Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Discernir Seu Carisma Cristão Rezando
Discernir Seu Carisma Cristão Rezando
Discernir Seu Carisma Cristão Rezando
E-book378 páginas5 horas

Discernir Seu Carisma Cristão Rezando

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Neste livro sobre “discernir seu carisma cristão rezando”, e como subtítulo Discernir a vocação com a ajuda dos Exercícios Espirituais Inacianos afirmamos que a vocação fundamenta-se na gratuidade do servir sem deixar-se corromper pela relação de retribuição. Esta é a possibilidade de estarmos na sociedade vivendo os valores fundamentais. O discernimento sincero da vocação só acontece a partir do momento em que a pessoa se dispõe a se confrontar. O ser humano só se conhece quando se confronta. Quando não há essa confrontação, acaba-se correndo o risco de se enganar e se iludir. Para o cristão, a oração é algo fundamental nesse processo. Toda vocação exige de quem a experimenta uma reflexão prolongada, uma decisão ponderada em oração e discernimento orientado e uma opção perseverante. Tratando-se, além disso, de uma vocação cristã e eclesial, que é interpretada como chamado e convite de Deus, a pessoa tem de efetuar um discernimento espiritual, esforçando-se por perceber e entender a percepção recebida. Mas todo discernimento cristão pessoal tem uma dimensão eclesial e requer o discernimento ampliado de alguma instância exterior ao sujeito, bem como de uma comunidade eclesial determinada, que confirma ou contrasta o resultado a que o sujeito tenha chegado. Discernir a própria vocação ou “fazer o que der na telha”? Não se resolve o problema da vocação com um ato de desistência e um dar de ombros como quem diz: “Farei o que eu quiser”. Se há um chamado de Deus para mim, eu preciso descobri-lo no silêncio da oração e por “uma vida cristã seriamente vivida”. Procuramos utilizar como metodologia a espiritualidade Inaciana, contemplativa na ação, segundo o livro dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola PARA REALIZAR A EXPERIÊNCIA DE ENCONTRO PESSOAL COM JESUS, NO EXERCÍCIO ESPIRITUAL DO DIA-A-DIA O autor saluar antonio magni é leigo da Igreja Católica, formado em administração, economia e possui curso superior de religião pela Arquidiocese de Aparecida. Atualmente é oficial reformado da Aeronáutica. Além do ministério da Palavra é do grupo da Liturgia da Paróquia de São Pedro. orientador e acompanhante dos exercícios espirituais de santo Inácio de Loyola..
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de mar. de 2023
Discernir Seu Carisma Cristão Rezando

Leia mais títulos de Saluar Antonio Magni

Relacionado a Discernir Seu Carisma Cristão Rezando

Ebooks relacionados

Cristianismo para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Discernir Seu Carisma Cristão Rezando

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Discernir Seu Carisma Cristão Rezando - Saluar Antonio Magni

    1

    SUMÁRIO PG

    INTRODUÇÃO 5

    CAPÍTULO 1 DISCERNIR A PALAVRA QUE NOS

    CHAMA 22

    CAPÍTULO 2 DISCERNIR AS EMOÇÕES, OS

    SENTIMENTOS, QUE ACONTECEM EM UMA PESSOA

    CONCRETA 27

    CAPÍTULO 3 REFLETINDO SOBRE O PRINCÍPIO E

    FUNDAMENTO DA VIDA 65

    CAPÍTULO 4 DISCERNIR O MAL QUE AGE EM NOSSA VIDA: O PECADO 84

    CAPÍTULO 5 CONTEMPLAR OS MISTÉRIOS DE JESUS

    PARA DISCERNIR A NOSSA AÇÃO APOSTÓLICA 116

    CAPÍTULO 6 DISCERNIR E CONFIRMAR MINHA ELEIÇÃO NA PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO DO

    SENHOR. 195

    EPÍLOGO 239

    BIBLIOGRAFIA 249

    2

    AGRADECIMENTO

    Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Agradeço também aos Padres: Adroaldo, orientador do CEI, que me orientou nos exercícios espirituais, e me ajudou a construir toda experiência dos retiros, contemplações, meditações e estudos, obtidos durante os Exercícios Espirituais em etapas, que realizamos eu e minha querida esposa, em Itaici. Ao padre Chiquinho, Vitor e em especial Geraldo de almeida Sampaio, que ajudaram na minha formação religiosa e apostólica no movimento de Cursilhos de Cristandade que fiz em 1983. À

