Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Coleção Religare
Coleção Religare
Coleção Religare
E-book407 páginas4 horas

Coleção Religare

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Neste volume, o autor enfrenta as questões profundas colocadas pela metafísica, como, “como e por que se deu a criação?”, “o que é a consciência?”, “o que significa dizer que o universo é mental?, ”como resolver os problemas da dualidade mente / corpo?”. Esse livro é também um desdobramento do primeiro volume, em que se estudou a teoria da descida. Agora, traz outras implicações metafísicas dessa importante teoria. Novamente, para refletir sobre esses problemas, o autor recorre a várias fontes: filosóficas e espirituais, como Plotino, Hegel, a geometria sagrada de Drunvalo, a matemática sagrada de Marko Roldin, a física de Nassim Haramein, o Eneagrama de Sandra Maitre, e muitos outros. Sem contar inspirações que ocorreram ao autor durante o sono Físico. Não faltou também sugestões de hipóteses, obedecendo ao imperativo de Kant: “ouse pensar”.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de nov. de 2022
Coleção Religare

Leia mais títulos de Edomberto Freitas Alves Rodrigues

Relacionado a Coleção Religare

Ebooks relacionados

Ocultismo e Paranormal para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Coleção Religare

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Coleção Religare - Edomberto Freitas Alves Rodrigues

    Coleção Religare

    Volume II - A metafísica da Criação

    Edomberto Freitas Alves Rodrigues

    Edição independente - Clube dos Autores

    Capa: Edomberto Freitas e Valéria Franco

    Revisão: Cibelih Hespanhol Torres (Revisão parcial)

    Coleção em 5 volumes

    Título da coleção: Religare: um novo paradigma de espiritualidade

    Volume II: Metafísica da Criação

    1ª Edição: Novembro de 2022

    SUMÁRIO

    SUMÁRIO

    Introdução

    Noúres

    Capítulo 1

    A metafísica antiga

    Capítulo 2

    Plotino, o intérprete do Uno

    Capítulo 3

    Hegel, o mundo como manifestação do Uno

    Capítulo 4

    A fenomenologia do espírito à luz da vesica piscis

    Capítulo 5

    A Ciência da lógica à luz da vesica piscis

    Capítulo 6

    O plano da criação

    Capítulo 7

    A criaçãodas formas

    Capítulo 8

    As dimensões

    Capítulo 9

    A metafísica da consciência e seu mistério

    CONCLUSÃO

    Referências Bibliográficas

    O autor

    Edomberto Freitas Alves Rodrigues. Formado em História pela UFMG e Filosofia pela PUC-MG. Professor de história em BH e Betim. Pesquisador de espiritualidade e filosofia. Escreveu a coleção Religare, dialogando com várias áreas do conhecimento humano, entendendo que não devemos compartimentalizar o saber. Afinal, no universo tudo está integrado. Só uma visão holística do real poderá possibilitar uma maior aproximação da verdade, que todos dizem possuir, mas que nossa condição humana e limitada permite apenas aproximações. Assim, não há pretensão de verdade pelo autor, mas uma busca sincera e apaixonada pelo conhecimento.

    Introdução

    Noúres

    No livro Noúres: técnica e recepção de correntes de pensamento, Pietro Ubaldi [1] descreve o seu processo de mediunidade inspirativa. Ele buscava um cômodo tranquilo, colocava uma música tranquila e sua consciência elevava-se até planos superiores, onde recebia as ideias.

