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O Silêncio Da Penha
O Silêncio Da Penha
O Silêncio Da Penha
E-book217 páginas1 hora

O Silêncio Da Penha

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Sobre este e-book

A História de Maria e João e o relacionamento conturbado e violento
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de set. de 2016
O Silêncio Da Penha

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    O Silêncio Da Penha - Antonio Auggusto João

    O SILÊNCIO DA PENHA

    2

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    O SILÊNCIO DA PENHA

    ANTONIO AU GGUSTO JOÃO

    1ª. Edição

    SÃO PAULO

    2.016

    EDITOR

    ANTONIO AUGUSTO JOÃO

    918607

    3

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    Editor O Silêncio da Penha

    Antonio Augusto João

    www.portaldoauggusto.blogspot.com.br Antonio Auggusto João

    Produção, revisão e capa Nenhuma parte desta publicação

    Antonio Augusto João pode ser armazenada, fotocopiada,

    reproduzida por meios mecânicos

    eletrônicos ou outros quaisquer sem

    a prévia autorização do Editor.

    auggusto@terra.com.br

    Autor: João, Antonio Auggusto

    Obra: O Silêncio da Penha

    Antonio Augusto João

    São Paulo / Antonio Augusto João

    196p ; 21cm colorido

    ISBN 978-85-918607

    1. Literatura 1. Título

    São Paulo 2.016

    1a. Edição

    4

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    PREFÁCIO

    5

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    6

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    LINDA, INTELIGENTE, INDEPENDENTE E

    APANHA DO MARIDO

    Não, violência doméstica não acontece apenas

    com mulheres fracas, humildes ou dependentes de

    maridos que vivem entornando pinga em boteco.

    Violência doméstica também acontece com gente

    fina, bem-educada, analisada. Ou seja, pode rolar

    com sua amiga, irmã, com você mesma.

    Aconteceu com ela. Aqui, Miss G, uma paulistana

    de 32 anos que prefere não se identificar, dá a

    cara a tapa. "Eu poderia acabar com aquilo,

    mas não queria. Apanhar é tão humilhante

    que cega".

    Neste último Réveillon, quando me desejavam

    a frase pronta paz, amor, prosperidade, eu tinha

    vontade de falar para ficarem com a prosperidade

    e com o amor para ver se a paz vinha reforçada.

    Tinha sido o primeiro ano de muitos sem

    apanhar, e, como um vira-lata resgatado que

    passa o resto da vida lambendo a mão do novo

    dono, eu ainda estava em processo de agradecer

    aos céus pelas circunstâncias, me sentindo um

    pouco não merecedora, pequena, assustada

    e com medo de que, de uma hora para outra,

    tudo voltasse a ser o inferno que era. Começou

    7

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    como imagino que comece a maioria dos casos de

    violência doméstica: catapultado por um coquetel

    power de álcool, insegurança e ciúme.

    Ele saiu me arrastando pelos cabelos de uma

    festa, meus pés quase sem encostar no chão, por

    causa da investida não solicitada de um amigo

    igualmente embriagado.

    Lembro-me de estar no carro, voltando para

    casa, e pensando no quanto queria o colo dos

    meus pais. Mas estava de casamento marcado e

    achava que cancelar seria uma decepção que eles

    não mereciam. Então foquei em consertar o meu

    futuro marido. Em vão, é claro. Seguindo o mais

    absoluto estereótipo das novelas, filmes e afins, os

    momentos violentos eram sempre camuflados

    pelos de fofurice extrema.

    Ele falava para os amigos que eu era a mulher

    mais linda do mundo, mas ia para casa e me

    chamava de gorda nojenta. Eu parava de comer,

    emagrecia os 5 quilos que precisava, e o ciúme

    aumentava descontroladamente. "Você tem que

    estar bem para mim, e eu odeio mulher raquítica,

    que não tem onde pegar", ele vivia dizendo nos

    meus momentos mais magros. Eu relaxava

    um mês na academia e ouvia: "É bom você nunca

    8

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    se separar de mim porque ninguém vai te querer,

    Free Willy". Free Willy? eu pesava 54 quilos!

    O mais louco de sofrer bullying é que você

    pode ter uma autoestima maravilhosa, escutar

    elogios frequentes dos amigos, mas chega uma

    hora que você acaba acreditando. Ele era mais

    fraco que precisava acabar comigo para se sentir

    mais homem.

    Quando percebia minha vulnerabilidade ele me

    acolhia, cuidava da asa que tinha quebrado...

    E era dessa parte que eu, tonta, me lembrava no

    dia seguinte. Fui mimada, bajulada, muito amada

    e protegida pelos meus pais.

    Como qualquer menininha, tinha sonhos de

    princesa, casamento rega-bofe com sapatinho de

    cristal e de viveram felizes para sempre. Onde

    tinha desandado? Em que etapa do processo

    trocaram o príncipe encantado pelo vilão?

    "Ele era tão mais fraco em todos os sentidos

    que precisava acabar comigo para se sentir mais

    homem". Com uns cinco anos de casada minha

    vida tinha virado um verdadeiro manicômio. Uma

    costela quebrada por um chute virava queda de

    cavalo, um osso da face trincado quando ele

    resolvia usar minha cabeça de bola de boliche na

    parede era um "não posso sair hoje, tomei todas e

    9

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    caí na escada, acredita?". Nariz sangrando?

