Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Regresso Do Profeta
O Regresso Do Profeta
O Regresso Do Profeta
E-book507 páginas7 horas

O Regresso Do Profeta

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

No final do século 24 um homem luta em busca de respostas para as inúmeras visões que assaltam sua mente. Acaba descobrindo que sua própria vida não é realmente o que pensava ser. A única certeza que tem é o amor que sente por uma misteriosa mulher chamada Andressa Rubino. Nada é o que parece, e as perguntas se acumulam como brasas em uma fogueira. O que ele tem certeza é que uma organização secreta que controla a maior parte do poder na Federação de Povos da Humanidade, quer destruí-lo a qualquer custo. O que se esconde por detrás do parlamento federativo? O que realmente aconteceu em Alfa-Centauri, a mais próspera colônia da Terra? Estas são as perguntas que o Jovem Amom Guedes terá que encontrar resposta nesta emocionante aventura futurística.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de dez. de 2012
O Regresso Do Profeta

Leia mais títulos de Paulo Lucas

Relacionado a O Regresso Do Profeta

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Regresso Do Profeta

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Regresso Do Profeta - Paulo Lucas

    Prefácio

    Este é o meu primeiro livro escrito. E como tal, sei que o leitor encontrará algumas ingenuidades tão naturais num escritor imaturo. A história mostra o que aconteceu com a Humanidade após o século 21. Terríveis guerras fratricidas causadas por questões político-religiosas; decadência e a consequente queda dos Estados Unidos da América e, o quase extermínio da Espécie Humana. Tudo por causa de suas rixas ideológicas. É neste livro que coloco o nosso povo brasileiro em seu status de primeira grandeza.

    Após os cataclismos dos séculos 21 e 22, um brasileiro chamado Tomé de Souza Azevedo faz com que nosso povo ressurja das cinzas do holocausto da guerra. Este homem cria pequenas colônias autogestoras de sobrevivência, que mais tarde exporta com a mesma idéia para o solo da África. O único lugar do planeta aonde, quase não há contaminação radioativa e química das armas de destruição em massa.

    Após conseguir livrar o remanescente dos humanos da Era da Grande Fome, Tomé junto com outro brasileiro chamado Andreas Rubino; funda o núcleo urbano na planície do Serengeti na África. Este núcleo cresce rapidamente, e se torna uma megalópole que, mais tarde se tornará a capital da Federação dos Povos da Humanidade criada por Tomé.

    É o descendente de Andreas Rubino, um homem chamado Fábio Rubino que é o protagonista deste livro. Um filantropo que gasta seu tempo, e dinheiro em prol dos aflitos e necessitados. Fábio nasce com um terrível dom de presciência; e se torna um escândalo para a geração altamente descrente e tecnológica.

    Prólogo

    Prólogo da Psicohistoriadora e arqueóloga Debra Zeev. A brasileira se destaca no meio acadêmico e, chama a atenção do Imperador Udvald Malak Al-Hak Jason Rubino. Este franqueia as bibliotecas do Império e, da Igreja da Sagrada Profecia para que ela escreva, e divulgue a verdadeira origem da Casa Imperial Al-Hak, e do Império criado pelo ancestral de Udvald; Malak Al-Hak II.

    Como psicohistoriadora, tenho o dever de relatar os verdadeiros fatos, que contribuíram para que no futuro acontecesse o Santo Jihad. Certamente deflagrado pela vingança do Escolhido. Fica difícil após todos esses milênios separar os fatos verdadeiros da lenda, pois Fábio Rubino o Profeta gerou muitas lendas que, teimam em sobreviver nos mundos colonizados pela humanidade. Iniciaremos este tratado mostrando a parte humana do Profeta. Do momento em que ele desperta para vida sob a forma do jovem Amom Guedes.

    Mostraremos as facetas dos malévolos Renegados e seus servos. Que transformaram o mundo dos homens num sistema corrupto, onde a vontade dos mais fracos não tinha vez. Naquela época, a Terra e a jovem Federação eram governadas por um parlamento inepto. Os quais não puderam reconhecer o Profeta em seu retorno.

    Com mais da metade de seus membros trabalhando para a organização secreta Chama Viva, fizeram de tudo para se livrar do homem que expôs seus erros e inércia a luz da verdade. Durante as páginas desse trabalho, nos depararemos com as virtudes de Andressa. Uma mulher que foi um exemplo não somente para sua época, mas para nós mulheres da geração atual.

    São as visões da mente que levam o Profeta a Rub Al-Khali na Arábia. Onde se depara com um dos membros da civilização espiritualizada dos Karshi’avanir; os Construtores. Um membro desse povo chamado Vrinam, ajuda o Profeta Rubino a recuperar suas memórias originais. Plenamente renascido, ele se recupera dos traumas de seu assassinato em Hope. Após se lembrar do que era anteriormente, ele parte em busca de repostas para as visões de sua mente. E a procura de seu eterno amor que, nem mesmo a eternidade foi capaz de fazê-lo esquecer. Mas ele não imaginava as tramas dos malévolos Renegados, que através de suas marionetes do parlamento federativo fazem Rubino ser exilado num planeta distante. Lá, ele se depara com os Alados. Seres que o ajudam a sobreviver na terrível selva de Exílio.

