Ygpupiára
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Ygpupiára - Anita Cimirro
ANITA CIMIRRO
YGPUPIARA
2021
Revisão: Artur Cimirro Capa: Sérgio Almeida
(sergiosaocarlos@yahoo.com.br)
O FIM DE UMA SAGA
Talvez o mito mais exótico e menos explorado dentre aqueles presentes nos primórdios do descobrimento do Brasil.
Ygpupiara – mais difundido como Ipupiara nas últimas décadas – é um ser oriundo das águas.
No panteão brasileiro quase um equivalente ao Netuno dos romanos, porém, mais monstruoso em suas feições e com hábitos mais excêntricos do que a maior partes dos deuses da antiguidade.
Como objeto de estudo da criptozoologia é um dos seres descritos em muitos escritos presentes no Brasil recém descoberto e assim como em todas as outras lendas, cada narrador adicionava ou omitia características e/ou forças distintas para esta criatura – em geral, o ser é descrito se alimentando de partes específicas dos corpos humanos.
Neste conto temos o retorno de um personagem, agora em seu crepúsculo, que já foi responsável pela redenção simbólica do conto Mbaetatá. Pindobaçú é o pajé mais respeitado dentre todos os povos indígenas e sua simplicidade e sua harmonia com o que há de natural servem de
chave-mestra para trancar uma porta que talvez nunca mais será aberta.
A loucura de uma mãe, a desilusão de um guerreio, o dia-a-dia seco e hostil parecem se romantizar sem qualquer dificuldade com tantas berceuses entoadas.
A festa tão esperada, a alucinação, o cansaço, a premonição… a agradabilidade de um incômodo silenciar – Neste balé de emoções, das profundezas marítimas aos limites do firmamento, emanam as últimas luzes desta poética tetralogia.
Artur Cimirro
18 de Novembro de 2021
YGPUPIARA
Ilha de São Vicente, primeiro vilarejo construído pelos portugueses no Brasil em 1532.
Para os nativos indígenas tupis-guaranís que habitavam a densa mata onde predominavam as árvores da espécie pau-brasil, e uma imensa variedade multicor da flora e da fauna, esse lugar se chamava Ingaguaçú.
O mar exposto ao céu aberto era uma imensidão de água sem fim, e a vasta e variada flora e fauna, matavam a fome da nação que por ali habitava. Índios, bichos, aves e pássaros se deliciavam diuturnamente na água gelada, mas sabiam que a qualquer momento a paz poderia lhes ser roubadas, já que a qualquer momento os navios corsários ou de piratas poderiam surgir. Atracariam por ali, para depois de muita algazarra adentrarem a mata e poderem cumprir o que o capital determinava: extrair pau-brasil.
Aqueles
homens rudes e mal intencionados eram temidos por todos, pois matavam quem se atrevesse a lhes importunar. Assim que os índios os avistavam, corriam para seus esconderijos, e ali ficavam num silêncio total até que os malvados fossem embora com suas cargas preciosas.
4
Se não era para pintar seus rostos com a seiva vermelha, porque queriam os seus troncos?
Não perguntariam jamais para eles o que seus cérebros insistiam em instigar. Preferiam se esconder e se proteger, do que se arriscarem num embate desigual. Tinham que se preocupar com problema maior, que era o de driblar um inimigo que se escondia nas profundezas da água. Há algum tempo não