Didática sensível: contribuição para a didática na educação superior

De Cristina d'Ávila

Há uma clara mutação no que tange à relação com o saber no mundo hodierno, podendo-se citar a velocidade e renovação de conhecimentos e experiências e as tecnologias digitais que ampliam e modificam funções cognitivas. Portanto, existe outra inteligência com a qual devemos lidar sob o risco de vermos derrocadas quaisquer tentativas de educar. Qual o espaço para a linguagem sensível nas práticas educativas? A cisão entre razão e sensibilidade nos lançou em busca de subsídios teóricos que sustentassem uma Didática Sensível voltada à compreensão desses processos subjetivos. O inteligível está associado inexoravelmente ao aspecto sensível da existência, ou seja, à intuição, à corporeidade e à imaginação que conduzem ao pensamento criativo. Portanto, o ensino deve ser visto em perspectiva hologramática e na compreensão do humano em uma visão que integra os aspectos intelectuais, emocionais, intuitivos e corporais.

• Idioma: Português
• Editora: Cortez Editora
• Data de lançamento: 30 de jun. de 2022
• ISBN: 9786555552799

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I

Uma compreensão sobre os paradigmas didáticos nas trilhas percorridas

A Didática é a ciência profissional dos professores. Ela é o meio mais importante para um profissional aprender a ensinar visando o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos e desenvolvimento da personalidade.

(José Carlos Libâneo)

1. Breve introdução

Para chegar ao que intitulamos como Didática Sensível, foi preciso trilhar por sendas que me formaram como professora de Didática na Educação Superior. As trilhas percorridas foram necessárias e deixaram marcas que datam da formação inicial como pedagoga em um período de obscurantismo político e enaltecimento de uma abordagem marcadamente tecnicista na educação. A Didática que conhecemos no curso de Pedagogia do início dos anos 1980 estava fundamentada na racionalidade instrumental. Era uma Didática de caráter eminentemente técnico e normativo.

Neste capítulo, além do Tecnicismo, como tendência pedagógica em vigor desde os anos da ditadura, traremos à baila as Pedagogias Críticas que fizeram o fluxo contrário naquele momento histórico e na atualidade. Desenvolvemos uma visão analítica das Pedagogias Construtivista e Socioconstrutivista que também vigoraram na educação brasileira a partir dos anos 1990 e concluímos em prol da Didática Sensível no seio de uma Pedagogia Raciovitalista.

2. O Tecnicismo pedagógico-didático

O que se convencionou chamar de Tecnicismo no meio acadêmico foi uma tendência que se efetivou na prática profissional de professores de vários segmentos de ensino a partir de um ideário pedagógico de caráter pragmático e pretensamente neutro. O sufixo ismo refere uma ideia de fenômeno linguístico e, dentro dele, uma representação de sistema. A perspectiva tecnicista na educação brasileira surgiu nos anos 1970, depois de instalado o governo militar de 1964, em oposição ao ideário democrático da Escola Nova em vigor antes do golpe. Depois da Teoria Geral de Administração, como primeira sistematização sobre a organização do trabalho e seu controle, é no âmbito da Teoria Geral dos Sistemas que a racionalização e o controle referidos alcançam grande