Permanência e Êxito nos Cursos Técnicos: Desafios e Conquistas
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Sobre este e-book
É um livro destinado a educadores de todos os níveis e modalidades, bem como a pesquisadores das questões etnicorraciais no Brasil, já que apresenta possibilidades de formação continuada em serviço para servidores em educação.
É, ainda, um livro inédito porque foca todo o debate nas possibilidades de permanência e êxito acadêmico dos estudantes, especialmente dos negros e indígenas, jovens e adultos, por meio do delinear de conceitos e princípios norteadores para o ensino da cultura afro e indígena no Brasil, que os associa aos emblemas instituídos pelas formações docente e discente. Tais emblemas foram desenhados a partir das demandas socioeducativas e culturais próprias das diversidades estudantis, incluindo o desenvolvimento de uma disciplina de estudo dentro e fora da sala de aula.
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Permanência e Êxito nos Cursos Técnicos - Izanete Marques Souza
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico este livro aos professores e estudantes da educação básica, atores protagonistas nos processos de construção de uma educação multicultural centrada na valorização da interculturalidade do Brasil.
AGRADECIMENTOS
Aos professores das redes públicas de ensino da Bahia pela base acadêmica que proporcionaram e continuam proporcionando a mim e aos demais estudantes oriundos da população culturalmente rica e diversificada, contudo, muitas vezes, invizibilizada e discriminada pela sociedade.
À Profª Drª Ana Lúcia Gomes da Silva, pela parceria, pelo incentivo e pela orientação educativa que têm me possibilitado abrir novos caminhos.
À minha mãe, Izabel Marques Souza, e a meu pai, Dermival Barbosa de Souza (in memoriam), pela base educativa familiar de disciplina e perseverança, sempre com base no amor à vida e ao próximo.
APRESENTAÇÃO
Nos entremeios da diversidade nos processos formativos da educação profissional técnica
O processo educacional deve fomentar a cultura da educação pela convivência, contemplando uma concepção de formação humana, em que a cultura, o trabalho e a tecnologia se pautem nos valores éticos essenciais ao pleno exercício da cidadania (OCEM, 2015, p. 17).
Iniciamos a apresentação da obra de autoria de Izanete Marques Souza, intitulada Permanência e êxito nos cursos técnicos: desafios e conquistas, com a epígrafe do documento de Orientações Curriculares para o Ensino Médio, elaborado pela Secretaria Estadual da Bahia (SEC-BA), a qual busca traduzir e contextualizar o cenário baiano, enfatizando o processo educacional como uma das possibilidades de ascensão cognitiva e social dos sujeitos das classes populares da Bahia – espalhados pelos 417 municípios baianos – dando centralidade a uma formação que não desvincule a pluralidade sociocultural dos sujeitos, suas diversidades socioeducativas, sua cor/raça, gênero, sexualidade, classe social e geracional, que marcam os sujeitos sócio e historicamente concretos, de modo a pautar seus direitos e valores e refletirmos nas inferências dessa posição assumida explicitamente no documento quanto às implicações dessa concepção nas práticas pedagógicas no contexto escolar da educação básica baiana.
A obra apresenta como objetivo central do trabalho analisar as demandas dos sujeitos da educação básica em seus distintos tempos e ritmos de aprendizagem, destacando o contexto da educação técnica da rede federal de ensino e as necessidades de formação apontadas pelos docentes. Traz ainda o cenário das demandas socioeducativas e culturais no âmbito da diversidade estudantil, considerando os dados que emergiram do campo empírico do estudo investigativo, naquilo que Miguel Arroyo (2011, p. 11) nos indaga: Como temos reconfigurado os currículos de formação no tocante ao direito à diversidade?. Para o autor, este cenário contemporâneo tem [...] enfatizado o reconhecimento da diversidade em todo o currículo desde a Educação infantil, bem como nos currículos de formação e de Educação Básica
, haja vista que estes sujeitos sócio-históricos concretos e reais reivindicam seus direitos plenos, e neles, o direito de aprender.
Ao realizar a descrição densa
do curso de Informática como nos convida a fazer Gertz, dialogo com a concepção do curso, sua organização curricular e a infraestrutura requerida ao curso. Apresenta em seguida os sujeitos sócio-históricos que dele participa, cenarizando nesse bojo suas metas e desafios. Os dados levantados na pesquisa apontam que a preocupação socioeducativa em relação aos sujeitos atendidos pela rede federal, entendida nesta obra como ações que visem atender não só às demandas de aprendizagem científica, mas também sociocultural dos estudantes, a exemplo da redução de déficit de aprendizagem, inserção no mercado de trabalho, articulação das aprendizagens teóricas com a base prática da formação, considerando os desafios que aí residem, apontados e tensionados no transcorrer do livro.
Outros aspectos relevantes da obra dizem respeito aos desafios apontados pelos colaboradores da pesquisa quanto à formação inicial e em exercício, prática pedagógica, permanência e êxito nos cursos técnicos e as demandas que se apresentam para as IES que ofertam a Educação Técnica e seu coletivo. Neste ínterim, a obra apresenta uma demanda de formação em serviço para os docentes com o intuito de atender as especificidades da diversidade que atravessa o cotidiano dos institutos federais. O trabalho com a diversidade na educação se ancora em um campo polissêmico que atravessa sentidos entre igualdade/desigualdade, identidade/diferenças/alteridade ou diversidade e direitos humanos. O cenário da atuação docente apresentado no livro nos mostra a necessidade de consolidação de uma política de formação engajada e implicada, que possa ser concretizada de forma colaborativa, a fim de atender as especificidades do ensino médio profissionalizante, considerando os contextos de diversidade nos quais os docentes estão inseridos.
