A Universidade na África e a Geraçäo de Pensamento: Questões de Moçambique e a Empregabilidade dos Graduados (1975-2012)
De Pedro Uetela
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A Universidade na África e a Geraçäo de Pensamento - Pedro Uetela
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
À minha família; meus pais, João Uetela e Isaura Mabalane, que me ensinaram a sonhar; meus irmãos, José, Isabel, Arminda, Ana e David; à minha esposa, Helena Julieta Atibo, e aos meus filhos, Táchila da Isa Uetela e Johnson João Uetela, pela compreensão pelos cinco anos de ausência no convívio familiar devido
aos estudos no estrangeiro.
Agradecimentos
Existem muitas pessoas, bem como instituições, por agradecer pelo fato de terem influenciado na concretização do presente livro. Por causa disso, é difícil encontrar um critério justo tanto para enumerar quanto para ordenar as principais vozes que, explícita ou implicitamente, fizeram parte desta obra. Em primeiro lugar, agradeço ao meu supervisor de doutoramento, Prof. Dr. Dagoberto José Fonseca, pela paciência e sábia orientação, desde o primeiro contato em 2013 até o momento de encerramento do nosso vínculo, pelo menos do ponto de vista de supervisão, que culminou com a defesa de tese no dia 28 de abril de 2018, que encorajou-me na publicação deste livro junto à Editora Appris. Sem a sua dedicação, críticas e conselhos, a presente obra não teria chegado às mãos do leitor. Reconheço a Capes, pela bolsa concedida por um período de quatro anos, a qual facilitou o meu engajamento nas atividades acadêmicas no Brasil, incluindo participação em eventos e outras publicações. Estes subsídios bem como as poupanças feitas, serviram também de pagamento das despesas de viagens adicionais à Moçambique para trabalho de campo. Em terceiro lugar, endereço os meus profundos agradecimentos aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras – Campus de Araraquara, especialmente àqueles que ministraram as disciplinas de Teorias Sociais: Carla Martelli, Maria Jardim e Renata Paoliello; aos professores; Ana Lúcia de Castro, Augusto Caccia-Bava e Karina Mariano, pela coordenação na disciplina de Métodos da Pesquisa Social a Maria Teresa Kerbauy, pelas excelentes emendas ao projeto de pesquisa durante as sessões do Seminário de Pesquisa; aos professores José António Segatto, da disciplina Sociologia e Sociedade no Brasil, Marcelo Santos, da disciplina Teoria Política Contemporânea, Dagoberto José Fonseca e Maria Jardim, dos seminários temáticos África-Brasil: Culturas & Sociedades Contemporânea e Pensamento de Pierre Bourdieu, respectivamente. Não me esqueço do professor João Carlos Soares Zuin, pela sua grande contribuição na matéria intitulada: Espaço Urbano e Dimensão Temporal na Era Global. A estes e tantos outros professores que me mostraram o caminho para investigação ao nível mais avançado de doutorado, dos quais algumas teorias serviram de suporte na produção deste livro, o meu muito obrigado. Agradeço também a companhia dos colegas do curso de Ciências Sociais, especialmente aqueles com quem ingressei em 2014, nomeadamente, Milton Andreza dos Reis, André Vieira Dias, Thiago Fidelis, Alexandre Moreira, Tatiane Souza, Jaqueline Talga e Regiane Zornetta, bem como os do curso de mestrado com quem participei nalgumas matérias. Por fim, agradeço á equipe da Editora Appris pelos últimos ajustes ao livro (revisora: Thalita Martins da Silva Milczvski; assessoria editorial: Alana Cabral e agente de publicação: Andrea Cristine Coimbra da Silva). A lista é longa, mas todos cabem na minha memória.
Prefácio
As universidades moçambicanas e o
impacto social de suas ações na sociedade, no Estado e no mundo do trabalho
Este livro é o resultado de um trabalho de fôlego teórico, de coragem metodológica e de ousadia acadêmica elaborado por Pedro João Uetela, jovem moçambicano e recém-doutor em Ciências Sociais no Brasil, que vem abrilhantar e inovar o escopo e o arcabouço das pesquisas científicas elaboradas sobre as diferentes dimensões e realidades presentes no continente africano.
