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Música e Cultura na Irlanda de James Joyce
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E-book259 páginas3 horas

Música e Cultura na Irlanda de James Joyce

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Sobre este e-book

Em Música e cultura na Irlanda de James Joyce revela-se uma tentativa de demonstrar como Jesse autor enxergou a Irlanda e uma nacionalidade emergente durante o período conturbado da(s) guerra(s) (tanto a I Guerra Mundial quanto as revoltas armadas que tentavam libertar a Irlanda de um jugo de 800 anos imposto pela Inglaterra) e como deixou transparecer esses problemas em suas obras. Para comprovar essa hipótese, este livro apresenta um confronto das produções literárias e culturais antes e durante o tempo em que Joyce escrevia, assim como aborda outros aspectos culturais que ajudaram os irlandeses a construírem sua ideia de nação, analisando com detalhes as canções e baladas populares, fundamentais pela importância que sempre tiveram na vida do povo irlandês.

Há aqui detalhes sobre o desenvolvimento das produções artísticas populares, tomando como base o momento, no final do século XVIII, em que essas canções e baladas começaram a ser cantadas em língua inglesa – no princípio em tradução do gaélico, mantendo o ritmo, a sintaxe e a sonoridade da língua original, depois com criações já em língua inglesa. Há canções de todo tipo e formato, desde as baladas românticas, passando pelas canções do exílio, pelas jocosas, pelas de confronto com os donos de terra, até as declaradamente políticas, com exaltação aos mártires de revoltas e levantes e as de despedida dos soldados, maridos e amigos que são levados para a prisão ou executados. As canções proliferavam mais e mais a cada evento político e/ou violento ocorrido no país.

Este livro é um produto de todas as leituras, teóricas e não teóricas, ficcionais, poéticas, fílmicas, teatrais, existenciais e todas as outras que tenho feito durante a vida. Certamente há uma linha teórica específica que me norteia, e dela tratarei no interior dos capítulos. Na verdade, para mim, o texto é como um rio que corre suavemente para o mar: a teoria são as águas profundas que dão impulso às ondas da superfície, que é o texto. É o volume total das águas que leva o rio a correr, mas quem o contempla só enxerga as águas da superfície.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de mai. de 2019
ISBN9788547323691
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    Música e Cultura na Irlanda de James Joyce - Magda Velloso Fernandes de Tolentino

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2019 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei no 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Para

    A memória de meu pai e do Décio.

    A memória da minha mãe, zeladora do meu tempo.

    Raquel, Cristie, Paula, Daniel e Jonathan, filhos presentes ou ausentes, amigos constantes, inspiração para meus dias; e os companheiros que lhes dão suporte.

    Fábio, Ana Luiza, Luana, Carolina, Gabriela, Daniela, João Victor, Lucas, Pedro e Marcela, e a todos os descendentes que estão por vir: essa nova geração que me acena com a possibilidade da imortalidade ‒ minha, deles ‒ por meio da memória que perpetua nossas presenças.

    E tantos mais que ainda espero abraçar.

    AGRADECIMENTOS

    À minha orientadora, Prof.a Dr.a Lélia Parreira Duarte, que assistiu meu trabalho desde os primeiros passos e pacientemente acompanhou e estimulou a produção da elaboração de minha tese de doutorado, que deu origem a este livro, sempre com paciência e incentivo, tendo sido sempre uma fonte de sabedoria e inspiração.

    Ao Thomas La Borie Burns, com quem já fiz uma trajetória anterior, no mestrado, e junto a quem descobri grande comunhão de ideias; e a quem devo minha segunda onda de paixão por James Moyce.

    Ao Prof. Dr. Bernard McGuirk, pelo direcionamento firme de meus estudos na Inglaterra e pela leitura pertinente dos meus trabalhos quando fiz minha pesquisa para a tese que deu origem a este livro.

    À Prof.a Dr.a Jean Andrews, que supervisionou minha pesquisa na Universidade de Londres, incentivou-me no caminho que o trabalho foi percorrendo e que incansavelmente explora as livrarias de Londres atrás de textos por mim desejados.

