O Primitivismo no Pau-Brasil de Oswald de Andrade: originalidade nativa como mensagem do espírito novo
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Sobre este e-book
Leonardo de Carvalho Augusto
Leonardo de Carvalho Augusto é carioca. Nascido na Zona Oeste e criado no Andaraí, suas paixões são a cultura popular, o Flamengo, os Bares Tradicionais, o samba e a sua 'família ampliada'. É professor de História desde 2008, quando começou a lecionar na redes públicas estadual e municipal. Hoje trabalha no Instituto Benjamin Constant – instituição federal que é centro de referência nacional na área da Deficiência Visual – e na Puc-Rio. É Doutorando em História na mesma instituição onde fez sua graduação – a UERJ – e Mestre em História Social da Cultura pela (PUC-Rio). O livro que o leitor tem nas mãos lhe rendeu o título de Especialista em Ensino de História (CESPEB-UFRJ), no ano de 2018.
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O Primitivismo no Pau-Brasil de Oswald de Andrade - Leonardo de Carvalho Augusto
Dedico este trabalho às minhas avós, que desafiam os estereótipos, como sói a muitas mulheres fazer. À Vovo Tininha (Albertina), mulher branca com nome de museu austríaco, que me ensinou o que era fantasia, carnaval e macumba (in memoriam) e à Biluca (Maria), comunista do PCB, mulher com nome de mãe, que me ensinou o que é classe e como se faz tapioca.
Agradecimentos
Agradecimentos não deveriam ter fim. Mas como há sempre limitações de tempo e espaço, ainda mais para as páginas que seguem, vamos ao que é possível: gostaria de agradecer, em primeiro lugar, à minha prima Juliana e a meu pai. Eles foram os primeiros a ver minha alegria ao saber que havia sido admitido no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura da PUC- Rio.
Agradeço à Moema, minha mãe e melhor cartógrafa do Brasil. À meus irmãos Pedro e Ronaldo e à Carmem Lúcia, que cuida do mundo da casa.
Amanda Danelli Costa leu e releu cada parágrafo da Dissertação comigo nestes últimos meses, me oferecendo sua compreensão nos momentos mais difíceis, em que parecia não haver mais ânimo. Gostaria de agradecer pelas observações e críticas, pela atenção dispensada durante os meses de feitura da Dissertação, mas sobretudo, por te me acreditado e me fazer acreditar.
Agradeço também à Wilma Danelli, que cedeu seus conselhos e sua casa para que eu pudesse mergulhar nos arremates finais deste trabalho, vencendo a angústia e os prazos.
O que as pessoas querem é pretexto para viajar
, diria Oswald de Andrade. Iacopo Buonaguidi me deu mais um bom pretexto, ao abrir as portas de sua casa em Friedrichshein, Berlim, para que eu pudesse conhecer o Velho Mundo. Luciana Madeira e Larissa Costa leram diversas vezes o primeiro capítulo da Dissertação, sugerindo alterações que considerei valiosas para a clareza do texto. Minhas amigas, obrigado. Vocês são dois bons cintos de segurança
desta viagem que apresento ao leitor agora.
Ana Carolina Oliveira me acompanhou nestes dois anos em que cursei o Mestrado e o mínimo que posso dizer é que ela é uma das pessoas mais especiais que já conheci. Obrigado demais a você e à sua família!
Gostaria de agradecer à turma do estamos aí
, meus amigos de sempre: José Fabrício, Rodrigo Lobo, Daniel Pinha, Roberta e Felipe Eugênio, Pedro Muñoz, Thiago Tanaka
Dargains e Juliana Pepino.
Agradeço aos amigos que fiz aqui na PUC: Rafael Lima, Leandro Janke e Jorge Saião. Também às meninas, Ioana e Maria de Simone.
Agradeço também ao Departamento de História da PUC-Rio e ao Programa de Pós-Graduação, na pessoa da secretária Edna Maria Timbó e da coordenadora, Professora Margarida de Souza Neves.
O que os credores querem é carinho
, diria Oswald novamente, desta vez a seu filho Nonê, ensinando a ele o jogo de cintura necessário para trilhar os caminhos do mundo dos negócios.
