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O Misterioso Homem De Preto
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E-book128 páginas1 hora

O Misterioso Homem De Preto

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Sobre este e-book

Em uma cidade ensolarada, em pleno mês de setembro, com um calor de racha e colorida pela floração dos ipês, o delegado Toninho investiga uma série de assassinatos brutais e aparentemente sem motivos. Enquanto penetra no mundo obscuro do Centro Médico de Teresina, descobre uma rede de traições e mentiras e revela segredos nada respeitáveis de personagens acima de qualquer suspeita. Entre nessa história de vinganças e decepções, com toques de religiosidade e insanidade mental, seja o companheiro do delegado Toninho e desvende mais esse mistério. O final pode te surpreender.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de mai. de 2023
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    O Misterioso Homem De Preto - Evaldo Teixeira Nunes

    O MISTERIOSO HOMEM DE PRETO

    EVALDO T NUNES

    CAPÍTULO 1

    B

    -R-O-BRÓ, antessala do inferno, 42 graus na sombra, agosto nem acabou direito e o amarelo das flores tinge os ipês antes que suas folhas caiam, nessa pressa, o ano acaba antes de dezembro. Às cinco e meia da manhã, o mormaço já era insuportável, a brisa quente e sem força para balançar as folhas das árvores. Mesmo em dias assim, Domênica faz sua caminhada matinal. Ela caminha sozinha, num ritmo acelerado para ativar o coração até o nível de queima calórica, saiu cedo de casa porque às sete o sol já incomoda na pele. Nas ruas desertas do bairro, ouve o barulho de seus passos ecoando ao longe e um ou outro som de gente no interior das casas e de cachorros atrás dos muros, a secura do ar incomoda a garganta, os olhos ardem e o nariz queima por dentro. Toma um gole d’água para aliviar. As casas, com cercas eletrificadas e concertinas sobre os muros altos, dormem tranquilas na segurança de seus portões cerrados. No instante em que para a fim de se refrescar, sente uma aflição, olha para trás, para os lados, gira sobre os calcanhares, não avista ninguém, o silêncio é completo, mesmo assim, sente-se observada, começa a correr em velocidade progressiva sem olhar para trás, saca um terço do bolso lateral do agasalho, desliza as contas pelos dedos, rezando, esbaforida. Levanta a cabeça e vislumbra adiante a portaria do prédio onde mora, faltam uns trezentos metros, a sensação de alguém no seu encalço é muito real e desesperadora, não demorará  a alcançá-la. Aperta o rosário com força na mão direita e pede: Guardai-me, Senhor!. Então, concentra toda a energia do corpo no sprint final e alcança a campainha do prédio, enfiando o dedo com força no botão até o portão destravar a fechadura elétrica. Entra, bate o portão atrás de si sem se virar, apoia as mãos na parede da portaria e inclina o tronco para frente em busca de ar para os pulmões.

    — Bom dia, dona Domênica! Parece que viu uma assombração — falou o porteiro.

    —  Tinha alguém me seguindo. Aí de cima, você consegue ver alguém na rua? — perguntou ao porteiro com a respiração mais calma.

    O porteiro mete a cabeça para fora da janela no alto da guarita e lança olhares para cima e para baixo na rua, sem sucesso, tudo deserto.

    — Nenhum pé de cristão, dona Domênica, mas a senhora precisa ter cuidado, mesmo, toda hora acontece um crime por aí, ainda mais quando a mulher é jovem, bonita e anda desacompanhada — olhando fixo para ela, sem cerimônia alguma — ... a senhora tem certeza de que não viu ninguém suspeito?

    Ela disse não saber ao certo, contudo, teve a impressão de alguém de preto atrás dela, mas não quis parar para conferir, afinal, nessas horas, a melhor defesa pessoal é a fuga, mesmo treinando muay-thay e tudo podendo apenas resultar de sua imaginação, preferiu correr.

    #

    Com a roupa molhada de suor e colada no corpo, ela encontra o marido estatelado na cama, roncando alto, deixa a porta do quarto aberta, começa a tirar a roupa para tomar banho, sem fazer barulho a fim de não o acordar, mas uma corrente de ar vinda não se sabe de onde bate a porta com grande estronda, ela quase cai de susto e o marido tem um espasmo corporal, acordando em completa desorientação. Segundos mais tarde, desperto e orientado, vendo a esposa trêmula, suada, pálida e quase nua, Jairo diz:

    — Madrugou hoje, hem? E essa cara de susto, tá branca como cera de vela, o que aconteceu? Sente aqui — apontando para a cama.

    — A culpa é sua... alguém me seguiu... tive a impressão de estar sendo seguida enquanto caminhava na rua, pensei que fosse ser estuprada ou morta... — ela começa a chorar.

    — Todo dia te digo para não sair sozinha, é perigoso, mas você é muito teimosa. Viu quem era? — falando sem parar— não adianta ser atleta, treinar artes marciais, se o bandido tiver uma arma-de-fogo, nem Bruce Lee resolve, além do mais quem manda você andar com essas calças coladas, muito sujeito normal não tira os olhos de cima de você, imagina como fica a cabeça de um psicopata tarado.

