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Cidade Das Pedras
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E-book140 páginas2 horas

Cidade Das Pedras

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Sobre este e-book

Cidade das Pedras é um romance que se desenrola nas margens de dois rios, no sertão, no povoado de Pedra Ardente, pertencente a Ponto Cruz. A paisagem é marcada por pedras, testemunhas silenciosas da história geológica do local. A cidade é cercada por montanhas feitas dessas pedras magníficas. O romance explora a chegada de um novo enigmático morador ao povoado, em meio a uma paisagem extraordinária, onde a natureza e o tempo desempenham papéis importantes na narrativa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de set. de 2023
Cidade Das Pedras

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    Cidade Das Pedras - Dênis Venceslau

    INFORMAÇÃO DE DIREITOS E REGISTRO INTELECTUAL

    CIDADE DAS PEDRAS/DÊNIS VENCESLAU

    E-mail: venceslaubevenuto@gmail.com

    Copyright © 2023 by Dênis Venceslau

    Todos os direitos reservados ao autor. Nenhuma parte desta publicação pode ser armazenada, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos, eletrônicos ou outros quaisquer sem a prévia autorização o autor.

    EQUIPE RESPONSÁVEL PELA PRODU ÇÃO Digitação & Revisão Dênis Venceslau

    Arte Final Capa & Diagramação Antonio dos Anjos

    Imagem da Capa Antonio Cícero Custódio (Bambam) Projeto Editorial Dos Anjos Serviços & Publica ções Publicação Editora Clube de Autores

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) VENCESLAU, Dênis

    Cidade das Pedras – 2023

    130 f.: 1ª Ed.

    ISBN: 978-65-00-81082- 0

    1. Literatura brasileira; 2. Romance; 3. Regional; 4. Cultura I. Título

    CDD. 8 69.1 CDU. 82- 9

    REVISADO CONFORME O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO. Editora Clube de Autores Publicações S/A

    CNPJ: 16.779.786/0001- 27

    Rua Otto Boehm, 48 Sala 08, América

    Joinville/SC, CEP 89201- 700

    www.clubedeautores .com.br

    Cidade das Pedras Dênis Venceslau

    I

    No sertão, onde as margens de dois rios se encontram e separam, nasceu o povoado de Pedra Ardente, um diminuto aglomerado populacional pertencente a Ponto Cruz que, como um segredo guardado nos braços da natureza, repousa a meio caminho entre esses vaus que, em suas jornadas fluidas , serpenteiam entre pedras e pessoas .

    O primeiro rio, quando a generosidade do céu permite, desliza com uma calma melancólica entre suas margens calejadas. Suas águas límpidas e serenas refletem o sol do sertão, criando um espelho líquido que parece capturar as esperanças e os sonhos daqueles que repousam à beira de sua corrente temporária. A caatinga, que se ergue como guardiã dessa água fugaz, oferece sombra e abrigo para a vida que se aglomera na esperança de que os rios retornarão para saciar novamente sua sede.

    O segundo rio, como uma criatura indomável, surge quando os céus decidem derramar suas lágrimas sobre a terra. Suas águas, antes escondidas em fendas secas, formam uma correnteza turbulenta que parece cantar uma canção de força e transformação. As margens, marcadas pelas cicatrizes de inundações passadas, testemunham a fúria passageira dessa força da natureza. A mata, que se estende ao longo desse rio de temporada, se adapta a essa dança cíclica de enchentes e secas, suas raízes se agarrando à terra para resistir à volúpia passageira das águas .

    Do seio da terra, um velho horizonte geológico emerge , desenhando o cenário com um traço genuíno e intrigante. A paisagem se transforma, como se um grande painel t errestre tivesse sido repintado com as cores do rudimentar. As pedras, duras sentinelas do tempo, parecem ilesas, como se a passagem

    Cidade das Pedras Dênis Venceslau

    das eras não tivesse impresso seus abalos nelas. Não se sabe até quando elas permanecem verticais, em pé, como guardiãs da história silenciosa do planeta. Suas superfícies rugosas, sulcadas pelos ventos e pelas chuvas que os séculos trouxeram consigo, cobre Pedra Ardente com seu véu alvescente. Erguem-se ao caminho do sol, como se ansiassem por tocar os raios dourados que acariciam a terra a cada alvorecer. Suas formas se enredam em contornos que parecem ser moldados pelas mãos invisíveis do tempo, criando uma sinfonia de ângulos e curvas que ecoam com as areias dos tempos geológicos.

