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Contos De Solidão: Coletânea de contos
Contos De Solidão: Coletânea de contos
Contos De Solidão: Coletânea de contos
E-book174 páginas2 horas

Contos De Solidão: Coletânea de contos

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Sobre este e-book

A coletânea de contos que compõe este livro: “ESTRANHO!” — é um trabalho literário assoberbado de narrativas de terror, horror, mistério e suspense, que visam contemplar aquele estilo de escrita criativa que esmiúça as coisas possíveis e até impossíveis de acreditar; sempre buscando pacificar no desenrolar das tramas, cada pedacinho em nós que ainda reluta a aceitar que histórias fascinantes acontecem a todo o instante e em qualquer lugar.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de abr. de 2023
ISBN9781526076908
Contos De Solidão: Coletânea de contos
Autor

Black Books

Black Books sempre trazendo o que há de melhor na literatura.

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    Contos De Solidão - Black Books

    Quarto de motel

    Um quarto de motel, cigarro e bebidas fortes. Isso era tudo, ou pelo menos parte do que Maycon, quando se sentia solitário, necessitava nas noites insones. E junto a ele, dentro do mesmo quarto do motel, prostitutas diversas; uma, e às vezes duas ou três garotas, todas angariadas nos becos escuros da cidade, seduzidas pela beleza ímpar daquele garoto que, às vezes, elas insistiam em entregarem seus corpos a preço de nada. À noite pela noite, só isso. E enquanto a vida na cidade de São Paulo avançava a largos passos, com a lua no céu brilhando intensamente, fazendo coro com as luzes dos outros corpos celestes ao redor, o desejo ardia em seu peito, incendiando seu corpo moreno, viril e forte, ainda que ora e outra o quarto fosse molestado pelas correntes dos ares covardes que, divorciados dos ventos fortes que sopravam lá fora, insistia denunciar que o mês de agosto chegou para ficar.

          Diferentemente dos irmãos franzinos, tímidos, estava claro que Maycon só podia ter nascido em outra ninhada. Na ninhada dos brutos, dos potros, dos lobos alfas com fortes garras, ainda que solitários, no entanto, de uma forma sombria que ninguém conseguia explicar direito; Maycon era estranhamente belo, e apesar daquela tristeza sempre encalçando seus olhos, sua firmeza nos gestos, nos atos e decisões, emergia nele uma aura doce e sensível, sempre gentil com todos à volta.

          Mas Maycon tinha uma alma antiga, por isso sentia-se solitário. E o refúgio para tanta solidão era o sexo. Mas não um sexo frouxo, insonso, ou feito de qualquer jeito, como aquelas transas rápidas por que alguém precisa logo partir. Pelo contrário, havia intensidade em tudo que ele fazia. Como um relógio suíço que perfeitamente funciona, seus sentimentos sempre sincronizavam com os desejos da sua carne, ou seja, aonde sua pele, seu membro duro, ou mesmo sua boca carnuda tocava, conseguia exaurir todo e qualquer tipo de sensação daquele lugar, e os metamorfoseava em estímulos com poder vital de virar os olhos. Se com prostitutas ou não, isso era só um detalhe. Desde que em consenso, para Maycon, mulher era mulher. E naquela noite de agosto, no quarto escuro daquele mesmo motel barato, duas garotas nuas, sedentas por sua presença, aguardavam deitadas sobre um lençol. Estavam ansiosas para logo o amarrotarem.

          Saído do banho, totalmente nu e rente à cama, Maycon lhes lançou um olhar de felino que as fez sentir como duas presas indefesas: com o membro ereto apontado para elas, elas ficaram extremamente úmidas por baixo, enquanto grossas gotas de água escorriam pelos seus cabelos negros, vertia pelo seu pescoço, se estabilizando na tabori negra tatuada em seu peitoral firme.

    — Necessito de uma toalha, meninas — sua voz era grave, mas ele disse de forma suave e gentil. Petrificadas com a sua presença, as duas garotas não o responderam. Vidradas elas estavam no corpo definido, rígido a sua frente. Só após algum tempo as duas disseram:

          — Deite aqui, Maycon, que nós te enxugaremos...

