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Coletânea: Crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais
Coletânea: Crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais
Coletânea: Crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais
E-book146 páginas1 hora

Coletânea: Crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais

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Sobre este e-book

O que sentem, pensam e fantasiam os maiores de 50, 60, 70, 80, 90 e mais, diante da tela em branco.
"Precisamos de uma tela em branco", decidiu o psicanalista e dramaturgo Sergio Zlotnic, em um encontro de amigos. Nascia ali o Clube dos Escritores 50 +, um espaço livre e aberto para acolher a imaginação dos escritores maiores de 50.
E o resultado dessas experiências é uma coletânea de contos, crônicas, poemas, produzidos por uma coletânea de velhos incríveis, todos originalmente publicados na web e nas redes.
No livro, você acompanha o desafortunado Nelson dos Santos, de Sylvia Loeb, que queria mudar de nome e de vida, encontra com a velha no vento de Adília Belotti, os amantes enlouquecidos de Esther Soares, a mulher na casa vazia onde costumava viver com o marido, de Bettina Lenci; se delicia com a história de amor de Luiz Gerevini, as avós e as memórias de Eliane Accioly e Sandra Silvério; mergulha na mulher-água de Paulo Akira, descobre Marion, de Leo Forte, nua, na cama, coberta com a manta vermelha; voa nas asas construídas por Carlos de Castro, passeia na vida como ela é de Clemari Marques, dá uma trombada na moça da esquina e tem pena do ateu convicto de Eder Quintão, que se apaixona por uma sereia; empresta as memórias da moça às vésperas de casar de Lourdes Gutierres, se espanta com a vagina descolada de Liliana Wahba, as mulheres de Ló e a tartaruga no varal de Sergio Zlotnic, e repensa a história de Chapeuzinho Vermelho a convite de Luciano de Castro.
Só não vai achar nada água com açúcar que esses velhos não são disso.
ADVERTÊNCIA: as histórias do livro Coletânea: crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais, não são para crianças.
IdiomaPortuguês
Editorae-galáxia
Data de lançamento17 de jan. de 2022
ISBN9786587639802
Coletânea: Crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais

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    Coletânea - Eliane Accioly

    Adília Belotti, Bettina Lenci, Carlos de Castro, Clemari Marques, Eder Quintão, Eliane Accioly, Esther Soares, Leo Forte, Liliana Wahba, Lourdes Gutierres, Luiz Gerevini, Luciano Alberto de Castro, Paulo Akira, Sandra Silvério, Sergio Zlotnic, Sylvia Loeb

    COLETÂNEA

    Crônicas, contos, poemas e experiências multimídia dos autores do Clube dos Escritores 50mais

    Sumário

    Esther Soares

    Eliane Accioly

    Paulo Akira

    Leo Forte

    Adília Belotti

    Carlos de Castro

    Bettina Lenci

    Sylvia Loeb

    Clemari Marques

    Eder Quintão

    Luciano Alberto de Castro

    Lourdes Gutierres

    Sandra Silvério

    Liliana Wahba

    Sergio Zlotnic

    Luiz Gerevini

    Para Áurea Rampazzo, que nos reuniu

    Esther Soares

    Professora de escrita criativa e escritora com vários títulos publicados, como: A Arte de Escrever Histórias, Editora Manole, 2010; Era uma Vez um Gato Xadrez, Escrituras Editora, literatura infantil em 3ª edição; A Mesa, Arranjo e Etiqueta, Editora Manole, 9ª edição, 2010; Marketing Pessoal, Sua Importância para o Desenvolvimento Profissional, in Manual do Secretariado Executivo, D’Livros Editora; Nós, o Gato e Outras Histórias, coautora, Miró Editorial, contos, 2012; Inventário das Sobras, Escrituras Editora, contos, 2015; Está na Mesa, CD, edição da autora, 2014; Aconteceu no Vale do Paraíba, coautora, contos; Disco de Cartolina, Editora Pólen, poemas, 2016; Cento e Oitenta Graus, org. coautora, Editora Pandorga. Esther faleceu em maio de 2021, mas, em sua poesia, em cada palavra, permanece em nossa memória. A escrita nos joga para além da vida.

    Lá longe

    Depois que você viajou, decidi também me afastar um pouco da casa. Escalo a montanha íngreme como as cabras montanhesas que vimos nas escarpas gregas. A cada passo, paro, respiro e me pergunto por quê?.

    Aqui no alto tento acomodar carnes e tristezas na dureza deste trono de pedra só meu, trago minhas agulhas e agruras, as linhas e os pensamentos, as lembranças doces e as amarguras destes anos de um amor tão mal vivido. Tudo misturado, mais uma vez se propondo a uma definitiva tomada de decisão.

    Vejo o mar lá longe, ele me saúda com o estrondo das ondas que se espatifam nos rochedos, único som suportável – e estimulante: muitas vezes os sons do tempo incomodam meus desejos de silêncio. Que cor tem o vento?

    Que cor tem o som do vento? Roxo? Ele rastela as nuvens, o mar, o sol, mistura as tintas em tons de lilás. Lilás, a cor da saudade, das ausências, a cor do que vive na memória sem nunca ter sido.

    Naquele dia em que você me olhou, lembra? – decidi que a gente ia ficar junto. Escolhi o meu sorvete de mel porque seu jeito doce de me olhar abriu um túnel dentro do meu peito, derreteu até minhas entranhas. Agora vejo roxo, lilás, a cor do que vive na memória sem nunca ter sido

    O pio distante de uma ave corta minha necessidade de solidão. Solidão para pensar em você. Pensar em nós, me permitir a aceitação de sua partida mais uma vez inesperada e inexplicável, nunca a última, a angústia das expectativas, Penélope retomando agulhas, tecendo ausências. Até quando, até quando, Penélope?