A obra é inovadora e pioneira para o público moçambicano e brasileiro, universitário ou não, na medida em que provoca a nossa reflexão crítica sobre o papel das universidades públicas e privadas em sua contribuição efetiva para a sociedade e nas diferentes esferas do Estado, especialmente nesse momento em que a economia global é gerenciada por mercados dinâmicos e transnacionais e que cobram avaliações sistemáticas e urgentes de todos os agentes sociais. Assim, as universidades africanas (sobretudo moçambicanas), foco deste livro, não ficam fora desse processo, posto que são instituições que formam pessoas para atendimento das demandas formuladas por essa economia global, mesmo porque ela está atuando fortemente em Moçambique, em especial a partir de 1992, quando o governo e o Estado conduzido pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) abandonaram as bases do socialismo real e adotaram o capitalismo em toda a sua dimensão política, econômica, social e cultural.
Desse modo, esta obra do Dr. Pedro João Uetela problematiza, mais do que visa a compreender, o valor das universidades moçambicanas para o desenvolvimento e o progresso do país. Para tanto, ele constata que essa avaliação e compreensão do papel e o valor dessas instituições de ensino superior no país e para o país, somente poderão ser realizadas tendo em vista a conjugação de diferentes variáveis, tais como o levantamento do universo da população de graduados que são formados a cada período por essas instituições; o nível, o alcance e o percentual de obtenção de empregabilidade desses formados nos períodos analisados; a capacidade e a competência dessas instituições no atendimento ao público de discentes e a expansão do ensino superior no país, sobretudo porque as universidades moçambicanas estavam e, ainda, continuam em grande parte concentradas na região sul do país, particularmente na capital Maputo.
Pedro João Uetela, com esta obra, procura também entender, analisar, mas, sobretudo, criticar os processos de estabelecimento e transformação do ensino superior em África no geral, e em Moçambique em particular, a fim de interpretar a correlação entre as mudanças sociais, políticas, culturais, filosóficas, científicas e pedagógicas que ocorreram nas universidades moçambicanas, em decorrência das novas lógicas emprendidas pelo mercado e pela economia global que atingiram o país a partir da adoção do capitalismo na década de 1990, bem como sobre o impacto do processo de Bologna, em 1999, que alterou a percepção sobre qual caminho deveria ser trilhado para o melhor desempenho das universidades moçambicanas.
Avaliar sistematicamente as instituições de ensino superior à luz da realidade social e das políticas que elas ensejam é uma necessidade vital para as sociedades e para os Estados Nacionais, pois essas instituições podem ou não promover importantes processos na medida em que são alavancas fundamentais para a construção da soberania política, da autonomia científica e da emancipação tecnológica das nações. Sem as avaliações ou com avaliações incorretas ou incompletas não se obtêm leituras adequadas que possibilitam as correções de rumo, nem mesmo as mudanças dos modelos de ensino e de transmissão de conhecimento científico.
As instituições de ensino superior em Moçambique são o campo de preocupação teórica, política e econômica do autor deste livro. Até porque há uma insuficiência de estudos sistemáticos sobre os modelos epistemológicos que as universidades devem ou deveriam produzir no contexto de África. A maioria dos estudiosos em Moçambique, mesmo estando vinculados a essas instituições de ensino superior, destacam-se na investigação sobre o Estado, a família, as escolas e os movimentos sociais, só para citar algumas arenas de preocupação. Todavia negligenciam a necessidade de realizar estudos metódicos e que avaliem as suas próprias instituições como campo de preocupação e de crítica, enquanto instâncias sociais que deveriam promover a melhora dos índices de desenvolvimento humano do país, das condições e de maior rendimento do trabalho auferido pela população moçambicana, mas sobretudo de promover uma maior empregabilidade do jovem moçambicano em atividades de maior prestígio e de rendimento econômico, isto é, a universidade sendo também espaço de abertura de perspectiva para essa juventude e para a população em geral.
Mesmo mostrando de maneira singular o legado africano para todo o mundo, em especial para a Europa, quando constituiu o maior e mais antigo sistema de apreensão da realidade e de transmissão de conhecimento que é o realizado pela universidade, tendo em vista o que fora desenvolvido em Fez, no Cairo e, ainda antes, no grande império do Mali, em Timbuktu, muitos séculos antes do que foi constituído em Bologna (Itália) e que, indubitavelmente, só o foi pela presença renovadora e inspiradora dessa população afro-arábica islamizada, negra e intelectualizada do norte da África que hegemonizou todo o sul da Europa e o Mediterrâneo por mais de 700 anos. Pedro João Uetela aduz também a necessidade de vislumbrarmos, compreendermos e problematizarmos os percalços e dificuldades que elas vivenciaram a partir dos processos de conquistas e de políticas conduzidas pelas potências europeias a partir do século XV até o século XX que impactaram todo o continente africano e fizeram submergir o capital cultural e acadêmico dessas instituições de ensino sistematizado.