    Ao Prof. Dr. Declan Kiberd, que me cedeu algumas horas de seu precioso tempo no University College de Dublin, e reforçou as ideias que viriam desaguar no presente livro.

    À Prof.a Dr.a Maureen Murphy que, a partir de 1991, quando descobriu meu interesse por James Joyce, tem me dado incentivo em meus estudos e enviado material pertinente, assim como novas publicações na área.

    À Prof.a Maria da Conceição Monteiro, que tem constantemente incentivado e reconhecido meu trabalho e que foi a primeira pessoa a perceber que eu poderia trabalhar com as canções em um trabalho sério, e não apenas me deliciar com elas.

    Aos colegas que, de formas diferentes, colaboraram para o bom andamento deste meu livro, seja com material enviado, com sugestões valiosas ou simplesmente com incentivo, principalmente nos momentos difíceis de perdas familiares em que não me foi possível trabalhar: Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva, Roselys Veloso de Castilho, Munira Mutran, Maria Lúcia Brandão Freire de Melo, Ana Lúcia Almeida Gazzola; Vilma Coutinho de Melo, Aimara da Cunha Rezende, Márcia Barreto Berg e meus colegas do Departamento de Letras, Artes e Cultura da UFSJ; Mario Neto Borges, Maria do Carmo Narciso e Maria José Cassiano.

    À Vera Lúcia da Silva, pelo carinho e o suporte no âmbito doméstico.

    E a todos os que souberam dividir comigo também os momentos de alegria e triunfo.

    Now I have not got a library in my house; there are bookcases here and there in passages and in a few rooms; but there is no ‘library’ for the simple reason that I think that, wherever a book is, a reading man can make a library. [...] That is why I maintain that books and not a room can make a library.

    (Oliver St. John Gogarty)

    You don’t get to choose how you’re going to die. Or when. You can only decide how you’re going to live. Now.

    (Joan Baez)

    APRESENTAÇÃO

    É-me difícil e fácil ao mesmo tempo dizer como escolhi o caminho deste meu livro. A primeira vez que ouvi uma referência a James Joyce, sem saber que o fazia, foi muito cedo na minha infância ‒ tão cedo que não saberia precisar o quanto. Ao olhar o álbum de fotografias da família, ao me deparar com o retrato de meu pai jovem e bonito, ouvi dele: Olha o retrato do artista quando jovem. Muito mais tarde compreenderia que a fala dele era intercalada de citações tiradas dos livros pelos quais ele vivia cercado. Não demorou muito para que eu distinguisse, nas prateleiras feitas de caixotinhos empilhados, mas abarrotadas de toda sorte de livros, desde os grandes do cânone universal até o Almanaque do Barão de Itararé, os nomes das obras de Joyce que se tornariam tão familiares para mim na minha vida acadêmica.

    Não admira, portanto, que Joyce tenha sido minha escolha primordial quando, finalmente, comecei a trilhar o caminho da produção escrita.

    Minha dissertação de mestrado, terminada em 1989, buscou analisar as relações intertextuais entre as obras de Joyce e suas cartas ‒ mas não apenas. Tomando como texto base sua coletânea Dubliners, tentei mostrar também a interrelação existente entre os contos, levantando a hipótese de que os personagens das histórias eram paradigmáticos, isto é, eles seriam todos projeções de um mesmo personagem.

    Quando, alguns anos mais tarde, interessei-me pelas questões da formação de uma mentalidade nacional, naturalmente me veio à lembrança a produção de James Joyce. Percebi que, ao contrário do que a crítica tradicional dizia ‒ ou não dizia ‒ Joyce era um autor extremamente preocupado com as questões nacionais, apesar de, ao contrário de muitos de seus compatriotas e contemporâneos, jamais ter escrito, em seu tempo de vida e de escritor, a respeito das revoltas, revoluções e guerras pelas quais a Irlanda passou. E, à proporção que minhas leituras foram se aprofundando, percebi, para minha própria surpresa, que tudo que tinha desenvolvido na dissertação de mestrado havia aberto caminho para minhas recentes descobertas.