    Comigo o processo foi bem adverso. Muitas vezes as inspirações vieram por sonho. Acordava à noite com ideias fervilhando em minha cabeça e ia para a mesa escrever. Foi assim com o capítulo: Teorias espirituais em perspectiva, que está no volume I. Acordei a noite com mente extremamente excitada com as inspirações. Então, fui para um lugar meio iluminado e escrevi praticamente o capítulo quase como ficou depois de todas as melhorias no texto. Outras vezes, as ideias vinham durante minha caminhada para o trabalho, pela manhã. Quando tinha algum tempo disponível procurava colocá-las no papel. Ainda lembro quando veio uma inspiração relacionada as ideias de Hegel, que coloquei no volume I. Fiquei tão emocionado e excitado com a inspiração que cheguei afobado na escola e, assim que encontrei uma primeira pessoa, o vice-diretor, peguei em seu ombro muito emocionado e disse: Hegel tinha razão, mas faltou a ele a ideia de amor em sua dialética do Espírito, tenho de colocar rapidamente tudo isso no papel antes que perca a inspiração. O diretor ficou me olhando com aquela cara de o cara endoidou.

    É muito interessante o processo da escrita intuitiva. Muitas vezes eu escrevia bastante, mas a lógica do capítulo inteiro só vinha depois, ficando tudo fora de ordem, o que me obrigava a reescrever o que tinha feito de forma mais coerente. Os capítulos não vinham na sequência, escrevia os do meio, depois do final e voltava para o início. Às vezes no meio de um começava a escrever outro em outro caderno e depois tinha de juntar tudo. A ordem de tudo só veio no final, quando tinha que digitar os rascunhos. Quando já tinha escrito a coleção inteira, com seus cinco volumes, veio a mudança de perspectiva com relação a teoria da queda, passei a adotar, depois de muita reflexão, a teoria da descida. Assim, tive que reescrever os volumes I e II. Mas, percebi que as inspirações já estavam me direcionando aos poucos para a teoria da descida, eu é que estive renitente e apegado à teoria da queda.

    A coleção do Religare foi assim. Pensei em escrever apenas um livro, mas, assim que ficou pronto, senti que havia muita coisa ainda para escrever. No momento em que senti isso, já veio em minha mente a coleção inteira. Na inspiração me veio que seria um pentateuco com os livros Por que estamos no mundo?, Metafísica da Criação, "Filosofia da história à luz do Religare, A descida dos valores espirituais e Fora do autoconhecimento não há salvação".

    O último título foi muito curioso. Pensei que pudesse demonstrar o processo de trabalho interior do ser na busca de encontrar seu lugar no mundo e com Deus, religando-se a Ele. No início pensei em trabalhar com personagens que admiro, como padre Vítor, Gandhi ou Martin Luther King. No entanto, veio uma intuição que me dizia que a ideia do livro era fazer um relato a partir da perspectiva interior.

    Acontece que a única pessoa que eu teria essa perspectiva era eu mesmo, então veio em minha mente o pensamento: "isso mesmo, você deve fazer um trabalho autobiográfico no formato das Confissões de Santo Agostinho". Depois isso foi reformulado, pois temos as autobiografias de Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e Martin Luther King. Assim, resolvi trabalhar com as autobiografias desses personagens, pois através delas poderia ter, mesmo que imperfeitamente, acesso à interioridade deles.

    Muitas vezes eu ficava intrigado se os pensamentos não eram meus, mas eles tinham uma lógica que eu só descobria mais tarde, o que prova que era inspiração. Uma vez tive um sonho muito inspirador e acordei em uma noite fria com a ideia de um capítulo inteiro na minha cabeça. Pensei que não seria uma boa ideia levantar em uma noite tão fria, embaixo das cobertas estava tão agradável, mas me veio um pensamento: levanta e escreve antes que perca a inspiração. Levantei na mesma hora e escrevi o capítulo "Fora do autoconhecimento não há salvação". Depois, me inspiraram a colocar esse nome como título do volume V. Outra coisa que prova que as ideias, muitas vezes, não eram somente minhas foi o tanto que briguei com as intuições para conciliar a doutrina da queda com Hegel. Na verdade, já estava escrevendo o volume IV, quando finalmente, em uma noite, o capítulo Teorias espirituais em perspectiva veio inteiro em um sonho, como relatei acima. Foi aí que parei de tentar conciliar a teoria da queda com Hegel e, finalmente, aceitei a teoria da descida como a teoria que eu deveria divulgar com essa obra. No sonho e nas intuições percebi que ela resolvia vários paradoxos da teoria da queda, como já relatei no volume I. Isso me obrigou a voltar e reescrever toda a obra novamente. Tive que me desculpar com o autor Gilson Freire, que já havia escrito o prefácio do volume I para mim, pois tive que retirá-lo por estar em desacordo com a nova proposta da coleção. Gilson Freire foi muito gentil e me incentivou a seguir minhas intuições e escrever o que estavam me enviando.