          Assim ambas serpenteavam suas línguas naquele corpo viril e forte, sorvendo para dentro de suas bocas todos os resquícios líquidos, até ver a última gota secar. Por fim, só o que sobrou na superfície explorada foi a cor morena de uma pele já seca, mas jorrando feromônios carregados de promessas de êxtases diversos, através das gotículas de suor que imperceptivelmente evaporava-se no ar. Depois disto, de uma só vez, elas abocanharam a base dura, inundada por grossos nervos. Suas línguas se tocando, as mãos acariciando o resto do corpo de Maycon; elas estampavam olhares vorazes enquanto o membro saltitava entre seus lábios; a ponta rosada e dura resvalando seus rostos angelicais.

          Uma era ruiva, a outra loira. Não eram prostitutas. Muito menos garotas fáceis. Pelo contrário, por causa de uma disputa que ninguém venceu, ambas combinaram de o compartilharem em uma única noite. Ele foi o prêmio. Pelo menos assim ficou definido nas regras.

    — Meninas, vão com calma, — ele disse, acariciando os cabelos de uma das garotas — temos toda a noite...

          Naqueles breves instantes de sexo, Maycon não se sentia sozinho. Ele sentia-se livre. Livre como a águia quando percorre a imensidão de um céu só dela, alcançando horizontes longínquos com seus olhos sábios, plainando acima das nuvens brancas sobrepujando tudo abaixo.

          Ainda que exaustas, a duas garotas permaneciam arrancando suspiros silenciosos, discretos, enquanto sentiam a enorme mão de Maycon conduzir suas cabeças por de trás, à partir dos seus cabelos. Com o cigarro à boca, fumaças subiam em espirais no quarto. As mãos de Maycon subiram e, por alguns instantes, apoiaram sua cabeça já recostada no dossel da cama. E embaixo, as duas se acabavam excitadas, ainda mais úmidas, as mãos acariciando o membro já angustiado para libertar-se da angústia prazerosa de não ter mais que conter-se.

          — Por favor, Maycon, goza tudo dentro das nossas bocas... — Elas imploraram.

          — Não — Foi o seu veredicto. Depois, silenciou-se. Seu olhar permanecia firme, devorando os corpos das duas presas inundadas de suor, em parte descabeladas. Logo Maycon levantou-se e, com as duas já ajoelhadas, permanecendo com as bocas ainda grudadas em seu membro, ele as colocou sobre a cama, deitada de costas, uma ao lado da outra, segurando as próprias pernas entreabertas.

          Um gole de vinho, uma tragada. Visão do paraíso. Ou melhor, paraísos. Maycon verteu seu rosto para perto daqueles doces lábios que, desde o início dos tempos, como sempre foi e será eternamente, a vida humana entrava no mundo. A única luz que reincidia no quarto era a luz da lua, sem contar às das estrelas. Ainda assim era visível perceber a deformação dos rostos das duas garotas. Estavam angustiadas, loucas por aquele prazer, por isso deram-se as mãos.

          Como um trovão que anuncia a tempestade que logo vai chegar; logo aqueles lábios úmidos se encontraram com uma respiração pulsante, forte: ao passear sobre elas, alternando as coxas, sua boca era doce, suave e gentil. Excitadas com o resvalar de sua barba cerrada, as duas garotas começaram-se a se beijar. Mas não foi um beijo gentil, sofrível. Pelo contrário, foi voraz e intenso, nem deixando pausas para que respirassem. E enquanto Maycon passeava a língua sobre o clitóris da ruiva, mantinha dois ou três toques no clitóris da outra. Em seguida, momentos após, chupava-as com intensidade, seu rosto entremeio as nádegas já coladas, as duas garotas naufragadas em beijos. Um gole de vinho, outra tragada. Depois Maycon voltava com a mesma intensidade sobre a superfície daqueles sexos rosados, inchados de prazer, devorando resquícios da vibração de uma língua dançando enérgica sobre eles. Mas não demorou muito. Deveras. Maycon ainda degustava os odores das carnes, bebendo de tudo que elas vertiam sobre sua boca, foi quando ele ouviu-as gemer:

          — Maycon, nós vamos gozar...

          A lua ainda brilhava no céu. Sobre a cama, dois corpos nus, inertes, descansavam exaustos, acumulando energias para a próxima rodada. Maycon permanecia nu, largado em uma poltrona de frente à janela, o olhar fixo no horizonte além dela. Um vento mais forte soprou ali pertinho, sobre as árvores, fazendo os vidros estremecerem. Um gole de vinho, outra tragada. E antes de apagar a chama cintilando no Zippo, seus olhos afogaram-se na imensidão daquele vermelho alaranjado que chamuscava à frente. No silêncio reinante à volta, enquanto aguardava as garotas se levantarem, Maycon ficou brincando com o fogo.

