Os Reis Da Rua
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Os Reis Da Rua - Cristiano J. Balla
1
OS REIS DA RUA
- O Jogo do poder através dos tempos -
Cristiano J. Balla
Bandeirantes, Paraná/2019
2
FICHA CATALOGRÁFICA
____________________________________________________
869.93 Balla, Cristiano Júnior
Os reis da rua: O jogo do
poder através dos tempos
Bandeirantes, Edição do autor,
2019
250 pgs.
1. Romance – ficção. I Título
____________________________________________________
ISBN: 978-85-910512-7-4
Ilustração da capa: Sol fragmentado do Apocalipse
, arte e
foto do autor.
Arte-final: José Renato de Souza Lazari.
Todos os direitos reservados ao autor.
Proibida cópia sem autorização
3
"Desde os tempos de João Baptista até agora,
o Reino dos Céus sofre violência, e é por meio
da violência que se apoderam dele." (Mateus - 11:12)
4
Dedico este livro aos bravos amigos e irmãos que na
infância jogaram comigo o jogo inspirador e incrível, os Reis da
Rua.
Agradeço imensamente ao amigo e incentivador
Professor Eduardo Henrique von der Osten e à tia e Professora
de História Aureliana Aparecida Martins Delgado Balla, a quem
preciso devolver alguns livros...
5
SUMÁRIO
Capítulo /Página
1
- Um sinal no céu da Alameda/08
2
- A Invasão/012
3
– Um pacto/21
4
- A Rua/26
5
- O casamento/31
6
- Ressaca/38
7
- Os jogos começam/41
8
- O casamento de Tut-Ank-Aton e Egípcya/46
9
- Nabucodonosor Rei/53
10 - Índya/63
11 - Henrex e Ibérya/60
12 - Britânya/73
13 - Davi e Israélya/78
14 - Núpcias a quatro/86
15 - Ciro e Pérsya/94
16 - Alexandre, o Grande/100
17 - Caius Julius Caesar/108
Nascimento e Yeshua/120
Yeshua e Humânya/125
18 – Fim do Império Romano e Fundação da ICAR/137
19 - Arábya e Califa Haroun al-Rashid/149
20 - Carlos Magno e Európya – Formação dos Reinos Bárbaros/159
21 - Gênsis Khan – Império Mongol/168
22 - Pedro e Rússia/176
23 - Sacro Império Germânico/184
24 - Império Otomano- 1299 a 1923/189
25 - Império Japonês/192
26 - Império Português/197
27 - Napoleão e Frâncya/202
28 - Maias, Incas e Astecas/208
29 - Hitler e Germânya/214
30 - Império Britânico/220
31 - Império estadunidense/229
32 - Desfecho/245
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/249
6
PREFÁCIO DO AUTOR
Quando éramos crianças ou adolescentes em minha
cidade natal do norte paranaense, Bandeirantes, nos idos das
décadas de 1970 e 1980, costumávamos brincar este jogo de
rua, chamado por uns Mãe da Rua
e por outros Rei da Rua
,
passatempo violento, confesso, mas muito melhor que os jogos
midiáticos da garotada de hoje em dia.
Inspirado neste jogo e após leituras de obras literárias
como O Mundo de Sofia
de Jostein Gaarder - que abrange
grande parte da Filosofia e sua história, veio-me o insight
durante o final de minha pós-graduação em Letras e Literatura,
com ênfase na formação do leitor, de trabalhar numa obra que
ensejasse uma introdução aos estudos de História para a
juventude. No entanto, como se deu com o livro supracitado, o
resultado final deste meu romance pode agradar também aos
adultos e não apenas ao público alvo a que me destinei
primeiramente, ou assim penso, ao menos.
O trabalho de pesquisa bibliográfica foi exaustivo, em
que pese não conclua ou finalize toda a história de cada
império abordado, constituindo-se numa introdução dentro de
um romance como pano de fundo e que remete à estudos mais
profundos de nossas origens como civilizações. Procurei elencar
os principais ou mais afamados reis e imperadores que
passaram por este mundo, deixando um rastro de glória e
sangue nas terras onde pisaram; uns podem agradar mais,
outros menos, mas todos foram tratados com o devido respeito
à sua historiografia oficial. Nisto podem me questionar a
competência de escrever sobre História por ser apenas da
academia de Letras, no que posso responder de antemão que,
nos nossos estudos literários, de qualquer obra canônica ou
7
não, fazemos a contextualização histórica das mesmas, sendo
assim as Letras e a História andam de mãos dadas pelas
academias onde transitam interdependentes.