    Márcia, minha acompanhante nos exercícios, pelas suas inspiradas orientações, à Irmã Fátima que orientou nosso grupo de oração e discernimento e me orientou na busca de conhecer a minha personalidade através das tipologias e em especial o eneagrama.

    Irmã Zenaide, psicóloga que acompanhou o nosso grupo de partilha e melhoria da personalidade. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte. Ao Movimento de Cursilho de Cristandade, especialmente à Escola Vivencial, onde durante mais de 30 anos tenho recebido e compartilhado com amigos e irmãos de fé, a minha vida de cristão comprometido, procurando vivenciar o tripé: oração, formação e ação evangelizadora.

    Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, em fim, vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o principio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo 3

    que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)

    Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo. (Abade Evágrio Pôntico).

    Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no (Jo 24, 31).

    4

    INTRODUÇÃO

    Sim, que eu vos conheça Senhor e me conheça cada vez mais para que eu possa me tornar uma pessoa melhor e possa te servir como Tu queres escutando o Seu chamado!

    Quero iniciar este livro sobre discernir seu carisma cristão rezando, afirmando que a vocação fundamenta-se na gratuidade do servir sem deixar-se corromper pela relação de retribuição. Esta é a possibilidade de estarmos na sociedade vivendo os valores fundamentais. O discernimento sincero da vocação só acontece a partir do momento em que a pessoa se dispõe a se confrontar. O

    ser humano só se conhece quando se confronta. Quando não há essa confrontação, acaba-se correndo o risco de se enganar e se iludir. Para o cristão, a oração é algo fundamental nesse processo.

    Toda vocação exige de quem a experimenta uma reflexão prolongada, uma decisão ponderada em oração e discernimento orientado e uma opção perseverante. Tratando-se, além disso, de uma vocação cristã e eclesial, que é interpretada como chamado e convite de Deus, a pessoa tem de efetuar um discernimento espiritual, esforçando-se por perceber e entender a percepção recebida. Mas todo discernimento cristão pessoal tem uma dimensão eclesial e requer o discernimento ampliado de alguma instância exterior ao sujeito, bem como de uma comunidade eclesial determinada, que confirma ou contrasta o resultado a que o sujeito tenha chegado. Discernir a própria vocação ou fazer o que der na telha? Não se resolve o problema da vocação com um ato de desistência e um dar de ombros como quem diz: Farei o que eu quiser. Se há um chamado de Deus para mim, eu preciso descobri-lo no silêncio da oração e por uma vida cristã seriamente vivida.

    Expliquemos, em primeiro lugar, o porquê de havermos escolhido esse assunto para este livro: a sua crítica é importante para levantar da inércia os homens e mulheres de nossa época, que ficam indefinidamente pensando no que querem ou no que vão fazer de sua vida, sem no entanto tomar uma atitude ou assumir responsabilidades de gente adulta. É essa inércia e indecisão —

    conectadas a uma espécie de discernimento vocacional perpétuo

    — que fazem nossos jovens trocarem de curso universitário como 5

    quem troca de roupa e viverem com os próprios pais até os 30 e 40 anos, quando em outros tempos eles já teriam constituído uma família ou entrado em uma congregação religiosa, no entanto, ao mesmo tempo que procuramos condenar esse extremo de indecisão e imobilidade, pois pode facilmente levar à precipitação e a uma visão distorcida de vocação. Não podemos dizer que