    Outra coisa curiosa foram as intuições a respeito dos autores que deveria consultar. Em uma ocasião estava em minha caminhada matinal quando me veio a intuição: pense na criação como uma fractalização. Essa intuição foi muito forte e abriu muitas perspectivas em minha mente. Nesse mesmo dia comecei a pesquisar sobre estudiosos que falavam algo sobre isso e, em um dia, acumulei material para servir de apoio para escrever todo o capítulo Mundo das formas, que depois recebeu outro título A importância da individualização, que consta no volume I.

    Outras vezes a intuição vinha como uma ideia geral do capítulo, como, por exemplo, a ideia de escrever sobre a tese, antítese e síntese no mundo das ideias. Quando comecei a escrever o rascunho, as ideias foram fluindo e fiquei surpreso com elas, processo que continuou quando reescrevi o texto para melhorar a compreensão e elaboração dele. Outras vezes me intuíam de que forma eu deveria movimentar capítulos dentro da coleção, entre os volumes, para melhorar o desenvolvimento das ideias e da compreensão das mesmas. E isso foi mais um indício para mim de que as ideias de fato não eram minhas, mas inspiradas. Uma vez, meditando dentro do ônibus a caminho do trabalho, foram fazendo esses movimentos através da intuição e eu fiquei maravilhado de ver como o resultado era bom. Nessa mesma ocasião mostraram qual seria o título do primeiro volume: Por que estamos no mundo? Fiquei encantado com a intuição, pois estava querendo colocar o título: Por que o mundo existe? Mas mostraram que o fato do mundo existir seria irrelevante sem uma consciência para senti-lo e experimentá-lo.

    Outro indício foi também o fato de que, muitas vezes, a intuição contrariava meu ponto de vista. Foi o caso de muitas ideias sobre a divindade, que contrariavam a concepção que eu tinha normalmente sobre Deus, em grande parte fruto de atavismos sociais ou de doutrinas religiosas. No entanto, me rendi às intuições quando percebi que eram muito coerentes, mais do que minhas concepções ordinárias sobre o assunto. Acredito que eles me ajudaram a entender inclusive o autor mais difícil da história da filosofia: Hegel. Na universidade não consegui enfrentar os livros desse filósofo, desistindo depois de alguns capítulos. Mas, quando as intuições me apresentaram a geometria sagrada de Drunvalo Melchizedek, comecei a ler Hegel e entendê-lo, pelo menos dentro da perspectiva espiritual a que essa obra se destina. Foi assim que nasceram os capítulos desse volume sobre Hegel, exceto o capítulo O mundo como manifestação do Uno, o qual está baseado em um grande estudioso de Hegel.

    Quando estava escrevendo sobre o mundo das ideias, fiquei vários dias tendo uma sensação de unidade, de como tudo está conectado e como tudo é interdependente. Senti que, de fato, as diferenças existem para fundar o ser de tudo, mas nunca fazem com que seja perdida a unidade, só na consciência ainda adormecida da humanidade. A ideia de unidade, e a concepção de Deus que nasce daí, contrariava minhas ideias atávicas sobre esse assunto. Mas à noite tive um sonho que mostrava como a ideia de unidade estava conectada com a ideia de individualidade. Escrevo sobre isso nesse volume, no capítulo A metafísica da consciência e seu mistério.