Entende-se o poder como um sol fragmentado cujas
partes não o totalizam após sua quebra em frações menores
porque libera mais que apenas poder, e sim luz, calor, legados
culturais, etc., ficando o chão do mundo habitado mais batido
que antes de cada império.
Embora tenha escrito alguma prosa, como contos e
narrativas curtas e sempre tenha tido o chamado para o épico –
quem leu meus livros de poesia pôde constatar nos poemas
longos que cada livro tem, entre outros trabalhos que
envolveram estudos históricos, este é o meu primeiro romance,
e acho que tem tudo pra ser o último, pois "a letra mata e o
espírito vivifica", encontrando-me em fase de exaustão, penso
assim.
O leitor poderá notar no transcurso da leitura desta
obra, que a gramática vai estar um pouco diferente do que
segue a nova ortografia de Língua Portuguesa – decreto
6.586/08, expondo minha visão como escritor, revisor, tradutor
e professor de Português, formando uma contra-reforma
ortográfica, em que mantenho acentos diferenciais, o trema,
acentos nos ditongos fechados ei, oi, eu; e principalmente as
palavras compostas cujos segundo componente, em
começando por vogal, H, R ou S, sejam separadas do primeiro
componente por hífen, mantendo-se assim a motivação
fonética e etimológica das palavras da nossa língua, porque
nem tudo é possível ser contextualizado, principalmente na
leitura do texto.
Sendo assim, ó paciente leitor, espero que frua este
romance e que ele flua às suas vistas.
Cristiano Júnior Balla, 27/04/2019.
8
CAPÍTULO 1 – UM SINAL NO CÉU DA ALAMEDA
No início tudo era uma grande Alameda Verdejante e a
grama úmida de gotículas de orvalho amanhecia acordando os
habitantes que passeariam sobre ela quando o Sol raiasse no
oriente. Tudo era paz sobre a terra e a beira do abismo estava
distante daquelas plagas; pássaros anunciavam o arrebol
próximo cheio de claridade e o Sol começava a brilhar calmo
sobre os que ali habitavam, com suas cores amenas de um
amarelo-alaranjado por entre nuvens plácidas e douradas que
logo se abriam num céu do mais puro azul e os dias se faziam
uma dádiva a cada manhã.
A paz reinava no vale da Alameda e sua vegetação de
cristais verde-esmeraldinos estendia-se por todo o chão fértil,
tão suavemente que se podia pisar descalço a relva e mesmo
deitar-se sobre ela e observar os céus, pátria natal e distante
daqueles seus primeiros moradores.
O refúgio dos alamedianos fez-se por amor, ao contrário
dos povos do deserto que teimavam em ocultar aos próprios
olhos o sentimento universal que une o Cosmo e a Terra, como
quem cansa de ver ou enxergar, e cada vez mais eles se
aproximavam da grande Alameda Verdejante, procurando um
lugar diferente das terras desérticas que eles percorriam em
suas andanças mirabolantes.
As areias do deserto eram fagulhas serpenteantes a
dançar sob seus pés, insinuando-se, enganado e picando a cada
passo que davam em direção ao nada totalmente
desconhecido; mas queriam a Alameda Verdejante de águas
frescas e cristalinas como quem procura um bálsamo para sua
sede implacável e secular. Viviam de sonhos e promessas que
haviam ouvido de seus antepassados e calcavam a areia sob
seus pés em busca da paz que não tinham e não sabiam o que
9
significava, mas que haviam escutado dos antigos visionários que era uma coisa boa que existia além do deserto seco e sem
vida em que viviam a vagar ouvindo as vozes de um deus que
não podiam ver nem tocar, um deus distante e que lhes
queimava os olhos e rachava a pele estúpida pelo calor diurno e
o frio noturno desérticos.
Os alamedianos viviam em amor na Alameda Verdejante
por vários e vários anos, em prazeres simples como o toque de
uma pele macia ou o sabor de um fruto maduro. Apesar de
tanto tempo ali vivendo, nunca se acostumavam aos pequenos
detalhes idílicos da Alameda, tudo lhes era novidade a cada
mordida. Suas adorações voltavam-se às criaturas que seu deus
fizera com a terra da alameda e com a água do mar que
margeava seu vale além das serranias que os separava das
areias vítreas do deserto escaldante.
