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Os Reis Da Rua
Os Reis Da Rua
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E-book301 páginas4 horas

Os Reis Da Rua

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Sobre este e-book

Quando éramos crianças/adolescentes em minha cidade natal do norte paranaense, Bandeirantes, nos idos das décadas de 1970 e 1980, costumávamos brincar este jogo de rua, chamado por uns “Mãe da Rua” e por outros “Rei da Rua”, passatempo violento, confesso, mas muito melhor que os jogos midiáticos da garotada de hoje em dia. Inspirado nesta brincadeira e após leituras de “O Mundo de Sofia” de Jostein Gaarder - que abrange grande parte da Filosofia e sua história, veio-me o lampejo em 2008 de trabalhar numa obra que ensejasse uma introdução aos estudos de História para o público juvenil. No entanto, após alguns anos trabalhando nas pesquisas históricas e redação criativa desta obra, o resultado final deste meu romance pode agradar também aos adultos e não apenas o público alvo a que me destinei primeiramente, ou assim penso, ao menos. O trabalho de pesquisa bibliográfica foi exaustivo, em que pese não conclua ou finalize toda a história de cada império abordado, constituindo-se numa introdução dentro de um romance como pano de fundo e que remete a estudos mais profundos de nossas origens como a civilizações suméria, fenícia, antediluviana, etc. Procurei elencar os principais ou mais afamados reis e imperadores que passaram por este mundo, deixando um rastro de glória e sangue nas terras onde pisaram, uns podem agradar mais, outros menos; mas todos foram tratados com o devido respeito à sua historiografia oficial. São mais de 240 páginas da melhor prosa que pude desenvolver, a capa foi por conta aqui da Fruir com a ajuda do amigo arte-finalista José Renato de Souza Lazari. Por enquanto não incluí ilustrações internas, o que poderia aumentar bastante o número de páginas, mas, como a intenção primeira é a introdução aos estudos de História, fica a dica da pesquisa e aprofundamento pelo leitor. O romance de pano de fundo através do qual se desenrola a narrativa remonta a povos mais antigos e mitológicos, permanecendo o amor desde o início até o desfecho com cenas e sumários improváveis, permitindo-me abusar da estrutura fragmentada do tempo narratológico e de elementos constitutivos que tangenciam as lendas e esoterismos, instigando o leitor a recepções literárias mais profundas e caleidoscópicas. Sendo assim, ó paciente leitor, espero que frua este romance e que ele flua às suas vistas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de mai. de 2019
Os Reis Da Rua

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    Pré-visualização do livro

    Os Reis Da Rua - Cristiano J. Balla

    1

    OS REIS DA RUA

    - O Jogo do poder através dos tempos -

    Cristiano J. Balla

    Bandeirantes, Paraná/2019

    2

    FICHA CATALOGRÁFICA

    ____________________________________________________

    869.93 Balla, Cristiano Júnior

    Os reis da rua: O jogo do

    poder através dos tempos

    Bandeirantes, Edição do autor,

    2019

    250 pgs.

    1. Romance – ficção. I Título

    ____________________________________________________

    ISBN: 978-85-910512-7-4

    Ilustração da capa: Sol fragmentado do Apocalipse, arte e

    foto do autor.

    Arte-final: José Renato de Souza Lazari.

    Todos os direitos reservados ao autor.

    Proibida cópia sem autorização

    3

    "Desde os tempos de João Baptista até agora,

    o Reino dos Céus sofre violência, e é por meio

    da violência que se apoderam dele." (Mateus - 11:12)

    4

    Dedico este livro aos bravos amigos e irmãos que na

    infância jogaram comigo o jogo inspirador e incrível, os Reis da

    Rua.

    Agradeço imensamente ao amigo e incentivador

    Professor Eduardo Henrique von der Osten e à tia e Professora

    de História Aureliana Aparecida Martins Delgado Balla, a quem

    preciso devolver alguns livros...

