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Memória, Escuta e Resistência: reconstrução da história de vida da Educadora Social Maria Aparecida Silva
Memória, Escuta e Resistência: reconstrução da história de vida da Educadora Social Maria Aparecida Silva
Memória, Escuta e Resistência: reconstrução da história de vida da Educadora Social Maria Aparecida Silva
E-book211 páginas2 horas

Memória, Escuta e Resistência: reconstrução da história de vida da Educadora Social Maria Aparecida Silva

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Sobre este e-book

Dona Cida das Boas Esperanças, que não era por acaso. Boa Esperança, local de origem de dona Maria Aparecida Silva, mas também Boas Esperanças porque todos os locais pelos quais ela passava, deixava um fio de esperança para todos. A comunidade onde ela viveu em Campinas depositava todas as esperanças nela – esperança de ver as crianças alimentadas, fazendo atividades de lazer sem estar nas ruas. Mesmo diante das suas preocupações, ela não perdia o brilho no olhar, no sorriso, assim como as suas atitudes transbordavam esperanças.

Recém-formada no Magistério na cidade de Boa Esperança, um Inspetor Público colocou as suas esperanças no trabalho da jovem professora, convidando-a para trabalhar com jovens adolescentes que não eram aceitos socialmente, pois apresentavam um comportamento rebelde. Sendo assim, eles ficavam acomodados em um alojamento denominado Granja dos Meninos, por serem órfãos de pai e mãe. Dona Cida passava a semana longe de sua família para educar esses jovens. O trabalho de alfabetização com os jovens rebeldes foi um diferencial na cidade. Sua atuação foi tão importante que um lugar que ninguém queria se transformou em referência educacional, e posteriormente foi fundada uma Escola Municipal no local e seu legado está lá, na pedra e na cal: E. M. Anita Bandeira.

Em Campinas, começou um novo legado como Educadora Social: a fundação da Associação Pró-Menor Barão Geraldo, que perdura por quatro décadas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2022
ISBN9786525261980
Memória, Escuta e Resistência: reconstrução da história de vida da Educadora Social Maria Aparecida Silva

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    Memória, Escuta e Resistência - Benedito Olavo da Cunha

    1 - INTRODUÇÃO

    No início do ano de 2019 foi apresentado o Projeto de Pesquisa ao Programa de Mestrado da UNISAL. Nessa época o pesquisador, um dia ao visitar sua mãe senhora Maria Aparecida, como de costume, a encontrou de saída para ir à casa de uma moradora do bairro, sua amiga, e o convidou para irem juntos. Essa senhora, amiga de sua mãe de longa data chama-se também Maria Aparecida, ou mais conhecida como Dona Cida. Em meio às conversas, foi feito um convite para todos almoçarem na casa do pesquisador.

    No domingo seguinte foi um prazer imenso para o pesquisador recebê-las para o almoço. E como um agradável encontro entre mineiros natos não se reduz somente a um dedinho de prosa, as conversas duraram a tarde toda. E nas confabulações Dona Cida contou muitos fatos de sua vida, desconhecidos pelo pesquisador. Falou um pouco de sua vida profissional, social e um pouco de sua trajetória como educadora social.

    Contou que foi presidente da Sociedade Amigos do Bairro – SAB – do Jardim América por vários anos consecutivos, falou das indignações que a levou a fundar o Projeto CERPP, que veio a unificar a Sociedade Pró-Menor Barão Geraldo em 15 de julho de 1993¹. Também comentou de sua trajetória na Paróquia Frei Galvão do Bairro Jardim América, no Distrito de Barão Geraldo – Campinas SP, onde foi voluntária e catequista por muitos anos. Como morador do Bairro, Oton – filho do pesquisador participou do curso de catequese da equipe da Dona Cida.

    Essa senhora de fala tranquila e sempre com um sorriso acolhedor nos lábios, também falou das suas andanças coletando assinaturas para fundar a Creche Christiano Osório de Oliveira, na qual Lunara – filha mais nova do pesquisador – frequentou a pré-escola, e na qual o pesquisador realizou o seu primeiro estágio do curso de Pedagogia.

