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Paixão póstuma
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E-book146 páginas1 hora

Paixão póstuma

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Sobre este e-book

Depois de uma longa viagem de carruagem, passando por várias cidades, acompanhado de seus empregados, à procura de uma morada perfeita, o Visconde de Quilha encontra por acaso, perdido na mata, o casarão ideal para finalmente se estabelecer. No entanto, a mansão está abandonada há mais de 100 anos, depois da morte da linda Marquesa de Cordelen, sua antiga proprietária. Apesar da aparente falta de vida do lugar, a casa ainda guarda um segredo que mudará as vidas e o destinos do Visconde e todos os seus novos moradores. Em 'Paixão Póstuma', Manuella S. B. Queiroga desenvolve um intenso e complexo romance sobrenatural, de uma história de amor que atravessa um século e alcança toda a eternidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9786586324044
Paixão póstuma
Autor

Manuella S. B. Queiroga

Manuella S. B. Queiroga nasceu e cresceu na capital paulista; a paixão pelo universo literário começou na infância, vindo a se aventurar na escrita aos quinze anos de idade com o início da saga “Os Defensores de Deneb” e desde então não consegue mais largar a caneta e o papel.

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    Paixão póstuma - Manuella S. B. Queiroga

    CAPÍTULO i

    A carruagem do Visconde de Quilha, um homem solitário de meia idade, havia percorrido milhas nas últimas semanas, subido e descido colinas, contornado encostas e cruzado estradas ramificadas que se estendiam até os povoados vizinhos e outros em regiões um pouco mais remotas das fronteiriças; por vezes fazia paradas para reabastecer as provisões quando ameaçavam ficar escassas e esse era o momento em que o Visconde se ocupava em visitar as mansões à venda, pois por meses a fio visitou inúmeras delas, mas nenhuma conseguia lhe prender a atenção e despertar o desejo de mudança, como se nelas faltasse algo que o Visconde simplesmente não sabia explicar sua natureza. Talvez fosse um detalhe no ornamento da construção ou a própria textura irregular da tinta nas paredes, o que quer que estivesse procurando não encontrou nos belíssimos palacetes que ia deixando para trás e era evidente que essa falta o afetava de tal modo que, há muito tempo, veio a se tornar um homem melancólico e vazio, e seus criados, por serem muito próximos do patrão, não deixaram de notar a triste mudança.

    E o cocheiro sempre recebia ordens para ir adiante, mesmo sabendo que a próxima parada seria mais um grande desperdício de tempo, pois seu patrão ainda não se dera conta de estar em busca de algo abstrato.

    — Presumo que essa viagem tola seja uma maneira que nosso patrão encontrou para dar sentido aos restos de seus dias ociosos — comentou Dante, o criado mais articulado entre todos os outros, enquanto aguardavam dentro da carruagem pelo regresso do Visconde.

    — Eu tenho pena dele, sabia? — disse Elvira, a governanta. — Tão sozinho…

    — Pois eu não tenho! — Dante retrucou. — Ele está à beira da loucura e está nos levando junto.

    — Acho que o problema do patrão seja a falta de um par — Elvira se compadeceu e Dante fingiu não lhe dar ouvidos. — E hoje ele reconhece ter deixado passar as oportunidades que teve durante a juventude.

    — Ele perdeu completamente o pouco juízo que tinha, mulher! — Faltava pouco para Dante começar a arrancar tufos do próprio cabelo. — E não me venha com esse papo de romance outra vez, que isso tudo para mim não passa de uma grande baboseira — Cruzou os braços e aproximou as grossas sobrancelhas uma da outra.

    — Ora, Dante! Não seja tão ranzinza — Elvira deixou escapar um risinho assanhado. — Sabemos que seu coração não é feito de pedra como tenta fazer com que se pareça.

    Elvira partiu para cima de Dante e começou a lhe fazer cócegas e, embora ele xingasse e brigasse com a colega, em seguida soltou uma série de gargalhadas frouxas. A porta da carruagem de repente se abriu e o Visconde revelou-se mais abatido do que quando partira.

    — Oh! Pelo amor de Deus! Tenham um pouco mais de compostura — ralhou ele, em amargura.

    Os dois criados murmuraram alguns pedidos de desculpas e balbuciaram palavras soltas que demonstrassem o quanto estavam constrangidos com a situação.

    — Poupem-me dessa ladainha de vocês — o Visconde se largou no banco, cabisbaixo.

    Elvira e Dante tiveram uma rápida troca de olhares antes que a governanta se dirigisse ao seu patrão:

    — Não encontrou, não é mesmo, senhor?

    O suspiro angustiado do Visconde podia ser considerado como resposta, mas mesmo assim ele disse:

    — Não era uma boa casa; faltava algo, alguma presença nela.

    Dante emitiu um resmungo irritado. No entanto, não chegou a se intrometer, pois envolver-se com a insanidade do patrão era a última coisa que desejava.

    — Estou começando a perder as esperanças — o Visconde tinha o olhar vazio e muito distante dali.

    Os cavalos continuaram avançando e o cocheiro os conduziu a seguir por uma estrada de terra, esburacada em razão de se tratar da estação de pancadas de chuva. O caminho permeava a floresta, incorporada por uma atmosfera de silêncio denso.