    Domênica deixa o marido falando a esmo no quarto, entra no banheiro para tomar banho, remoendo em silêncio: Homem é tudo a mesma coisa, a gente é perseguida e ainda leva a culpa: é a roupa que usamos, o jeito de andar, falar, dançar, ou o nosso corpo. Ah! Tô cheia de sempre ser a culpada e essa conversa de sexo frágil, também, já deu. Soluça debaixo do chuveiro e ouve a voz de Jairo entrecortada:

    — ... mulher não é igual a homem, ... precisam aceitar isso. Mas, pode ter sido tudo uma alucinação de medo.

    CAPÍTULO 2

    N

    o caminho para o trabalho, Domênica acelera sua motocicleta Yamaha Fazer 250 cilindradas, com raiva, ziguezagueando com agilidade entre os carros que se deslocam com dificuldade quase sem sair do lugar no engarrafamento matinal de Teresina, sob olhares de homens e mulheres. O vento quente de setembro resseca os lábios e a pele do rosto dela, no entanto, propicia o colorido vibrante dos ipês que a fazem esquecer tal desconforto, às vezes, para a moto diante de uma dessas árvores e saca o celular para fotografá-las, alegrando o dia e esquecendo chateações como as do marido mais cedo. Todo dia chega rápido ao trabalho, passa no banheiro para retocar a maquiagem, ajeitar o cabelo e hidratar os lábios ressecados.

    Os dias de trabalhos são muito parecidos no centro médico: recebe galanteios de pacientes homens e mulheres com frequência, alguns colegas de trabalho também atiram palavras e gestos com muitas intenções para os quais ela não dispensa atenção, além disso, sempre presencia situações de falta de pudor e lascívia entre o chefe e algumas subordinadas. Contudo, conduz-se com fervor na busca incessante da virtude, é sua obsessão de vida desde a época do catecismo. Não suporta ver os comentários jocosos sobre as mulheres de sua cidade natal; dizem que todas já traíram, traem ou trairão o marido algum dia na vida, como se fosse uma maldição escrita no livro dos destinos. Carregava uma certeza na vida: jamais trairia Jairo e por isso odiava ver Melissa, a secretária-geral do Centro Médico de Teresina – CMT e sua conterrânea, flertando com doutor Aarão. Melissa não ajuda, desse jeito, continuarão falando mal das mulheres de nossa cidade. Pensava, observando a secretária e o chefe trocando olhares e toques dissimulados como se todos no centro médico fossem cegos. Melhor cuidar da minha vida.

    #

    Com uma jornada de oito horas diárias, comumente, prefere preparar seu próprio almoço em casa, seguindo com disciplina o cardápio prescrito pela nutricionista, e comer no refeitório do centro médico; comida de restaurante, não raro, deixa-a com a barriga estufada como se fosse estourar a qualquer instante, pensa que devem usar algum fermento ou coisa do gênero. No entanto, em dias com imprevistos, como o susto da perseguição matinal, em que não consegue preparar sua marmita, não tem jeito Domênica recorre ao restaurante mais próximo do trabalho.  Nessa sexta-feira, tudo saiu dos eixos, quando chegou ao CMT, percebeu que esqueceu de levar o almoço, mas não queria piorar o dia comendo no restaurante ali perto, então, decidiu combinar de almoçar em casa com o marido. Pegou o celular na bolsa, com mãos trêmulas ligou para ele, o sinal de chamada soou sem resposta até cair na caixa de mensagem. Por que os maridos não atendem o telefone quando a gente mais precisa deles? Imaginou mil coisas, mas preferiu a versão de que ele deveria estar tomando banho e não ouviu o celular tocando. Então, decidiu-se pela surpresa, almoçaria em casa com o marido. Sempre se pode improvisar na própria casa, ou em último caso, pedir a comida por delivery e até comer sozinha de perna pro ar na calma do próprio lar, sem a barulheira de um restaurante self-service.

    Estaciona a motocicleta ao lado do carro do marido na vaga de garagem do prédio: Beleza, ainda bem que o Jairo está em casa, deve ter chegado agora, é bom ter companhia no almoço. Pega o smartphone na bolsa pensando em enviar uma mensagem ou telefonar para ele, mas decide-se pela surpresa, excita-se com a possibilidade de rolar um sexo ocasional sem planejamento, corre ao elevador, aperta o botão do andar do seu apartamento, as portas se fecham e ele parece subir como um bicho preguiça escalando uma árvore, as portas se abrem, ela pula fora do elevador, corre à porta do apartamento, abre-a sem barulho, entra com os calçados pendurados na mão, pisando macio com as meias esportivas brancas decoradas com corações vermelhos no cano, ouve vozes masculinas, ele deve estar no telefone, pensa, as vozes soam mais alto. Passando pela sala de jantar, vê um telefone celular esquecido sobre o  tampo da mesa próximo à cabeceira, é o dele e está desligado, ela verifica. Continua penetrando no apartamento, em silêncio, as vozes  persistem, gemidos e palavrões tornam-se audíveis, respiração apressada, tudo vindo do quarto  dela  e de Jairo. "Deus, me

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