    Para trabalhar a concepção da unidade, utilizei vários autores de várias áreas, como a geometria sagrada de Drunvalo Melchizedk, a matemática vórtex de Marko Rodin, a física de Nassim Haramein, assim como os filósofos Hegel e Plotino. Esses autores são minhas referências principais para mostrar como e o porquê se deu a Criação e como a unidade não se perde na multiplicidade, mas como a multiplicidade faz com que a unidade saia da potência e passe para ato.

    Agora, com a coleção pronta, olho para ela e percebo o tanto que aprendi no processo da escrita. Nada estava elaborado antes de começar a escrever, exceto pelo assunto geral do livro, que seria sobre Metafísica, um dos temas da filosofia que muito me encanta. Isso me faz sentir que essa coleção não pertence a mim completamente, mas também às fontes inspiradoras, a noúre, como diria Ubaldi.

    Posso dizer que tive um imenso prazer em escrever esse trabalho, e sinto que minha vida e minha forma de sentir e compreender o mundo mudaram incrivelmente. Gostaria muito que esse trabalho pudesse marcar outras vidas, assim como marcou a minha. A essência da Coleção Religare é justamente esta: a de mostrar como todas as coisas se ligam em algum momento, e como a interação entre as consciências funda todos os sentidos.

    Boa leitura!

    Capítulo 1

    A metafísica antiga

    Apalavra metafísica surgiu a partir da organização dos livros de Aristóteles por Andrônico de Rodes, segundo a qual os livros de filosofia primeira – cujo tema é o estudo do ser enquanto ser­– deveriam ficar após os livros da física. Daí a palavra meta (após, depois) da física. O objeto de estudo da metafísica é, então, a investigação dos diferentes modos como os entes ou seres existem, o sentido ou essência e a estrutura desses entes, a relação necessária entre a existência e a essência dos entes e o modo como aparecem para nossa consciência. Se quisermos compreender o mistério da criação da realidade, do mundo e da consciência, temos que passar por essa área fundamental da filosofia e é sob sua ótica que vamos investigar muitas áreas neste livro. Para isso, nos basearemos na obra [2] da professora Marilena Chauí, para tornar esse tema mais acessível.

    O surgimento da metafísica

    Os pioneiros do estudo do ser foram Parmênides e Heráclito. Os dois se preocupavam com o devir, ou seja, com a origem, a transformação e o desaparecimento de todos os seres, mas tinham soluções opostas para a questão. Heráclito acreditava que somente a mudança é real, e a permanência é ilusória. Parmênides afirmava que somente a identidade e a permanência são reais e a mudança é ilusória.

    Heráclito dizia que o mundo é um fluxo eterno onde nada permanece idêntico a si mesmo, movendo-se para o seu contrário. Assim, o dia se opõe à noite, o quente ao frio, o úmido ao seco, o bom ao mau, o novo ao velho. Por meio dos sentidos podemos perceber estabilidade e permanência no mundo, mas, pelo pensamento, sabemos que nada permanece, tudo se transforma no seu oposto. Para ele, isso não é necessariamente ruim, pelo contrário, afirmava que a luta é a mãe de todas as coisas, o princípio de tudo[3]. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui. Não caberia aqui a ideia de criação, pois o mundo foi e será eternamente um constante fluxo de transformação.

    Este mundo, que é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou dos homens o fez; mas foi sempre, é e será um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida.[4]

    Para Parmênides, o Ser é o logos porque sempre idêntico a si mesmo, sem contradições, imutável e imperecível. O devir, o fluxo, a transformação é a aparência sensível. Confundimos a realidade com nossas sensações, percepções e lembranças. No entanto, o mundo só é inteligível se as coisas que pensamos e dizemos guardarem identidade e forem permanentes. Se uma coisa se transforma em contrária a si mesma, então deixará de Ser, pois o que se contradiz se autodestrói. O devir é não Ser, somente o Ser pode ser pensado e dito, pois não tem contradições. Os sentidos mostram as aparências do real, mas com a razão podemos captar a substância permanente das coisas, o Ser.

