De novo em casa
()
Sobre este e-book
Pedro Miranda Albuquerque
Pedro Miranda Albuquerque, nasceu em Lisboa, em março de 1964, viajando ainda criança para Angola, onde viveu a infância, na cidade de Luanda. Essa temporada e vivências haverão de marcá-lo para sempre, moldando a sua personalidade e o modo de ler o mundo. Regressado a Portugal, fez o percurso escolar nos Jesuítas, licenciando-se em Ciências Históricas (em 1986), e em História da Arte (em 1991). Em 1988, ingressou na função pública como professor, no ensino oficial, e depois, em várias funções e cargos municipais. Atualmente, integra a Câmara Municipal de Lisboa. Publicou os seguintes títulos: Lord Lilford on Birds and Flowers (2018), Suite Caboverdiana (2008); Cabo Verde Por Acaso: Mornas Fotográficas (2003); Timor: dez dias sem horas dentro (2001), Cidade Proibida (2000), Jardim Andaluz (1999). Tem trabalhos publicados nas antologias Algarve Todo o Mar (2005), EnCantada Coimbra (2003), e Ao Porto (2001).
Relacionado a De novo em casa
Ebooks relacionados
Olhos de pedra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesias Cotidianas: a realidade em versos e rimas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDon Juan Don Giovanni: Peça em dez jornadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVoo solidário e solitário Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMacário Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTumular: a sete palmos do inferno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConfissões Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPaisagem vista do trem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara Uns, Cannabis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDôr e Luz (Versos de um seminarista) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre Os Vivos E Os Mortos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLevante Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoemas proibidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFlores de plástico: Edição comemorativa de 40 anos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBaleias, Bromélias e outras naturezas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFantasmas: Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPororoca-Cabogó Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrepúsculo Ou Estrela: Álvares De Azevedo Volume 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRitos & Conflitos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuerida cidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCanções Nota: 0 de 5 estrelas0 notasManada De Orvalho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Verbo E O Homem Nota: 0 de 5 estrelas0 notaso avesso da lâmpada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm libreto e 100 sonetos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÓpera dos mortos: um romance Nota: 0 de 5 estrelas0 notaspequenas palavras Grandes Sentimentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Poesia para você
Desculpe o exagero, mas não sei sentir pouco Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Profeta Nota: 5 de 5 estrelas5/5Bukowski essencial: poesia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coisas que guardei pra mim Nota: 4 de 5 estrelas4/5meu corpo minha casa Nota: 5 de 5 estrelas5/5o que o sol faz com as flores Nota: 4 de 5 estrelas4/5Se você me entende, por favor me explica Nota: 5 de 5 estrelas5/5Todas as flores que não te enviei Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tudo Nela Brilha E Queima Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Odisseia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEu tenho sérios poemas mentais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Lusíadas (Anotado): Edição Especial de 450 Anos de Publicação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPra Você Que Sente Demais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Todas as dores de que me libertei. E sobrevivi. Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sede de me beber inteira: Poemas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sentimento do mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJamais peço desculpas por me derramar Nota: 4 de 5 estrelas4/5Alguma poesia Nota: 4 de 5 estrelas4/5Laços Nota: 5 de 5 estrelas5/5Marília De Dirceu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara não desistir do amor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poemas de Álvaro Campos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAristóteles: Poética Nota: 5 de 5 estrelas5/5As palavras voam Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poesias para me sentir viva Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sonetos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntologia Poética Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Navio Negreiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Textos Para Serem Lidos Com O Coração Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de De novo em casa
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
De novo em casa - Pedro Miranda Albuquerque
De novo em casa: o corpo místico da Poesia
Marcelo Moraes Caetano
Começarei este texto sem ensaio mencionando um poema fulminante e indiscutível: Cisnes
, que desnuda o tempo e as fachadas, o fogo e as cinzas.
O casal Louis Aragon e Elsa Triolet
dialoga com Il n y a pas d’amour heureux
(Não existe amor feliz
), de Aragon, que traduzi em um de meus livros de poesia. Isso porque o Eu poético de Pedro Miranda Albuquerque não pergunta se o tempo acabará, mas, sim, quando isso se firmará: Quem poderá dizer de nós quem partirá, / primeiro partirá, / quem saberá o tempo que nos resta / para lavar a casa no açude
. Em minha versão de Não existe amor feliz
, deixo claro aos olhos e ouvidos lusófonos, em minha tradução da língua de Estrasburgo, que Quando se crê feliz, ele se dilacera / Sua vida é tão estranho, doloroso divórcio / Não existe amor feliz
.
O estupor e a paradoxal resignação sobre os divórcios da vida perpassam De novo em casa
.
Há também uma valentia aguerrida, carpida de força misteriosa e mística, que aposta no futuro haja o que houver: velit nolit, como diriam os filhos do Latio. A metonímia dessa força estranha que faz brotar flores do impossível chão cai sem estrondo no último terceto do Soneto do Bufallo Bill
: Que importa do passado a sepultura / se o futuro progride à nossa frente / e temos nossas armas, e esta ânsia
. Este mesmo soneto fala do objeto sagrado que se chama desejo: Então o desejar é continente / trilhado por mil veios de ventura; / querermos ir por eles é distância
. Também está em Ritmos estacionados
, de onde sussurra o grito de que No futuro, esperamos; no horizonte, olhamos. / Primeiro floriram as amendoeiras, depois as macieiras, / os pessegueiros, as cerejeiras, flores não mais
.
Aqui podemos, numa metalinguagem, observar um ponto sacro do artista em sua faina diária, contrastado com o seu antípoda, o normótico, ou aquele que vive sob a pesada égide da patologia da normalidade e da mediocridade, a normose: o artista conta, em seu arsenal, com o desejo. O normótico, com a necessidade.
A normose espartilha em sua cartilha de matilha: Vivo ali em cima, ali em cima: / não peçam, vá falar aos generais; / não peçam, vá cumprir procedimentos, / daqueles que são regras outonais
, do poema Written On The Sky — The Blue Notebooks (2004)
.
Pobres são os normóticos!
Para o normótico, o desejo, de que o Poeta vem nos lembrar, é como um diamante azul imenso colocado a centenas de metros de altura numa redoma inquebrável porquanto inacessível. Num tempo do nunca.
Mas para o artista, diametral, o desejo é a flor que ele rega e da qual brotam outras flores cheias de essência em seu jardim.
Simples, o desejo inalcançável ao normótico faz do artista um semideus. Essa joia não enfeitiça, / enfeita-se, porque é Narciso
, fio que entretece o poema Abdominal
.
Noto, também, a propósito, a poesia simbólica e arquetípica que ressoa e ecoa o título que encima a obra inteira: Tudo é casa dentro de casa
, por isso nos é inexorável estarmos De novo em casa
.
Aqui, lembrou-me o clássico de Joseph Campbell, O herói de mil faces
, que deu e dá vida aos personagens da Hollywood que seria histérica, recalcada e esquizofrênica se não fosse uma Artista de artistas. Para Campbell, há apenas um mito, ou monomito, que é o Homem comum, jogado para fora de casa por causa do que Aristóteles chamaria de Hamartía
(literalmente errar o alvo
), que podemos traduzir como pecado; no ambiente hostil do lado de fora, esse homem se sagra guerreiro e não briga, mas luta, contra uma miríade de desafios, tempos e contratempos que finalmente o sagram Herói,