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Educação Física e Desenvolvimento Regional
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E-book759 páginas8 horas

Educação Física e Desenvolvimento Regional

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Sobre este e-book

O livro Educação Física e Desenvolvimento Regional, que emergiu ao longo do tempo, propõe-se a apresentar algumas das práticas dos seus autores. Com a compreensão de que não há desenvolvimento sem educação de qualidade, esta obra traz em suas páginas, distribuídas ao longo de 11 capítulos, alguns recortes de experiências produtivas de algum(as) dos professores(as) de Educação Física atuantes na Região Norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Ao abordar , discute e propõe sobre agendas caras à educação formal e a temas relevantes à população. Assim, apresenta uma pluralidade de sujeitos, de campos de atuação, de faixas etárias etc. Nestes escritos não há uma natureza de lamento ou de mera denúncia de algumas mazelas que caracterizam a área. Há uma discussão de questões que estão em primeira ordem nos debates de salas e quadras de aula, nos ambientes formais e não formais nos quais a Educação Física opera. Temos assim, sem a intenção de prioridade ou destaque de qualquer natureza, abordagens que trazem à baila discussões curriculares, metodologias de ensino e políticas da Educação Física na educação básica. Numa tentativa de aproximação a macroagenda do desenvolvimento regional, o livro traz para o campo debates sobre a Educação Física das pessoas com deficiência, dos usuários de projetos sociais, dos educandos do ensino técnico profissionalizante, da população idosa e das manifestações da cultura imaterial. Para além da escola, num diálogo com a biodinâmica, traz a necessidade de uma prática de exercícios físicos de forma segura e da conservação e preservação de práticas esportivas alinhadas com a responsabilidade ambiental, cultural e social.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de nov. de 2019
ISBN9788547334369
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    Educação Física e Desenvolvimento Regional - José Roberto Gonçalves de Abreu

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO FÍSICA

    À minha família, minha riqueza, meu presente e meu futuro, pela compreensão das ausências irrecuperáveis, mas altamente necessárias para alcançar os sonhos que são nossos sonhos.

    Aos meus pais (in memoriam), que me deram os principais pilares da minha existência: virtudes imprescindíveis a uma vida cristã.

    AGRADECIMENTOs

    Ao meu Deus supremo, pela incessante luz abençoada que diariamente irradia sobre a minha vida e da minha família.

    Ao Laboratório Proteoria/CEFD/Ufes, em especial ao Prof. Dr. Amarilio Ferreira Neto e ao Prof. Dr. Wagner dos Santos, sem os quais esta obra não existiria.

    À Faculdade Vale do Cricaré, direções, coordenações, corpos docente e discente, servidores técnicos administrativos, pelo incentivo e apoio ao projeto da gênese à sua conclusão.

    Ao Prof. Dr. Marcus Antonius da Costa Nunes, coordenador do Programa de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional da Faculdade Vale do Cricaré por acreditar e incentivar o desenvolvimento desta obra.

    Aos colegas coautores, pela confiança e pelo tempo investido na produção deste livro.

    APRESENTAÇÃO

    Uma obra que traz o título Educação Física e Desenvolvimento Regional provavelmente suscitará a curiosidade do leitor. Talvez gere arguições devidas tais como: de que desenvolvimento se fala? Qual região a obra pretende abordar? Quais as relações possíveis entre a Educação Física e desenvolvimento? Para essas e outras questões procedentes, mas igualmente intrigantes, esclarecemos de antemão que acreditamos que todo desenvolvimento, seja humano, social, econômico, financeiro, tecnológico etc., imprescinde de um cenário no qual esteja presente uma educação de qualidade.

    Os autores desta obra são, em sua maioria, egressos de um projeto de interiorização universitária implantado no início da década de 1990 e que muda a vida de muitos (as), inclusive deste que vos apresenta a obra. A então Coordenação Universitária do Norte do Espírito Santo, hoje Centro Universitário do Norte do Espirito Santo – Ceunes, trouxe esperanças a parte de uma geração que, em idade universitária, se via privada do ensino superior e, consequentemente, teve grande parte do seu potencial produtivo subutilizado. Ao ser implantada no norte do estado do Espírito Santo, a Ceunes acende a esperança de protagonismo de jovens de diversas cidades capixabas, do sul da Bahia e leste de Minas Gerais. Entre os cinco cursos ofertados, todos com o objetivo a formação de professores (as), estava o de licenciatura em Educação Física.

    Dessa forma, entendemos que todo o processo de formação que nasce na década de 1990 produz frutos até os dias atuais, com a expansão do ensino público e privado, com elevação de indicadores econômicos, sociais e educacionais. Nesses pouco mais de 25 anos experimentamos um período de avanços da educação coincidentes com o desenvolvimento regional. Junto com os bons indicadores, vieram para o debate temas até então ignorados, como a Educação Física na educação do campo, a Educação Ambiental, a Educação Física na educação infantil, as políticas para a educação de pessoas com deficiência, as políticas para as pessoas idosas, a Educação Física e as responsabilidades social e ambiental, a Educação Física na educação de jovens e adultos – a EJA, a Educação Física na educação profissional e tecnológica, os diálogos entre a Educação Física e as manifestações da cultura imaterial, as diferentes metodologias de ensino, arranjos curriculares da educação básica etc.

    Com o avanço da educação na região, que na nossa leitura foi alavancado principalmente pela Ceunes, temos o surgimento de outras instituições públicas e privadas que ofertam o ensino superior. Surge entre elas, em 1997, a Faculdade Vale do Cricaré. Esta, de iniciativa privada, no ano de 2012, implanta o Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional. Num processo de formação continuada dos (as) professores (as) da região, diversos (as) se matricularam no programa em busca do título de mestre.