    Muitos leitores de meu trabalho atual podem sentir falta de uma exposição teórica mais densa, ou até mesmo de um capítulo em que fossem desenvolvidas as teorias nas quais me apoiei para desenvolver meu texto. Acredito que, se fosse aqui fazer tal exposição, meu trabalho seria uma extensa e maçante resenha dos caminhos teóricos que já percorri na minha vida acadêmica, pois acredito que não haja apenas uma teoria nos bastidores do meu texto. Ele é, sim, um produto de todas as leituras, teóricas e não teóricas, ficcionais, poéticas, fílmicas, teatrais, existenciais e todas as outras que tenho feito durante a vida. Certamente, há uma linha teórica específica que me norteia, e dela falarei mais tarde. Na verdade, para mim o texto é como um rio que corre suavemente para o mar: a teoria são as águas profundas que dão impulso às ondas da superfície, que é o texto. É o volume total das águas que leva o rio a correr, mas quem o contempla só enxerga as águas da superfície.

    Quanto à teoria, voltarei ao meu ponto de partida: ao me interessar pelas questões que concernem os estudos da formação da nacionalidade, principalmente quando se trata de países colonizados que se levantaram como autônomos, algumas considerações de Homi Bhabha, principalmente, levaram-me a projetar suas ideias no estudo de como a Irlanda passou a se constituir como nação.

    Homi Bhabha fala do cruzamento de dois eixos na formação de uma nação: o pedagógico e o performativo. O pedagógico seria o da temporalidade acumulativa e continuísta, o didático que determina historicamente o que forma uma nação. O performativo seria a renovação diária, com sua estratégia recursiva e repetitiva, formando a nação a cada dia – nas palavras de Renan (apud Bhabha) –, um plebiscito diário.

    Nesses dois eixos pode-se encaixar toda a produção literária da passagem do século XIX para o XX na Irlanda, produção essa que impulsionou o movimento político que viria a desaguar na independência da Irlanda em 1921, ou pelo menos de 26 condados que formam a maior parte da Ilha de Esmeralda - Donegal, Galway, Mayo, Cavan, Leitrim, Longford, Roscommon, Sligo, Westmeath, Dublin, Louth, Meath, Monaghan, Carlow, Kildare, Kilkenny, Wexford, Wicklow, Laois, Limerick, Offaly, Tipperary, Clare, Kerry, Cork and Waterford. –, hoje a República da Irlanda, tendo ficado os seis condados do norte como parte da Grã Bretanha – Antrim, Fermanagh, Tyrone, Armagh, Londonderry e Down. No eixo pedagógico percebo os trabalhos dos grandes expoentes do Renascimento Literário Irlandês da passagem do século, figuras importantes como W. B. Yeats, Lady Gregory, John Millington Synge e Sean O’Casey. No eixo performativo encontra-se Joyce, com sua construção de personagens de classe média que formam a Irlanda no seu cotidiano.

    Joyce e Bhabha partiram de um mesmo lugar para escrever seus textos – o exílio. Bhabha explica que escreveu o seu DissemiNação: tempo, narrativa e as margens da nação moderna após sua própria experiência de migração. Ele fala das

    [...] reuniões de exilados, emigrados e refugiados, reunindo-se às margens de culturas ‘estrangeiras’; reunindo-se nas fronteiras; reuniões nos guetos ou cafés de centros de cidade; reunião na meia-vida, meia-luz de línguas estrangeiras, ou na estranha fluência da língua do outro; reunindo os sinais de aprovação e aceitação, títulos, discursos, disciplinas; reunindo as memórias de subdesenvolvimento, de outros mundos vividos retroativamente; reunindo o passado num ritual de revivificação; reunindo o presente. (BHABHA, 1998, p. 198).