    De novo o pio, agora sobre a minha cabeça. É uma águia! Uma águia voejando em círculos, escolha feita, preparando o ataque? Onde a presa, a presa escolhida presa ao ninho à mercê da dominadora? A presa, eu, chocando ovos, tecendo fios de espera, sempre à mercê de cada partida sua?

    A águia poderosa mais uma vez dispara seu grito, me acorda de fantasias, dá voltas no azul, me olha de soslaio, suponho, eu, presa também, sempre à espera de entregar meu fígado fatiado para sua festa de retorno.

    Acompanho por horas o seu voo incansável, às vezes perco-a de vista, mas ela – ou será ele, macho dominador? –, como você, sempre retorna, parece que berra quando me reconhece disponível, refestelada em meu trono de rainha desta pedreira imutável de que me apossei orgulhosamente há tantos anos.

    Doce engano! Toneladas de rocha negra se propondo, prisão sem grades, cérebro, coração, emoções, tudo emaranhado por suas doces palavras de despedidas e cheganças.

    Mais uma vez acompanho o voo da águia, acordo a poeta, volto a buscar a poderosa: não a vejo, saiu da minha tela. Banhou-se de sangue ou de sol maduro? Não sei.

    Sei de mim, agora com certeza, me encontro com o que ainda sou de mim, jogo agulhas, memórias e dores morro abaixo. E começo a descida.

    Cautelosa e determinada, começo a descida.

    Anoitece. Chego à praia e retomo a caminhada. Sei para onde vou.

    O vento escaneia o oco do meu cérebro, meu cérebro agora lavado, oco. Sou. Agora sei que sou. Caminho em direção ao mar. Tarde fria. A água gelada começa a lamber minhas pernas exaustas de sedentarismo inútil. É muito bom, isso…

    Os filhos da mãe galinha ciscam minhocas no jardim

    Enquanto esperam o dia do corte

    Os filhos da mãe águia deslizam oníricos no céu azul

    E se embebedam de sol maduro

    Esta não é uma carta de amor

    Esta é uma carta de desamor, despedida, aceitação definitiva do jogo que você propôs em nossos últimos dias juntos. Ou meses? A ausência de nós dois em nós me abriu o tempo mais que perfeito para concluir que você tem razão. Aqui, na paz desta paisagem silenciosa, paro o carro no meio do caminho para escrever uma última e definitiva mensagem. Sei que neste momento você está em algum longínquo auditório exibindo seu imenso saber científico ou costurando as tripas de algum maluco suicida, tão maluco quanto os nossos aqui da nossa terra.

    Você, que conheceu primeiro as minhas tripas, e só depois, de mansinho, escalou as paredes das minhas artérias, se instalou no meu coração e no meu hipotálamo, agora pede passagem para descer, você, que só não conseguiu costurar os buracos dos meus esgotos incuráveis… Concedido! Entendo. Compreendo. Aceito. Meu lado adolescente caminhou, sei onde piso, sei de onde venho, sei para onde quero ir. Sem choro, sem lágrimas ardentes rolando pelas faces, me envolvendo com lembranças românticas, café com pipoca e muito sexo! Paixão mágica que me permitiu semear Rosa em sua barriga, nossa Rosinha, de pele macia, olhos de jabuticaba, nossa princesa de cabelos negros, cachos que dançam com ela quando ela dança ao som do vento. Para mim, uma poesia! Por isso escrevo esta mensagem, minha inesquecível amada amante, amiga, salvadora, conselheira. Entendo e aceito seu novo amor, esse novo amor que veio desmoronar nosso cotidiano feliz. Feliz? 

    Há meses tenho procurado elaborar esta mensagem para lhe falar de minhas escolhas. Espero que você a leia hoje à noite quando acabar sua aula, ou operação, sua entrevista ou o que quer que esteja fazendo: minha decisão já terá se cumprido nessa hora. Te devolvo a sonhada liberdade para livrá-la de algumas atividades que sempre te incomodaram.

    Hoje fui buscar nossa pequena na escola e a levei para conhecer aquela represa onde você me pescou, lembra? Você salvou minha vida…  e agora me sugere o fim dela. Rosa adorou molhar os pés na água fria, mas teve medo de algum peixe lamber seus dedos. Rimos muito. Depois tomamos um lanche: Paizinho, eu te amo, eu amo muito você, ela disse, o olhar doce de sempre, me beijou e adormeceu no banco de trás. 

    Então comprei alguns galões de álcool e retomei o caminho. Mas parei aqui para te mandar esta mensagem: enlambuzei o carro, os bancos, enlambuzo nós dois, nós três, nossas memórias, nosso Passado, nossos projetos de Futuro.

    O cheiro está ficando insuportável. Agora é encontrar a ribanceira, o poste, a árvore, o fim do caminho. Com cautela procuro, desta vez não posso fracassar. Mas antes clico e me envio pra você.

    Fique tranquila, amada, Rosa está dormindo, não vai doer…

    Devaneios

    Com breves palavras minhas… Assim o meu colega, lá dos velhos tempos de primário, começara seu poema. O professor interceptou o bilhete que ele tentava passar para a menina de olhos negros, sua paixão, e ele, morto de vergonha, ouviu em silêncio a leitura ridicularizada de seus próprios versos.

    Assim se confessava a profundidade do amor que eles sentiam por nós: bilhetes em prosa ou verso deixados em nossos cadernos, ou dobrados até ficarem bem

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