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Causos de Assombração
Causos de Assombração
Causos de Assombração
E-book62 páginas48 minutos

Causos de Assombração

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Sobre este e-book

O mundo atual tirou das crianças uma das suas melhores fontes de informação, conhecimento e troca de experiências: a oralidade. Antes da tevê e da Internet, a diversão era o rádio, o terço entre famílias, as fofocas do dia e histórias contadas nas rodas de conversa, comuns antigamente, quando as pessoas se visitavam e o aroma delicioso de café permeava a reunião. Não raro um bolinho era servido, quando a dona da casa exibia seus dotes culinários e apresentava uma receita secreta de família.A noite passava agradavelmente. As histórias se sucediam e era infalível que surgisse, entre elas, uma história de fantasma ou de assombração. Todos conheciam um causo antigo, muitos haviam passado por experiências assustadoras e compartilhavam seu pavor com os demais.Nós, crianças, encolhidas de medo, ouvíamos atentamente e sabíamos que o sono daquela noite seria prejudicado por pesadelos.Estas são algumas das histórias que ouvi quando criança...E umas que presenciei.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de fev. de 2023
ISBN9781526074362
Causos de Assombração

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    Causos de Assombração - L P Baçan

    A ALUADA DO CAFEZAL

    Os antigos se lembram bem de quando o café era a principal riqueza da região. Havia fartura, mas havia também dramas pessoas e mistérios que desafiavam a nossa compreensão. Um dos causos mais lembrados por eles era o da Aluada do Cafezal.

    Numa grande fazenda da região, hoje desmembrada em inúmeros sítios menores, havia uma grande colônia, que abrigava o pessoal que trabalhava na lavoura. Um dia chegou ali um casal de nordestinos, pedindo emprego. Como não havia nenhuma casa vaga na colônia, deram a eles uma casa de sapé, próximo a roça, para que morassem. A casa ficava isolada da colônia, mas oferecia o necessário para um casal sobreviver, considerando as agruras daqueles tempos.

    Logo começaram os comentários. Os outros colonos achavam o novo casal muito estranho. Os dois não conversavam e não participavam da missa de domingo, na capela da fazenda. A mulher, sempre desgrenhada e falando sozinha, mais parecia uma aluada.

    Pouco tempo depois que chegaram, ela ficou grávida. Apesar de serem arredios, eram bons trabalhadores e faziam sua parte, capinando o café, plantando o feijão nos entremeios das ruas e todo trabalho ordenado pelo capataz.

    A tragédia, porém, não demorou a se manifestar. Ao remover uns troncos velhos, o marido da Aluada foi picado por uma urutu-cruzeiro perto da virilha. Desesperado, sacou sua faca e tentou fazer um corte para extrair o veneno. Ao invés disso, cortou a veia da perna. O sangue esguichava e não havia o que fazer para estancar o sangue.

    Ele correu de volta para a casinha de sapé, gritando pela mulher. Caiu ali, no terreiro, já sem sangue no corpo. Morreu no colo da mulher, que chorava e gemia de dor.

    Depois disso, ela ficou ainda mais estranha e arredia do que antes. As crianças passaram a ter medo dela. Ela continuou fazendo seu trabalho até que o filho nasceu. Depois disso, a Aluada simplesmente isolou-se de todos. Não trabalhava mais e ficava trancada em casa. Se alguém aparecia, ela enxotava, atirando pedras e pedaços de pau. Perceberam, então, que o nenê que nascera chorava sem parar. Era dia e noite. Quem passava por perto, ouvia o choro da criança como se estivesse faminta ou sendo judiada.

    — Deixa a muié quieta por uns tempos. Quando ela saí do resguardo, ela vai miorá – decretou o capataz.

    E parece que tinha razão. De repente, a criança parou de chorar e quem passava pelo terreiro da casa não era mais enxotado pela Aluada. O silêncio persistiu e gerou desconfiança. As portas e janelas fechadas eram um mau sinal. O capataz chamou alguns homens e algumas mulheres e foram até lá.

    — Vamo tê que arrombá a porta – decidiu ele.

    Alguém bateu com o olho de um machado e a porta se abriu com facilidade. Um cheiro nauseante fez homens e mulheres vomitarem. A cena macabra à frente deles os fez se persignarem.

    — Valha-me Nossa Senhora!

    — Virgem Maria!

    — Meu Deus do Céu!

    Estas e outras exclamações foram ouvidas. No fundo da casinha, sentada numa cadeira, estava o corpo em decomposição da mulher. Quando conseguiram entrar, perceberam logo que a criança não estava ali. Procuraram por toda parte, ao redor da casa, no poço, na fossa, mas nada. Por incrível que pareça, o nenê jamais foi encontrado.

    Os antigos afirmam que os restos da casinha ainda estão lá. O sitiante que comprou aquela parte, quando a fazenda foi dividida, deixou tudo como estava.

    Principalmente porque, segundo ele, à noite, depois das dez horas, um choro de criança pode ser ouvido acima dos ruídos do vento. Um gemido de mulher responde de outro lado. Dizem que é a Aluada do Cafezal, procurando seu bebê.

    A CASA DO CAPETA

    Os antigos contavam muitos causos de assombração, narrando fatos e feitos de um tempo que já se perdeu no passado, mas cujas presenças ainda podem ser sentidas no respeito do povo e no temor velado com que tratam o assunto. Conhecem a maioria das propriedades da região e sabem a história de cada uma.

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