    A montanha, feita de pedras que beijam as bordas da cidade Ponto Cruz, se apresenta como exemplar dessas magníficas rochas que emulam os sertões, capazes de desconcertar geógrafos desatentos. Certamente, teria cat ivado Pedro Álvares Cabral caso as encontrasse em sua passagem pelo Brasil e o ter feito abandonar a ideia de invasão dessas terras . Em uma extensão que se afasta do povoado, um trecho

    que ainda é um elo na cadeia da montanha de pedras, descortina - se um agrupamento de rochas que os moradores da região reverenciam como Mão de Deus ou Dedo de Deus. A alcunha é justificada pela peculiaridade da forma, que emula um dedo apontando para o amplo firmamento, um gesto de algum deus oculto que inscreve seus sinais na matéria sólida. A paleta cromática desse fenômeno natural é um poema em tons. As cores interagem e dançam, orquestrando uma melodia visual que flui do branco ao preto, como as estrofes de um verso em muçurana. O branco e o preto se entrelaçam em um bailado cromático, enquanto o cinza claro e o cinza escuro dialogam em harmonia, traçando uma partitura de contrastes e gradações. É como se a natureza, com seu pincel invisível, tecesse uma ode pictórica aos olhos que contemplam a paisagem.

    Cidade das Pedras Dênis Venceslau

    Por muito tempo, redemoinhos estranhos de areia ressequida, dançando num rodopio frenético até se esvanec erem no vagão dos céus, eram incapazes de alcançar as fronteiras do povoado acolhido sob a guarda do Dedo de Deus e a mparado pelo imponente muro de rochas. As areias aladas, como enigmas errantes, ansiavam por tocar os limites da urbanização, mas a vontade da natureza os manteve confinados, como sentinelas silenciosas e inalcançáveis. No abrigo daquelas presenças de pedra, o povoado se conservou intocado por anos, protegido dos devaneios do vento e do esquivo xaxado da areia e do Grande Progresso.

    Na prolongada rua e na praça modesta, o comércio e os serviços bordavam um tecido vivaz que sustentava a vida daqueles que ali habitavam. Uma economia florescida sob o sol de veredas tranquilas. Entre esses artífices do cotidiano, destacavam-se as costureiras, habilidosas como aranhas - saltadoras tecendo sua teia de linhas e agulhas, criando roupas que vestiram a vergonha nua de muitos municípios vizinhos. Os mestres de relógios, magos do tempo que deslindam os mistérios dos ponteiros em um ofício que exige precisão. As rezadeiras, terapeutas espirituais, oferecem o bálsamo do bem-estar àqueles que buscam vencer as aflições emocionais. Com suas mãos que são pontes entre mundos, elas curam com a serenidade que emana de sua essência. Os agricultores, semeando esperanças na pouca terra, tem o sol e a chuva como aliados. Sua paciência é uma virtude entrelaçada com as raízes das colheitas que aguardam pacientemente a dádiva da maturidade.

    À medida que os olhos de qualquer visitante seguem as linhas das rochas, se depara com suas encostas escarpadas, descendo em aclives fortes como degraus que conduzem a lugares desconhecidos. Mas então, como uma surpresa da natureza, os dorsos das pedras se expandem em uma planura

    Cidade das Pedras Dênis Venceslau

    suave, como se a própria terra houvesse assinado sua mensagem em um pergaminho de nível. Esses plainos inscritos no horizonte são como páginas abertas de um livro geológico, onde as histórias da terra estão escritas em códigos de camadas e minerais.