    Dona Cida também discorreu sobre a coleta de assinaturas para trazer uma escola de ensino fundamental-I para o bairro, a Escola Estadual Maria Alice Colevati Rodrigues. Escola em que o pesquisador fez outra etapa de estágio do curso citado, lecionou como professor voluntário em aulas de recuperação e mais tarde trabalhou como professor regente de sala por dois anos. Nessa escola seu irmão também lecionou, assim como sua esposa Marisa Cunha que foi estagiária do curso de Psicopedagogia Clínica/Institucional. Suas filhas Lunara e Andiara, além dos seus sobrinhos se beneficiaram com estudos do ensino fundamental – I nesta escola.

    Como se percebe, boa parte da história das raízes do bairro do pesquisador estava ali, viva diante dos seus olhos. Sua família usufruiu e continua usufruindo dos benefícios aos quais essa senhora lutou em prol de suas fundações, entrelaçando em vários momentos suas vidas. Isso pesou muito e suscitou uma reflexão e, sem hesitar, delineou os rumos dos trabalhos de pesquisa do Mestrado.

    Portanto, este trabalho faz um breve Levantamento de Dados Históricos da Sociedade Pró-Menor Barão Geraldo com o objetivo de realizar a reconstrução da História de Vida da Senhora Maria Aparecida Silva – Dona Cida. Assim, a dissertação descreve a vida desta mulher que em 1971 ingressou como professora na cidade de Boa Esperança/MG até fundar e atuar na Sociedade Pró-Menor Barão Geraldo. Nesse contexto, o trabalho busca conhecer a trajetória de vida de Dona Cida e entender a importância da Sociedade Pró-Menor, uma instituição com atuação em ações Sociocomunitárias, portanto, uma instituição sem fins lucrativos, ou seja, que têm em sua essência iniciativas de acolhimento, prevenção e o desenvolvimento humano.

    Em Campinas há outras entidades que atuam no mesmo seguimento, prestando assistência a sujeitos em situação de vulnerabilidade em várias comunidades. São entidades tais como ONGs, Associações, Sociedades Amigos de Bairro e Comunidades Religiosas. Cada uma tem como função o auxílio, no sentido de garantir às pessoas em situação de vulnerabilidade o direito pleno do exercício democrático e da cidadania, de forma a reafirmar o viés da Educação Sociocomunitária.

    Groppo (2010, p.71), argumenta que as ações e projetos de Educação Sociocomunitária, são ações conscientes de seus agentes, (...) ações não apenas capazes de alterar as consciências e valores sociais, mas também capazes de criar ou ajudar a criar novos modos de viver e produzir. A Sociedade Pró-Menor "Barão Geraldo²" foi criada a princípio como creche particular, regida por um grupo de voluntários na região central do distrito de Barão Geraldo e, posteriormente, sua parte física foi incorporada à municipalidade, porém a pessoa jurídica permaneceu ativa.

    Em paralelo, já funcionava de forma precária junto à SAB- Sociedade Amigos de Bairro do Jardim América, um Projeto de acolhimento denominado CERPP (Centro Educacional Recreativo Pré-Profissionalizante) mantido sob a tutela da Dona Cida que, por sua vez, também era voluntária fundadora dessa creche denominada Pró-Menor Barão Geraldo.

    Vale ressaltar que o Projeto CERPP, por funcionar precariamente, estava se organizando como pessoa jurídica. A FEAC (Fundação Assistencial de Campinas), a qual a Pró-Menor era filiada, sugeriu e orientou os entendimentos entre as duas diretorias para oficializar a unificação de ambas, constituindo assim a entidade atual, uma vez que já vinham trabalhando de forma cooperativa há mais de dois anos.

    O trabalho de pesquisa permeou a trajetória de vida da educadora social e suas ações, principalmente no projeto e depois Sociedade Pró-Menor. Assim, para produzir essa Dissertação de Mestrado, norteada pelo título acima mencionado, vários autores contribuíram com suas filosofias de pensamento, como: Izquierdo, Fernandes e Lima, Bosi, Rovai e outros. O trabalho também contou com orientações técnicas de autores como Meihy, que deram embasamento teórico para a escrita que está assim distribuída em seis capítulos.