Enfim, este livro não é só atual ao dialogar com o passado das universidades africanas e o lugar que ocuparam, enquanto instituições de transmissão de conhecimento científico para todo o mundo, mas a sua atualidade é porque consegue olhar para o momento e fazer a crítica ao presente, enquanto uma obra que faz um convite à avaliação responsável do papel e do valor das universidades públicas e privadas em Moçambique e no contexto africano, tendo como base a passagem do século XX para o século XXI, em que novas e imperativas questões foram colocadas no cenário global ,ditadas pela economia de mercado e, em especial, pelo neoliberalismo, que também atingiram as universidades e os seus projetos acadêmico-científicos, políticos, pedagógicos e as suas próprias gestões burocráticas, conformando inclusive novos cursos e novas práticas formativas, o que veio a propiciar diferentes e um maior número de postos de trabalho e de emprego para a população moçambicana, em especial a juventude que interaje no mundo global e digital capitalista.
Este livro de Pedro João Uetela é uma obra ímpar e pioneira, lê-la é quase uma obrigação para aqueles que interrogam sobre o lugar, o papel e o valor que as instituições de ensino superior têm com o progresso e o desenvolvimento de Moçambique, bem como com a qualidade de formação que oferecem aos seus estudantes da graduação em diferentes cursos dos seus membros. Leia-o e se questione e as questione também nesse processo dinâmico.
Dagoberto José Fonseca
Livre docente em Antropologia Brasileira, docente do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras – Campus de Araraquara/Unesp.
Apresentação
Nosso interesse pela questão da universidade e empregabilidade nasceu por causa de alguns acontecimentos marcantes que, embora tenhamos nos inserido neles coincidentemente, mapeiam nossa trajetória acadêmica desde 2012 até o presente momento. O primeiro foi termos cursado parte do nosso segundo mestrado na área de estudos do ensino superior e desenvolvimento – Mesd, e o segundo está concatenado ao primeiro, visto que, enquanto frequentávamos tal curso, emergiu uma preocupação sobre o lugar do continente africano e de Moçambique no que se refere a este campo de ensino superior. Esta inquietação se intensificou não só em conta das discussões que eram feitas sobre o posicionamento de África e da universidade, mas também em relação à contestação sobre uma possível correlação entre universidade e transformação social no continente, hipotecando desta feita a relevância desta instituição social (universidade). Sendo assim, perceber o papel da universidade para emancipação dos seus participantes e, por via disso, mensurar o grau da sua influência para o progresso de Moçambique se tornou uma das nossas grandes ansiedades.
Este debate sobre a relevância da universidade a partir da empregabilidade é algo novo nos estudos sobre o ensino superior sobretudo em África na medida em que quebra a tradição de pensar a relevância do ensino terciário por dentro dela. A utilidade da universidade foi sempre e majoritariamente vista a partir da titulação dos membros, dos artigos publicados em revistas renomadas, contribuição intelectual
e longevidade das instituições, só para citar alguns indicadores dominantes para fazer ranking.
Por este viés e de acordo com Uetela (2016), algumas das teorias ecónomicas de investimento no ensino superior para África a partir da década de 1990 marginalizaram significativamente a universidade como instituição prioritária ao continente, o que é em parte justificado pela falácia da localização geográfica. Além disso, a questão de que o progresso tanto de África quanto de Moçambique se construiria a partir do investimento no ensino primário e secundário sobretudo ao longo deste período deslegitimou o papel das instituições terciárias no contexto desta região. Neste prisma a função da universidade para a modernização foi vista de dentro das instituições e, mais ainda, esteve vinculada ao princípio econômico das taxas de retorno e investimento, esquecendo-se de seu papel social (UETELA, 2016, p. 17).