    Este é o primeiro trabalho que é fruto de dificultosas pesquisas. Realizadas não somente na biblioteca imperial no planeta Soma, mas também em textos que são de propriedade da Igreja da Sagrada Profecia. A Igreja possui um grande acervo de holocristais com imagens do Profeta Rubino. E miríades de textos sagrados; que quando peneirados de seus exageros religiosos, fornecem preciosos fatos para a psicohistória.

    Capítulo 1

    Todo aquele que possui o dom da presciência; deve entender que prever o futuro, não implica que poderá mudá-lo. O fluxo do tempo se assemelha as ondulações; provocadas por uma pedra quando lançada sobre as águas de um lago. Cada ondulação traz em si mesma, variações temporais, das quais o profeta não possui o mínimo controle. A única certeza que ele terá é essa: Não existem coincidências.

    Trecho extraído do Sefer ha Goláh, o Livro do Exílio. Escrito por Rubino quando esteve exilado no planeta Exílio.

    Amom correu apressado pelo passadiço elevado muito acima dos jardins da entrada da estação. Por um breve momento, ficou olhando para os carros voadores passando com velocidades extremas pela via aérea. Como que saindo de um transe, decidiu que não tinha tempo para perder com estas observações urbanas. Precisava pegar o trem maglev que sairia às sete horas e trinta minutos. Se por acaso chegasse atrasado, o senhor Fukuoka falaria o dia inteiro e isso seria desagradável.

    O salão de entrada da estação estava lotado. As pessoas estavam preocupadas em se desviar dos robôs faxineiros encerando o piso. Suas faces mostravam claramente a disposição e, a vontade de que seus corpos ainda pudessem estar em camas macias.

    Amom finalmente se aproximou da plataforma onde tomaria o trem. Deparou-se com uma profusão caótica de cartazes holográficos numa mixórdia colorida. Coisa que gerava uma poluição visual com as propagandas das inúmeras corporações. Cada grande empresa da Corporação Tecnológica se achava no direito de mostrar seus produtos aqui. O que dava claramente a impressão, de que uma terrível competição de marketing na propaganda de seus produtos ocorria.

    Irritado, Amom entrou no trem já abarrotado de pessoas numa lufa-lufa de tecidos. Carrancudo o rapaz varreu o vagão com a vista procurando um assento vazio para se sentar. Notou claramente que era raro encontrar assento vazio a esta hora da manhã. Finalmente, conseguiu encontrar um lugar junto a uma janela. De onde pelo menos, poderia atenuar o tédio enquanto olhava a paisagem da cidade. Latínia era uma metrópole gigantesca em uma época de alta tecnologia, e fora construída no interior do que fora o extinto Estado de São Paulo. Os Brasileiros sobreviventes da época da Grande Fome haviam percorrido um longo e árduo caminho.

    Enquanto observava as grandes torres que ultrapassavam as nuvens, a história recente da humanidade foi como que se intrometendo na mente dele. Depois da Quarta Grande Guerra, o remanescente do povo brasileiro erguera a cidade. Transformando-a na capital do Estado Federativo da América do Sul. Os olhos de Amom se fixaram fascinados nas torres azuladas ultrapassando as nuvens mais baixas. A cidade era responsável por grande parte da produção do material de alta tecnologia consumido pela população da Federação. Com um profundo suspiro, ele se lembrou de que por pouco, a humanidade não fora destruída na última guerra fratricida.

    As cenas de fome e destruição arquivadas nos holovídeos dos bancos de dados; existiam para mostrar o que acontecera. Eram cenas que vinham agora como um fantasma agourento, para assombrar a mente dele pela manhã. No primeiro quarto do século 21, o antigo Império Americano começou a dar fortes sinais do fim fatídico que se aproximava. Seu modelo de política praticada há décadas; começou a semear e a causar grandes perturbações no planeta inteiro. As antigas nações já fortalecidas não estavam dispostas, a concordarem com todos os caprichos do congresso americano. Os povos islâmicos que claramente nutriam ódio contra os americanos decidiram se levantar em massa.

    Segundo os poucos documentos que restaram daquele período turbulento, este ódio não era coisa recente. Era algo que vinha sendo alimentado por décadas de divergências político-religiosas. Foi justamente nesse momento histórico, que esses povos islâmicos se sentiram fortes o suficiente, para se levantar contra a opressão. Descobriu-se que o mentor por trás do levante, era um gênio da eloquência. Mas a grande ironia do destino era que ele era um árabe descendente de americanos por parte de mãe.