    O primeiro capítulo traz a introdução com delineamento do Projeto de Pesquisa, menciona também um breve comentário sobre o sujeito da pesquisa, suas ações, alguns dos autores que ampararam os trabalhos e o delineamento dos capítulos.

    A apresentação do segundo capítulo está centrada na Educação Sociocomunitária e diálogos com autores como Gadotti, Morais, Groppo, Martins, Evangelista, Caro e Gomes. Também são trazidos seus fundamentos e conceitos como uma modalidade de educação que vem se fortificando por meios de ações de movimentos sociais, além das Práxis Sociais e Práxis Comunitárias que funcionam como um vetor convergente a essas ações.

    No terceiro capítulo é apresentada a Metodologia de História Oral, que dialoga com autores como Izquierdo, Fernandes e Lima, Bosi, Rovai e outros, os quais embasam e sustentam essa linha de pesquisa. Procurou-se fazer aplicações de entrevistas, com coleta de informações por meio das escutas dos fundadores da entidade pesquisada. As consultas foram realizadas em outras fontes de informação que dialogam com esses autores que trabalham a História Oral. Também foram pesquisadas atas de reunião, livros de registros, fotos, recortes de jornais, objetos e sites, os quais serviram como disparador de memória para os colaboradores.

    A apresentação do quarto capítulo tem como eixo a pesquisa de campo, cuja coleta de informações foi realizada por meio de entrevistas, todas antecedidas por um roteiro de perguntas abertas e com diálogo democrático, no qual os colaboradores podem discorrer sobre suas memórias e suas histórias, vividas ou presencias. Todas as entrevistas foram viabilizadas pelo Termo de Assentimento expedido pelo Comitê de Ética, assim como foram realizadas as suas transcrições e dadas as respectivas devolutivas para ciência das transparências das mesmas e das oposições, caso houvesse.

    Também é apresentada a reconstrução da trajetória de vida de Dona Cida, desde o início de sua caminhada como educadora social, envolvendo suas lutas incansáveis para engajar moradores em seus projetos. Apresenta-se o sujeito mediador, a presidente atual da Associação, que promoveu a abertura das portas da entidade para facilitar o andamento do trabalho de pesquisa e que, com um diálogo sensível e democrático, auxiliou na escolha dos colaboradores para entrevista.

    O quinto capítulo mostra a trajetória histórica da Sociedade Pró-Menor, desde as motivações para a sua criação como creche na região central de Barão Geraldo, seu encerramento e a criação do Projeto CERPP, a fusão das duas entidades e, por fim, a construção da sede atual.

    As análises das falas dos entrevistados estão centralizadas no sexto capítulo, assim como a vida da Educadora Social para a comunidade, dentro do rigor metodológico, da ética e do respeito ao ser humano, onde são chamados pelo nome verdadeiro.

    E para finalizar encontram-se as considerações finais, as referências bibliográficas, os anexos e apêndices.


    1 Informações mais detalhadas ver no CAPÍTULO FUSÃO DAS ENTIDADES.

    2 ESTATUTOS SOCIAIS DA SOCIEDADE PRÓ-MENOR BARÃO GERALDO

    CAPÍTULO – I – DA DENOMINAÇÃO, FINS, SEDE, DURAÇÃO E FORO

    ARTIGO 1º - A SOCIEDADE PRÓ-MENOR BARÃO GERALDO, fundada a 24 de agosto de 1981, é uma associação civil de caráter beneficente, educativo, cultural e de promoção humana que tem por finalidade, em regime de apoio sócio-educativo em meio aberto, em regime de orientação e apoio sócio-familiar, e em regime de abrigo, o atendimento à Infância e Adolescência, através de um trabalho preventivo e curativo, visando o bem estar de seus usuários, quer na parte física, mental, bem como social, sem distinção de raça, condição social, credo religioso ou ideologia política.

    2 - EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA: FUNDAMENTOS E CONCEITOS

    Para Gadotti (2012), a Educação Comunitária se envolve com movimentos populares, em grupos e comunidades com o objetivo de melhoria das condições de vida de pessoas que se encontram em ambientes excluídos. É nesse viés que a Educação Sociocomunitária se posiciona e se identifica.