É importante pensar aqui a docência como um processo de construção formativa que se constitui no cotidiano escolar das práticas educacionais. Por isso, no cenário da educação técnica profissional, é necessário considerar que lidamos com bacharéis e licenciados e, por isso, os modos de fazer e viver a docência nesse espaço revelam-se fundamentais para a compreensão da política atual de formação docente na EPT – educação profissional técnica. Como nos diz Rios e Menezes (2015), a docência como profissão na educação profissional foi se instituindo à medida que a própria EPT foi ganhando espaço dentro do cenário educacional. Isso nos leva a pensar que a mudança da EPT é fruto de embates entre atores do contexto sociopolítico e educacional, bem como dos movimentos internos da categoria. Portanto, o exercício da docência, certamente, é também um motor nesse processo.
Ao sinalizar aqui a experiência desenvolvida com uma pesquisa-formação-ação com um grupo de docentes que atuam com os jovens estudantes do instituto federal, a autora nos apresenta, por meio de questionários, narrativas e dados
institucionais, oito pontos que merecem atenção e tensionamentos no que se refere à formação docente:
• debate entre docentes e equipe técnico-pedagógica como elemento motriz para a discussão coletiva de todos esses profissionais nas reuniões de planejamento e de formação continuada em serviço;
• professores que atuam na maioria das disciplinas no decorrer do curso são engenheiros/bacharéis em informática, ou seja, não tiveram uma formação inicial para a profissionalização docente;
• a identidade docente: ser e estar na docência;
• saberes e fazeres da docência;
• diversidade etnicorracial, permanência e êxito nos estudos;
• demandas socioeducativas dos discentes que ingressam nos cursos técnicos dos institutos federais de educação;
• relevância e/ou a funcionalidade do curso técnico em informática na vida dos jovens e adultos que se matriculam nele;
• docentes e servidores técnicos que exercem funções administrativas e suas concepções acerca da realidade pedagógica dos professores, confrontando-as com a realidade social dos estudantes e as causas que têm levado à evasão discente.
Estes dados da pesquisa apontam para uma leitura crítica da realidade da Educação Básica no lócus estudado e nos possibilita as seguintes indagações: em relação às metas e atividades a ser realizadas como fruto das demandas coletivas, como se expressam os sujeitos protagonistas dessa educação? É possível articular os distintos grupos em prol de uma utopia possível, imprescindível a qualquer projeto educativo? Como promover e assegurar a operacionalização da política de formação resultante da pesquisa e a aplicar no âmbito da instituição? Como tem sido a participação coletiva docente e discente nesse processo? Como avaliamos nossa prática pedagógica e quais reflexões de mudanças e redimensionamentos são apontadas pelos colaboradores da pesquisa? Quais lugares sociais os jovens dos cursos técnicos ocupam? Quais são seus sonhos e projetos de vida?
Essas questões são fundamentais para o conjunto das ações que a IES buscará para responder às demandas socioeducativas e culturais dos sujeitos, haja vista que a função social da escola tem sido frequentemente indagada, sobretudo no que diz respeito a uma formação que responda e corresponda às demandas da contemporaneidade naquilo que os teóricos tais como (GATTI, 2009; PEREIRA, 2000; TORRES, 2000; BARRETO; GATTI, 2009), apontam: as IES não têm como elemento comum tomarem como referência os índices de resultados de aprendizagens, evasão, repetência, nem a escuta do que dizem os docentes da educação básica para dialogarem com os formadores dos sujeitos da rede de ensino. Além disso, o distanciamento e dicotomia produzidos por conteúdos poucos significativos, não contextualizados e, ainda, desconectados da polifonia da vida dos sujeitos, das suas demandas e necessidades/realidade das escolas, precisam ser redimensionados e ganhar centralidade nas discussões no âmbito das formações inicial e em exercício.
Considerando esses fatores e com eles os novos ordenamentos sociais e culturais que a contemporaneidade nos aponta, além das lutas pelo direito e pela dignidade social, não podemos deixar de lado os dados de nossa realidade educacional para a contribuição na diminuição das desigualdades geradas pelo sistema escolar. O acesso ao conhecimento científico/escolar potencializa o sujeito. É neste contexto que o pensar a permanência e o êxito dos jovens estudantes do ensino médio profissional articulado com uma política de formação docente no contexto da diversidade precisa ser fortalecido na legitimação da docência no cenário nacional, especificamente, nos diversos aspectos relacionados às políticas públicas de formação.
Com o intuito de instigar os leitores acerca destas discussões, Izanete M. Souza divide sua obra em cinco capítulos que entrecruzam as discussões sobre diversidade, formação docente e demandas socioeducacionais dos discentes e seus desdobramentos. Convidamos a todos e a todas para que possam conhecer o trabalho inspirado numa perspectiva reflexiva e emancipatória dos sujeitos envolvidos com o fenômeno educativo na educação profissional técnica, entrecruzado