    Das mais de 200 dissertações já defendidas pelo programa, selecionamos oito, escritas por professores de Educação Física e que, junto de mais duas dissertações defendidas na Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes Goiabeiras e uma da Ufes – Ceunes, compõem os capítulos desta obra.

    Fica assim um convite à leitura desta obra, que traz em seus capítulos uma Educação Física sob diversas faces e possibilidades. No Capítulo 1 temos o cenário de implantação da disciplina Educação Física na educação infantil, que é a porta de entrada da educação básica. A partir do ano de 2015, por previsão legal, a Educação Física passa a integrar o ensino formal em creches e pré-escolas da rede municipal de São Mateus/ES.

    Na sequência, numa discussão das questões curriculares, o Currículo Básico Estadual para o Ensino Médio da Secretaria de Educação do Espírito Santo (Sedu) é investigado. Componentes como a atividade física, a composição corporal e o nível de atividade física, apontados no currículo dentro do componente cuidados com o corpo, são investigados junto aos alunos e professores do ensino médio estadual.

    O debate sobre o desafio do processo de inclusão de pessoas com deficiência é abordado no Capítulo 3. Abordando comportamentos de raízes históricas, esse capítulo se propõe a investigar, analisar e intervir no processo de inclusão de alunos com deficiência nas aulas de Educação Física, em uma escola de ensino fundamental no município de São Mateus-ES. Tendo a inclusão como o modelo a ser atingido, esse capítulo revela as dificuldades ainda hoje enfrentadas pelos profissionais da educação e pelos sujeitos em processo de escolarização, em especial os que integram o público-alvo da educação especial.

    Numa abordagem ancorada na biodinâmica, mas num cenário da educação básica, o Capítulo 4 se propõe a desenvolver um prático e eficiente protocolo de avaliação funcional, com detalhada anamnese, contemplando em especial a dimensão física, de forma a identificar o indivíduo que possua algum fator de risco que possa desencadear um caso de morte súbita derivado de problema cardiológico já previamente diagnosticado ou não, bem como qualquer outro indicativo perceptível durante as práticas da Educação Física no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo.

    Numa abordagem propositiva, o Capítulo 5 nos traz Os Jogos Cooperativos nas Aulas de Educação Física: uma reinvenção no esporte competitivo. Na sequência, temos uma abordagem sobre a Educação Física no ensino técnico e tecnológico. A maior competição esportiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo é debatida pelo Capítulo 6, que busca apresentar quais são as representações, dimensões e ideologias presentes nos Jifes na visão da comunidade escolar do Instituto Federal do Espírito Santo.

    O Capítulo 7 traz a discussão da Educação Ambiental e como a Educação Física Escolar pode e deve abordá-la dentro dos componentes curriculares, por meio de atividades e arranjos interdisciplinares. O Capítulo 8 traz à baila uma das mais ricas e belas manifestações da cultura imaterial da região. Dançando Jongo na Aula de Educação Física, discute esse elemento rico, porém quase nunca trabalhado dentro dos componentes curriculares das escolas da região.

    No Capítulo 9 abordamos uma importante manifestação cultural brasileira: a capoeira. Como as representações são produzidas nos filmes sobre a capoeira ao longo da história do cinema brasileiro? Quais contribuições podem ser percebidas na circulação dessas representações, para entender o desenvolvimento da capoeira como cultura brasileira? Essas e outras questões são debatidas nesse capítulo que traz um olhar quase nunca adotado, sobre a capoeira.

    As potencialidades da Educação Física junto a ações de responsabilidade social são apresentadas no Capítulo 10. Este discute a relevância do programa de ações esportivas integradas no desenvolvimento social e educacional das crianças e adolescentes no município de São Mateus – ES. O projeto Paies, que por anos foi adotado pelo poder público municipal na cidade de São Mateus – ES como estratégia de responsabilidade social, também é apresentado nesse capítulo com especial destaque as ações do professor de Educação Física.

    Uma das possibilidades de atuação do professor de Educação Física com elevado índice de aprovação e aceitação é tratada no Capítulo 11. Com o objetivo de verificar os resultados quantitativos e os impactos da atividade física regular dirigida a um grupo de idosas na cidade de São Mateus/ES, nos anos de 2012 a 2015, em relação à capacidade funcional nas atividades da vida diária, esse capítulo traz importantes indicativos da potencialidade da Educação Física na qualidade de vida da pessoa idosa.

    Com uma escrita objetiva e clara, o livro Educação Física e Desenvolvimento Regional é uma obra que traz uma vasta abordagem sobre diversas possibilidades de atuação do professor de Educação Física.

    PREFÁCIO

    De Pinheiros (ES), o professor José Roberto Gonçalves de Abreu, organizador e coautor de oito dos onze capítulos da presente obra, casado, pai de dois filhos. Atualmente doutorando em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes. É também bacharel em Fisioterapia e Licenciado em Pedagogia. Integra os corpos docentes da IES Vale do Cricaré, São Mateus (ES) e do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Ifes, campus São Mateus. Foi subsecretário municipal de Saúde e secretário municipal de Educação de São Mateus do 2013 a 2016. Atua como fisioterapeuta do Hospital Meridional de São Mateus. Oriundo da escola pública, também personifica, como um dos estudantes pioneiros, um dos projetos educacionais de maior relevância, especialmente, para o norte capixaba, sendo que sua abrangência inclui ainda o sul da Bahia é leste de Minas Gerais. Aqui estamos falando da chegada do projeto de ensino superior público federal, via a Ufes, em São Mateus, denominado Ceunes.