    não necessariamente Deus nos diz o que fazer a respeito das grandes decisões da vida, incluindo a escolha entre a vida religiosa e a vida secular (sic). Ele nos abençoa com algumas opções boas e virtuosas e, então, deixa a decisão para nós. Alto lá…! Se por

    deixar a decisão para nós se entende que Deus não viola o nosso livre-arbítrio, não nos obrigando a seguir este ou aquele caminho, sim, está certo. Mas se por isso se entende que Ele não nos indica e não nos inspira com sua graça este ou aquele caminho, então, está errado. A palavra vocação, afinal de contas, significa chamado.

    Se é um chamado, há alguém que chama. (Se é um chamado à vida religiosa ainda por cima, ou à vida matrimonial, caminhos de santidade, é Alguém, com a maiúsculo, que chama.) Se Deus nos chama, de nossa parte o que precisamos fazer é escutar. Daí a necessidade de discernirmos em oração, sim, nossa vocação pessoal, para além da vocação geral que, é óbvio, todos os batizados têm à santidade.

    Mas, fica uma questão à pergunta: "Se um cristão não deve presumir que Deus irá querer revelar-lhe sobrenaturalmente a sua

    ‘vocação pessoal’, como então ele deve conhecer a vontade de Deus para a sua vida?, eu me arriscaria a dizer que, se ele tem frequentado a igreja semanalmente e recebeu pelo menos uma catequese razoável ao longo do caminho, ele provavelmente já conhece a vontade de Deus para a sua vida. Cristo a resume sucintamente nos Dez Mandamentos, e ainda mais sucintamente em Mt 22, 34-40: Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento" e

    Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nisso, bem como nos mandamentos da Igreja, consiste toda a instrução de que precisamos para alcançarmos a nossa felicidade e chegarmos à salvação eterna. Sim, é verdade que a vontade de Deus a respeito da humanidade foi revelada de modo definitivo em Nosso Senhor 6

    Jesus Cristo, de modo que — como diz uma célebre passagem de S. João da Cruz, presente inclusive no novo Catecismo da Igreja Católica —, se [...] alguém quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma visão ou revelação, não só cairia numa insensatez, mas ofenderia muito a Deus por não dirigir os olhares unicamente para Cristo sem querer outra coisa ou novidade alguma (§ 65). Mas isso não significa que não devamos pedir a Deus que nos mostre, na oração (e sem prescindir da humanidade santíssima de Nosso Senhor!), aquilo que Ele tem reservado de modo particular para a nossa vida.

    Veremos que Vocação é chamado. Se é um chamado, há Alguém que chama. Convém aqui não misturarmos um capítulo importante de Teologia Dogmática com outro capítulo, igualmente necessário, de Teologia Mística. A frase de São João da Cruz, acima, é substancialmente diferente da que Ele não fala comigo, porque ele já falou tudo por meio do Evangelho e por meio das obras dos Santos Padres, dos santos. É óbvio que, se pelo verbo falar se entende o modo como os seres humanos costumam se comunicar, falando com a boca e ouvindo com os ouvidos, Deus não fala com as pessoas a não ser de modo extraordinário. Mas, uma mínima experiência de vida de oração, uma leitura breve de um bom tratado de teologia mística, são suficientes para nos mostrar que Deus fala, sim, conosco, comunicando-nos as suas graças, movendo-nos com o seu Espírito e dizendo, sim, o que devemos ou não fazer, não só em matéria de vocação pessoal, mas principalmente nesses casos. Para dispensar longas citações, limitemo-nos a Santo Tomás de Aquino comentando o versículo

    Porque os que são movidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus (Rm 8, 14): Esses são regidos como por certo condutor e diretor, que é o que faz em nós o Espírito, enquanto nos ilumina interiormente sobre o que devemos fazer [illuminat nos interius quid facere debeamus] (Sup. Rom., c. VIII, l. 3).

