Bolo no casamento: aeroplano

De Dedé Ribeiro

Dedé Ribeiro exibe faces distintas de sua dramaturgia. Em Bolo no casamento, ressalta as implicações psicológicas das imposições sociais. Em AeroPlano, mergulha nas armadilhas dos relacionamentos. Nos dois textos, destacam-se os diálogos rápidos e coloquiais, com ironia e humor, pontuando situações-limite. A autora se vale de sua vivência multidisciplinar (artista, professora, produtora e estudiosa de neurociência) para o cruzamento de vários mundos, questionando hábitos e crenças culturais.

• Idioma: Português
• Editora: Editora da PUCRS
• Data de lançamento: 22 de ago. de 2022
• ISBN: 9788539711925

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PREFÁCIO

"Rindo as pessoas descarregam uma carga subjetiva que, mesmo sem querer, faz pensar...

A escrita cômica revela o que não temos

coragem de expressar...

Brincando se diz muito."

(Freud)

A escrita dramatúrgica de Dedé Ribeiro, vencedora do prêmio Revelação Literária de 1983, com a peça infantil O mistério das baipotas, é marcada por um delicado senso de humor, uma crítica vivencial velada, espirituosa e, às vezes, cruel.

Em Bolo no casamento nos deparamos com uma hilária reflexão sobre as relações líquidas e o poliamor com o gosto amargo da solidão. Personagens bem definidas, como a jovem imatura, a mulher liberada e a mãe tradicional, representativas de diferentes visões de mundo, interagem na situação catastrófica do cancelamento das bodas nupciais, ante a desistência de última hora do noivo. Temos então uma noiva abandonada, uma madrinha atrasada e uma mãe desoladamente revoltada. É com tais personagens que eclode o conflito entre o novo e o tradicional, sustentado por uma mãe aficionada pelos conceitos de família e amor monogâmico, destino último do consagrado papel de mulher-esposa-mãe. Os diálogos ágeis, fluidos, que exploram ao máximo a sonoridade das palavras, levam o leitor a encontrar as entonações adequadas como se dadas por um ator experiente. Definitivamente, uma dramaturgia de quem conhece o métier do palco e escreve um texto para ser ouvido, um texto que remete à cena teatral. A cereja do bolo é, por certo, a revelação final surpreendente.

Bolo no casamento foi encenado em 2014, no Teatro São Pedro, em Porto Alegre, inserido no espetáculo Quilt, que compreendia seis textos curtos, fruto do trabalho criativo dos dramaturgos do DRAN Núcleo de Dramaturgia. O espetáculo foi dirigido por Graça Nunes, com direção de movimento de Carlota Albuquerque, luz de João Fraga e interpretação a cargo da Cia Personas, grupo de atores voltado à experimentação cênica dos textos criados no DRAN. A ambientação cênica e os figurinos foram obra do coletivo das diretoras e dos atores; e a trilha sonora foi executada ao vivo pelo músico Tomás Piccinini.

Em AeroPlano, inédito para esta publicação, a autora segue outro caminho, distante da comicidade. Trata-se de um texto mais denso, uma abordagem metafórica das tentativas de um homem lidar com sua bagagem existencial. Egoísmo, amargura, arrogância, autopiedade são ingredientes desse resgate de vida, desse escrutínio no espelho. Os diálogos são carregados de informação, de alusões a ocorrências anteriores. Situações alicerçadas em um encontro atemporal com personagens do passado, trazidas à cena pelo recurso épico, distanciado, da troca de papéis promovida pela simples alteração de peças de figurino ou acessórios cênicos indiciais.

Para um tema mais pesado, percebe-se uma indução a um tratamento cênico menos ágil, de pouco dinamismo. Se Bolo no casamento sugere movimento e ritmo acelerados da