    Grande parte da história da filosofia é a história de como tentaram, com todas as forças, encontrar uma solução para o problema posto por Heráclito e Parmênides. Veremos no próximo tópico a solução encontrada por Platão.

    Platão e a solução para o impasse entre Parmênides e Heráclito.

    Platão dedicou grande parte de sua obra a resolver o impasse teórico entre o pensamento de Heráclito e o de Parmênides.

    Para Platão, Heráclito tinha razão se associarmos seu pensamento ao mundo material, que, por natureza, é algo imperfeito, e não consegue manter a identidade das coisas, mudando sem cessar, passando de uma coisa à outra, contrária ou oposta. Do mundo só percebemos essa aparência, portanto, só podemos ter opiniões contraditórias.

    Platão defende que, por isso, o filósofo deve se esforçar por alcançar o mundo verdadeiro, invisível aos sentidos, mas acessível ao puro pensamento. Assim, no mundo inteligível estará o verdadeiro Ser, Uno, imutável, idêntico a si mesmo, eterno, imperecível, puramente inteligível.

    Platão elabora a ideia de uma realidade dividida em dois mundos distintos e separados. O mundo sensível, da aparência, do devir, dos contrários, e o mundo inteligível, da identidade, da permanência, da verdade, do puro intelecto, sem nenhuma interferência dos sentidos e das opiniões. Um é o mundo material e o segundo, o mundo das ideias, no qual está a essência verdadeira. O mundo sensível, material, é uma cópia imperfeita e deformada do mundo das ideias.

    Platão, no entanto, se distancia de Parmênides, pois para este o mundo sensível é o Não-ser em sentido absoluto, ou seja, sem realidade, é o nada. Já para Platão, o Não-ser não é o puro nada: ele é algo, é o outro do Ser, mas inferior, que nos ilude e causa enganos, um falso Ser, uma sombra do verdadeiro Ser.

    Platão também distinguiu três sentidos para a palavra Ser. O primeiro é o substantivo, em que Ser significa realidade existente. O segundo é o verbo de ligação entre um sujeito e um predicado, por exemplo: O homem é mortal. Em terceiro, o sentido verbal assume sua força, em que é significa existência.

    No sentido ampliado de Ser (substantivo é verbo existencial), existem múltiplos seres, cada um com os atributos do Ser de Parmênides, ou seja, identidade, unidade, eternidade, imutabilidade. Eles seriam ideias ou formas inteligíveis, totalmente imateriais, porém, mais verdadeiros. Esse é o mundo inteligível.

    No sentido fraco do verbo Ser, ligação e predicação, cada ideia é um sujeito real, com predicados reais. Uma ideia é uma essência que faz ser o que ela é, necessariamente. Há a ideia de justiça e há seres humanos que possuem o predicado da justiça como parte de sua essência.

    Ideias, na ótica platônica, são seres perfeitos, modelos inteligíveis perfeitos que as coisas sensíveis e materiais tentam imitar imperfeitamente. O mundo sensível, material, seria então uma imitação imperfeita do mundo inteligível.

    O pensamento espiritualista deve muito a essas intuições platônicas. No entanto, acredito que muito se errou ao associar o mundo das ideias ao mundo astral. Muitos dizem que o plano físico é uma cópia infiel do mundo astral, por exemplo, as cidades físicas seriam cópias imperfeitas das colônias espirituais, como Nosso Lar. Na corrente teosófica, o mundo das ideias poderia ser associado ao plano mental superior, ou o Átmico. O fato é que não podemos saber com certeza, uma vez que não temos muitas informações sobre os planos superiores. Mas podemos fazer algumas inferências.

