Sexualidade e Reprodução em Portugal: Os tempos de pandemia
()
Sobre este e-book
Veja o vídeo de apresentação da obra em youtu.be/vwosUkIiMzM
Miguel Oliveira da Silva
Miguel Oliveira da Silva é professor Catedrático de Ética Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, obstetra-ginecologista no Hospital de Santa Maria, primeiro Presidente eleito do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (2009-2015), coordenador de três projectos sobre Saúde Sexual e Reprodutiva na União Europeia (2003-2010), vice-Presidente eleito do departamento de Bioética do Conselho da Europa (2018-2019). Autor de diversos livros sobre questões de Bioética.
Relacionado a Sexualidade e Reprodução em Portugal
Ebooks relacionados
Saúde Digital Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAdoção Internacional: Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComunicação para Todas as Idades: Velhice e Comunicação Pública em Rádios de Portugal e Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortugal e o Atlântico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortugal, um Perfil Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação e Liberdade de Escolha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLei da Liberdade: Introdução Histórica ao Pensamento Jurídico - Épocas Medieval e Moderna Nota: 0 de 5 estrelas0 notasForças Armadas em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHeranças Educativas do Analfabetismo de Mulheres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnsaio Respublicano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortugal: Dívida Pública e o Défice Democrático Nota: 4 de 5 estrelas4/5Ditadura e Democracia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortugal e o Mar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolítica Externa Portuguesa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSaúde e Hospitais Privados em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJobs for the boys? As nomeações para o topo da administração pública Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortugal-Brasil: Encontros e Desencontros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiberdade e Informação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuestões de Família e Reflexos Econômicos: Conversas com um Advogado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBrasil: Cor de brasa, cor de sangue Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Sociedade Civil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Governo da Justiça Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNós e os outros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Investimentos Públicos em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMulheres na diplomacia do Brasil: entre vozes e silêncios (1918-2018) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEm briga de marido e mulher não se mete a colher?: um estudo sobre violência de gênero em jornais do Maranhão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Democracia Local em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRacismo Hoje: Portugal em Contexto Europeu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Atrasos da Justiça Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs homens mudaram: 150 variáveis que ajudam a entender esta mudança Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Sexualidade e Reprodução em Portugal
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Sexualidade e Reprodução em Portugal - Miguel Oliveira da Silva
Lista de abreviaturas
Apifarma — Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica
APHP — Associação Portuguesa de Hospitalização Privada
ATL — Actividades de tempos livres
CNECV — Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida
CNPMA — Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida
Covid-19 — Doença do coronavírus 2019 (Coronavirus disease 2019)
DGS — Direcção-Geral da Saúde
DIU — Dispositivo intra-uterino
DST — Doenças sexualmente transmissíveis
FAO — Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
FIV — Fertilização in vitro
FMUL — Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
ICSI — Injecção intracitoplasmática de espermatozóide intracelular
INE — Instituto Nacional de Estatística
IRS — Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares
IVG — Interrupção voluntária da gravidez
MCDT — Meios complementares de diagnóstico e terapêutica
MNSRM — Medicamento não sujeito a receita médica
MSRM — Medicamento sujeito a receita médica
OMS — Organização Mundial da Saúde
PIB — Produto interno bruto
PMA — Procriação medicamente assistida
PAM — Programa Alimentar Mundial
RIFA — Relatórios de imigração, fronteiras e asilo
SARS-CoV-2 — Síndrome respiratória aguda grave por coronavírus 2
SEF — Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
SIU — Sistema intra-uterino
SNS — Serviço Nacional de Saúde
TC — Tribunal Constitucional
UNICEF — Fundo das Nações Unidas para as Crianças
UNFPA — Fundo para a População das Nações Unidas
À Judite, finalmente
Em face do que se não entende com clareza sempre se disseram coisas desmesuradas.
EUGÉNIO DE ANDRADE
Na sucessão de quaisquer explicações, o limite está no impensável […] porque dizer sim ou não a seja o que for é ter em conta a sua impositividade.
VERGÍLIO FERREIRA
Introdução: confinamento, sexualidade e gravidez
A pandemia de Covid-19 não deixou incólumes a sexualidade, a fecundidade e a reprodução humana — nada de mais natural. Um fenómeno tão disruptivo como este teria de ter consequências, afectar múltiplos domínios e testar alguns limites da nossa própria existência.
Sucedendo os acontecimentos — por extremo interessantes e extraordinários — com a velocidade do raio, escapa-nos ainda o tempo e o modo como, pela sua dinâmica, os costumes, os afectos e a sexualidade se estão a adaptar no seu todo ao novo estilo de vida imposto pela pandemia.
É, assim, prematuro antecipar e avaliar globalmente o impacto daí decorrente, porque ainda está em construção e nuns casos nem sequer é cabalmente reconhecível, identificável.
Haverá, certamente, algumas perguntas, por enquanto, sem resposta.
Mas não é já pouco aquilo que sabemos sobre os efeitos da pandemia na mudança da nossa sexualidade e na reprodução, pelo que importa que esta temática e algumas das questões suscitadas sejam agora debatidas em alargado e participado debate de cidadãos, que não deve ser adiado para depois da pandemia.
Os próprios cuidados de saúde nestas áreas têm de ser repensados em novos moldes, noutro modelo de gestão e com implementação de adequados serviços de saúde que aproveitem uma boa e não facilmente repetível oportunidade de inovação e mudança. Há que corrigir prioridades, repensar tarefas e funções, reduzir listas de espera e outras deficiências e iniquidades na saúde sexual e reprodutiva, tão expostas e aceleradas pelo efeito da pandemia.
Nisto somos convidados, convocados a uma nova era de esperança na qual perpassa uma vaga de inovação científica e tecnológica e uma mais humanizada gestão clínica aliada à medicina de precisão individualizada, à medicina e saúde digital e à inteligência artificial.
O que pode estar a mudar na sexualidade, no desejo de gravidez, na fecundidade, na natalidade?
A pandemia, controlada ou não, no seu longo tempo de sombras, escuridão e incertezas, no seu turbilhão de injustiças e desigualdades sociais que, sendo causa e efeito da doença, são agravadas e reveladas, na convergência de crises e de perigos desvelados (sem precedentes e com uma magnitude e um impacto únicos), funcionou como um aviso, um dever de aprender e extrair ilações, um catalisador de mudança também nalguns paradigmas sexuais e reprodutivos.
Tanto mais que, nem antes nem na era digital tinham as pessoas, desde que há memória, alguma vez vivido tão profundos confinamentos por tão longo período de tempo. Tempo em que tantos cientistas, políticos e comentadores afirmaram tanta coisa diferente, às vezes uma coisa e o seu contrário.
Decerto, a verdade científica avança na incerteza, sem unanimidade, por acumulação e rupturas no conhecimento; o debate, a controvérsia e a correcção de erros e de enganos são a rotina, a normalidade.
Pena é que alguns comentadores e autoridades — alguns, tão intensos quanto efémeros, passam e não deixam rastro —, movidos por aparente e insepulta vontade de protagonismo, tenham confundido mais do que esclarecido a população. E, assim, semearam erosão na confiança e na credibilidade da própria ciência e tecnologia (exemplos: acesso e eficácia de máscaras, testes, vacinas) no preciso momento em que a pandemia estimulava interesse e entusiasmo público sem precedentes na investigação científica e seus