Viam seu deus em tudo o que fora criado e sabiam
disso, pois também haviam participado dos momentos
anteriores à fundação do universo. Vieram para a Alameda por
amor e sua empatia pelas criaturas irradiava-se por todo o vale
que os habitantes do deserto perseguiam a qualquer custo;
sem bússola a seguir, a não serem as promessas de um deus
que não conheciam e jamais haviam visto.
Não havia ruas na Alameda, e sim caminhos verdes
ladeados por grandes árvores; andava-se pela relva com pés
limpos e claros como o luar das noites calmas que ali fazia
quando uma brisa suave lhes invadia as narinas e dormiam
aconchegados aos corpos de suas mulheres e filhos.
Os homens do Deserto diziam que ali fôra um paraíso
perdido e o buscavam obstinadamente, sem estrela-guia ou
rosa-dos-ventos, apenas com as vozes que ouviam no deserto,
cheias de promessas de fartura que a areia escaldante não lhes
podia dar.
10
Beckbal vivia com sua família numa baixada do vale da
alameda há muitos anos, numa fortificação bem construída a
caminho do mar, mar grande entre terras áridas que podia
levar longe quem o soubesse singrar; ele costumava dizer que o
mar semelhava os olhos de sua amada, que eram opalas de azul
celestino raiadas de corais esbranquiçados, o restante era
infinidade, espelhos do céu.
Beckbal subiu um morro, fazia uma hora que a noite
escura caíra sobre eles, via-se o mar escumando e rugindo suas
ondas na praia ao leste da Alameda, levava seu amado filho
mais novo pela mão a fim de contemplarem o céu; assim que
observou a estrela vermelha eclipsar-se na Lua ainda crescente
como um embrião no útero da noite nebulosa, soube que o
perigo era iminente: o povo do deserto aproximava-se. As
famílias pacíficas de seus irmãos seriam mortas ao fio da
espada dos povos do deserto; seria terrível, e o que era pior,
eles não saberiam se defender, pois, mesmo havendo sido
guerreiros, seu espírito de luta dera lugar à paz a que se
entregaram. Teriam que fugir da Alameda em direção às terras
que o mar entre as terras lhes oferecesse.
- Veja a estrela vermelha unindo-se à lua crescente, Fênix,
essa é a única vez que verá esse fato. Terá início uma guerra
infinita.
- Eu sei, meu pai; sinto isso há muito tempo, antes de ver
este eclipse.
Beckbal agiu logo e reuniu-se com seus irmãos e
decidiram que apenas ele e sua família ficariam ali no vale, pois
era o único que ainda dominava a arte da guerra e estava mais
bem equipado para longas batalhas; os demais partiriam
11
levando suas famílias a terras distantes através dos mares que
se abriam além do vale da alameda verdejante. Embarcariam
na próxima lua cheia. Não podiam se apegar à terra, uma vez
que não eram naturais dela. Iam se estabelecer em qualquer
parte que houvesse paz. Sabiam que uma guerra só lhes traria a
perda de entes queridos. Dentro de sete dias a Lua cheia
clarearia os mares e partiriam nas embarcações do estaleiro
que Beckbal construíra com sua família; aliás, foi assim que
surgiu a navegação, através do gênio inventivo de Beckbal. E
agora singrariam o mar para longe da terra que habitavam,
para longe da guerra com os povos do Deserto.
- Nós ficaremos aqui, Fênix. Protegeremos nossa cultura e
nos defenderemos dos povos do deserto. Só você e eu e nossa
família. Nenhum de nós morrerá. Os outros irmãos irão a
outras terras.
- Não há como evitar essa guerra, pai?
- Não. Mas apenas vamos nos defender, no fim tudo será
conforme as tábuas do destino, você verá!
12
CAPÍTULO 2 - A INVASÃO
Os povos do Deserto tinham um grande líder que os
havia guiado até as serranias limítrofes da Alameda Verdejante;
antes era só deserto, agora vislumbravam a esperança das
árvores copadas e altas numa terra que lhes saciaria a alma.
Estavam obstinados a conquistá-la, mesmo que para isso
tivessem que matar a fio de espada os seus habitantes,
derramando sangue pacífico e inocente.
Esperariam a lua crescer no céu e invadiriam a Alameda
Verdejante. Não era mais um oásis de vegetação rala no meio
do deserto, era uma terra para habitarem enquanto vivessem,
eles e seus filhos e, depois destes, seus mais fortes
descendentes.
Tudo estava combinado entre os guerreiros, chegariam
de surpresa durante a noite de lua cheia, mas o grande líder,
desde que avistou o verde da alameda cobiçada, ficou
perturbado e, entre a esperança e a ansiedade da conquista,
viveu apenas mais um dia.