    Na ótica teosófica, diz-se que Deus, por ter três aspectos, vontade, sabedoria e ação, precisa passar do plano da sabedoria (Mahaparanirvânico) para planos que possam transmitir as ideias, puras abstrações, ao plano das manifestações, que seriam os planos inferiores. Vou defender, aqui, que esse primeiro movimento se dará para o plano Paranirvânico, e depois, com a descida, para os planos mais inferiores.

    Toda a criatividade divina e de seus fractais farão do plano da criação a expressão de sua inteligência e experimentação. Tratarei disso em pormenores nos próximos capítulos.

    A metafísica aristotélica

    Atribui-se o nascimento da Ontologia (estudo do Ser) a Aristóteles, devido à sua formulação de uma disciplina voltada para o estudo do Ser, denominada filosofia primeira.

    Ao contrário dos seus predecessores, Aristóteles não considerava o mundo sensível ilusório, mas real e verdadeiro, cuja essência pode ser associada com a multiplicidade de seres e a mudança incessante. É tarefa da filosofia primeira, ou metafísica, investigar a mudança e o Ser real. Para Aristóteles, a essência verdadeira das coisas naturais, e do ser humano e de suas ações, não estão no mundo das ideias, inteligível, separado do mundo sensível, mas nas próprias coisas, nos homens e suas ações.

    Mas, como conhecer a essência das coisas? Para Aristóteles, devemos partir da sensação até chegar à intelecção. O pensamento capta as propriedades internas e necessárias dos seres, sem as quais o Ser não pode ser o que é.

    Ao estudar os seres, podemos perceber que eles se diferenciam justamente por suas essências. Para Platão, podemos distinguir o Ser da aparência devido à presença ou à ausência da mudança. Aristóteles também utilizará a mudança como critério de diferenciação dos seres, mas de forma diferente. Para ele, movimento é toda e qualquer mudança que um ser sofra ou realize. Uma semente que se torna árvore, um objeto que envelhece, o quente que se torna frio, são mudanças qualitativas. Um corpo que aumenta e diminui, que se divide em outros menores, alarga ou estreita, sofre mudança quantitativa. O deslocamento de objetos, a trajetória de uma bola, a queda de uma pedra são exemplos de mudança de lugar ou locomoção. Amar ou ser amado, ser desejado ou desejar, ser tocado ou tocar são exemplos de alterações em que um Ser passa da ação à paixão ou à passividade, ou da passividade à atividade. Por fim, toda geração ou nascimento e toda corrupção e morte são movimentos. Ou seja, todo devir, em todos os seus aspectos, é movimento.

    Para Parmênides e Platão, o que move não pertence à essência do Ser. Aristóteles inovará, negando que movimento e Não-ser sejam a mesma coisa. Ele diferenciará os seres conforme estejam ou não em movimento.

    Existiria então, para Aristóteles, a essência dos seres que são e estão em movimento, como os seres humanos, animais, vegetais etc. Eles se caracterizam por nascer, viver, mudar, reproduzir-se e desaparecer. Existe a essência dos seres que não existem em si mesmos, mas que podem ser separados pelo pensamento, não estão em devir nem no devir, como os seres matemáticos. Existem seres, como os astros, que, para Aristóteles, não nascem, não transformam e nem perecem e estão em um movimento perfeito (circular), eterno, sem começo, nem fim. Sabemos, hoje, que isso não é verdadeiro. E, por fim, existiria o Ser divino, que é eterno, imutável, imperecível, sempre idêntico a si mesmo, perfeito, imaterial, conhecido apenas pelo intelecto e separado de nosso mundo.

    A concepção aristotélica do Ser divino será contestada aqui, quando falarmos sobre o mundo das ideias. Se Deus possuísse esses atributos, Ele não teria saído de si mesmo para criar, ficando eternamente em si. Por outro lado, o mundo que conhecemos não teria nenhuma identidade com Deus, o que é um absurdo, pois tudo saiu Dele. Desenvolvemos nossos apontamentos no capítulo O monismo, no volume I.