Contudo, embora algumas narrativas dominantes, segundo Frijhoff (1996) e Ruegg (1992), em algum momento tenham defendido que a gênese da universidade, onde o discurso sobre o seu contributo para a transformação se insere é o ocidente¹ (Europa ocidental), o presente livro revitaliza o argumento de que foi em África onde inicialmente se questionou sobre esta ligação. Tal inquietamento é anterior à invenção pela Europa tanto da universidade quanto das categorias de classificação dicotômicas que se popularizaram por meio de designações tais como ocidente versus resto do mundo
, isto é, West versus the rest², civilizado selvagem
, norte-sul, dominado-dominador ou colonizado-colonizador, e que por conseguinte impuseram a existência de uma universidade superior e outra inferior cabendo o lugar de África à inferioridade (LIMA, 2016, p. 3-15, SAID, 1990, p. 24-30; RODRIGUES, 2008, p. 1).
O pensamento anterior e dicotômico dominou por um longo período de tempo tendo, sobretudo a partir da expansão europeia, impulsionado a visão de pelo menos dois mundos, o mundo dos superiores e o mundo dos inferiorizados. Como resultado disso, qualquer localidade geográfica dentro de África esteve mormente classificada pela segunda categorização tanto na origem da universidade quanto na tentativa do estabelecimento do vínculo entre ensino superior, seu contributo para ascensão social dos seus participantes e, por conseguinte, qualquer crescimento dos Estados. Novamente, este olhar propõe a questão de mensurar relevância como tendo fundamento na localização geográfica.
Todavia, conforme Said (1990) observa em orientalismo, estes modelos de pensamento que o ocidente europeu inventou por meio do cartesianismo tendo em conta a visão de alguns filósofos da modernidade tais como Kant e Hegel, serviram para inferiorizar o não ocidente e se generalizaram para descrever inclusive alguns povos que fossem diferentes dos ocidentais. Mesmo assim, a questão do oriente é apenas uma invenção social que a própria Europa ocidental criou como estratégia de inferiorização das localizações geográficas não pertencentes ao norte, isto é, à Europa.
A questão de que o norte é superior ao sul pode em si ser uma contradição na medida em que algumas regiões localizadas próximo ao sul, como é o caso da Austrália e Nova Zelândia fazem parte dos países mais ricos do planeta. Por sua vez, Groenlândia, território que se situa mais para o norte, é uma das localidades mais pobres do globo terrestre, apesar de alguns autores como Uetela (2016) terem apresentado a teoria de que casos excepcionais desta dimensão, podem ser considerados como desviantes conforme se pensou em teoria social. É dentro de todos estes referenciais teóricos que o presente livro busca reconsiderar os instrumentos de classificação para investigar a relevância da universidade a partir da análise do resultado forense (dados exteriores) produzidos pela universidade moçambicana. Para aferir estes dados, desenhou-se uma estratégia do seguimento dos graduados que se beneficiaram do ensino superior para daí medir o grau de influência da universidade na transformação da vida destes participantes. A estratégia procurou mostrar que este indicativo aplicado para avaliar a relevância da universidade extrapola os parâmetros econométricos e a região geográfica, o que condiciona, a priori, desvincular-se da inferiorização do continente africano onde Moçambique se situa.
O livro está dividido em cinco seções. A primeira descreve a estratégia metodológica aplicada para o seguimento dos graduados das instituições do ensino superior moçambicano e que participaram na universidade entre 1975-2012 e foram abrangidos na amostra definida. Tal amostra delimita as áreas de especialização consideradas para análise da transformação bem como para o seguimento e explica até que ponto elas são representativas das culturas de geração de pensamento vigente no ensino superior do país e no continente. Ainda na seção metodológica existe uma explicação sobre como as tecnologias digitais foram privilegiadas na maximização da localização dos informantes espalhados pelo território nacional de modo a obter a sua visão sobre a relevância da universidade na transformação das suas vidas. A aplicação desta estratégia minimizou tempo e custos adicionais para execução da pesquisa.
A seção II revitaliza a questão do surgimento da universidade no continente africano como sendo anterior à colonização e que a dominação de África não só marginalizou o modelo de ensino superior autóctone ao continente mas também influenciou na geração de novas fórmulas de definição de pensamento não mais nativas. Como resultado disso, a universidade que os países africanos atualmente detêm é nova e contraditória ao tipo de academia que se privilegiou inicialmente. Desvendar-se deste modelo (novo e da herança colonial) de modo a instituir uma universidade nacional constitui um dos desafios, impondo uma nova maneira de pensar sobre a construção do Estado nacional, democracia, pensamento indígena e cidadania.