    Este livro é fruto de um trabalho coletivo, no qual podemos destacar a orientação responsável, segura, constante e academicamente qualificada dos professores Amarílio Ferreira Neto e Wagner dos Santos, sendo que seus capítulos podem muito bem ser entendidos como uma viagem pela trajetória do Ceunes (desde a sua origem até os dias atuais) uma vez que foram escritos pelo professor José Roberto e seus pares, que hoje são expoentes especialmente na atividade docente em nível nacional, estadual e de modo especial no norte capixaba. Assim, em cada capítulo (todos os capítulos são, na verdade, dissertações de mestrado originadas dos seguintes programas de pós-graduação: uma do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica – Ceunes/Ufes; duas do Programa de Pós-Graduação em Educação Física – CEFD/Ufes e oito do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Gestão Social e Educação – IES Vale do Cricaré), as teorias específicas atuais utilizadas para as conclusões ali exaradas, apresentadas na área de Educação Física, dão suporte qualificado, dentre outros, ao desenvolvimento do Plano Nacional de Educação nessa área, especialmente no norte capixaba. Doutro modo, podemos imaginar os ensinamentos aqui presentes como uma trilha aberta para a leitura histórica deste grandioso projeto educacional denominado Ceunes que, como um todo, é o grande responsável pelo salto no desenvolvimento regional, culminando, mais recentemente com o início do processo de industrialização de nossa região. Não por acaso São Mateus é hoje conhecido também como um polo de ensino superior e pioneiro da indústria automobilística do estado do Espírito Santo.

    Caro leitor, a situação sócio-histórica na qual este trabalho se insere abrange a realidade de nossa região, que em 1991 podia assim ser ilustrada: a formação de professores chegava a ser razoável até o quarto ano do Ensino Fundamental (Fonte: UFES). Ainda, para entendermos melhor tomemos os dados do IDHM de São Mateus, a saber: de 1991 a 2010, o IDHM do município passou de 0,470, em 1991, para 0,735, em 2010, enquanto o IDHM da Unidade Federativa (UF) passou de 0,493 para 0,727. Isso implica em uma taxa de crescimento de 56,38% para o município e 47% para a UF; e em uma taxa de redução do hiato de desenvolvimento humano de 50,00% para o município e 53,85% para a UF. No município, a dimensão cujo índice mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,404), seguida por Longevidade e por Renda. Na UF, por sua vez, a dimensão cujo índice mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,358), seguida por Longevidade e por Renda (Fonte: PNUD, Ipea e FJP). Este livro, construído por esses professores, todos oriundos direta ou indiretamente e/ou participantes do projeto antes referido, representam a passagem daquela época de incertezas para a realidade viva atual e o frescor intelectual que beneficia, assim, toda a nossa região.

    Assim, nesse passeio de ideias, o leitor é especialmente convidado a viajar por esse mundo de novos conhecimentos e se manifestar sobre as seguintes proposições aqui estruturadas:

    Proposta de inclusão das aulas de Educação Física em creches e pré-escolas da rede municipal de São Mateus/ES, evidenciando suas contribuições para o processo educativo (Capítulo I);

    Possível influência das vivências dos escolares com os conteúdos do Currículo Básico Estadual para o Ensino Médio da Secretaria de Educação do Espírito Santo (Sedu), no que tange à atividade física, sobre a composição corporal e o nível de atividade física dos alunos do ensino médio estadual (Capítulo II);

    Investigar, analisar e intervir no processo de inclusão de alunos com deficiência nas aulas de Educação Física, em uma escola de ensino fundamental no município de São Mateus-ES (Capítulo III);

    Desenvolver um prático e eficiente protocolo de avaliação funcional, com detalhada anamnese, contemplando, em especial, a dimensão física, de forma a identificar o indivíduo que possua algum fator de risco que possa desencadear um caso de morte súbita derivado de problema cardiológico já previamente diagnosticado ou não, bem como qualquer outro indicativo perceptível durante as práticas da Educação Física no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Capítulo IV);

    Os Jogos Cooperativos nas Aulas de Educação Física: uma reinvenção no esporte competitivo, fundamentada, principalmente, nos trabalhos produzidos por Brotto (2000), Orlick (1978), Soler (2006) e Monteiro (2012) (Capítulo V);

    Quais são as representações, dimensões e ideologias presentes nos Jifes na visão da comunidade escolar do Instituto Federal do Espírito Santo? (Capítulo VI);

    Identificar como a disciplina Educação Física Escolar pode contribuir com a temática Educação Ambiental (Capítulo VII);

    Dançando Jongo na Aula de Educação Física (Capítulo VIII);

    Quais representações são produzidas nos filmes nacionais sobre a capoeira ao longo da história do cinema brasileiro? Quais contribuições podem ser percebidas na circulação dessas representações, na película, para entender o desenvolvimento da capoeira como cultura brasileira? (Capítulo IX);

    A Relevância do Programa de Ações Integradas Esportivas no desenvolvimento social e educacional das crianças e adolescentes no município de São Mateus – ES (Capítulo X);

    Verificar os resultados quantitativos e os impactos da atividade física regular dirigida a um grupo de idosas na cidade de São Mateus/ES, nos anos de 2012 a 2015, em relação à capacidade funcional nas atividades da vida diária (Capítulo XI).

    Por todo o exposto, registro a crença de que a área de Educação Física de nossa região reflete uma das dimensões vitoriosas do projeto educacional denominado Ceunes. À população de nossa região bastou esta oportunidade, ainda que incompleta, pois a Universidade Federal de São Mateus virá.

    São Mateus (ES), 03 de dezembro de 2018.