    As palavras de Bhabha aplicam-se em toda instância a James Joyce, vivendo em Trieste, Paris, Roma e Zurich, em meio à língua do outro e criando suas narrativas em sua própria língua e até criando uma língua diferente para elas. É uma das formas que Joyce usa para escrever a nação. Para um e outro, Joyce e Bhabha servem as palavras de Kristeva, reproduzidas no ensaio de Bhabha (1995, p. 200): Como se pode evitar o afundar-se no lodaçal do senso comum, a não ser tornando-se um estranho para seu próprio país, língua, sexo e identidade?.

    Diz Bhabha que

    [...] o espaço do moderno povo-nação nunca é simplesmente horizontal. Seu movimento metafórico requer um tipo de ‘duplicidade’ de escrita; uma temporalidade de representação que se move entre formações culturais e processos sociais sem uma lógica causal centrada. (1995, p. 201).

    Poderíamos dizer que o horizontal a que ele se refere seria o eixo do histórico, o eixo pedagógico, da memória vivenciada. Bhabha preconiza outro tempo de escrita que seja capaz de inscrever as interseções ambivalentes e quiasmáticas de tempo e lugar que constituem a problemática experiência ‘moderna’ da nação ocidental – e esse seria o eixo vertical, formando os dois eixos a duplicidade de escrita da nação moderna.

    A meu ver, os expoentes literários do Renascimento Irlandês trilharam esse caminho horizontal da pedagogia nacionalista, ao buscar no passado histórico e nos mitos da Irlanda antiga a inspiração para a reconstrução do caráter nacional. Já Joyce inscreve-se também no eixo vertical, performativo, e em sua ficção

    [...] as pessoas são os sujeitos de um processo de significação que deve obliterar qualquer presença anterior ou originária do povo-nação para demonstrar o prodigioso princípio ativo do povo como aquele processo contínuo através do qual a vida nacional é redimida e significada como um processo repetitivo e reprodutivo. (BHABHA, 1995, p. 207).

    Mas acredito que, ao enxergar nos escritores irlandeses uma ilustração tão adequada aos estudos de Bhabha, eu jamais o teria conseguido se não tivesse internalizadas na mente as teorias da ironia, que tanto me ajudaram a aprender a ler qualquer texto. Portanto, posso dizer que, na base do meu trabalho, subjazem as teorias da ironia, principalmente na perspectiva desenvolvida por Guido Almansi, quando desenvolve a noção do tongue-in-cheek, chamando-o de abominável. O tongue-in-cheek, diz ele, é um fenômeno cibernético que ocorre atrás de uma barreira – ou um ruído – oposto à comunicação da mensagem: acontecimento que às vezes comunica e recusa a se comunicar (ALMANSI, 1978, p. 415). É, como alguns outros sinais não verbais, um comentário irônico de uma mensagem linguística, mas numa categoria diferente, pois não há manifestações exteriores. Um sinal dado por um falante funciona como uma antífrase, enquanto o tongue-in-cheek apenas reforça um estado de dúvida: os jogos de tongue-in-cheek existem na medida em que nós jamais estamos seguros que eles existam. O leitor/espectador pode desejar descobrir se houve um sinal que aponte a ironia no dito, mas jamais saberá com segurança. Almansi conta a história da ilha de Pleurilie, onde o meio de comunicação recai sobre as lágrimas, os sorrisos, gritos e caretas, e onde alguns seres excepcionais aprenderam a controlar as lágrimas; introduzindo um fenômeno cultural em um campo considerado pertencente à natureza, eles exercem enorme influência sobre aqueles que acreditam que as lágrimas são um fenômeno natural e, assim, dominam seus concidadãos com sua arte insidiosa. Suas lágrimas, desonestas e astutas, são percebidas como inocentes e honestas. Na ilha próxima, de Blablalie, a comunicação se faz com palavras. É aí que os usuários refinados da linguagem, os poetas, começam a utilizar as palavras não para exprimir o que sentem, mas o que não sentem. As palavras se tornam instrumentos pérfidos e precisos da deformação, fazendo com que os que as escutem caiam em sua armadilha, acreditando que elas estão sendo usadas para exprimir realmente o que se diz. De acordo com Almansi (1978, p. 401), os escritores e os poetas são os operadores linguísticos que podem utilizar a língua seja para exprimir o que eles sentem, seja para fingir o que eles não sentem. Mais tarde ele diz que a cultura é traidora, os livros enganadores e os autores são mentirosos notáveis (ALMANSI, 1978, p. 401). Como muitos outros autores que poderia citar aqui (Machado de Assis, Shakespeare e Mary Stewart, entre muitos), Joyce é esse mentiroso notável, que diz sem dizer e que, deixando o leitor na expectativa do real significado das palavras, apresenta outra mensagem, muito mais complexa, na qual se cruzam os eixos pedagógicos e performáticos da escrita. Ao ler Joyce, procurando perceber se ele colocou a língua na bochecha ao escrever suas obras, vou buscando as significações prováveis nas entrelinhas de seu texto, nelas vislumbrando um conceito de nação irlandesa com o que aparentemente ele nunca se preocupa.