    Nas cercanias do povoado, as encostas íngremes e rochosas envolvem-no como guardiãs silenciosas, um abraço áspero da natureza que o acolhe. Essas muralhas naturais, quais sentinelas de um mundo encantado, desvanecem gradualmente assim que se cruza o limiar do povoado, cedendo espaço a extensas planícies que se estendem como um tapete ondulante. A terra, objeto das forças que a modelam com esmero, sofre o assédio em sua essência, enquanto a estrutura das rochas, paciente escultora do tempo, erige um colossal paredão adornado por lascas e fragmentos. Nessas fendas esculpidas pelo sol nas rochas, como portais secretos para o reino da imaginação, emergem imagens criativas e fantásticas, dignas de serem protagonistas nas narrativas mágicas de um universo literário à la Murilo Rubião. Estas figuras escondidas, hábeis em contar histórias silenciosas através de suas formas, aguardam a mente curiosa tanto de crianças quanto de adultos, convidando - os a embarcar em aventuras entrelaçadas com a poesia das pedras e os contos dos ventos.

    Os habitantes de Pedra Ardente, há tempos, se acostumaram com a clausura aparentemente afetuosa que as rochas esculpem ao ambiente. Essa intimidade com as paredes de pedra lhes conferiu a sabedoria de enxergar a beleza e a proteção na prisão que a geografia lhes oferece. Como uma titã da terra, essa imensa geoestrutura se estende majestosamente sobre os céus de Pedra Ardente, ditando as regras do clima que acaricia a terra. Através de suas encostas íngremes e vales serenos, essa entidade geológica governa o termômetro dos dias

    Cidade das Pedras Dênis Venceslau

    e a paleta das estações. É como se a própria natureza tivesse esculpido um monumento grandioso para ser a guardiã dos ventos e dos humores atmosféricos que dançam sobre a vida dos habitantes .

    Os cajueiros, imburanas, juazeiros, que a cercam , inclinam-se com reverência diante de sua magnitude, enquanto os riachos e os rios, como fiéis súditos, seguem os caminhos que ela traça, curvando-se aos caprichos de sua topografia majestosa. Essa geoestrutura é um poema silencioso inscrito no solo, uma epopeia esculpida pelo vento e pela água ao longo dos tempos . Era um tempo há muito desfilado pelos ventos, uma era

    em que Pedra Ardente se enroscava em suas próprias histórias, como um novelo de memórias aconchegante. Nas entrelinhas do passado, as páginas do presente se desdobravam em um ritmo tranquilo e sereno, onde o relógio parecia respirar compassadamente. Nesse cenário quase suspenso no tempo pelas próprias rochas, não havia espaço para movimentos de urgência. Pedra Ardente se apegava às figuras familiares, aos sorrisos conhecidos, aos seus próprios conflitos, à inorganicidade das pedras, como se a própria alma da vila estivesse entrelaçada com cada habitante que ali tinha enraizado seus sonhos. As palavras trocadas entre eles eram como martelos que faziam faíscas voarem das pedras de sua vida cotidiana .

    Como uma faísca que rompe a escuridão da noite, o resto de quietude que se enredava na rua de Pedra Ardente estava prestes a ser desafiada. Era um forasteiro, um viajante das estradas desconhecidas, trazendo consigo os mistérios do além. Esse forasteiro carregava consigo o peso das experiências vividas em lugares distantes, facas e martelos que o ajudavam a talhar sua alma. Os sentimentos humanos são como seixos que

    Cidade das Pedras Dênis Venceslau

    são lapidados pelo tempo, ganhando suavidade e forma à medida que são tocados pelo fluxo constante da vida.

    A noite em Pedra Ardente se desenrola como uma seresta noturna, tão tranquila quanto qualquer outra noite em terras do interior. Ela se apresenta com uma solidez que retumba a estabilidade das montanhas que a cercam, como um abra ço acolhedor que transcende a passagem do tempo. Mas, nesta solidão pacífica, ela carrega uma essência peculiar, uma aura que a distingue das noites em outras paragens. Ela é fria, gelada, como um orvalho na folha que cai das alturas. A lua, um farol brilhante no palco celeste, derrama sua luz sobre a paisagem que se estende em silêncio. As estrelas, como joias preciosas incrustadas no manto noturno, brilham com uma intensidade que parece perfurar o véu entre o terreno e o sobrenatural. D ebaixo dessa aparente tranquilidade, há segredos ocultos, como gemidos suaves das juremas que se curvam ao sussurro do aracati. A noite em

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