    — Ah, mas ele era Santo Tomás de Aquino… Deus falava interiormente com os santos mesmo… Por que eu deveria supor que Ele falaria comigo? Não seria presunção? —

    Absolutamente, não. Consideremos com frequência que o Espírito Santo habita dentro de nós mesmos. Se deixássemos de lado todas 7

    as coisas da terra e nos recolhêssemos em silêncio e paz em nosso próprio interior, ouviríamos sem dúvida sua doce voz e as insinuações do seu amor. Não se trata de uma graça extraordinária, mas totalmente normal e ordinária em uma vida cristã seriamente vivida. O problema do discernimento vocacional perpétuo não se resolve, portanto, com um ato de desistência e um dar de ombros como quem diz: Farei o que eu quiser. Se existe uma vocação de Deus para nós, precisamos descobri-la no silêncio da oração e através de uma vida cristã seriamente vivida. Como diz o Papa Bento XVI: Ao ouvir a Deus e caminhar com Ele eu me torno realmente eu mesmo. O que importa não é a realização dos meus próprios desejos, mas a Sua vontade. Assim a vida se torna autêntica. Se existe uma vocação de Deus para nós, precisamos descobri-la no silêncio da oração.

    Existe ainda, é claro, toda uma reflexão teológica sobre a docilidade que devemos ter ao Espírito Santo, assim que tomamos conhecimento da vontade de Deus a nosso respeito. Dela, no entanto, esperamos falar oportunamente no decorrer de nosso livro. Por ora, simplesmente procuremos nos libertar dessas ideias errôneas a respeito de vocação e vida de oração. Não tratemos a Deus como um desconhecido que falou no passado e agora nos abandonou à nossa própria sorte. Não, a oração cristã é uma via de mão dupla, na qual nós falamos com Deus e Ele responde sim às nossas petições, conforme promessa do próprio Cristo: Pedi e vos será dado. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem procura, acha. A quem bate, será aberto. (Mt 7, 7-8) O Senhor continua hoje a chamar para O seguir. Não temos de esperar que sejamos perfeitos para dar como resposta o nosso generoso 'eis-me aqui', nem assustar-nos com as nossas limitações e pecados, mas acolher a voz do Senhor com coração aberto. Escutá-la, discernir a nossa missão pessoal na Igreja e no mundo e, finalmente, vivê-la no 'hoje' que Deus nos concede.

    Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano.

    Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Desde sua concepção, é destinada à bem-aventurança eterna. Deus cria a cada um com um propósito, uma missão. Essa 8

    missão é o que se conhece como vocação. Catecismo da Igreja Católica, 1604, 1703. Gosto de falar de caminho, porque somos viandantes, dirigimo-nos para a casa do Céu, para a nossa Pátria.

    Como nos diz Santo Inácio de Loyola: somos peregrinos, caminhamos para Deus! Mas, reparemos que um caminho, embora possa apresentar trechos de dificuldades especiais, embora vez por outra nos obrigue a atravessar um rio ou a atravessar um pequeno bosque quase impenetrável, habitualmente é coisa correntia, sem surpresas. O perigo é a rotina: imaginar que Deus está ausente das coisas de cada instante por serem tão simples, tão triviais! Gosto desse lema: Cada caminhante siga o seu caminho - aquele que Deus lhe traçou, com fidelidade, com amor, ainda que custe. A tua felicidade na terra identifica-se com a tua fidelidade à fé, à pureza e ao caminho que o Senhor te traçou. O amor de Deus é ciumento; não se satisfaz se comparecemos com condições ao encontro marcado: espera com impaciência que nos entreguemos por inteiro, que não guardemos no coração recantos obscuros, a que não conseguem chegar a felicidade e a alegria da graça e dos dons sobrenaturais.

