de Souza Alves
Dé
Você é o esteio, remanso dos meus desvarios,
repouso dos meus receios e de desalinhos vários.
Tem atitudes comedidas nos mais ácidos momentos
e um unguento na medida para curar meus ferimentos.
Tem a mente aberta, paciência que não míngua
e as palavras certas na ponta da língua.
Não é de fazer comícios, mas não cala a censura,
para não guardar resquícios que lhes tragam amarguras.
Com calma e serenidade encara e supera os desafios
revelando frígida amenidade, algo de causar calafrios.
Enverga, mas não quebra ante os ventos de desdouro
e, dura na queda, requebra para não entregar o ouro.
Às vezes, num impulso, faz-se ranzinza e desafina,
porém não perde o pulso e, logo, se faz maestrina.
Assume a batuta e orquestra a vida com excelência
regendo de forma astuta a sinfonia da existência.
Rendo-me a sua essência e reverencio suas atitudes,
não somente na eloquência que ora minha verve alude.
Sei: o para sempre não existe, somos finitos neste tempo,
mas isto não me deixa triste, somos criaturas dos tempos.
O autor, as palavras, a rima e a obra
Em tudo que vivencio, busco pretextos
pois o ato de escrever tornou-se um vício
e, se por algum motivo não elaboro um texto,
a abstinência me causa tremendo suplício.
Daí, diante da observância de um fato,
estaco e, de imediato, me ponho a matutar:
"como dar ao episódio um trato literato
relatando-o com denodo e de forma salutar?"
Mas preocupam-me, no estilo, as formas
que darei à abordagem e à redação
para realçar: a significância do que se informa
e a fidedignidade da sua transcrição.
Na minha escrita o teor do que se enfoca
sempre estará afeito à ação do lirismo,
sem admitir a intromissão da fofoca
e, nem mesmo entrelinhas, do dedurismo.
Transpiro para que a versão do fato exprima,
com som e imagem, o que é da minha lavra
incitado por um ardor obstinado pela rima
e uma excessiva dedicação ao culto das palavras.
Paixões que tornam meus escritos um tanto difusos
graças aos exageros na busca da relevância.
É um recurso literário do qual uso e abuso,
porém, leitor, conto com sua inconteste tolerância.
Se, literariamente, a redundância é um pecado,
não vou me esvair em pedidos de desculpas.
O que me importa é que está dado o recado
sem possíveis penitências, pois não há culpas.
Escrever me proporciona momentos felizes,
e todos sabemos o quão exígua é a felicidade,
cuja entusiástica manifestação não finca raízes
e, às vezes, cessa logo após a efetividade.
Por isso, em cada texto que escrevo,
procuro fazer perene o momento fugaz
da jornada poética em que me atrevo
enveredar na saga de um imortal loquaz.
E, assim, mais feliz do que pinto no lixo,
empunho e ergo a caneta, o meu espadim,
sem o menor temor de me redundar prolixo,
mas com receio de tornar-me um impudente mastim.
Mesmo sob a ótica de um horizonte estreito,
desde muito cedo, entre discussões dialéticas,
e mesmo hoje, sem conciliar seus conceitos,
ainda debato a relação entre a moral e a ética.
E continuo influenciado por inconsistentes palpites
e sem o estável conforto de um apoio racional.
Talvez por estes motivos, eu ainda acredite
ser a moral algo de caráter mais pessoal.
Seguir a minha intuição não me faz antiético
frente aos gritantes ditames do meu coração,
embora, às vezes, eles me soem patéticos
e provoquem um revés entre a razão e a emoção.
São pensamentos que circulam à minha volta
e repercutem, em ondas,