    Seu nome era Dr. Yussuf Mansur. Um gênio no campo da pesquisa biológica, e para a desgraça da humanidade, ele era um clérigo ultra-ortodoxo. O homem perdera a esposa e o filho numa operação conjunta dos americanos e israelenses, numa aldeia do Oriente Médio. Jurando que um dia destruiria a nação americana, Mansur fundou um movimento revolucionário chamado A Espada de Alá.

    Um vídeo recuperado da época mostra o Dr. Mansur se dirigindo à comunidade mundial. Ele dizia que atacaria bem no coração da nação americana. E foi exatamente o que aconteceu. Um belo dia, um surto incontrolável de gripe começou a se manifestar em diversas cidades norte-americanas. Logo um monte de gente começou a morrer. Descobriu-se na época, que enfermidade era causada por uma cepa de vírus geneticamente modificado. Algo nunca antes observado. Antes que se descobrisse uma medicação, mais de 500 mil americanos morreram sob o efeito desse vírus mortal[1]. Com muito custo, os cientistas norte-americanos conseguiram conter a fúria do vírus de Mansur. Mas o custo havia sido muito alto.

    Num ato de desespero e precisando dar uma resposta ao ataque, o congresso americano votou leis de emergência dando plenos poderes ao presidente. Com isso, o governo poderia dirigir a resposta ao seu agressor da maneira que melhor lhe conviesse. Tomando uma decisão que hoje chamaríamos de arbitrária, o congresso americano dividiu a humanidade em duas classes: Em amigos e inimigos dos americanos.

    Então a guerra se acendeu como um rastilho de pólvora. E se espalhou por todos os hemisférios do planeta.

    Por seis longos anos o conflito se alastrou pelos territórios islâmicos. Morte, dor e destruição cavalgaram sob a cela do Cavaleiro Vermelho do Apocalipse. Tropas vestidas com o mais moderno em tecnologia se engalfinharam em promontórios rochosos, pradarias, aldeias, cidades e desertos. Mas assim como começou, o fogo da guerra extinguiu-se. E mais uma vez o Império Americano saiu-se vencedor da batalha. Pela destruição e duração, o conflito foi considerado como a Terceira Guerra Mundial. Todavia, mesmo com toda a fúria dos americanos, estes não conseguiram destruir os líderes da Espada de Alá.

    Saindo ilesos das batalhas, os líderes mostraram que não ficariam inativos por muito tempo. Mansur sendo um gênio em tática militar; reagrupou seus cientistas, pensando no próximo lance. Em cavernas profundas das montanhas do Afeganistão, os cientistas sob seu comando, criaram um míssil stealth de longo alcance. Sem pensar duas vezes, Mansur lançou o míssil em direção da América do Norte. O míssil stealth possuía uma ogiva atômica de 20 megatons de TNT, e fora feito com material contrabandeado do Irã. Era uma bomba capaz de varrer qualquer megalópole do mapa.

    Numa bela manhã do dia 18 de abril de 2048, um sol brilhou bem no centro da cidade de Washington DC.

    Partindo do epicentro, o fogo atômico devorou todas as estruturas num raio de 25 quilômetros. Transformando o centro da capital dos Estados Unidos num deserto radioativo. Milhões morreram. Milhares ficaram feridos e desabrigados. O grande Império ficou estarrecido, e perplexo por ter sido ferido daquela forma. Até mesmo a população mundial ficou chocada com a brutalidade do atentado terrorista. Porque até o momento, ninguém acreditava que um grupo terrorista islâmico seria capaz de tamanha proeza. Mostrando um grande preparo, os militares escondidos em suas bases subterrâneas como o centro NORAD conseguiram colocar certa ordem no caos.

    Imediatamente criaram a Junta Punitiva. A reciprocidade foi o lema daqueles líderes militares. Numa reunião emergencial a Junta fez um juramento que, destruiria todos os povos islâmicos do planeta. Para eliminá-los definitivamente da face da Terra. Numa coisa inédita para a política americana, um general assumiu o poder. E foi com a completa aprovação por parte do povo. Esquadras de aviões caças automáticos partiram das bases americanas em direção ao Oriente Médio. Eram aparelhos comandados por uma nova tecnologia de inteligência artificial. Monstros que não sabiam o que significava piedade.

    O atentado a Washington foi à mola mestra para o inicio do período, que os psicohistoriadores costumam chamar de a Segunda Era das Trevas. Cada país, cada cidade e pequeno povoado foram varridos pelas frias máquinas assassinas. Não deixaram nada de pé. Toda e qualquer estrutura foi pulverizada por novos armamentos lançadores de raios de plasma. Na batalha final, os soldados americanos encurralaram os membros da Espada de Alá nas montanhas afegãs. Todos eles foram esfolados vivos, e colocados em estacas ao sol para morrer.

