As mulheres da Chapada dos Veadeiros, Distrito de São Jorge: entre a memória do garimpo, o saber tradicional e o empreendedorismo nos serviços turísticos
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Sobre este e-book
Realizou-se um breve percurso histórico do garimpo até a configuração do ecoturismo na Chapada dos Veadeiros, na década de 1990. De tudo que restou desde o garimpo, há ainda: o lugar social das Donas, com o resgate dos saberes e fazeres das comunidades tradicionais e do movimento de pessoas em busca de tratamento de saúde, a partir das plantas medicinais e da benzeção; o lugar social das nativas e chegantes, que continuam sendo as donas das pousadas e dos restaurantes, mesmo havendo certa segmentação entre elas. Observou-se que as mulheres exercem importante papel na geração de emprego e renda, nos arranjos familiares, no cuidado com a saúde da comunidade e a promoção do desenvolvimento do turismo no Distrito de São Jorge.
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As mulheres da Chapada dos Veadeiros, Distrito de São Jorge - Sheila Rezende
CAPÍTULO 1 A ECONOMIA FEMINISTA
Para compreender os fatores sociais e econômicos que possibilitaram o protagonismo e empreendedorismo das mulheres no Distrito de São Jorge, bem como as implicações sobre sua inserção na comunidade, realizou-se a interseção no âmbito da economia feminista, entre a divisão sexual do trabalho, a economia do cuidado, o ecofeminismo e a sustentabilidade da vida. Para tal, deu-se ênfase às práticas cotidianas dessas mulheres a partir da valorização dos afetos e dos vínculos estabelecidos no cuidado tanto com a saúde da comunidade local quanto à oferta dos serviços turísticos na região da Chapada dos Veadeiros. Béltran explica que
[...] o ecofeminismo das últimas duas décadas interagiu com a economia feminista recolhendo reflexões e sua construção a partir da análise sobre o trabalho e a sustentabilidade da vida. Desde finais do século XX, e sobretudo a partir da leitura do trabalho doméstico e sua relação econômica, uma diversidade de aportes contribuiu imensamente para o avanço da proposta ecofeminista (BÉLTRAN, 2019, p. 134).
A autora argumenta que a economia feminista contribui com o debate do ecofeminismo ao questionar a insustentabilidade do sistema atual pela falta de reconhecimento do trabalho de reprodução da vida. É um trabalho realizado no cotidiano doméstico, que envolve o cuidado com família, a exemplo do cozinhar, cuidar dos filhos e da limpeza da casa, e também das atividades de lazer e de sono. Para Zirbel (2007), este trabalho é tradicionalmente vinculado à figura materna.
A economia feminista contrapõe-se ao paradigma econômico predominante (TEIXEIRA, 2018), que consiste no modelo masculino do pensamento econômico (MARÇAL, 2017), pautado nas ações de produção, circulação, consumo e repartição das riquezas, tendo como centralidade o comportamento racional do homo economicus⁶, maximizador da utilidade e do lucro (ROSSETTI, 2000). O modelo masculino do pensamento econômico é caracterizado pela destruição dos ecossistemas.
Para Marques (2015), essa destruição ocorre com a diminuição das mantas vegetais nativas, a degradação dos solos e desertificação, a crescente escassez dos combustíveis fósseis, as mudanças climáticas e o agravamento da pressão demográfica. Isto ocorre porque, na Ciência Econômica, o meio ambiente é considerado como fonte inesgotável de recursos naturais para a produção e o consumo de bens e serviços (MUELLER, 2012), com o predomínio da concepção errônea da Ciência Econômica em relação ao domínio do homem sobre corpos e territórios presente desde o colonialismo, com a apropriação dos recursos naturais e o extermínio da cultura dos povos originários dos países da América e da Costa Africana (DIAS; SOARES; GONÇALVES, 2019). Em decorrência do novo colonialismo, o século XX é caracterizado por uma crise sistêmica do capitalismo. Trata-se de uma crise ambiental, econômica, social, geopolítica, institucional e civilizatória (SOLÓN, 2019).
Carrasco (2008, p. 102) explica que a ideia é transcender o eixo da des/igualdade entre mulheres e homens, avançando em direção à ruptura do modelo masculino
. A autora explica que a economia feminista critica a invisibilidade do trabalho das mulheres nos estudos da economia clássica e neoclássica. Enquanto a economia clássica considera o trabalho produtivo realizado na esfera pública, valorizado socialmente e remunerado monetariamente, a economia feminista incorpora a análise do trabalho reprodutivo⁷ realizado na esfera privada que, tradicionalmente, faz parte do cotidiano das mulheres. Este trabalho, que de certa forma garante a sustentabilidade da vida, por outro lado é invisibilizado socialmente e não remunerado monetariamente. Para os economistas clássicos, ele não gera produto a ser trocado no mercado.
Sobre a relação social entre capitalistas e trabalhadores, Karl Marx (1818-1883) desenvolve a análise das mercadorias na esfera da circulação. Para tanto, introduz a análise do valor de uso e valor de troca, resultando na formação da mais-valia⁸. Para Marx, o produto do trabalho humano era considerado como mercadoria quando trocado por dinheiro no mercado, conhecido por trabalho produtivo, porque tem valor de troca. Diferente do trabalho reprodutivo, classificado por ele como trabalho doméstico e maternal (HUNT, 1989).
O trabalho doméstico é uma atividade realizada fundamentalmente pelas mulheres que deve ser reconhecida como trabalho e que se mostra vital para a sustentação do capitalismo
(BENGOA, 2018, p. 40). Historicamente, o trabalho reprodutivo é atribuído a mulher. E quando remunerado, ainda assim, é um trabalho precário, com baixos salários, pouco reconhecido e pouco valorizado
(HIRATA, 2016, p. 53). Observa-se que ainda permanece o dualismo hierárquico entre trabalho reprodutivo e trabalho produtivo. O primeiro é realizado na esfera privada, de forma majoritária pelas mulheres, considerado de pouco valor monetário e invisibilizado socialmente. Enquanto o segundo é realizado na esfera pública, tradicionalmente de domínio dos homens, é remunerado monetariamente e valorizado socialmente.
Bengoa (2018) explica que o trabalho doméstico não foi incluído no conceito de mais-valia elaborado por Marx, nem tampouco foi contabilizado no processo de acumulação de capital. A autora aponta dois motivos: primeiro, porque para os economistas clássicos, trabalho é sinônimo de emprego, e de trabalho remunerado; e, depois, porque o trabalho doméstico carrega consigo aspectos não mercantis, mas, ao mesmo tempo, esses aspectos são necessários para reprodução da força de trabalho e, portanto, na produção de