    — Senhor, faz alguma ideia de para onde estamos indo? — Elvira espiava para o lado de fora através de uma fresta do cortinado.

    — Vamos visitar alguns vilarejos, alguns quilômetros mais à frente — o Visconde consultou o relógio em seu colete.

    — Essas trilhas tornam-se perigosas em suas extremidades — alertou Oracir, o cozinheiro.

    — Então quer dizer que a qualquer momento corremos perigo de sermos saqueados? — o mau humor de Dante se agravou.

    No instante seguinte a carruagem sacolejou de maneira descontrolada e a roda traseira esquerda se soltou, impedindo o cocheiro de prosseguir viagem.

    O Visconde de Quilha e seus empregados esperariam na estrada que entrecortava a floresta até o dano da carruagem ser reparado, mas como o Sol já se punha o serviço teria de ser adiado para o dia seguinte. Sendo assim desceram todos da carruagem e trataram de montar um acampamento provisório, sem gastar muitos floreios nas instalações.

    Ao cair da noite, Dante junto de Edgar, o ajudante de cozinha, e Abílio, o lavador de pratos, embrenhou-se na floresta para tentar arranjar o que comer, enquanto que o restante aguardaria pela volta dos três cuidando dos preparativos do jantar; sendo o Visconde um verdadeiro imprestável tratando-se de quaisquer tarefas que Elvira incumbia a ele.

    Sentaram-se todos em volta da fogueira, que os aqueceria durante a noite, e comeram as caças de Dante acompanhadas por feijões enlatados, que, embora não deixasse de ser uma refeição nutritiva, porém não era o bastante para saciar a fome de um homem sem ter tido contato com um alimento por horas na estrada.

    Ao fim do jantar Dante contou algumas de suas proezas de quando era mais moço e todas elas foram muito bem desmentidas por Elvira, todos, por exceção do Visconde, riram de perder o fôlego.

    O crepitar da fogueira anunciava que o fogo necessitava de mais lenha e que já passara da hora de se recolherem para dormir. Quando os roncos de Oracir começaram a soar mais parecidos a rosnados de urso, Elvira ousou se aproximar do patrão.

    — Você está bem? — indagou ela, aos cochichos.

    — A cada minuto que passa sinto-me mais desconfortável — respondeu o Visconde, contemplando o céu estrelado.

    — Fiquei preocupada com você durante a ceia — falou Elvira.

    — Sabe? Tem momentos em que fico pensando o que seria de mim sem você e os outros — o modo com que falara não demonstrava sua gratidão pelos serviços prestados pelos empregados, assemelhava-se mais ao cansaço da vida que levava dia após dia.

    Elvira demorou o olhar sobre o patrão e por fim disse:

    — Seja o que estiver te incomodando, eu e os outros estaremos sempre por perto para lhe amparar.

    — Oh! Elvira, vocês todos são tão bons para mim e eu continuo a meter-lhes nessas enrascadas.

    — É um prazer imenso poder acompanhar o senhor — Elvira dizia a verdade, embora soubesse que as mesmas palavras não sairiam da boca dos outros, principalmente da de Dante.

    Os lábios do Visconde esboçaram um breve sorriso e Elvira pôde dormir com a consciência um pouco mais tranquila.

    No entanto, a noite do Visconde não esteve entre as suas melhores, com a mente inquieta, não conseguia encontrar uma posição confortável, portanto passou a noite inteira se revirando no saco de dormir. Mas, como sua insônia não perdurou até a madrugada, o Visconde finalmente adormeceu e veio a sonhar com uma bela melodia cantada pela voz mais doce de todas que já ouvira; quando acordou desejou poder continuar ouvindo ao canto da sereia e se sentiu indisposto ao conformar-se de que ela existia apenas em seu subconsciente. Esse era mais um dia como todos os outros.

    Durante o café da manhã, Dante puxou Elvira a um canto para uma conversa particular:

    — O que tinha na cabeça ontem à noite? Encorajando o patrão a continuar sendo desse jeito…

    — Apenas disse a verdade — teimou Elvira.

    — Mas você não fala por todos — Dante tinha os nervos à flor da pele. — Veja só no que deu! Daqui a pouco ele vai se sentar no meio da estrada e pedir para Clóvis passar com a carruagem por cima dele.

    — Eu pensei que, depois da conversa que tivemos, ele melhoraria o seu humor — Elvira entristeceu-se.

    Os dois empregados ficaram observando o seu patrão ao longe.

    — O que será de todos nós se o Visconde perder a paixão pela vida? — questionou Dante questionou — Porque falta pouco para esse infortúnio vir a acontecer; e aí estaremos no olho da rua. Pense em como criaremos nosso filho que você carrega.

    Dante se afastou para realizar suas tarefas diárias, deixando Elvira com o coração nas mãos.

    Entre os empregados mais corpulentos encontravam-se Abílio e Oracir, que estavam a cortar lenha. Entre eles o Visconde tentava, inutilmente, absorver as técnicas de se descer o machado, portanto Elvira foi até lá

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