Antes de iniciar esta Dissertação diversos caminhos me levaram a pontos distintos do que eu imaginava ou pretendia, até que finalmente comecei o estudo que agora estou apresentando. Iniciei o Mestrado com o intuito de escrever um trabalho sobre a recepção de Nietzsche no Brasil, a partir das leituras de Oswald de Andrade, dando continuidade a uma pesquisa de iniciação científica desenvolvida na Casa de Oswaldo Cruz (Coc-Fiocruz). Com base nos resultados obtidos nesta pesquisa eu havia escrito minha monografia de fim de curso, que tratava da recepção de Nietzsche pelo médico eugenista Renato Kehl. Agradeço ao Professor Robert Wegner pela confiança em mim depositada durante aquela pesquisa, e também por ter aceito o convite de integrar a banca de avaliadores da Dissertação.
Igualmente, não poderiam deixar de constar nestes agradecimentos três Professores que marcaram muito a minha breve trajetória acadêmica: José Ribamar Bessa Freire, que despertou em mim a sensibilidade pela cultura e a memória indígena, sem a qual eu não teria olhado para o primitivismo com o mesmo carinho; Antônio Edmilson Martins Rodrigues, que desde a graduação me acompanha como uma grande referência de mestre e historiador; e Cristiana Facchinetti, que com sua generosidade e dedicação soube valorizar toda a minha curiosidade quando fui bolsista na Casa de Oswaldo Cruz.
Sou muito grato a meu co-orientador, Ricardo Augusto Benzaquen de Araújo e ao Professor Eduardo Jardim de Moraes. Obrigado pelas críticas durante a avaliação do projeto, pelas indicações bibliográficas e pelas observações sobre a condução da minha interpretação. É imensa a minha dívida com meu orientador e grande mestre, professor Marcelo Jasmim. Obrigado.
Esta pesquisa não teria sido possível sem o apoio institucional da PUC-Rio e o apoio material do CNPq e da Faperj.
Sempre compreendo o que faço depois que já fiz. O que sempre faço nem seja uma aplicação de estudos. É sempre uma descoberta. Não é nada procurado. É achado mesmo. Como se andasse num brejo e desse no sapo. Acho que é defeito de nascença isso. Igual como a gente nascesse de quatro olhares ou de quatro orelhas. Um dia tentei desenhar as formas da Manhã sem lápis. Já pensou? Por primeiro havia que humanizar a Manhã. Torná-la biológica. Fazê-la mulher. Antesmente eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as coisas. Porém humanizar o tempo! Uma parte do tempo? Era dose. Entretanto eu tentei. (...)
[Manoel de Barros, Pintura – III, IN: Memórias Inventadas: a segunda infância]
Introdução, 8
Uma perspectiva sentimental e intelectual, irônica e ingênua
Capítulo 1. Um antropófago forjado em aço: a construção de uma cidade futurista por Oswald de Andrade e seus interlocutores, 16
Os Andrades, 16
Futuristas!?, 23
Um antropófago forjado em aço, 30
Antes da poética do modernismo, 33
Capítulo 2. O descobrimento do Brasil no umbigo do mundo, 42
O salão e a selva, 50
A floresta e a fábrica, 56
Das palmeiras a Palmares: a poesia pau-brasil como quadro da história colonial, 66
Considerações finais, 71
Seiva bruta e biscoito fino
Notas, 74
Referências bibliográficas, 88
Copyright © 2021, Mundo Contemporâneo Edições
Editora
Léa Carvalho
Capa
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Projeto gráfico
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Impresso no Brasil
Sumário
Introdução, 8
Uma perspectiva sentimental e intelectual, irônica e ingênua
Sob a fatura da crítica
Capítulo 1. Um antropófago forjado em aço: a construção de uma cidade futurista por Oswald de Andrade e seus interlocutores, 16
Os Andrades, 16
Futuristas!?, 23
Um antropófago forjado em aço, 30
Antes da poética do Modernismo, 33
Capítulo 2 O Descobrimento do Brasil no umbigo do mundo, 42
O salão e a selva, 50
A floresta e a fábrica, 56
Das palmeiras a Palmares: a poesia pau-brasil como quadro da história colonial, 66
Considerações Finais , 71
Seiva bruta e biscoito fino
Notas, 74
Referências bibliográficas, 89
Introdução
Uma perspectiva sentimental
e intelectual, irônica e ingênua
O verdadeiro descobridor é aquele
que, tendo inventado,descobre.¹
(...)
