Raízes Sertanejas
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Raízes Sertanejas - Marcos Devaner Do Nascimento
Entre a cruz e a espada
Antes que o homem branco chegasse à terra hoje conhecida como Brasil, já existiam diversos povos indígenas que habitavam todo o território brasileiro. Entre esses povos estavam os tupis, que habitavam a região litorânea, e os tapuias espalhados pelos sertões do Brasil. No nordeste do Brasil, estavam os tapuias das etnias Tarairiús: Janduí, Ariú, Canindé, Paiacu, Jenipapo, entre outros; e os Cariris: Cariris, Cariús, Caratius, Inhamuns entre outros. Os tapuias e tupis, embora divergentes e inimigos em muitas batalhas, lutaram bravamente pelas suas terras. Porém, o espírito guerreiro dos tapuias, o difícil acesso ao sertão nordestino, além das dificuldades de adaptação à região do semiárido, fizeram com que eles resistissem à invasão dos brancos por mais tempo. Assim, atacados por portugueses, franceses e holandeses, os povos nativos do sertão resistiram bravamente, mas, ainda assim, foram sendo escravizados e dizimados pelos invasores.
Dessa maneira, os portugueses consolidaram seu domínio e foram se espalhando pelo Brasil. Frente a tal situação, o rei de Portugal decidiu dividir o território brasileiro em grandes faixas de terras, capitanias, e as entregou para nobres portugueses a fim de que eles explorassem o território e começassem a gerar riquezas para Portugal. Assim, os indígenas tiveram suas terras tomadas e ocupadas pelos brancos, tornando o Brasil uma colônia de Portugal. Aos poucos, a colonização avançava pelo litoral, fazendo do sertão um refúgio para os povos tapuias e, até mesmo, para os povos tupis.
Os tapuias eram conhecidos pelos inimigos como os outros
, ou povo da língua travada, isso se devia ao fato de não adotarem a língua e costumes de outras nações, pois eles eram os povos do sertão, formados por diversas etnias que tinham em comum a luta pela sobrevivência e por suas terras; povo de ossos grossos e fortes, cabeça grande e espessa, pele escura, não só pelo seu tom de pele, mas também pelos efeitos do sol escaldante do sertão; seus cabelos são pretos e brilhavam sob a luz do sol; os homens grande estatura, cabelos cortados ao pé das orelhas. Por sua vez, as mulheres, com estatura menor, tinham corpos rechonchudos, seios à mostra, cobriam suas partes íntimas e adoravam se enfeitar com o que encontram na natureza. Era povo aguerrido, conhecedores da vasta caatinga. Nas batalhas, os guerreiros tapuias se camuflavam na caatinga para emboscar seus inimigos, como uma raposa que se agacha e pula com grande força sobre a sua presa; os gritos dos guerreiros soavam como urros assombrosos que faziam tudo tremer, porque durante o dia eram como o som de centenas de ciricoias¹ e, à noite, assemelhavam-se a uma revoada de urutau² prestes a atacar.
Na guerra, a força dos tapuias assombrava seus inimigos, usam flechas, tacapes, mas também cavalos e armas de fogo roubadas dos brancos. Vivendo tal situação, cada vez mais acuados, os tapuias adentravam para o sertão, refugiando-se na caatinga e nas serras, formando uma grande barreira que impedia o avanço da colonização portuguesa no sertão nordestino. Os portugueses consideravam os tapuias como demônios
que travavam o progresso e a evangelização, pois a resistência desse povo impedia a doação de sesmarias, pedaços de terra para fixação de fazendas de gado, e a escravização de indígenas. Por esses motivos, o governador geral do Brasil decidiu fazer uma guerra justa contra eles:
— Precisamos exterminar esses demônios, bárbaros comedores de gente que impedem o progresso… Inimigos do rei e da Santa Igreja. Formemos um exército de Deus com os bandeirantes paulistas e vamos para a guerra justa, por Deus, por Portugal, pelo Brasil, pela decência e pela família.