    Após a última resistência islâmica eliminada, os esquadrões de extermínio varreram as regiões habitadas por povos de maioria muçulmana. A ordem era clara para os esquadrões avançados: Quem não mudasse de religião deveria ser morto imediatamente! Basta dizer que as pessoas preferiram morrer a mudar de religião. Mesmo em última instância, e sob a ameaça de aniquilação, as pessoas se apegam ferrenhamente as suas tradições religiosas. Elas encaram a morte com completa altivez de espírito.

    As outras potências da época até então neutras no conflito, não suportaram ver os terríveis massacres. Então decidiram unanimemente deter o gigante americano. E no dia 31 de janeiro de 2050, a União Européia e o Bloco Asiático comandado pela China declararam guerra aos Estados Unidos. O grande Império Americano se achando no direito divino de governar os povos da Terra, e confiando em sua alta tecnologia, acreditava que Deus estaria ao seu lado.

    O Império Americano ainda resistiu aos seus adversários por um período de sete anos completos. Mas nenhuma nação por mais forte que seja, consegue se manter em tantas frentes de batalha. Mas no desenrolar final, do que foi chamada a Quarta Grande Guerra Mundial, todos perceberam que não haveria vencedores. O grande conflito deixou o planeta tão arrasado, que o sistema ecológico já fragilizado das eras anteriores entrou definitivamente em colapso. Por causa disso a Terra já não podia sustentar as espécies. E cinco bilhões de pessoas pagaram com suas vidas, pela insensatez de assassinos uniformizados.

    As grandes cidades outrora cheias de vida, agora estavam vazias como tristes memoriais à loucura dos homens. A própria nação americana não teve como sobreviver à destruição sistemática do planeta. Num ato de desespero seus militares remanescentes e seus cientistas decidiram que, chegara o momento de se mudarem para a protocolônia já existente em Marte. Foi uma tentativa patética de tentarem salvar seu modo de vida.

    Juntaram os últimos recursos; construindo naves de transporte em sua base lunar. Uma forma de levar gente e materiais para o último refúgio. Isso lhes permitiu construir uma mínima infraestrutura, que lhes possibilitaria a sobrevivência no inóspito planeta vermelho. Na Terra ficaram continentes inteiros cobertos de vastos campos de ruínas cheias de ossos. Com um resto miserável de população lutando para sobreviver todos os dias. O período foi denominado pelos Psicohistoriadores como a Época da Grande Fome. Os três bilhões remanescentes tiveram constantes baixas por causa da inanição e canibalismo.

    Parecia que finalmente a sofrida humanidade do planeta Azul teria o seu término. Como foi a tanto tempo preconizado pelos antigos. Mas quando a escuridão sombria parecia ter engolido toda a civilização humana, surgiu alguém que trouxe um pequeno raio de esperança. Uma luz para aqueles que sofriam nas trevas da fome e da miséria.

    Numa inovadora atividade, um homem se ergueu das cinzas da destruição. Ele decidiu que não morreria e, que a humanidade mais uma vez seria forte. Seu nome era Tomé Almeida de Azevedo. Um brasileiro. Este homem desenvolveu um modelo de comunidade autossustentável que, era capaz de sustentar uma população de pequeno porte. A primeira destas comunidades foi criada no que foi outrora o belo país chamado Brasil. Produzindo alimentos e uma incipiente indústria de bens básicos.

    Tomé criou oficinas improvisadas, utilizando restos de materiais bélicos deixados nos quartéis abandonados. A esta se seguiu outras comunidades que, foram recebendo os famintos maltrapilhos sobreviventes da guerra. Após a estabilização das comunidades, elas acabaram gerando outras comunidades. Após isso, Tomé partiu em direção aos outros países, numa tentativa de criar novos assentamentos. Ele acreditava piamente que isso possibilitaria a sobrevivência dos remanescentes da grande guerra.

    Ele viu que grande parte do solo da Europa, da Ásia e da América do Norte estava arrasada pelas armas químicas, e pela radiação atômica. Então, organizou comboios de aviões para levar os sobreviventes para a África. Onde o solo quase não fora afetado pela guerra. Foi nesse período que ele conheceu um médico brasileiro chamado Andréas Rubino. Ele já estava trabalhando com os sobreviventes da África. Juntos criaram uma grande comunidade chamada Saint Peace, que se tornaria mais tarde a capital da Federação de Povos da Terra.

    Andréas Rubino teve a idéia de procurar pelas regiões outrora muçulmanas, para ver se ainda existiam sobreviventes do Grande Massacre. Foram descobertos vários subterrâneos nas antigas capitais dos países islâmicos. Onde os sobreviventes se empilhavam como ratos na luta pela sobrevivência. Tomé os recebeu em Saint Peace, lhes prometendo plena liberdade de culto para praticar sua religião.

    Sendo judeu, Andréas foi o homem que possibilitou a sobrevivência da etnia árabe, e dos muçulmanos em geral na Terra. A única crítica que os historiadores do presente fazem a Tomé, é que ele criou um sentimento nos brasileiros que eram um povo especial. Devendo somente casar-se entre si para que pudessem sobreviver como povo, e preservassem a cultura que outrora tinha sido tão bela. O desejo de Tomé era voltar para as regiões do Neo-Brasil. Onde seu povo reerguido prosperava a pleno vapor. Mas os outros sobreviventes da guerra que estavam vivos graças a ele decidiram o eleger como o Grande Legislador de toda a Humanidade.