    Professor Renato Pirola¹

    Sumário

    Capítulo 1

    Proposições sobre a Inclusão da Educação Física na Educação Infantil da Rede Pública Municipal de São Mateus – ES 17

    Flávio Pereira Pires

    Wagner dos Santos

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    CAPÍTULO 2

    A Influência do Currículo Básico do Ensino Médio Estadual na Composição Corporal e Nível de Atividade Física dos Escolares 49

    Augusto Inácio Faino Araújo

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    CAPÍTULO 3

    INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA NA REDE MUNICIPAL DE SÃO MATEUS – ES 79

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    José Francisco Chicom

    Juliana dos Santos Romanha Guzzo

    CAPÍTULO 4

    PREVENINDO A INCIDÊNCIA DE MORTE SÚBITA CARDÍACA EM ADOLESCENTES NAS PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 107

    Silvio Freire Junior

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    CAPÍTULO 5

    OS JOGOS COOPERATIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA REINVENÇÃO NO ESPORTE COMPETITIVO 135

    Romário Guimarães Franca

    Sônia Maria da Costa Barreto

    CAPÍTULO 6

    OS SIGNIFICADOS E REPRESENTAÇÕES DA PRÁTICA DO ESPORTE ESCOLAR NO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO 163

    Felipe Cuquetto Piekarz

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    CAPÍTULO 7

    EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS DO COLÉGIO INTEGRAÇÃO DA CIDADE DE TEIXEIRA DE FREITAS/BA 197

    David Luiz Marsaro Didonet

    José Roberto Gonçalves Abreu

    CAPÍTULO 8

    ESSE SAMBA É MATUTO MORENA, VAMOS DANÇAR: DANÇANDO JONGO NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA 225

    Gleisiele Saraiva Rangel

    Maria Alayde Alcantara Salim

    CAPÍTULO 9

    A CAPOEIRA NO CINEMA BRASILEIRO: REPRESENTAÇÕES E IMAGENS 249

    Daniel Junior da Silva

    Omar Schneider

    Wagner dos Santos

    CAPÍTULO 10

    A RELEVÂNCIA DO PROGRAMA DE AÇÕES INTEGRADAS ESPORTIVAS NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E EDUCACIONAL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS-ES 271

    Frank Cardoso

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    CAPÍTULO 11

    OS BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA E A CAPACIDADE FUNCIONAL NA VIDA DIÁRIA DE MULHERES IDOSAS 301

    Marcus Vinnycius de Jesus

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    AUTORES (AS) 331

    Capítulo 1

    Proposições sobre a Inclusão da Educação Física na Educação Infantil da Rede Pública Municipal de São Mateus – ES

    Flávio Pereira Pires

    Wagner dos Santos

    José Roberto Gonçalves de Abreu

    INTRODUÇÃO

    A educação brasileira possui uma lenta evolução em suas transformações fundamentais. Os projetos e políticas voltados para a área seguem as alterações político-econômicas ocorridas em seu percurso histórico. O ensino em creches e pré-escolas brasileiras se expande também em paralelo ao desenvolvimento industrial do Brasil, quando, pela necessidade de recrutar mão de obra para atender à produção, as mulheres são inseridas numerosamente no mercado de trabalho, necessitando deixar seus filhos em algum lugar para que deles cuidassem. Assim, percebe-se que a educação infantil² já serviu, durante muito tempo, como depósito de crianças. O principal objetivo era zelar pelo bem-estar dos pequenos que ali ficavam, alimentando-os e protegendo-os para que seus pais e/ou responsáveis pudessem trabalhar, apresentando, assim, um caráter assistencialista (PASCHOAL; MACHADO, 2009).

    Acompanhando o desenvolvimento da educação brasileira com suas mudanças de propostas e projetos educacionais e, principalmente, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9.394 de 1996) e da Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, percebe-se que a educação infantil sofreu profundas mudanças. Passou, então, não apenas a cuidar de forma assistencialista das crianças, mas a educá-las objetivando o alcance de aprendizagens específicas de acordo com a idade e o grau de desenvolvimento, além de seguir referenciais educacionais nacionais que estabelecem as habilidades e competências a serem estimuladas e afloradas nos alunos.

    Logo, essa etapa da educação básica também despertou para as necessidades de diversificação dos conteúdos e práticas, a fim de seguir os referenciais de forma mais contundente, com a inclusão de aulas variadas em sua estrutura curricular. Entretanto, em um primeiro momento, a Educação Física serve como mais um produto ofertado pelas escolas de educação infantil privadas, como aulas de judô para os meninos e de ginástica e dança para as meninas (SAYÃO, 1999). Mas, com o passar do tempo, estudos e pesquisas acerca da Educação (Física) Infantil (SILVA, 2010) vão sendo realizados refletindo na (re) construção dos objetivos para a primeira infância.³

    Desse modo, em muitas redes de ensino, públicas e principalmente particulares, num segundo momento, as aulas de Educação Física ganham importante papel no desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo e social das crianças, estabelecendo-se como uma prática essencial. Há vasta literatura sobre o papel da Educação Física na educação infantil como é visto nos estudos de Freire (1989), Melcherts (1996), Melo (1997), Sayão (1997, 1999), Oliveira (2003), Matos e Neira (2004), Nunes e Santos (2006), Silva (2007), Arantes (2008), Navarro (2009), Silva, Kunz e Sant’ Agostino (2010), Ferreira e Freitas (2011), Nista-Piccolo e Moreira (2012), Mello e Santos (2012, 2014), entre outros. Assim este estudo relaciona alguns dos trabalhos já existentes sobre a atuação da Educação Física nas creches e pré-escolas, mostrando seus objetivos educacionais, revelando suas possibilidades e propondo sua inclusão na rede pública municipal de São Mateus/ES.

    Logo, surge o problema da pesquisa: como uma proposta de inclusão de aulas de Educação Física na educação infantil da rede pública municipal de São Mateus/ES poderá contribuir com o processo educativo? Como objetivo geral, pretende-se apresentar uma proposta de inclusão das aulas de Educação Física em creches e pré-escolas da rede municipal de São Mateus/ES, evidenciando suas contribuições para o processo educativo.