    Principais conceitos da metafísica aristotélica

    Existem quatro princípios (identidade, não contradição, terceiro excluído e razão suficiente) que definem as condições sem as quais um ser não pode existir, nem ser pensado. Eles garantem a realidade e a racionalidade das coisas.

    O princípio de identidade apresenta-se no enunciado A=A ou o que é, é. Embora pareça evidente e desnecessário fazer essa afirmação, esse princípio é a condição para que definamos as coisas e possamos conhecê-las a partir de suas definições. Um exemplo disso é a definição de triângulo: uma vez que dizemos que ele é uma figura de três lados e de três ângulos internos, cuja soma é igual a 180o, nenhuma outra figura, a não ser essa, poderá ser chamada de triângulo. Essa se torna a identidade do triângulo e toda vez que alguém diz triângulo, sabemos a que ser está se referindo.

    O princípio da não contradição tem o enunciado A=A, e é impossível que, ao mesmo tempo e na mesma relação, seja não-A. Assim, é impossível que um triângulo seja e não seja uma figura de três lados e três ângulos, que o vermelho seja e não seja vermelho. Esse princípio se relaciona com o da identidade, e garante que ele funcione. No entanto, temos que ter em mente a condição ao mesmo tempo e na mesma relação, afinal os seres estão no devir e sofrem mudanças no decorrer de suas existências. Uma criança se tornará um adulto. Um cachorro preto envelhece e poderá ficar cinzento. As coisas que não estão no devir, como o triângulo, não mudam e o princípio da não contradição opera sempre da mesma forma nesse caso.

    O que está no devir nos intriga, pois há algo que permanece o mesmo para que possamos pensá-lo também como uma identidade. O homem que foi criança e depois ficou adulto continua tendo uma identidade que nos leva a identificá-lo como uma mesma pessoa. O que é esse algo que permanece? Podemos chamá-lo de essência do homem, ou alma, ou mônada, ou eu. Trataremos isso em um capítulo à parte.

    O princípio do terceiro excluído apresenta-se sob o enunciado A é ou X ou é Y e não há terceira possibilidade. Por exemplo: ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates, ou faremos a guerra ou faremos a paz.

    O princípio da razão suficiente afirma que tudo que existe e tudo o que acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir e para acontecer, e que tal motivo ou causa pode ser conhecido pela nossa razão. Isso significa que o nosso pensamento procura uma razão e uma causa para tudo, não admitindo o acaso ou acidente. Ou seja, mesmo para o acaso ou acidente existe uma causa. A diferença entre o acidente e a razão suficiente é que, no primeiro, a causa só vale para esse caso particular, enquanto para o segundo a causa é universal e necessária.

    Explicando: a morte é um efeito necessário e universal da guerra, mas é acidental que essa ou aquela guerra aconteçam. É inevitável também que a guerra tenha uma causa, mesmo que absurda e específica para aquela guerra particular.

    Essa busca por causas é que nos leva a uma intuição de Deus. Tem que haver uma causa para o Universo e para nós mesmos. Ao perguntarmos por que existe o mundo e não apenas o nada, nossa razão está nesse processo de busca, que é inerente ao nosso pensamento.

    Causas primeiras

    Na metafísica aristotélica, as causas primeiras explicam a definição, origem e justificativa da existência, e são quatro:

    1. Causa material: aquilo de que um ser é feito, sua matéria.

    2. Causa formal: a forma que um ser possui. Ela é propriamente a essência do ser, o que define sua identidade e diferença com relação a todos os outros.

    Essa causa é interessante, pois, do mundo mental para cima, Leadbeater diz que não temos formas, apenas energia e luz, e, mesmo assim, temos uma identidade. O mundo físico é chamado de mundo das formas por muitos espiritualistas, devido ao fato de habitarmos

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1