A terceira seção investiga detalhadamente as principais etapas que caracterizaram a transformação da universidade moçambicana (1975-1992, 1993-2007 e 2008-2012) bem como os modelos de geração de ciências que configuraram cada subetapa (I, II e III). Existe também uma explicação do significado de cada modelo de geração de conhecimento e indica-se como é que o contexto específico de Moçambique contraria a teoria de Gibbons et al. (1994) segundo a qual é possível interpretar contextos transnacionais de mudança na universidade a partir de uma concepção abrangente. É com base nesta seção que se desenham as probabilidades hipotéticas da correlação entre universidade e ascensão social e como é que tal emancipação socioeconômica dos beneficiários do ensino terciário contribui para a modernização do país.
A seção IV é uma apresentação dos dados e resultados da pesquisa de forma detalhada com ênfase no perfil dos informantes, cursos frequentados, tempo de procura de emprego e mostra como isso varia em função das três etapas da transformação do ensino superior em Moçambique. Por fim, apresenta-se o corolário da relação entre conhecimento adquirido na universidade e o contributo deste saber na mudança socioeconômica dos graduados.
A última seção (V) busca elencar as considerações finais a que se pode chegar tendo em conta o estudo sobre a relação entre universidade e sua relevância para o progresso do país/dos países africanos. Sugere passos subsequentes para continuidade da valoração do ensino superior em Moçambique e apresenta resultados que comprovam a pertinência da universidade para o fortalecimento do Estado em função da força de trabalho e conhecimento dos graduados que robustecem a economia. Esta parte final mostra que apesar da relação universidade e empregabilidade variar nas três etapas da transformação do ensino superior em Moçambique, isso não implica o declínio do contributo da universidade para a emancipação, mas sim a descoordenação entre a universidade que parece estar a gerar mais quadros quando não de um lado, e de outro a insuficiência do Estado e do mercado em criar mais postos de emprego para acomodar estes talentos que a universidade instrui hipotecando desta feita a questão de pleno emprego.
O estudo começou em 2014 aquando da seleção de oito instituições do ensino superior moçambicano para coleta de dados, nomeadamente, Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Universidade Pedagógica, (UP) Universidade A Politécnica (UAP), Universidade Católica de Moçambique (UCM), Instituto Superior de Transportes e Comunicações (Isutc), Universidade Técnica de Moçambique (UDM), Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique (ISCTEM) e Universidade São Tomás de Moçambique (USTM). Estas foram as instituições do ensino superior contatadas inicialmente para a realização da pesquisa. Todavia, a investigação acabou limitando-se a cinco universidades dado que as últimas três (Universidade Técnica de Moçambique, Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique e a Universidade são Tomás de Moçambique) mostraram-se indisponíveis para facultar dados referentes aos seus graduados.
Nestas cinco IES selecionadas empreendeu-se esforços para entender as dinâmicas que se deram dentro delas atinente aos modos de produção de conhecimento, bem como a forma que cada modelo vigente num subperíodo recriou um tipo de dominação para o enquadramento do graduado no mercado laboral desde a independência em 1975 até 2012. A escolha de 1975 como ano de delimitação do período da pesquisa se deve ao fato de que embora houvesse ensino superior no país anteriormente, 1975 é o ano em que Moçambique ficou independente e estabeleceu um tipo de universidade nacional. Esta universidade esteve virada para inclusão da maioria dos indígenas e é esta nova universidade que nos interessou investigar ao longo do estudo, sobretudo a maneira como ela se transformou e se adaptou, não só em Moçambique mas no continente. É por via disso que dentro deste maior período considerou-se três pequenos subperíodos que correspondem às principais dinâmicas da universidade em Moçambique. O primeiro pequeno subperíodo em análise é entre 1975 a 1992, período da gênese da universidade plenamente nacionalista; o segundo, que vai de 1993 até 2007, descreve a liberalização da economia e o impacto que isso teve para o ensino superior. O último subperíodo é de 2008 a 2012, momento do processo infortúnio da implementação do modelo de Bologna³ em algumas das universidades selecionadas para o estudo. Nos três pequenos períodos, como os dados indicam em diante, o ensino superior em Moçambique conheceu momentos não estáticos referente à geração de pensamento. Tais dinâmicas afetaram a inserção dos graduados no mercado de trabalho, algo que se pretende evidenciar ao longo do livro de modo a conceptualizar a relação entre a empregabilidade destes, o valor da universidade e o progresso social em Moçambique. Neste contexto a obra serve de instrumento essencial a ser aplicado pelos graduados, professores e fazedores de políticas públicas em Moçambique e no continente. Esta obra pode subsidiar os governos dos países africanos (por meio dos ministérios de educação, ensino superior e de trabalho) a melhorar sua planificação estratégica para a transformação social com base no investimento do capital intelectual. Mas desde já interessa mapear o método bem como as estratégias definidos para a materialização da pesquisa que culminou com o presente livro, nomeadamente: objetivos, especificação dos problemas de investigação, hipóteses e os procedimentos aplicados para seguimento dos graduados.