    Com apoio do povo, Tomé organizou o primeiro parlamento Federativo. Onde todos os representantes das etnias sobreviventes teriam representatividade. Andréas que fora escolhido para ser vice-Legislador; começou a criar as primeiras indústrias. Para que assim, pudesse suprir de itens básicos, a população mundial sobrevivente. Ainda existiam sobreviventes norte-americanos famintos e maltrapilhos. Vivendo miseravelmente na América do Norte. Todos foram ajuntados por Tomé, sendo reorganizados em comunidades autogestoras à moda brasileira.

    Mas isso somente foi possível em regiões; onde o solo não foi contaminado pela radioatividade, ou elementos químicos deixados pela guerra. Esses remanescentes americanos viviam com medo de represálias, por causa dos crimes de guerra cometidos por seus compatriotas militares. Mas Tomé os tranqüilizou, dizendo que o passado ficara para trás. Deveriam somente pensar no futuro, e na sobrevivência da humanidade como um todo. Este foi o discurso de Tomé na primeira sessão do parlamento recém-criado:

    Vejam! Agora vocês têm como perpetuar a nossa humanidade. Não cometam a mesma tolice de nossos antepassados. Que quase nos destruíram por conta de suas mesquinhas rixas políticas e religiosas. Olhem somente para o futuro (nesse ponto Tomé fez seu gesto famoso em direção ao horizonte que mais tarde foi imortalizado em bronze). É lá que se encontra a nossa sobrevivência. Quando eu me for, procurem se entender e evitem a guerra. Pois se isso acontecer novamente, eu lhes asseguro que deixaremos de existir. Caminharemos daqui para frente como um só povo; onde não existirão as antigas barreiras geográficas, ou até mesmo, as diferenças ideológicas. Como Grande Legislador, eu declaro a criação da Federação de Povos da Terra!

    E foi desta forma que nasceu a Federação de Povos da Terra. Todos os sobreviventes do holocausto acreditaram que se a humanidade quisesse sobreviver, deveria acabar definitivamente com a guerra e a discórdia. Depois de vários anos de destruição em massa, a humanidade emergiu para uma nova era de paz e prosperidade.

    No ano de 2169, a cientista Walda Harbin Shelomo[2] conseguiu colocar em funcionamento o primeiro propulsor estelar. Aparelho que possibilitava a viagem em dobra espacial. Com o equipamento, uma nave poderia estar em qualquer lugar na galáxia instantaneamente. Significando que a espécie humana já não estava presa ao seu sistema solar pátrio. Na segunda metade do século 22, a Terra já possuía três embriões de colônias no espaço profundo.

    Não foi descoberta por enquanto, vida inteligente como o homem nos setores já explorados. Todavia, o espaço era muito vasto para se afirmar com certeza que não havia vida inteligente. Uma grande quantidade de plantas e animais exóticos foi descoberta nessas explorações de espaço profundo.

    O primeiro planeta colonizado pelo homem fora do sistema solar; foi o terceiro planeta do sistema Alfa-Centauri. Em seguida vieram Tau Ceti e Sirius. Estas três primeiras colônias trouxeram uma enxurrada de riquezas, e novos conhecimentos para o homem. Grandes descobertas da ciência tornaram-se coisa quase que corriqueiras naqueles dias. A humanidade unida em um só propósito; podia juntar as forças e recurso para a pesquisa cientifica.

    Os frutos dessas pesquisas foram: o controle efetivo da gravidade. Do envelhecimento, e também a criação de membros e órgãos humanos para reposição. Em seguida, veio o desenvolvimento de uma inteligência artificial semelhante ao cérebro humano.

    Amom voltou à realidade do que estava a sua volta.

    O trem maglev já se aproximava do centro da cidade. Imediatamente a holotela do teto começou a mostrar um comercial da Gen-Vital Corporation. Um jovem cientista negro vestindo terno-kimono de Gel-ipladim; dizia que a Gen-Vital estava desenvolvendo um projeto, que reporia grande parte dos peixes e cetáceos extintos aos seus oceanos da Terra. O jovem sorridente dizia que as pesquisas do desaparecido doutor Takamoto Seiko, e a perfeita replicação genética seriam usadas para trazer animais extintos à vida novamente.