    Todo mundo tem uma vocação? Sim, todos fomos criados por Deus com um propósito e um fim. Deus quis para cada um projeto único e irrepetível, pensado desde toda a eternidade:

    Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado (Jeremias 1, 5) O Catecismo da Igreja Católica fala da vocação à bem-aventurança, à santidade, à união com Deus que nos faz compartilhar a sua felicidade e nos ama com totalidade e sem condições. A vocação comum de todos os discípulos de Cristo é vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. Dentro desta vocação comum, Deus convida cada um a percorrer a vida junto a Ele por um caminho concreto.

    A alguns chama ao sacerdócio ministerial, a outros a vida religiosa, e a outros, os leigos, chama a encontrar-lhe na vida ordinária, seja vivendo o celibato ou a vocação matrimonial. Catecismo da Igreja Católica, 1716-1729, 1533 "Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua 9

    doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador?

    Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais". Gaudete et Exultate, 14

    Repara bem: há muitos homens e mulheres no mundo, e nem a um só deles deixa o Mestre de chamar. Chama-os a uma vida cristã, a uma vida de santidade, a uma vida de eleição, a uma vida eterna. Estás rindo porque te digo que tens vocação matrimonial? - Pois é verdade: isso mesmo, vocação. Pede a São Rafael que te conduza castamente ao termo do caminho, como a Tobias. A chamada do Senhor - a vocação - apresenta-se sempre assim: Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Sim, a vocação exige renúncia, sacrifício.

    Mas como se torna prazeroso o sacrifício gaudium cum pace, alegria e paz -, se a renúncia é completa! Como é formosa a nossa vocação de cristãos - de filhos de Deus! Que nos traz na terra a alegria e a paz que o mundo não pode dar! Viver a caridade significa respeitar a mentalidade dos outros; encher-se de alegria pelo seu modo de caminhar para Deus..., sem empenhar-se em que pensem como tu, em que se unam a ti. - Ocorreu-me fazer-te esta consideração: esses caminhos, diferentes, são paralelos; seguindo o seu, cada um chegará a Deus... Não te percas em comparações, nem desejos de saber quem anda mais alto: isso não interessa, o que interessa é que todos alcancemos o fim. Um dia - não quero generalizar; abre teu coração ao Senhor e conta-lhe a tua história, talvez um amigo, um simples cristão igual a ti, te fez descobrir um panorama profundo e novo, e, ao mesmo tempo, antigo como o Evangelho. Sugeriu-te a possibilidade de te empenhares seriamente em seguir Cristo, em ser apóstolo de apóstolos. Talvez tenhas perdido então a tranquilidade e não a tenhas recuperado, convertida em paz, enquanto livremente, porque te apeteceu - que é a razão mais sobrenatural, não respondeste sim a Deus. E veio a alegria, forte, constante, que só desaparece quando te afastas dEle.

    É Cristo que passa, É muito importante que nunca falte o sentido 10

    vocacional do matrimônio, tanto na catequese e pregação como na consciência daqueles a quem Deus queira nesse caminho, já que estão real e verdadeiramente chamados a incorporar-se aos desígnios divinos de salvação de todos os homens. É Cristo que passa, a santidade - quando é verdadeira - transborda do recipiente, para encher outros corações, outras almas, dessa superabundância.

    Nós, os filhos de Deus, santificamo-nos santificando. - Propaga-se à tua volta a vida cristã? Pensa nisto diariamente.

    Como saber se Deus me chama a uma vocação particular?

    Como foi dito anteriormente Deus chama a todos e a alguns com uma missão específica, pensada pessoalmente para eles. «Cada um por seu caminho», diz o Concílio. Por isso, uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quanto Deus colocou nele de muito pessoal (cf. 1 Cor 12, 7), e não se esgote procurando imitar algo que não foi pensado para ele. Todos estamos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho. De fato, quando o grande místico São João da Cruz escrevera o seu Cântico Espiritual, preferia evitar regras fixas para todos, explicando que os seus versos estavam escritos para que cada um os aproveitasse «a seu modo». Pois a vida divina comunica-se «a uns duma maneira e a outros doutra»".