    Partindo do pressuposto de que a educação infantil, tem por objetivo o desenvolvimento pleno da criança, em seus mais amplos aspectos, lançando para isso mão das mais variadas atividades e métodos, apresenta-se a motivação para o presente trabalho, que surge da inquietação causada pela inexistência, até o ano de 2016, da disciplina de Educação Física na educação infantil pública municipal de São Mateus/ES.

    Diversos são os autores que relatam os benefícios da prática da Educação Física para o desenvolvimento da criança durante a primeira infância. Mello e Santos (2014, p. 478), afirmam que:

    [...] Ao brincar e jogar, as crianças vão se constituindo como sujeitos de sua experiência social, organizando com autonomia suas ações e interações, elaborando planos e formas de ações conjuntas, criando regras de convivência social e de participação nas brincadeiras. Nesse processo, elas instituem coletivamente uma ordem social que rege as relações entre pares e se afirmam como autoras de suas práticas sociais e culturais.

    Uma Educação Física Infantil preocupada com o desenvolvimento da criança nos seus mais diversos aspectos conecta-se intimamente com a proposta pedagógica da instituição de ensino, estreitando os laços entre o que é ensinado às crianças, proporcionando ao aluno uma unidade das temáticas trabalhadas, facilitando seu aprendizado e situando-o melhor durante todo o processo educativo. É a partir de um trabalho transdisciplinar, em que um mesmo tema é desenvolvido por todos os educadores, que a Educação Física assume papel de destaque na educação infantil, significando pelo sentir corporal tudo o que é desenvolvido com a criança.

    Assim, o presente trabalho organiza-se relacionando as escritas já existentes sobre a Educação Física na educação infantil, construindo um diálogo entre autores diversos, quebrando alguns paradigmas a respeito do tema, apontando objetivos e possibilidades de atuação e propondo sua inclusão na rede pública municipal de ensino de São Mateus/ES.

    METODOLOGIA

    Busca-se aqui levantar dados acerca da educação infantil pública municipal de São Mateus/ES em sua atuação de modo geral e considerando também suas peculiaridades a fim de propor a inclusão das aulas de Educação Física.

    O problema é abordado de maneira qualitativa, pois [...] a pesquisa tem o ambiente como fonte direta dos dados (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 70) e também de maneira quantitativa, uma vez que esta pesquisa possui dados numéricos representados inclusive por meio de gráficos. Foi utilizada como procedimento técnico a pesquisa de campo em que, de acordo com GIL (2008, p. 57), se procura [...] muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis. Apropria-se de tal procedimento por se objetivar adquirir informações e conhecimentos sobre o problema central da pesquisa (LAKATOS, 2003).

    Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e explicativa: exploratória, pois propõe, por meio dos diálogos estabelecidos com os diversos autores nela constantes, uma aproximação com o problema; descritiva, ao revelar as características e peculiaridades da educação infantil pública da cidade de São Mateus/ES, como ponto fundamental para, posteriormente, propor mudanças considerando todas as questões centrais encontradas a partir da descrição realizada; e explicativa, por intencionar-se a, com a realização das duas fases citadas, apresentar razões que evidenciem a importância da Educação Física Infantil e propor sua inclusão na educação infantil municipal, não só apontando os benefícios dessa inserção, mas apresentando uma proposta pedagógica para ela.

    Para a efetivação da pesquisa, averiguou-se sobre a organização da educação infantil pública municipal, com visitação à Secretaria Municipal de Educação de São Mateus (SME) por meio de pesquisa nos documentos oficiais próprios que o órgão público possui acerca da educação infantil (proposta e organização curricular, referenciais municipais etc.), com busca aos principais objetivos educacionais traçados para essa etapa do ensino básico, averiguando também a maneira se, e como, as práticas corporais, que à Educação Física seriam inerentes, vêm sendo trabalhadas nesse contexto escolar.

    Foram realizadas entrevistas com os gestores públicos (gestores da rede pública municipal de ensino, coordenação da educação infantil do município e diretores de Centros de Educação Infantil) para compreender como eles veem uma proposta de inclusão da Educação Física nesse nível de ensino. Foram ouvidos os membros do Conselho Municipal de Educação sobre o tema, evidenciando a importância dada por ele à Educação Física Infantil, podendo perceber, no caso de uma eventual tomada de decisão sobre a proposta de inserção da disciplina, se haveria aceitação e possibilidade de aprovação.

    A educação infantil municipal de São Mateus apresenta diferentes formas de organização de acordo com a classificação utilizada pela Secretaria Municipal de Educação e apresentada a seguir:

    Centros Educação Infantil (Ceims) urbanos;

    Centros de Educação Infantil (Ceims) do campo;

    Escolas Uni-Pluridocentes (EPM e EUM) e Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental (Emeief).

    A fim de compreender melhor como se concretiza na prática o funcionamento de cada uma dessas classificações, bem como para observar como e se vêm ocorrendo as práticas corporais que deveriam ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física nessas instituições, foram realizadas observações de campo em três das dez instituições participantes desta pesquisa: um Ceim urbano, uma Emeief e uma EPM– e aí a pesquisa se caracteriza também como observação não participante.

    Foram realizadas visitações a dez instituições públicas de educação infantil da rede municipal de ensino de São Mateus, representando proporcionalmente as diferentes formas de organização existentes já apresentadas, com finalidade de aplicar os questionários de pesquisa às professoras com formação em Pedagogia da Educação Infantil, a fim de colher informações no que se refere ao pensamento e às expectativas delas sobre a inclusão das aulas de Educação Física na educação infantil.