    O céu acima de Latínia escureceu ligeiramente. Um ronco surdo fez com que as janelas de policarbonato do trem tremessem levemente. Amom encostou a cabeça na janela. Pôde ver um grande cargueiro em forma de asa delta passando por cima da cidade. Talvez estivesse levantando voo em direção à colônia de Alfa-Centauri[3]. A colônia de Hope como foi denominada o terceiro planeta, era um grande consumidor de máquinas desflorestadoras. Sem as gigantescas máquinas os colonos não tinham como limpar os terrenos para plantar suas culturas vegetais. O solo de Hope era coberto basicamente de enormes florestas. As máquinas produzidas na Terra possibilitavam aos colonos, o meio ideal para limpar a superfície para o cultivo. Na colônia de Hope existia apenas uma cidade de 600 mil habitantes, e era chamada de New Hope.

    Vendo o cargueiro ir embora, Amom sentiu um ligeiro desconforto emocional. Era um conjunto de sensações que não soube definir corretamente o que seria. Toda a vez que pensava em Alfa-Centauri, sentia algo como se fosse uma tristeza profunda. Qual era a origem dessa emoção estranha?

    Uma suave voz feminina o fez voltar à realidade. Ele tinha chegado à estação Sérgio Schmidt. Parando por um momento após descer do trem, ele olhou fascinado para um canteiro de Bulbo-flores. Que eram plantas exóticas trazidas do planeta Hope. As estranhas flores possuíam o formato tubular. De suas aberturas redondas se remexiam tentáculos. Os tentáculos de cor azulada emitiam um delicioso aroma de ameixa madura. Perfumando e ao mesmo tempo purificando o ambiente da entrada da estação.

    A substância produzida por esses tentáculos era um forte bactericida e antibiótico de ação comprovada na purificação de interiores, por isso em quase todos os lugares se utilizavam essas flores hoje em dia. Olhando para o mostrador de seu computador de bolso, Amom notou que dispunha de trinta minutos para chegar ao trabalho. Ainda havia alguns minutos que possibilitariam um desjejum rápido. As pessoas que passavam ao lado dele, sempre o encaravam de modo estranho, fazendo-o ficar preocupado. Ele um rapaz de vinte e cinco anos, e à medida que o tempo passava, notava esses olhares estranhos daqueles que passavam a sua volta. Isto se intensificava de modo desagradável a cada dia.

    Deus! Por que será que as pessoas sempre me olham assim? — ele pensou irritado. Todas as manhãs eram a mesma coisa, e na volta o fenômeno se repetia.

    Assim que foi descendo as escadas que o levariam ao piso inferior, percebeu que havia algo errado consigo. Sua visão que sempre fora perfeita tornou-se embaçada. Sentiu que se não se apoiasse no corrimão, certamente cairia rolando pelos degraus. De repente, algo como uma descarga elétrica insinuou-se em sua coluna, produzindo uma sensação terrivelmente desagradável. Amom curvou-se todo. Foi como se estivesse tendo uma monstruosa câimbra pelo corpo todo.

    Tentou gritar, mas a única coisa que saiu de sua garganta foi um estertor rouco. Algo parecido com o som produzido por um animal selvagem ferido. Ele perdeu o equilíbrio. Desceu rolando descontroladamente escada abaixo. Logo foi parar no piso junto aos pés da escada. O piso inferior estava lotado de pessoas nessa parte da manhã. Muitos emitiram sons de surpresa quando viram o rapaz rolando. Alguns correram agitadamente para socorrê-lo. Alguns dos que estavam ali tiveram a desagradável impressão, como se estivessem vendo uma pessoa em plena manifestação de uma crise epilética.

    O rosto de Amom era uma mescla de caretas horríveis que deformavam a jovem face. Os olhos rodopiavam nas órbitas, e davam ao público um espetáculo muito desagradável. Nas mentes de várias pessoas que assistiam a cena, ocorreu à lembrança do que os antigos chamavam de exorcismo demoníaco, ou possessão diabólica.

    O corpo de Amom se acalmou um pouco, e passou a vibrar em pequenas convulsões espasmódicas. Da boca dele saiu uma espessa espuma branca, em meio a sons desconexos. Um homem forte de meia idade segurou a cabeça dele com força, com medo que as convulsões o machucassem. Amom segurou fortemente o braço do homem que o ajudava, apertando-o como se fosse um torniquete. O homem gemeu tentando se libertar da mão. Ele notou horrorizado que os olhos de Amom estavam baços como se pertencessem a um peixe morto. Pacientemente tentou ouvir e interpretar, o que significam aqueles sons desconexos. O estertor que saia daquela boca deformada pelos terríveis espasmos. Mesmo com a voz sendo baixa; o homem pôde escutar algo parecido com isso:

    — Andressa... Por favor, Andressa! Não me deixe...

    O homem achou que Amom chamava por sua namorada ou um parente qualquer. Alguém devesse morar em algum lugar da cidade.

    O computador da estação imediatamente registrou o incidente, e acionou os serviços dos para-médicos da estação.

    Durante o estranho incidente, Amom Guedes viu-se envolto em estranhas visões geradas pelo inexplicável delírio. Visões que o fizeram se sentir como se estivesse no corpo de outra pessoa. Mas o estranho mesmo era que a outra pessoa fora ele mesmo num passado recente. Pelo menos, foi isso que sentiu diante da estranha experiência. Era uma estranha sensação como se ele fosse duas pessoas ao mesmo tempo. Coexistindo em dois contínuos espaços-temporais diferentes.