    Fúria

    Sem que Renan estivesse esperando, Valentina apareceu em seu apartamento como se fosse um furacão. Ela chegou como chegam às chuvas tempestivas sobre uma noite calma, ou como chegam as ventanias frouxas que logo se encorpam e se transformam em grandes ventanias soltas.

            De longe era possível ouvir os roncos do motor potente do Camaro adentrando a área do estacionamento do edifício; os pneus derrapando por cima do cascalho, as pastilhas do freio só parando de chiar quando enfim o estrondo emitido por um agressivo fechar de porta, denunciou a extrema fúria que o habitava.

          O ambiente do condomínio — antes calmo e pacato — agora era molestado por um vozerio de resmungos somado com seus sequenciais passos descompassados, pisoteando com agressividade as escadas e o corredor, enquanto emitia negativas vibrações que logo substituíram os resquícios das últimas, ou seja, aquela emanação sonora do motor que se extinguira de vez por baixo do capô amarelo e robusto do seu automóvel.

          Após tocar a campainha do apartamento de Renan, Valentina permaneceu exatamente assim: os olhos fechados, respirando e inspirando profundamente enquanto suas unhas de porcelana subiam e desciam, também desciam e subiam, sequencialmente iniciando desde o mindinho ao polegar, martelando sem parar sobre o corrimão de metal às costas.

    Você me paga!ela resmungou.

    Nisso a porta se abriu. Renan logo rangeu ao vê-la diante da porta:

        — Quem que te falou onde eu morava?!

          — Por que foi embora sem me avisar? — Valentina o cortou — Onde estava com a cabeça, Renan?!

          — Eu precisava de um tempo...

          — Um tempo de mim?! — ela disse — Que tudo que fiz foi te amar?

          — Me amar?! — Renan disse — Valentina, você não sabe o que é amar.

          — Não diga isso, bebê...

          — Não me chame de bebê! — Renan exclamou. Mas como a seguir alguns moradores apontaram no estacionamento, se dirigindo até o hall para pegar o elevador, Renan se calou.

          — Desculpe Renan. — ela disse — É que achei que gostava quando eu te chamava assim.

          — Eu gosto, quer dizer, — Renan engasgou — mas não deste jeito, né? Não vê que estamos brigando?!

          — É verdade, Renan, estamos brigando. — ela disse, se esforçando pra esconder o sorriso que escapuliu pelo cantinho dos lábios — Mas você há de concordar comigo que todo casal que se ama de verdade, discute de vez enquanto, não é não?

          — De vez enquanto?! — ele retorquiu — A gente discute é toda hora!

          — Por que está fazendo isso, meu amor?! Logo comigo que tanto quero o seu bem?!

            Renan revirou os olhos ao ouvi-la, de forma que aquele seu ato encorajou ainda mais Valentina:

    — Vê se aprende uma coisa, meu amor, casal que não briga, também não deseja melhorar a relação. — ela disse.

    — Pra mim isso é conversa pra boi dormir.

          — Conversa pra boi dormir? Por que diz isso, meu amor? — ela se defendeu — Não acredita mais em mim?

        Renan se calou. Depois fincou os olhos nos prédios ao redor. A seguir sussurrou consigo, como se fosse num lamento:

          Estou tão cansado dessa vida.

    Crendo que — enfim — seus argumentos enfraqueciam um Renan agora retraído ao falar, Valentina — com propósito único de nocauteá-lo de uma vez só — continuou martelando coisas antigas pra ele, com o intuito de, principalmente, não deixá-lo raciocinar direito.

          E, enquanto isso Renan ouvia seu zum-zum-zum em total silêncio, mas acabou que no fim, aquele zunido fez sua psique adormecer. Valentina bem que o cutucou: Está me ouvindo, Renan?, mas não ouviu a resposta de volta.

          Foi somente depois que Valentina o cutucou pela terceira, repetindo: Está me ouvido Renan?!, e também ter puxando sua camiseta com força, foi que Renan foi transportado daquele seu mundo particular. Ele apenas resmungou:

    Você tira minha paz... Por isso vim embora pra São Paulo.

          — Como é que é?! — ela exclamou — Repete o que disse!

    E antes que ela reclamasse qualquer outra coisa de volta, Renan interviu de forma

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