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De novo em casa
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E-book99 páginas45 minutos

De novo em casa

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Sobre este e-book

De novo em casa', o sétimo livro de Pedro Miranda Albuquerque, traz 56 poemas fortes e aguerridos, pontuados por extrema força misteriosa e mística 'que aposta no futuro, haja o que houver', tão típica dos filhos do Lácio. Com prefácio do professor Marcelo Moraes Caetano, à luz da História, da Psicologia e das nossas tradições gregas, romanas, e também lusitanas, o livro, em edição desde 2019, acaba por ser publicado neste ano de 2020, no momento exato em que, sujeitos ao isolamento social imposto por uma inusitada e mundial pandemia, voltamo-nos a nós mesmos, ao cerne, à gênese, ao lar — e é nesse espaço em que nos deparamos com a cruel máquina que sempre nos impôs o 'sair', o 'produzir', o 'ter', na melhor lógica kafkiana e sisífica que se pode constatar. Dentro destes poemas de Pedro Albuquerque, isolados em casa, deixados à solidão do cotidiano sem o imperativo producionista do capital, é possível resgatar, ainda que por breves instantes, aquilo por que sempre almejamos: observar a flor das onze horas abrir exatamente às dez e meia; notar que o bem-te-vi aprecia a quietude de quando a brisa esvai a tarde; ouvir o alvoroço dos pássaros ao fim do dia. É disto que trata o livro. Das pequenas prisões suaves e belas da vida, deste ninho quente de onde por vezes desejamos sair, e ao qual noutras vezes precisamos voltar, do encontro consigo mesmo e com os espaços e tempos em que a vida se desenrola.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556622778
De novo em casa
Autor

Pedro Miranda Albuquerque

Pedro Miranda Albuquerque, nasceu em Lisboa, em março de 1964, viajando ainda criança para Angola, onde viveu a infância, na cidade de Luanda. Essa temporada e vivências haverão de marcá-lo para sempre, moldando a sua personalidade e o modo de ler o mundo. Regressado a Portugal, fez o percurso escolar nos Jesuítas, licenciando-se em Ciências Históricas (em 1986), e em História da Arte (em 1991). Em 1988, ingressou na função pública como professor, no ensino oficial, e depois, em várias funções e cargos municipais. Atualmente, integra a Câmara Municipal de Lisboa. Publicou os seguintes títulos: Lord Lilford on Birds and Flowers (2018), Suite Caboverdiana (2008); Cabo Verde Por Acaso: Mornas Fotográficas (2003); Timor: dez dias sem horas dentro (2001), Cidade Proibida (2000), Jardim Andaluz (1999). Tem trabalhos publicados nas antologias Algarve Todo o Mar (2005), EnCantada Coimbra (2003), e Ao Porto (2001).

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    De novo em casa - Pedro Miranda Albuquerque

    De novo em casa: o corpo místico da Poesia

    Marcelo Moraes Caetano

    Começarei este texto sem ensaio mencionando um poema fulminante e indiscutível: Cisnes, que desnuda o tempo e as fachadas, o fogo e as cinzas.

    O casal Louis Aragon e Elsa Triolet dialoga com Il n y a pas d’amour heureux (Não existe amor feliz), de Aragon, que traduzi em um de meus livros de poesia. Isso porque o Eu poético de Pedro Miranda Albuquerque não pergunta se o tempo acabará, mas, sim, quando isso se firmará: Quem poderá dizer de nós quem partirá, / primeiro partirá, / quem saberá o tempo que nos resta / para lavar a casa no açude. Em minha versão de Não existe amor feliz, deixo claro aos olhos e ouvidos lusófonos, em minha tradução da língua de Estrasburgo, que Quando se crê feliz, ele se dilacera / Sua vida é tão estranho, doloroso divórcio / Não existe amor feliz.

    O estupor e a paradoxal resignação sobre os divórcios da vida perpassam De novo em casa.

    Há também uma valentia aguerrida, carpida de força misteriosa e mística, que aposta no futuro haja o que houver: velit nolit, como diriam os filhos do Latio. A metonímia dessa força estranha que faz brotar flores do impossível chão cai sem estrondo no último terceto do Soneto do Bufallo Bill: Que importa do passado a sepultura / se o futuro progride à nossa frente / e temos nossas armas, e esta ânsia. Este mesmo soneto fala do objeto sagrado que se chama desejo: Então o desejar é continente / trilhado por mil veios de ventura; / querermos ir por eles é distância. Também está em Ritmos estacionados, de onde sussurra o grito de que No futuro, esperamos; no horizonte, olhamos. / Primeiro floriram as amendoeiras, depois as macieiras, / os pessegueiros, as cerejeiras, flores não mais.

    Aqui podemos, numa metalinguagem, observar um ponto sacro do artista em sua faina diária, contrastado com o seu antípoda, o normótico, ou aquele que vive sob a pesada égide da patologia da normalidade e da mediocridade, a normose: o artista conta, em seu arsenal, com o desejo. O normótico, com a necessidade.

    A normose espartilha em sua cartilha de matilha: Vivo ali em cima, ali em cima: / não peçam, vá falar aos generais; / não peçam, vá cumprir procedimentos, / daqueles que são regras outonais, do poema Written On The Sky — The Blue Notebooks (2004).

    Pobres são os normóticos!

    Para o normótico, o desejo, de que o Poeta vem nos lembrar, é como um diamante azul imenso colocado a centenas de metros de altura numa redoma inquebrável porquanto inacessível. Num tempo do nunca.

    Mas para o artista, diametral, o desejo é a flor que ele rega e da qual brotam outras flores cheias de essência em seu jardim.

    Simples, o desejo inalcançável ao normótico faz do artista um semideus. Essa joia não enfeitiça, / enfeita-se, porque é Narciso, fio que entretece o poema Abdominal.

    Noto, também, a propósito, a poesia simbólica e arquetípica que ressoa e ecoa o título que encima a obra inteira: Tudo é casa dentro de casa, por isso nos é inexorável estarmos De novo em casa.

    Aqui, lembrou-me o clássico de Joseph Campbell, O herói de mil faces, que deu e dá vida aos personagens da Hollywood que seria histérica, recalcada e esquizofrênica se não fosse uma Artista de artistas. Para Campbell, há apenas um mito, ou monomito, que é o Homem comum, jogado para fora de casa por causa do que Aristóteles chamaria de Hamartía (literalmente errar o alvo), que podemos traduzir como pecado; no ambiente hostil do lado de fora, esse homem se sagra guerreiro e não briga, mas luta, contra uma miríade de desafios, tempos e contratempos que finalmente o sagram Herói,

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