    Logo percebeu que já não se encontrava na estação Sérgio Schmidt, mas num lugar que não se lembrava de ter estado algum dia. Um céu azul ligeiramente rosado mostrava que não era o céu do planeta Terra. Olhando a sua volta, notou que se encontrava num tipo de palanque. Daqueles que eram montados para eventos musicais, ou para discursos de políticos importantes.

    A frente dele uma multidão parecia ansiosa aguardando alguma coisa importante que seria dita. Todos o olhavam como se ele fosse alguém muito famoso. Ele deu uma olhadela para trás. Homens fortes vestidos com ternos-kimonos observavam a tudo e a todos. E era evidente que estavam preocupados com alguma coisa. Como se daquela multidão pudesse sair algum tipo de ameaça, que poderia ameaçar a pessoa de Amom.

    Com satisfação ele notou que havia uma mulher de beleza exótica ao seu lado. Daquelas capazes de fazer os homens respirarem apressadamente. Ela sorria amorosamente e o aplaudiu juntamente com o povo. Ele sentiu que conhecia e amava aquela linda mulher... Mas de onde? Não sabia. A única certeza era que a amava muito, e que vivia intimamente com ela. Um pesado sentimento de saudade pesou-lhe no coração. Sufocando tudo, até seus sentimentos mais imediatos. Inexplicavelmente, e por um breve instante, ele ficou na dúvida se a conhecia ou conhecera de verdade... Sua mente flutuava entre duas realidades diferentes. A do palanque naquele lugar estranho, e a da estação onde se encontrava caído ao pé da escada de acesso. Mas a beleza gritante da mulher foi como uma baliza sinalizadora guiando-o. Dando-lhe a plena certeza de que a amava profundamente. Ou já amara antes. Mas onde?

    Uma comoção em meio ao povo despertou sua atenção. Ele pôde perceber uma agitação no meio do povo que estava ali para assisti-lo. Em meio aos gritos de protestos de pessoas empurradas para os lados de forma brusca, ele viu um homem moreno claro de estatura elevada avançar implacavelmente em direção ao palanque. Uma senhora foi ao chão gritando protestos e desaforos, mas isso não deteve o estranho em seu avanço. Ao se aproximar mais um pouco do palanque, o homem enfiou sua mão direita dentro da jaqueta. Logo retirou um objeto metálico fosco de dentro de um bolso do interior de sua jaqueta. Amom viu um raio escaldante sair daquele objeto. Era tão brilhante que ofuscou suas vistas.

    O raio atingiu seu baixo ventre e causou uma dor tão intensa, que por um momento mal conseguiu respirar. Mas antes de tombar, pôde ver que na altura do peito do atirador existia um símbolo tridimensional na forma de uma chama de fogo. Na visão o tiro da arma energética se repetia... E se repetia várias vezes... Como se fosse um filme que o editor quisesse ver algo que não tivesse gostado. Antes de ir ao chão, Amom ainda pôde escutar o que o atirador tinha gritado:

    Morra maldito Rubino!

    Amom sentiu como se aquilo tudo fosse projetado em câmara lenta. Como se estivesse vivenciando aquele momento como uma névoa que embaçava a visão. Mesmo deitado no chão do palanque, viu a linda mulher gritar de pavor. Em seguida ela correu como uma louca para junto de seu corpo caído. Agora entendia tudo aquilo... Fora atingido mortalmente por um raio de energia!

    A mulher se aconchegou junto a seu corpo, assim ele pôde entender o que ela dizia em seu desespero. Ela chorava descontroladamente. As longas lágrimas desciam dos lindos olhos pela face borrando a maquiagem. Amom ficou totalmente surpreso ao ouvir sua própria voz dizer a ela:

    — Mesmo na morte o verdadeiro amor prevalece minha querida. Não... Não chore meu amor, tudo ficará bem...

    Inconsolável a mulher se debatia em cima de seu corpo. Numa dor e tristeza que era de cortar o coração. Não parava de dizer que não conseguiria viver sem ele. A mão ensanguentada de Amom tocou a bela face da jovem mulher, e pôde sentir a umidade das lágrimas em seus dedos. Definitivamente ele se sentia muito cansado. Como se sua mente quisesse mergulhar para sempre numa inconsciência benfazeja.

    Mas antes de perder os sentidos, notou que o local tinha mudado. No momento seguinte, pôde perceber que estava dentro de uma grande banheira transparente cheia de um líquido amarelado. Um homem asiático olhava para ele da borda superior da banheira. Que mais parecia um tanque transparente e lhe dando um sorriso matreiro. O homem que parecia ser um japonês lhe disse:

    — Finalmente você está de volta, não é mesmo amigão? Foi difícil, levei muito tempo... Mas consegui trazê-lo de volta.