    A tabela a seguir apresenta como foi realizada a distribuição das dez instituições de acordo com a classificação utilizada pela Secretaria Municipal de Educação.

    TABELA 1. DISTRIBUIÇÃO DE INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL PARA PESQUISA

    FONTE: Secretaria Municipal de Educação de São Mateus – ES.

    Os Centros de Educação Infantis Municipais Urbanos selecionados por esta pesquisa são o Ceims Carmelina Rios, Paraiso Infantil, Dois Esquilos e Sonho de Criança. Já o Ceim do campo selecionado foi o Ceim Criança Feliz. As Escolas Uni-Pluridocente escolhidas foram os EPMs Rio Preto, Militino Carrafa, Km 20 e Girassol. Além das instituições já citadas, também fez parte da pesquisa a Emeief Assentamento Zumbi dos Palmares.

    Por não conseguir grande êxito no retorno dos questionários de entrevista de muitos membros do Conselho Municipal de Educação, houve necessidade de pesquisar na Ata de Reuniões informações que evidenciassem o posicionamento do conselho sobre a inclusão da Educação Física na educação infantil. Assim, esta pesquisa também passa a classificar-se como documental.

    O CENÁRIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS

    Segundo informações referentes ao ano de 2016, levantadas na Secretaria Municipal de Educação de São Mateus/ES, a educação infantil pública municipal possui 4.737 crianças matriculadas nas turmas de dois a cinco anos, com 403 professores, somando 351 professoras com formação em Pedagogia e 52 professores de área específica (Arte e Filosofia) para atender a toda a educação infantil em 78 instituições de ensino. São 38 Ceims: 27 urbanos e 11 no campo. Dentre esses, há algumas das unidades que atendem a seus alunos em tempo integral e totalizam cinco Ceims (três no meio urbano e dois no campo), existindo também algumas que possuem salas com tempo integral, sem, no entanto, que toda a unidade funcione nesse modelo, somando quatro CEIMs (dois no meio urbano e dois no campo).

    Constatou-se, ainda, a existência de duas Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) e uma Ecorm (Escola Comunitária Rural Municipal) que atendem da educação infantil ao nono ano do ensino fundamental, ambos localizados no meio rural. Há também as escolas multisseriadas, que possuem sala ou salas de aula que atendem a mais de uma turma de pré-escola na mesma sala e que somam 37 unidades educacionais. São denominadas Escola Unidocente Municipal (EUM), quando há apenas uma sala de aula na unidade de ensino, e Escola Pluridocente Municipal (EPM), quando há mais de uma sala na unidade de ensino.

    A educação infantil pública de São Mateus/ES possui uma proposta pedagógica própria da rede construída no ano de 2008, intitulada Proposta Pedagógica Educação Infantil: Construída a 300 mãos, na qual se faz referência aos saberes-fazeres da educação infantil municipal, com apontamentos sobre as tarefas objetivos e métodos utilizados nesse nível de ensino. Possuindo ainda o Plano de Ensino da Educação Infantil (2013), construído numa proposta de unificar os conteúdos e trabalhos realizados nas unidades de ensino da educação infantil municipal.

    Os referenciais nacionais seguidos são as Diretrizes Curriculares Nacionais da educação básica, nas quais constam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, já apresentadas neste trabalho, e que servem de base para atualizações dos planos municipais e para as formações continuadas dos docentes.

    EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL: PRÁTICAS E OBJETIVOS

    A educação infantil se propõe a promover práticas que levem a um desenvolvimento pleno das crianças de zero a cinco anos, atendendo-as nos aspectos afetivo, cognitivo e motor e de forma integrada entre o cuidar e o educar, respeitando os conhecimentos prévios já adquiridos pelos pequenos educandos, bem como se utilizando da carga cultural de cada um. Observados esses aspectos, questiona-se: como seria a prática da Educação Física nesse período escolar? Que objetivos teria?

    Para ajudar a responder a tais questões, aqui se estabelece um diálogo com alguns autores que tratam do assunto, salientando-se que, em grande parte das escritas que aqui servirão como referencial, é apresentada como preocupação não a legalidade da presença da Educação Física na educação infantil, mas sua legitimidade, justamente a partir das discussões a respeito de seu papel e de suas práticas nessa etapa do ensino. Segundo Mello e Santos (2012, p. 32), se [...] a Educação Física já conquistou, por força de lei, seu espaço na Educação Infantil, falta-lhe a universalização e, mais ainda, uma definição teórico-didático-metodológica para que ocorra também sua legitimação pedagógica.

    Somente por meio de práticas coerentes entre o que se propõe na Educação Física Infantil e na educação infantil, será possível o reconhecimento do trabalho da disciplina no trato com crianças nas escolas de primeira infância, do mesmo modo que se faz necessária a produção de mais pesquisas no campo dos saberes-fazeres da Educação Física Infantil, não apenas defendendo sua prática, mas apresentando possibilidades metodológicas em sua atuação prática. Nesse sentido, Silva (2007, p. 20) salienta que:

    [...] apesar de esses estudos vislumbrarem a melhoria da prática pedagógica na Educação Física infantil, hoje, após décadas de intensos estudos com finalidade de legitimar esse campo e superar sua fragilidade acadêmica, ainda assistimos aos limites de seus resultados: a prática pedagógica na dimensão mesma da escola continua a mesma, ora predominando o laissez-faire, ora o tradicionalismo/autoritarismo.

    Percebe-se, então, a necessidade de construir propostas pedagógicas para a Educação Física Infantil e não apenas tratar de defender ou não sua implementação em creches e pré-escolas, possibilitando aos professores que atuam nesse nível de ensino embasar-se em trabalhos consistentes e passíveis de aplicação prática, sem, contudo, deixar de lado a reflexão sobre os porquês da Educação Física na educação infantil.