    Gaudete et Exultate, 11

    O contexto em que uma pessoa pode descobrir a sua vocação é o da oração, ou seja: é preciso ter uma relação viva e pessoal com Deus. A oração é absolutamente necessária para a vida espiritual. É como a respiração que permite que a vida espiritual se desenvolva. Na oração se atualiza a fé na presença de Deus e do seu amor. Promove-se a esperança que leva a orientar a vida a Ele e a confiar na sua providência. E se engrandece o coração ao responder com o próprio amor ao Amor divino. Nosso modelo é o Senhor. Jesus: reza antes dos momentos decisivos de sua missão: antes de que o Pai dê testemunho dEle em seu Batismo e da sua 11

    Transfiguração e antes de se cumprir com Sua Paixão ao desígnio de amor do Pai. Jesus também reza antes dos momentos decisivos que vão comprometer a missão dos seus apóstolos: antes de escolher e de chamar aos Doze, antes da confissão de Pedro, reconhecendo-O como o Cristo de Deus e para que a fé do príncipe dos apóstolos não desfalecesse diante da tentação. A oração de Jesus diante dos acontecimentos de salvação que o Pai lhe pede é uma entrega, humilde e confiada, de sua vontade humana à vontade amorosa do Pai. Com a sua oração, Jesus nos ensina a rezar, a descobrir a vontade de nosso Pai Deus e a identificarmo-nos com ela. Na oração se pode discernir a vontade de Deus em cada momento da vida: "Também tu precisas de conceber a totalidade da tua vida como uma missão. Tenta fazê-lo, escutando a Deus na oração e identificando os sinais que Ele te dá.

    Pede sempre, ao Espírito Santo, o que espera Jesus de ti em cada momento da tua vida e em cada opção que tenhas de tomar, para discernir o lugar que isso ocupa na tua missão. E permite-Lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa refletir Jesus Cristo no mundo de hoje". Gaudete et Exultate, 23.

    Além disso, no momento do discernimento vocacional pode ser de grande ajuda a figura do diretor espiritual, quer dizer, daquela pessoa a qual nós podemos confiar e que, através de seus conselhos, nos ajuda a descobrir a vontade de Deus e a lutar para colocá-la em prática. (Catecismo da Igreja Católica, 2558, 2657, 2601- 2622) Não nos podemos esconder no anonimato: se não for um encontro pessoal com Deus, a vida interior não existe. A superficialidade não é cristã. Admitir a rotina na conduta ascética equivale a assinar o atestado de óbito da alma contemplativa. Deus nos procura um por um; e temos que responder-lhe um por um: Aqui estou, Senhor, porque me chamaste.

    Oração - todos o sabemos - é falar com Deus. Mas podemos perguntar-nos: falar, de quê? De que há de ser, senão das coisas de Deus e das que preenchem os nossos dias? Do nascimento de Jesus, do seu caminhar por este mundo, do seu ocultamento e da sua pregação, dos seus milagres, da sua Paixão Redentora, da sua Cruz e da sua Ressurreição. E na presença do Deus Uno e Trino, tendo por Medianeira Santa Maria e por 12

    advogado São José, Nosso Pai e Senhor - a quem tanto amo e venero -, falaremos do nosso trabalho de todos os dias, da família, das relações de amizade, dos grandes projetos e das pequenas mesquinharias. Tudo isto vamos rezar nos exercícios espirituais que proporemos mais à frente!