Lista de siglas e abreviaturas
Sumário
Seção I
1
Esboço teórico metodológico sobre o livro e estratégias aplicadas no estudo para coleta de dados: limitações 27
Seção II
2
Desconstruindo algumas teorias dominantes sobre os modos de produção do conhecimento em África: diálogos e conflitos com Moçambique 43
Introdução 43
2.1 Ensino superior em África: algumas teorias sobre a universidade e produção de conhecimento 45
2.2 Ensino superior em África, democracia e política 92
2.3 Resumindo o estabelecimento e dinâmicas do ensino superior: teorias sobre a universidade, produção de conhecimento, mudanças e sua relação com Moçambique 103
Seção III
3
Ensino superior em Moçambique: estabelecimento e transformação 109
Introdução 109
3.1 A origem do ensino superior e os modos de produção do conhecimento em Moçambique: antecedentes históricos 111
3.2 Algumas marcas sobre o ensino superior em Moçambique 116
3.3 A Frelimo e a universidade em Moçambique (1975-1992) 119
3.4 A evolução do ensino superior em Moçambique no subperíodo 1993-2007 124
3.5 Bologna e o último subperíodo de transformação da universidade moçambicana (2008-2012) 126
3.6 Modos de produção do conhecimento no ensino superior em Moçambique (1975-2012): que métodos foram aparentemente dominantes? 147
3.7 Implicações do novo modelo de geração de conhecimento 163
3.8 Modelos de produção de conhecimento em Moçambique e seu nexo com a empregabilidade dos graduados: probabilidades 168
Seção IV
4
Modos de produção de conhecimento no ensino superior em Moçambique: sua relação com a empregabilidade dos graduados e transformação do país 197
Introdução 197
4.1 Breve histórico das universidades selecionadas para o estudo: modos de produção de conhecimento e empregabilidade 197
4.1.1 Universidade Eduardo Mondlane (UEM) 198
4.1.2 Universidade Pedagógica (UP) 201
4.1.3 Universidade Politécnica A Politécnica (UPA) 202
4.1.4 Universidade Católica de Moçambique (UCM) 204
4.1.5 Instituto Superior de Transportes e Comunicações (Isutc) 205
4.2 Apresentação, sistematização e ordenamento dos resultados 207
I Questionário I: Dados pessoais dos graduados 208
Questionário II: Sobre os cursos frequentados no ensino superior 211
Questionário III: Tempo de procura de emprego 222
Questionário IV: Relação ensino superior e emprego 229
Questionário 5: Comentários dos inqueridos 231
4.3. Análise, interpretação e discussão dos resultados 232
4.3.1 Dados pessoais dos inqueridos 232
4.3.2 Sobre os cursos frequentados no ensino superior 239
4.3.3 Tempo de procura de emprego 247
4.3.4 Relação ensino superior e emprego 262
Seção V
5
Considerações finais 283
Introdução 283
5.1 Considerações finais e o futuro da universidade em Moçambique 283
Referências 315
Seção I
1
Esboço teórico metodológico sobre o livro e estratégias aplicadas no estudo para coleta de dados: limitações
Na parte introdutória descrevemos o contexto do surgimento da pesquisa que resultou neste livro, delimitamos o objeto de estudo bem como o debate sobre como é que a universidade foi concebida tanto em África quanto em Moçambique. Esta seção preocupa-se em mostrar o preâmbulo metodológico que se definiu para materialização desta presente obra. Sendo metodologia um caminho para um determinado fim, a presente seção considera os procedimentos privilegiados no decurso da trajetória iniciada em 2014, isto é, (i) como e (ii) quais as habilidades que foram privilegiadas para se ter o conhecimento do que inicialmente não se tinha sobre o nexo ensino superior e seu valor tendo em conta a empregabilidade em Moçambique. De forma simplificada, mostramos aqui as bases a partir das quais se conceptualiza a tese da relação ou não entre universidade,