    Em relação ao papel pedagógico da Educação Física, Freire (2009, p. 21) ressalta que ela [...] deve atuar como qualquer outra disciplina da escola, e não desintegrada dela, reforçando a ideia a respeito de uma ação conjunta de todas as professoras e professores evitando, assim, uma segmentação do ensino em creches e pré-escolas.

    É possível afirmar que a ação pedagógica da Educação Física deve estar intimamente ligada ao projeto da escola, ora acompanhando o trabalho da professora regente, ora servindo de base para ele e muitas vezes realizando os trabalhos conjuntamente no trato de temáticas diversas. Assim, apresenta-se como necessária a atuação do professor de Educação Física na educação infantil, os conhecimentos teóricos e práticos acerca do trabalho numa perspectiva interdisciplinar, que presume que o trabalho se dê por meio de um intercâmbio recíproco, com a interação de diversos conhecimentos e temáticas de maneira coordenada, auxiliando a compreensão do assunto por parte do aluno. Nista-Piccolo e Moreira (2012) defendem que toda ação educativa, ao estar pautada em uma educação corporal, revela ricas possibilidades ao processo educacional, evidenciando o importante papel da Educação Física como área do conhecimento, o que permite a este trabalho questionar os motivos da não inclusão dessa prática como componente da educação infantil, com a atuação de um especialista em determinadas redes de ensino, que preferem interpretar a LDB de uma forma diferente e delegar as professoras generalistas a função de lecionar as aulas de Educação Física, sob diferentes denominações, como recreação, momento de lazer etc.

    Silva (2007, p. 64) expõe que, [...] na educação infantil, não devemos falar em ‘corpo’, mas em crianças que se expressam (expressividades). Complementando a ideia, Mello e Santos (2012, p. 105) relatam que Considerar a singularidade da criança implica [...] a compreensão do movimento corporal como a principal linguagem que a criança dispõe nos anos iniciais de sua vida.

    Assim, o professor de Educação Física Infantil deve levar em conta, na elaboração e desenvolvimento de suas práticas, as características que permeiam o universo infantil, bem como conhecer e reconhecer que as crianças manifestam seus desejos, suas sensações e seus sentimentos muito mais por meio dos gestos e posturas corporais do que pela da linguagem falada.

    Considerando, então, que a Educação Física tem a significação do movimento corporal como objeto de atuação pedagógica, destacamos a escrita de Mello e Santos (2012, p. 105) que compreendem a educação infantil como lugar [...] de valorização de linguagens, para além da verbal, e de experiências que extrapolem o âmbito cognitivo, não tendo dúvida sobre a contribuição da Educação Física como área de conhecimento no trabalho com crianças menores de cinco anos.

    Nota-se a importância do movimento, em todas as suas expressões e possibilidades, como algo a ser incentivado e explorado na educação infantil. Mas como deve ser o trabalho dessa Educação Física Infantil, em que o cuidar e o educar devem seguir juntos, a disciplinarização não deve significar fragmentação e o professor passa a ser não apenas professor, mas professor da educação infantil, com diferenças evidentes no trato com a criança, que mostra-se ao mesmo tempo mais independente e espontânea, e o plano para a aula deve preocupar-se em atender a todos e a cada um, em uma ligação íntima com a proposta pedagógica da instituição de ensino e com o trabalho de todos os educadores que ali lecionam?

    Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 41) expressam que [...] a aprendizagem acontece por meio de uma interação social somada às oportunidades de experiências significativas que o indivíduo vivencia. Isso permite afirmar que as atividades realizadas na Educação Física em creches e pré-escolas devem possuir uma significação para que realmente façam sentido e se tornem parte do processo de ensino nessa etapa da educação básica.

    Uma das formas de se trabalhar com o movimento corporal, significando-o no imaginário da criança de primeira infância, é sua exploração por meio do jogo, quando o aluno fantasia e se mostra, aprende e apreende de forma dinâmica e prazerosa com uma gama generosa de acontecimentos que se apresentam antes, durante e depois da atividade.

    Freire (2009, p. 21) chama a atenção para a compreensão de que As habilidades motoras, desenvolvidas num contexto de jogo, de brinquedo, no universo da cultura infantil, de acordo com o conhecimento que a criança já possui, poderão se desenvolver sem a monotonia dos exercícios prescritos por alguns autores.

    Um fator favorável ao uso do jogo como ferramenta pedagógica da Educação Física Infantil é que já há no jogo uma motivação própria por parte das crianças, uma vez que jogar é uma prática corporal comum na infância e que encontra na escola um ambiente favorecido por lá estarem seus pares ideais para o jogo num contexto social positivo para que ele ocorra (MELLO; SANTOS, 2012).

    A exploração do movimento realizado no jogo é uma valiosa oportunidade de atuação da Educação Física na educação infantil, pois ele possibilita agir no campo das emoções, dos sentimentos e do imaginário da criança.

    [...] Na primeira infância há intenso relacionamento do estado emocional com a atividade física; portanto, brincadeiras que promovam a expressão de alegria, tristeza, raiva ou outras emoções são facilmente representadas pelo comportamento motor alterando o tônus muscular, assim como as atividades físicas excitantes influenciam o aspecto emocional (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012, p. 44).

    Desse modo, a Educação Física, ao atuar com aspectos emocionais das crianças na educação infantil, cumpre o que determina essa etapa de ensino, no que tange aos aspectos motor e afetivo, uma vez que, ao realizar atividades que exercitem a expressão de sentimentos por meio do movimento corporal, a criança passa a ter facilitado o entendimento sobre algumas questões que envolvam a afetividade. A educação, o desenvolvimento, as várias expressões de linguagem, enfim, a vida não se fazem sem um corpo, portanto as práticas educativas devem estar diretamente ligadas ao movimento corporal.