    O tema da minha oração é o tema da minha vida. É Cristo que passa! Como enamora a cena da Anunciação! Maria - quantas vezes temos meditado nisso! - está recolhida em oração..., aplica os seus cinco sentidos e todas as suas potências na conversa com Deus. Na oração conhece a Vontade divina; e com a oração converte-a em vida da sua vida. Não esqueças o exemplo de Nossa Senhora! A oração é a arma mais poderosa do cristão. A oração nos torna eficazes. A oração nos torna felizes. A oração nos dá toda a força necessária para cumprirmos os preceitos de Deus.

    Sim! Toda a tua vida pode e deve ser oração. Mas eu quereria para todos nós a autêntica oração dos filhos de Deus, não o palavreado dos hipócritas, que ouvirão Jesus dizer-lhes: Nem todo aquele que diz: Senhor! Senhor!, entrará no reino dos céus. Os hipócritas podem conseguir talvez o ruído da oração - escrevia Santo Agostinho -, mas não a sua voz, porque aí falta vida e está ausente o afã de cumprir a Vontade do Pai. Que o nosso clamar - Senhor!

    Se una ao desejo eficaz de converter em realidade as moções interiores que o Espírito Santo nos desperta na alma. Conheceis de sobra as obrigações do vosso caminho de cristãos, que vos conduzirão sem pausa à santidade; estais também precavidos contra as dificuldades, praticamente contra todas, porque se vislumbram já desde os começos do caminho. Agora insisto em que vos deixeis ajudar, guiar, por um diretor de almas a quem confieis todas as vossas aspirações santas e os problemas cotidianos que possam afetar a vossa vida interior, os descalabros que possais sofrer e as vitórias. Nessa direção espiritual, mostrai-vos sempre muito sinceros. Convém que conheças esta doutrina segura: o espírito próprio é mau conselheiro, mau piloto, para dirigir a alma nas borrascas e tempestades, por entre os escolhos da vida interior. Por isso, é Vontade de Deus que a direção da nau esteja entregue a um Mestre, para que, com a sua luz e conhecimento, nos conduza a porto seguro. Iremos trabalhar bem 13

    o humano e o cristão antes de partir para a questão das vocações específicas: Leiga, Matrimonial, Religiosa e Sacerdotal. Veremos a identidade da vocação laical na Igreja, que ocupa um lugar central na Igreja, define a Igreja para o mundo. Outras vocações não têm essa centralidade. Através desse carisma a Igreja se faz presente no mundo. Meditaremos que o mundo e não a Igreja é a meta dos caminhos de Deus. A Igreja precisa se abrir para o mundo, por isso precisa de leigos. O leigo tem carisma e função para libertar a secularidade do mundo, mediante o anúncio de Jesus Cristo. Fazer com que o mundo tenha autonomia. O leigo tem a missão de fazer com que o mundo entre em comunhão com o mistério que a Igreja representa, que é o Reino de Deus!

    Veremos que a vocação laical tem sua origem nos sacramentos do batismo e da crisma. Ela ocupa um lugar central na Igreja, define a igreja para o mundo. O fiel cristão leigo tem o papel de libertar o mundo da secularidade, dos falsos ídolos e de todas as prisões que oprimem e destroem a pessoa humana.

    Vivendo no mundo como solteiro, casado ou consagrado (de maneira individual ou num instituto secular), os leigos são fermento na massa, sal e luz do mundo. Na vocação laical temos o estado de vida matrimonial. Chamados a ser pai, a ser mãe, a gerar vida, a constituir família. A família é chamada a constituir a Igreja doméstica. É a expressão visível do amor de Cristo pela sua Igreja, sacramento de Cristo. É na família que é possível expressar as mais variadas formas de amor. Veremos que o amor conjugal é a entrega mútua, o relacionamento fecundo e construtivo que esposa e esposo buscam desenvolver sua potencialidade e se realizar plenamente como pessoa. Que no amor paternal e maternal, agradecidos a Deus pela continuidade do seu amor que se encarna no dom dos filhos, os pais retribuem esta dádiva amando, protegendo e educando seus filhos para se integrarem na comunidade e na sociedade. Que o amor filial é

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1