Assim, os mercenários paulistas, que já haviam exterminado e escravizado milhares de tupis e tapuias, juntaram-se ao exército do governador formado por brancos e mestiços, além de indígenas e pretos escravizados, para lutarem contra aqueles a quem consideravam bárbaros. Parte do exército de Portugal avançou na capitania do Siará, pelo rio Jaguaribe e os afluentes Banabuiú e QuixeramobiLm até o Sitiá e, à medida em que avançavam, iam deixando pelo caminho os rastros de sangue, pavimentando o caminho do progresso com os corpos dos inocentes; matando homens, mulheres e crianças tapuias; escravizando os sobreviventes e ateando fogo em seus aldeamentos. Mas o povo tapuia resistia e o avanço das tropas portuguesas não ocorreu tão rápido, pois pelo caminho encontravam diversas barreiras formadas pelos guerreiros tapuias, comandados pelo grande chefe Canindé. Um exéricito de jovens e velhos guerreiros que sacrificaram suas vidas pelo direito de existir.
Após anos de guerra, os povos tapuias foram sendo dizimados com seus guerreiros mortos à espada, suas tabas queimadas, suas mulheres capturadas e escravizadas. As opções para esse povo eram a cruz da conversão ou a espada da morte. Para livrar o seu povo da espada, o chefe Candé assinou um tratado de paz com os portugueses. Com isso, os tapuias, a partir daquele momento, deveriam carregar o peso da cruz, submetendo-se às leis de Portugal e à conversão ao cristianismo, deixando de lado seus ritos e crenças; também precisariam abandonar costumes, adequando-se aos dos brancos. Na sequência, os remanescentes da guerra foram enviados para a catequização ou para trabalhar nas fazendas de gado. Assim, os tapuias vão se espalhando por toda capitania do Siará, do litoral ao sertão.
Entre os remanescentes da guerra estão os jovens guerreiros Tapuia e Apoena, capturados na última batalha. Tapuia é do povo Jenipapo; esse nome lhe foi dado pelos inimigos, pois seu espírito guerreiro representa bem os tapuias. Apoena é um guerreiro do povo Canindé, considerado um homem sábio, conhecedor da língua dos brancos que traçava as estratégias de guerra das últimas batalhas. Sem escolhas, os dois são enviados para viver no aldeamento jesuíta dos Jenipapo-Kanindé, na Serra dos Macacos, região montanhosa próxima ao sítio Quixedá, sesmaria cedida a um fazendeiro para que construísse casa, curral e capela como símbolos da família, economia e religião.
Tapuia e Apoena são levados por uma escolta armada até o aldeamento dos Jenipapo-Kanindé. Ao chegarem lá, eles foram recebidos por dois padres que comandavam o local. De longe Bidzamú, a velha pajé, observava os dois; os Jenipapo-Kanindé estão em festa pela chegada dos guerreiros, mas os padres temem uma rebelião liderada pelos dois. Após serem instruídos pelos padres a respeito das leis do aldeamento, Tapuia e Apoena são acolhidos por Bidzamú em sua pequena casa, tornando-se como filhos para ela. Cansados das longas batalhas, eles cedem ao aparente conforto oferecido pelos padres e vão tomando gosto pela catequização. Na catequese, a língua portuguesa é ensinada e, aos poucos, vai sendo adotada pelos Jenipapo-Kanindé, a língua dos tapuias vai se destravando
, pois o próprio idioma, considerado travado, vai sendo esquecido e cada vez menos falado. Assim como outros povos indígenas, os Jenipapo-Kanindé vão perdendo sua identidade e cultura; Tupã passa a ser Jeová e Guaraci passa a ser Jesus; seus deuses logo vão perdendo lugar para os santos da igreja católica. Finalmente, ao se batizarem, são obrigados a mudar de nome, seguindo os nomes portugueses ou dos santos do catolicismo.
Os dias vão se passando lentamente na Serra dos Macacos; os mandacarus começam a florescer e a chuva chega ao sertão como um sinal de esperança. No aldeamento, os Jenipapo-Kanindé colhem os frutos de sua pequena plantação de milho, mandioca, feijão e arroz. As goiabeiras e as mangueiras também estão carregadas de frutos, proporcionando para os aldeados um farto banquete. Tapuia e Apoena estão cada vez mais engajados nas atividades e assuntos do