    O movimento corporal também estimula o desenvolvimento cognitivo, apresentando-se como elemento essencial do processo educativo nas escolas de primeira infância, uma vez que, pela resolução de tarefas corporais, as crianças aperfeiçoam seu raciocínio e aguçam sua criatividade, principalmente se são incentivadas a trabalhar com a resolução de situações-problema, o que as leva a aperfeiçoar seus movimentos e seus reflexos, ampliando suas habilidades com as descobertas corporais e pelas construções de planos de ação, o que estimula suas inteligências (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012).

    É também desse modo e com a construção de um trabalho intimamente interligado entre as diferentes áreas do conhecimento que a Educação Física pode contribuir com o desenvolvimento da criança na educação infantil. Para isso é preciso entender que:

    [...] A brincadeira e o jogo se apresentam como possibilidades de compreender as crianças como sujeitos que produzem histórias e culturas com linguagem própria, a infantil. Assim tornar o jogo objeto de intervenção nas aulas de Educação Física na educação infantil é uma forma de assumir outra racionalidade para esse espaço e tempo, que associa interesses e necessidades das crianças para favorecer o desenvolvimento de diversas linguagens presentes na escola. O jogo na escola assume um compromisso com a educação das crianças, promovendo aprendizagem e desenvolvimento no diálogo com o Projeto Político-Pedagógico da escola (mello; santos, 2012, p. 117).

    Esse pensamento leva a uma reflexão e ao reconhecimento da necessidade de que todos os professores que trabalham com a educação infantil se reconheçam como professores da educação infantil, e o ensino se manifesta com características bastante peculiares a essa etapa da educação básica em que os alunos são crianças e se encontram em uma importante etapa da sua formação humana, que dependerá muito das vivências que lhes forem proporcionadas nas creches e pré-escolas, nas quais não devem ser negadas as valiosas contribuições que as práticas corporais podem oferecer. Por isso a importância em se apresentar os objetivos da Educação Física Infantil como componente dessa etapa educacional, a fim de procurar garantir que o trabalho dessa área do conhecimento não se perca por falta de um norte.

    Com base na exposição teórica já feita e a partir do diálogo já realizado com os autores nesta seção, apresentam-se como objetivos da Educação Física Infantil:

    trabalhar com atividades corporais variadas e criativas, utilizando-se dos jogos como elemento lúdico e ferramenta essencial para o trabalho pedagógico;

    desenvolver os aspectos psicomotores dos alunos, respeitando suas capacidades e limites;

    promover jogos que trabalhem as expressões de sentimentos diversos, proporcionando ao aluno, pela experienciação, o desenvolvimento do aspecto afetivo;

    Incentivar o autoconhecimento por meio de práticas corporais que permitam à criança perceber seu corpo, com possibilidades, limitações e diferenças;

    fortalecer as manifestações culturais locais características da comunidade escolar;

    estimular, por meio de práticas corporais, a vivência das manifestações culturais nacionais no que tange às danças, aos jogos, ao folclore, entre outros;

    possibilitar, por meio de um constante trabalho interdisciplinar, uma aprendizagem ampla sobre temáticas diversas do universo da educação infantil;

    ajudar os alunos a desenvolver uma consciência de coletividade por meio de atividades cooperativas e de formação de equipes com a valorização das qualidades individuais de cada criança e coletivas do grupo de educandos;

    incentivar práticas de higiene corporal, bem como de hábitos saudáveis de vida;

    contribuir com a construção de uma consciência ambiental nas crianças, de modo que elas compreendam a importância do meio ambiente para a vida.

    Deve o professor de Educação Física Infantil perceber que os objetivos listados acima possibilitam uma grande diversidade na atuação pedagógica, mas que todos os aspectos descritos nesta seção deverão ser considerados para o planejamento das aulas a fim de garantir que o trabalho seja realmente significativo aos alunos na busca de um único objetivo final, que é o desenvolvimento pleno das crianças.

    ANÁLISE DOS DADOS

    A pesquisa de campo produziu dados no ambiente da educação infantil pública municipal de São Mateus/ES e as respostas obtidas nos questionários aplicados às 37 professoras, com formação em Pedagogia, que atuam na educação infantil, trazem aspectos importantes a serem considerados sobre a preparação dessas educadoras para desenvolver as práticas corporais na primeira etapa da educação básica, sobre a formação inicial em Pedagogia que elas tiveram, sobre a importância que dão à presença do professor de Educação Física no espaço da educação infantil e se elas são favoráveis à inclusão da Educação Física nos Ceims municipais.

    Na questão 1, perguntou-se às professoras se elas consideravam estar preparadas para desenvolver as práticas corporais apresentadas em alguns dos objetivos de aprendizagem do campo de experiência Corpo, Gestos e Movimentos⁴ listados pela Base Nacional Comum Curricular. As respostas obtidas estão representadas no gráfico a seguir:

    GRÁFICO 1. PREPARAÇÃO PARA DESENVOLVER AS PRÁTICAS CORPORAIS – RELATO DAS PROFESSORAS COM FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA

    FONTE: Questionário de pesquisa às professoras com formação em Pedagogia que lecionam na educação infantil (2016).

    Os dados evidenciados pelo gráfico mostram que os objetivos de aprendizagem em questão não são desenvolvidos com a segurança e o conhecimento devido pelas professoras, uma vez que elas responderam, em percentuais elevados, que não se sentem preparadas para trabalhar com tais objetivos.

    Somadas aos dados do gráfico, a realização das observações de campo mostrou que muitas vezes, o Movimento na educação infantil desenvolvido pelas

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