    O livro em si resume-se em cinco partes: na primeira parte faço uma introdução de como delimitei meu trabalho, que foi iniciado sob a égide da Literatura Comparada e que segue a tendência atual dessa disciplina de adotar os estudos culturais no seu embalo. Na verdade, acredito que todo o tempo em que pesquisei as questões atuais da Irlanda e da inserção da ficção de Joyce no quadro da formação nacional eu estava trabalhando nos caminhos dos estudos culturais. Essa abertura responde também pela inserção de um capítulo que apresenta a cultura popular da Irlanda, fundamental para o desenvolvimento do meu ponto de vista. Para tal fim, alguns dos textos constantes do Relatório Bernheimer, Comparative literature in the age of multiculturalism, foram importantes para fundamentar meu pensamento, principalmente o texto de Marie Louise Pratt, que preconiza a derrubada das cercas que separam, de forma estanque, as disciplinas de cada área do conhecimento, defendendo um trabalho interdisciplinar para melhor cobertura do nosso objeto de estudo.

    Trabalhar dessa forma deu-me grande liberdade de desenvolver um ponto que há muito me parecia fundamental, tanto na obra de Joyce quanto nas de outros escritores irlandeses da passagem do século, como Lady Gregory, Yeats e John Synge – a questão da musicalidade de suas linguagens, calcada na musicalidade do povo, manifestada desde tempos imemoriais na produção e execução de canções e baladas de todas as formas e em todos os lugares imagináveis e inimagináveis. No decorrer do trabalho, exemplifico com fragmentos de textos dos autores citados a questão da musicalidade de sua linguagem, concentrando-me, naturalmente, nos textos de James Joyce, sobre cuja obra debruço-me com mais detalhe.

    Exponho com detalhes o desenvolvimento das canções e baladas populares no segundo capítulo, tomando como base o momento, no final do século XVIII, em que essas canções e baladas começaram a ser cantadas em língua inglesa – no princípio, em tradução do gaélico, mantendo o ritmo, a sintaxe e a sonoridade da língua original, depois com criações já em língua inglesa. Nas palavras de Padraic Colum, que escreveu a introdução à publicação das Broadsheet ballads, em 1913, pode-se descrever o processo de tradução como uma transferência gradual de uma língua para outra com a música permanecendo para manter o formato (COLUM, 1913, p. ix).

    Há canções de todo tipo e formato, desde as baladas românticas, passando pelas canções do exílio, pelas jocosas, pelas de confronto com os donos de terra, até as declaradamente políticas, com exaltação aos mártires das revoltas e levantes, e as de despedida de soldados, maridos e amigos que são levados para a prisão ou executados. As canções proliferavam mais e mais a cada evento político e/ou violento ocorrido no país.

    Um grande responsável pela divulgação e aumento da produção de canções e baladas foi o jornal The Nation, fundado em 1842, iniciado já com o intuito de defender as aspirações nacionais do povo

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