Enquanto a lua crescente tomava contornos menos
delgados, como um feijão ou um rim, expirou seu último sopro,
deixando o corpo cair nos limites entre o deserto e a alameda
verdejante, causando alvoroço entre os povos do deserto.
Era o único que ouvia as vozes do deserto e conseguiu,
através delas, guiar os povos até ali. Diziam que conseguia
encontrar água no meio das pedras e apaziguar seu povo com
histórias de tempos vindouros, tempos de glória e riqueza para
os que o seguissem. Mas a honra não cabe aos tolos e a glória
não cabe aos covardes. Seguiram-no até ali; mas como o líder
morrera, estavam confusos e eufóricos, desnorteados. Haviam
perdido a bússola, mas talvez não seu zênite.
13
Para que não se dispersassem, um seu general decidiu
convocar os principais guerreiros para uma grande reunião.
Decidiram invadir a alameda no próximo dia, e assim o
fizeram. Todos os homens e também as crianças participariam
da batalha contra alamedianos. Ainda era lua crescente e a
escuridão dominava os céus estrelados que os seus habitantes
contemplavam em silêncio e paz. Sabiam o que fazer, só não
previram a antecipação da batalha que se daria em seu solo.
Os alamedianos também haviam decidido zarpar em
seus navios quando a lua estivesse cheia, para que a claridade
os guiasse na infinitude do mar entre as grandes terras,
levando-os a regiões pacíficas e sem sombra de guerras e
cobiça de povos estranhos vindos do deserto em busca de algo
que não conheciam: A paz!
Como ainda deveriam esperar por mais quatro dias para
que a lua se tornasse cheia e luminosa, dando sua claridade de
satélite branco-amarelado na tenda celeste, foram pegos de
surpresa pelo ataque dos povos do deserto, que anteciparam a
invasão devido à morte do líder e cobiça do general.
Beckbal havia preparado os navios do seu estaleiro e os
provido de mantimentos e demais bagagens para uma longa
viagem. Seus filhos e irmãos o estavam ajudando nessa tarefa
de adeus a uma terra que os acolhera por tantos anos, mas
sabiam que não podiam se apegar ao pó e sim às pessoas e aos
céus. Nem tudo que haviam desenvolvido na Alameda
Verdejante fora levado com eles; deixaram muita coisa para
trás e, devido à invasão repentina dos povos do deserto,
tomaram seus filhos pelas mãos ou no colo e adiantaram-se em
uma fuga frenética em direção ao porto nos fundos do vale
onde ficava a fortaleza de Beckbal. Não olharam para trás, mas
brandiam seus escudos em todas as direções.
14
Os povos do deserto decidiram pelo ataque numa
guerra decisiva, haja vista a surpresa ser o melhor ataque. E
assim atacaram. De espadas nas mãos, desferindo golpes
contra tudo e todos, insurgiram contra as famílias da Alameda.
Morte era comum entre os combatentes e suas espadas
riscavam o ar, zunindo aos golpes metálicos.
A noite ainda era escura e somente se viam flechas e
dardos inflamados riscando os ares na direção aos corpos dos
alamedianos em fuga. Seus escudos protegiam a quase todos
na partida para o porto onde estavam os navios mal
preparados para uma fuga antecipada. A surpresa estampava-
se em seus rostos atônitos e seus olhos já se haviam esquecido
da arte das batalhas. Só poderiam fugir levando consigo o que
pudessem, salvando a vida de seus pequenos.
Os povos do deserto pegaram os alamedianos de
surpresa durante a lua crescente; levavam suas mulheres pelas
mãos numa fuga noturna e inesperada; elas, com filhos no colo,
gritavam em pânico e eram quase que arrastadas, mesmo que
tropeçassem numa pedra, guiadas pelos maridos.
A noite tétrica ficaria gravada na memória dos fugitivos
para todo o resto de suas vidas. Gritos e flechas de fogo
misturavam-se aos gritos de pavor e, de quando em quando,
conseguiam furar o bloqueio, indo cravar-se nos corpos dos
que fugiam; uns tombavam de súbito nas areias enquanto
outros resistiam e seguiam corajosamente com dardos
cravados em seus membros, salvando suas famílias e a si
próprios heroicamente. A noite anunciava-se longa, mesmo
que quisessem fugir logo do inferno em que os povos do
deserto transformaram a sua bela Alameda.