    Tempo seco em São Paulo. Hematomas? Carência

    vitamínica. Viramos mestres na arte de inventar

    desculpa para preservar a relação bizarra que a

    gente tinha. Naquela época passava comercial

    falando da lei Maria da Penha (sancionada em

    2006, aumenta o rigor da punição em casos de

    violência doméstica) o tempo todo na TV. Eram

    mulheres contando a minha história. Ele abaixava

    a cabeça, mexia nas pilhas do controle, trocava o

    canal. Ficava um climão tão tenso que dava

    para cortar o ar com uma faca. Eu fazia cara de

    choro na esperança de ele perceber. Ele saía,

    comprava um chocolate e jogava no meu colo.

    Eu comia lembrando os elogios de baleia e as

    comparações com as mulheres altas e magras dos

    amigos dele. Veja bem, eu poderia ter caído fora a

    qualquer momento. Mas eu não queria.

    A gente sempre acha que não quer porque

    ficamos completamente cegas na humilhação de

    um tapa. Joga luz no que temos de mais

    sombrio, extravaza coisas do passado que você

    não sabia que existiam e aconteceram muito antes

    de o canalha começar a participação especial na

    sua vida.

    10

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    11

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    Eu tinha sido uma adolescente muito difícil,

    então, numa loucura inconsciente, achava que a

    agressão do meu marido era uma punição por isso

    e aceitava. Cada tapa aturado silenciosamente era

    um pedido de desculpas para a minha mãe.

    Quando o olho dele virava, eu saía correndo

    para o quarto para trancar a porta e gritava "meu

    pai vai te matar, minha mãe vai te pôr na

    cadeia!". Ele ria porque sabia que eu não teria

    coragem. Eu sabia que, se anunciasse para minha

    família o submundo em que vivia, nunca mais

    olharia para a cara dele, fato que me dava alívio e

    me apavorava na mesma medida. Preferia brigar

    com alguém a ficar sofrendo sozinha. Quem vê de

    fora simplesmente não entende, assim como eu

    não entendia. Um homem te quebra a cara, você

    se separa e vai à delegacia, né?

    Aquele homem era a família que eu tinha

    escolhido. Era um pai maravilhoso para os meus

    filhos, a pessoa que me possibilitava brincar de

    Amélia, que testava minhas experiências culinárias

    e para quem comprava coisas de homem em

    viagens. Toda vez que eu cogitava me separar,

    pensava que eu era uma egoísta só de imaginar

    isso. Não tinha direito de criar meus filhos em uma

    família quebrada só porque eu não estava feliz.

    12

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    Não queria ser a mãe solteira na Disney. Queria

    foto de todo mundo com camisetas iguais

    tomando café com os personagens. Nós quatro

    com braços levantados e boca aberta na foto da

    montanha russa. Nós quatro atrás da mesa do

    bolo nos aniversários.

    Situações que parecem bobas para as milhares

    de mães solteiras bem-resolvidas que existem por

    aí. Mas quando você não quer se separar porque

    acha que a vida vai ser perfeita assim que

    conseguir corrigir só essa coisinha nele, mas ao

    mesmo tempo sabe que num erro de cálculo de

    força ou de quantidade de pinga pode te fazer

    perder a vida (que dirá ter vida perfeita...), aí fica

    puxado. Há uns dias espiei um momento no

    quarto das minhas filhas enquanto brincavam de

    princesa.

    A mais velha explicava para a caçula, que a

    empurrou: "Mãozinhas foram feitas para fazer

    carinho, não para bater". Sábias palavras. Eu

    achava que, se ele estava fazendo coisas que não

    fazia antes, era porque não estava feliz.

    E minha obrigação de esposa era corrigir isso.

    Achava que, se levasse adiante alguma acusação,

    a coisa degringolaria de vez. Até que eu descobri,

    na hora de tirar um passaporte, que ele tinha

    13

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    registrado um boletim de ocorrência contra mim.

    Ao chegar em casa, eu só disse devastada por

    dentro: "Você não teve vergonha de sentar na

    frente de um delegado, com seu 1,85m, e falar

    que sua mulherzinha de 1,60 te deu uma unhada

    na cara? Jura que você não teve vergonha? Jura

    que ele não riu?"

    Aos poucos, bem aos pouquinhos, o amor foi

    acabando. Eu não levo muito jeito para ser vítima,

    e todo esse lifestyle UFC estava pesando no

    meu bom humor. Não dá para passar o

    dia sorrindo sem dentes na boca, então resolvi

    preservar os meus enquanto ainda os tinha.

    Estou solteira desde que me separei, há um

    ano, e não consigo me imaginar com alguém

    tão cedo. Ao contrário do que o meu ex falava,

    descobri que alguns homens me querem, sim, o

    que bastou para recuperar um pouco da

    autoestima que ele me roubou.

    A ferida do coração cicatrizou, e a cicatriz

    formou uma barreira. Não sinto mais dor, nem

    física nem emocional, o que às vezes me faz sentir

    anestesiada de tudo. Não sinto e ponto. Fiquei

    com um misto de preguiça e medo de homens. Eu

    ainda escuto a voz dele gritando insultos na minha

    cabeça sempre que bate uma insegurança.

    14

    ANTONIO AUG GUSTO JOÃO

    O SILÊNCIO DA PENHA

    Quando isso acontece, repito para mim mesma

    que era uma manifestação da fraqueza dele, e não

    uma realidade

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