O espírito novo está igualmente na surpresa.
É o que ele possui de mais vivo, de mais novo.
A surpresa é a grande fonte do novo.
É pela surpresa, pelo espaço privilegiado
que ele concede à surpresa que o espírito novo
se distingue de todos os movimentos
artísticos e literários que o precederam.²
Inicialmente, julgo conveniente apresentar algumas escolhas teóricas que fiz para traçar um perfil de Oswald de Andrade como um autor que, em toda a sua vida, perseguiu a surpresa como uma necessidade.
Dessa forma, antes de qualquer consideração sobre a biografia de Oswald de Andrade, destaco aqui a leitura de Estética e correntes do modernismo
, artigo de Benedito Nunes que foi de fundamental importância para este estudo³. No texto em questão, o comentador compara a forma como Oswald olha para a cultura brasileira aos quadros Paisagem com Touro e Vendedor de Frutas, de Tarsila do Amaral, de modo a compor pela enumeração, seleção e justaposição daquilo que o escritor chamou de fatos culturais
, a matéria-prima poética e histórica de sua obra.
O que anima este trabalho é a vontade de investigar o amadurecimento da ideia do primitivismo na controversa obra de Oswald de Andrade. Para tanto, minha tentativa de análise parte da maneira como o autor realiza uma espécie de movimento de sentido duplo, em que se observa enquanto observa o mundo e também enxerga o mundo quando se volta para dentro de si.
Oswald de Andrade parece compartilhar da opinião de que o conteúdo de toda observação depende de sua posição particular
⁴, e assim acaba desenvolvendo uma interpretação da cultura brasileira através da qual a manutenção dos traços originários e bárbaros é fundamental.
Neste sentido, diria Nunes a respeito do Manifesto Pau-Brasil:
Enumerando formas e materiais lado a lado, diz-nos o mesmo documento programático que esses fatos são acontecimentos pictóricos, folclóricos, históricos e étnicos, econômicos, culinários e lingüísticos, de que se compõe a originalidade nativa, como matéria-prima exportável, de natureza histórica e social; que Oswald de Andrade verteu em poemas breves, ágeis e cândidos, graças a uma perspectiva determinada, sentimental e intelectual, irônica e ingênua ao mesmo tempo, como a dos quadros de Tarsila do Amaral dessa fase.⁵
Considero que, somente a partir do segundo momento do modernismo, iniciado em 1924, esta preocupação de colocar em paralelo o progresso técnico e a crueza da tradição se tornou uma constante na obra de Oswald de Andrade, que, tal como a de Gilberto Freyre, parece compartilhar uma visão mais anárquica do modernismo no Brasil. Valorizando a transgressão e interessado na incorporação das técnicas da collage cubista, Oswald de Andrade se caracterizaria também por uma tentativa de construir uma imagem da sociedade marcada por um grau inusitado de ambigüidade e tensão. Dessa forma, o autor mantém a memória dos elementos indígenas e primitivos da nossa tradição e, infundindo-lhes método e racionalidade, se esforça para que esta mistura se constitua na base de uma verdadeira identidade nacional.⁶
A questão da tradição é central para este estudo, pois minha escolha de dar maior ênfase ao Manifesto Pau-Brasil do que ao Manifesto Antropófago se deve, sobretudo, à presença que a tradição tinha no primeiro, fato que percebi a partir da leitura do artigo de Silviano Santiago intitulado A permanência do discurso da tradição no modernismo
⁷.
Ao contrário de um projeto de negação de uma tradição que é o arremedo da civilização europeia, a Poesia Pau-Brasil aposta na possibilidade de uma tensa conciliação entre a cultura nativa e o intelectualismo. Um composto híbrido, que além de ratificar a necessidade da modernização racionalista, lida com o arcaísmo na sua formulação.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de dorme nenê que o bicho vem pegá
e de equações. Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder o Museu Nacional. Pau-Brasil.⁸
Uma inocência conservadora presente na defesa de