    — Onde... Onde estou? — ele perguntou ao asiático.

    O asiático apenas sorriu calmamente e depois disse — Acalme-se. Agora você está finalmente em casa.

    Assustado Amom olhou para seu próprio corpo nu mergulhado no caldo amarelado na banheira gigantesca. De seu umbigo saía um tubo semi-orgânico em direção a um conjunto de estranhas máquinas.

    — Não precisa se preocupar com nada. Mais tarde tudo será explicado e entendido — disse o asiático calmamente.

    — Eu... Eu não consigo me lembrar de nada... Eu... Quem sou eu e onde estou?

    O asiático balançou a cabeça tristemente. Como se grandes expectativas fossem desfeitas naquele momento.

    — Realmente não se lembra de nada? — o homem que parecia um japonês perguntou entristecido.

    — Eu não me lembro... Eu me sinto muito fraco e cansado... Eu...

    De novo ele voltou ao momento em que se encontrava na estação do trem Maglev. Por um breve instante, antes de perder a consciência definitivamente, ainda pôde ver as pessoas em volta.

    Capítulo 2

    A natureza psicológica de uma pessoa plenamente vem à tona, quando ela é imersa em grandes provações. É nesse momento que a natureza demonstra claramente quem é apto para sobreviver ou não. Não se trata de mera crueldade ou algo relacionado a uma mente inescrupulosa. Isso se chama simplesmente: Seleção Natural. Mas não se preocupe. Cada ser humano já nasce capacitado para sobreviver às provações. Todas as pessoas já nascem dotadas com as ferramentas necessárias para enfrentar esse grande teste da natureza. E por que alguns não sobrevivem? Esses que não sobrevivem e que, convencionamos chamá-los de perdedores, são simplesmente aqueles que não souberam usar as ferramentas que a Mãe Natureza os dotou.

    Trecho extraído do Sefer ha Goláh O Livro do Exílio escrito por Rubino durante sua estadia no planeta Exílio.

    A viatura policial azul metálica voava como um míssil pela aerovia superlotada de carros voadores. Na direção do veículo com motores envenenados estava uma bela mulher de cabelos loiros cacheados. A jovem mulher olhava através do pára-brisa com um semblante impassível. Como se nada no universo pudesse perturbar sua calma interior. Nem mesmo quando o sinal de chamada ecoou do painel cheio de instrumentos, ela se perturbou, apenas olhou calmamente para a pequena holotela. O sistema intercom da polícia de Latínia informava sobre uma emergência na estação Sérgio Schmidt. Não era nada sério. Segundo as informações, um sujeito havia passado mal e caíra de uma escada. Os robôs para-médicos da estação já procederam com os primeiros atendimentos, mas era necessária a presença de um policial para registrar a ocorrência.

    A policial que atendia pelo nome de Lúcia, acabou enviando um impulso de confirmação de chamada. Ela se encontrava próxima ao local, e cinquenta segundos mais tarde pousou no estacionamento da estação.

    Imediatamente a policial entrou em contato com o computador da estação. Um contato que se processou na base da comunicação sem fio, usando uma base de impulsos psicomecânicos. Logo, Lúcia que era um andróide HS-350, imediatamente já estava de posse de todos os dados médicos do rapaz acidentado. Segundo o computador da estação, não foi encontrada nenhuma patologia, ou mesmo vestígios de drogas na corrente sanguínea. Para o cérebro positrônico da estação, o incidente fora registrado como uma ocorrência inexplicável. Através de imagens fornecidas pelo cérebro positrônico da estação, Lúcia ficou sabendo onde era o local e se dirigiu para lá.

    O piso inferior estava cheio de pessoas gesticulando e falando bem alto. Quando a policial andróide começou a descer as escadas, o computador de bolso de Amom lhe enviou uma enxurrada de dados acerca de seu proprietário. Ao lado do acidentado estavam postados dois robôs paramédicos. Modelos metálicos meramente com a forma humanóide. O paciente fora imobilizado conforme o procedimento padrão. Parecia respirar com tranquilidade num sono reconfortante.

    Um dos robôs paramédicos virou o rosto metálico para Lúcia. Seus primitivos olhos de cristais olharam-na sem vida. Um mortiço brilho avermelhado saia de suas lentes.

    — Não foi detectada qualquer enfermidade ou substâncias alucinógenas na corrente sanguínea. Não há justificativa para as convulsões, e a queda posterior nos degraus da escada. — o robô explicou com voz ligeiramente metalizada.

    Lúcia assentiu acenando com a cabeça. Em seguida se virou para um homem de meia-idade, que olhava ansioso para dizer alguma coisa.

    A policial se dirigiu a ele. — O senhor viu o que aconteceu com o rapaz?

    O homem coçou um ponto acima da cabeça. Em seguida a encarou nos olhos. Sua visão parecia embaçada. Tinha um semblante de quem costumava

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1