    A Educação Sociocomunitária é reconhecida pelas suas ações e contribuições no progresso comunitário e no progresso das comunidades, assim como suas ações intensificam os elos entre a população de baixa renda e marginalizada socialmente. A construção desses elos e os créditos sociais, como espíritos solidários, são construídos ao longo dos tempos e no seio social.

    Gadotti (2012) afirma que a Educação Sociocomunitária está em construção, mesmo assim ela tem se fortalecido no fazer social, assim como seu papel transformador da Educação Sociocomunitária diferenciada no geral. Ele ainda lembra que as escolas comunitárias são resultantes do esforço comunitário em lugares menos acessíveis, por meio de agrupamentos de pais ou pelo comunitarismo – pela cooperação comunitária e administração dos seus usuários. Mas em alguns casos essa administração, por escassez financeira, acaba se transformando em instituições públicas ou até mistas (escolas conveniadas) com parceria com o poder público. Geralmente as escolas comunitárias são geridas por estímulos variados, com critérios de organizações distintas, dentro da sua diversidade.

    Já na pedagogia social, como pedagogia da práxis, Gadotti (2012) argumenta que no contexto da pedagogia social, o sujeito é apto a se desenvolver, mas nem sempre tem chance que lhe são favorecidas e essa oportunidade é depositada na educação. Porém, o autor reitera que a educação é a causadora de mudanças na sociedade, mas tem peso e é o caminho para essa mudança. Dessa forma, para Gadotti (2012), a pedagogia social se fortalece como agente de transformação, com o objetivo de findar a exclusão e a desigualdade nas camadas populares e, assim, ela se insere no campo da pedagogia da práxis, trilhando o campo social e menos pedagógico.

    De acordo com Gadotti (2012), a pedagogia da práxis objetiva ser um modelo de educação revolucionária, uma vez que ela vê no homem um sujeito incompleto, inconcluso e inacabado. Diante disso, ela entende o sujeito como um ser com possibilidades de criar, transformar e se modificar dentro da trajetória da sua história. Todas as variantes da pedagogia são inerentes à sua prática contínua, uma vez que a pedagogia perde o sentido se não houver prática.

    Gadottti (2012) argumenta que as mudanças no mundo são provocadas de acordo com a alteração da mentalidade do seu povo. Alterações promovidas no sentido da sensibilização social para o sentido de comunidade social, na acepção de melhorar o bem-estar comum, que abarca o convívio e a convivência comunitária dos seus moradores. Em outras palavras, as mudanças construídas na coletividade refletem nas mudanças no mundo. Principalmente a Educação Sociocomunitária enseja possibilidades viáveis de mudanças sociais.

    Para Gomes (2008, p.53), a escolha dessa proposta investigativa se fundamenta em aspectos históricos. Neste caso, a Educação Sociocomunitária emergiu de sua identidade histórica e das ações educativas, cuja educação é a Salesiana. Tendo como origem histórica sua conexão com a comunidade civil, seus atores eram cidadãos comuns e religiosos que se articulavam em projeto educacional, visando as transformações sociais dentro do tempo e do lugar histórico. Diferentemente dos demais processos similares já existentes, a Educação Salesiana difere na identidade e no seu método de educar. O termo comunidade reflete uma similaridade com o termo família, tanto no discurso social, quanto no discurso ético e este último é tomado por uma bondade ideológica quase tão imensa quanto os termos família. Mas a comunidade é um local de múltiplas facetas que sustentam suas práticas, pois é o espaço onde se sedimentam suas tradições e rupturas.

    Gomes (2008) alerta que nela também há seus desconfortos. Como exemplo, há a intervenção, pelo fato de implicar em romper com algo estático na comunidade. A intervenção educativa, que pode acontecer tanto na transformação do sujeito quanto na forma de ensinar, é uma forma de romper algo dentro da sociedade, que acontecia de uma certa maneira, nesse caso, o rompimento é com a didática educacional.

    Gomes (2008) considera que a Educação Sociocomunitária permeia um processo constante de intervenção na sociedade. E que a educação se dá por meio de proposta educativa que conduz a uma etapa formadora. Nesse entendimento, dentro da sequência deve haver etapas para debater e executar a

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