Cerca de 120 navios estavam no porto ao lado do
estaleiro e as famílias dos irmãos de Beckbal corriam para lá
sofregamente, como quem espera a salvação no mar, de tanto
15
horror pelos ares e pela terra. Flechas de fogo voavam pelos ares e atingiam alamedianos em plena fuga. Tudo era terror e
fuga. E a fuga antecipada tinha que ser precisa para não afetar
os navios. Beckbal havia planejado tudo, menos uma partida
antecipada, menos o tempo. O tempo era coisa para se saber
de antemão, não às vésperas de um ataque genocida. Tudo
agora eram flechas vermelhas de fogo no meio do céu escuro
da alameda. Terror era o nome do ataque dos povos do
deserto. Terror, terror, terror!
Foram embarcando família após família nos navios, cuja
energia fazia as hélices potentes rasgarem o mar salgado.
Beckbal havia preparado a estrutura dos navios. Suas invenções
levariam longe os seus familiares, até onde não mais fossem
perseguidos por flechas chamejantes dos povos do deserto.
Tudo seria calmaria no meio do oceano, com delfins os
acompanhando ladeados por algas verdes e, à frente, uma
terra desconhecida e talvez pacífica.
Beckbal possuía toda a ciência de seu tempo e havia
desenvolvido boa parte dela; havia arquitetado os navios, o
porto e o estaleiro para sua fabricação e havia equipado os
barcos com a energia que lhes impulsionavam os motores. Sua
engenhosidade era pacífica, mas como previa tempos de
dificuldades como os que estavam atravessando naquela
batalha, desenvolvera uma terrível máquina de guerra.
Ele e sua família prepararam as embarcações para a
fuga dos alamedianos e esses debandavam em meio às
saraivadas de flechas sobre suas cabeças, pois haviam sido
pegos de surpresa. Beckbal havia desenvolvido uma grande
máquina para a guerra, era blindada contra ataques dos
projéteis primitivos dos povos do deserto e possuía foices de
aço que cobriam 36 metros quadrados e disparava raios contra
seus inimigos. Com essa máquina, Beckbal protegia a
16
retaguarda dos seus familiares que conseguiam fugir. Nesse
carro de guerra monumental, ele ia destruindo todos os que se
aproximavam das praias do porto e o terror se fazia inesperado
entre os povos do deserto, que, diante de tal defensiva, não
mais atacavam, posto que todos os que se aproximavam de
Beckbal certamente morriam mutilados.
Corpos desmembrados jaziam no chão verde e os
invasores apenas podiam lançar suas flechas contra os navios,
na esperança de que os inflamassem em plena evasão, mas os
barcos tinham motores potentes e os impeliam quebrando as
marolas até que chegassem ao mar aberto e pudessem navegar
distantes da guerra.
No meio da batalha entre a máquina de guerra de
Beckbal e os povos do deserto, uma cena se fez notar pelos
céus e por toda a eternidade: era Fênix salvando Zoex, sua
pequena amiga. A garota havia se perdido de sua família em
fuga e ficara a mercê dos ataques inimigos; tentava correr para
a praia quando topou com Fênix com um escudo que a poderia
abrigar até o porto. A pressa ia junto de ambos. Atrás deles
apenas destruição e guerra.
- Me ajuda a fugir deste inferno, Fênix...
- Eu te levo até o navio de seus pais, abaixe-se sob meu
escudo e venha.
Beckbal havia exterminado todos os que pretendiam
tomar sua baixada e sua fortificação; sua máquina de guerra
era poderosa, tinha foices afiadas nos lados e voava com a
precisão de uma águia, ninguém lhe era páreo, todos os que se
aproximavam eram mortos num átimo. Sangue e vermelhidão
manchavam a couraça de sua máquina de guerra. Os guerreiros
dos povos do deserto que se aproximavam de Beckbal logo
17
morriam e viram que não haveria trégua entre eles, então os povos do deserto se reuniram para negociar uma trégua com o
terrível guerreiro da Alameda.
Enquanto a trégua não vinha, Zoex acompanhava Fênix
e a pequena acabou caindo nas areias próximas do porto,
deitaram-se nas areias da praia e sentiam as flechas de fogo
rasgarem os ares em busca dos navios de seus parentes e pais.
A noite estava escura e o céu riscava-se de vermelho-sangue.
Zumbidos de projéteis soavam nos ares e os dois infantes ali na
areia receavam que não mais se pudesse embarcar Zoex no
navio de seus pais. As flechas iam em direção ao mar, umas
apagavam-se nas ondas espumosas, outras fincavam-se nos
cascos dos navios que