O Casamento Do Mundo E Babilônia, A Grande
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O Casamento Do Mundo E Babilônia, A Grande - Pedro Henrique Barreto De Lima
Pedro Henrique Barreto de Lima
O casamento do Mundo e Babilônia, a Grande
1ª edição
Belo Horizonte
Edição do autor
2019
D353 de Lima, Pedro Henrique Barreto, 1987 -
O casamento do mundo e Babilônia, a grande - 1. ed. -
Belo Horizonte, Edição Independente, 2019.
40 p.; 27 cm.
ISBN: 978-65-81613-00-6
1. De como o dogma não é considerado uma gratificação da alma.
I. Título
CDD: 200
CDU: 11
Prefácio
É uma característica de ao menos algumas épocas precedendo grande desastre, senão todas, que as pessoas, em particular opinadores públicos, abram mão da discrição, dos escrúpulos e da consistência (uma trindade que é usualmente descrita como a consciência
). O testemunho (quiçá pressentido) de algo que é perturbador e trágico, então, é acomodado por uma espécie de prévia embriaguez; moral ou literal, a qual se afigura uma força cumulativa rumo a um infeliz fim. Ademais, essa cumulação bem compreende certo mecanismo pelo qual a embriaguez de ontem parece a sobriedade de hoje, tornando a intemperança alcoólica um ersatz de moderação relativa.
As bodas, entretanto, significam alegria. E se eu não puder tomar o meu quinhão de alegria com as bodas de dois tão ilustres noivos (como saber, hoje, qual é mais ilustre?), eu não terei aprendido nada.
Essa alegria consiste na dispersão de uma explicação (toda alegria é dispersão), mas não uma carregada de uma autoindulgência inepta; e se tal dispersão estiver fadada a se apartar do equilíbrio nicomacheano e da raiz do que ora é examinado; não vai ser porque careceu de uma concentração prévia (e não um sucedâneo ilegítimo dela), nem vai ser por carecer do amparo (em apreender o que está em jogo) do haver testemunhado em primeira mão um monstro figurativo verdadeiramente entristecedor e horrível; cuja face maligna continuamente ofende e pretende perturbar a inteligência, cuja indignidade emudece e desnorteia o discurso humano porque uma vez inserido no discurso humano ofenderia a dignidade desse próprio discurso. O mal, tanto aquele perpetrado, quanto aquele visto de fora, usa da própria sujeira para calar os seus inimigos. A tirania não é outra coisa que a promoção desse silêncio; da linguagem indireta e dissimulada a tal silêncio associada; da atmosfera de confusão e medo tornada banal para que o imperador
não seja declarado nu por alguma alma mais ou menos advertida.
Eu sinto que a minha língua foi cortada. Em todo caso, toda respeitabilidade usual me foi tirada no referir tais assuntos, tendo como causa formal a sua natureza.
O ser capaz de adequar-se discursivamente é um bem de valor ambíguo.
A magnanimidade (com a franqueza e unilateralidade que supõe) sugere que as pessoas confiam exageradamente nesse bem; e de outro lado alguns autores bem influentes muito insistiram em que a discrição máxima, e mesmo a invisibilidade (não raro assinalada pela magnanimidade como um se esconder à plena vista), constituem a etapa (paradoxal quanto seja) mais essencial à plena realização desse bem.
Se houver chegado a hora de falar, apesar de a língua me ter sido cortada, e o pesar do semblante me tiver pejado, algum milagre me há de dar voz durante as bodas; e ânimo; e eu direi tudo a respeito dessa união que o vinho julgar oportuno sem ofender a minha honra. 1 Se não houver chegado a hora, ainda que eu pareça gesticular, eu não terei dito nada.
Perderei solitário o quinhão de uma alegria que é repartida de modo tão generoso e tão vastamente.
O Noivo
Capítulo I - De como o dogma não é considerado uma gratificação da alma
O dogma é geralmente associado, com razão, àquilo que, não podendo