    5

    SUMÁRIO

    Capítulo /Página

    1

    - Um sinal no céu da Alameda/08

    2

    - A Invasão/012

    3

    – Um pacto/21

    4

    - A Rua/26

    5

    - O casamento/31

    6

    - Ressaca/38

    7

    - Os jogos começam/41

    8

    - O casamento de Tut-Ank-Aton e Egípcya/46

    9

    - Nabucodonosor Rei/53

    10 - Índya/63

    11 - Henrex e Ibérya/60

    12 - Britânya/73

    13 - Davi e Israélya/78

    14 - Núpcias a quatro/86

    15 - Ciro e Pérsya/94

    16 - Alexandre, o Grande/100

    17 - Caius Julius Caesar/108

    Nascimento e Yeshua/120

    Yeshua e Humânya/125

    18 – Fim do Império Romano e Fundação da ICAR/137

    19 - Arábya e Califa Haroun al-Rashid/149

    20 - Carlos Magno e Európya – Formação dos Reinos Bárbaros/159

    21 - Gênsis Khan – Império Mongol/168

    22 - Pedro e Rússia/176

    23 - Sacro Império Germânico/184

    24 - Império Otomano- 1299 a 1923/189

    25 - Império Japonês/192

    26 - Império Português/197

    27 - Napoleão e Frâncya/202

    28 - Maias, Incas e Astecas/208

    29 - Hitler e Germânya/214

    30 - Império Britânico/220

    31 - Império estadunidense/229

    32 - Desfecho/245

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/249

    6

    PREFÁCIO DO AUTOR

    Quando éramos crianças ou adolescentes em minha

    cidade natal do norte paranaense, Bandeirantes, nos idos das

    décadas de 1970 e 1980, costumávamos brincar este jogo de

    rua, chamado por uns Mãe da Rua e por outros Rei da Rua,

    passatempo violento, confesso, mas muito melhor que os jogos

    midiáticos da garotada de hoje em dia.

    Inspirado neste jogo e após leituras de obras literárias

    como O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder - que abrange

    grande parte da Filosofia e sua história, veio-me o insight

    durante o final de minha pós-graduação em Letras e Literatura,

    com ênfase na formação do leitor, de trabalhar numa obra que

    ensejasse uma introdução aos estudos de História para a

    juventude. No entanto, como se deu com o livro supracitado, o

    resultado final deste meu romance pode agradar também aos

    adultos e não apenas ao público alvo a que me destinei

    primeiramente, ou assim penso, ao menos.

    O trabalho de pesquisa bibliográfica foi exaustivo, em

    que pese não conclua ou finalize toda a história de cada

    império abordado, constituindo-se numa introdução dentro de

    um romance como pano de fundo e que remete à estudos mais

    profundos de nossas origens como civilizações. Procurei elencar

    os principais ou mais afamados reis e imperadores que

    passaram por este mundo, deixando um rastro de glória e

    sangue nas terras onde pisaram; uns podem agradar mais,

    outros menos, mas todos foram tratados com o devido respeito

    à sua historiografia oficial. Nisto podem me questionar a

    competência de escrever sobre História por ser apenas da

    academia de Letras, no que posso responder de antemão que,

    nos nossos estudos literários, de qualquer obra canônica ou

    7

    não, fazemos a contextualização histórica das mesmas, sendo

    assim as Letras e a História andam de mãos dadas pelas

    academias onde transitam interdependentes.

    Entende-se o poder como um sol fragmentado cujas

    partes não o totalizam após sua quebra em frações menores

    porque libera mais que apenas poder, e sim luz, calor, legados

    culturais, etc., ficando o chão do mundo habitado mais batido

    que antes de cada império.

    Embora tenha escrito alguma prosa, como contos e

    narrativas curtas e sempre tenha tido o chamado para o épico –

    quem leu meus livros de poesia pôde constatar nos poemas

    longos que cada livro tem, entre outros trabalhos que

    envolveram estudos históricos, este é o meu primeiro romance,

    e acho que tem tudo pra ser o último, pois "a letra mata e o

    espírito vivifica", encontrando-me em fase de exaustão, penso

    assim.

    O leitor poderá notar no transcurso da leitura desta

    obra, que a gramática vai estar um pouco diferente do que

    segue a nova ortografia de Língua Portuguesa – decreto

    6.586/08, expondo minha visão como escritor, revisor, tradutor

    e professor de Português, formando uma contra-reforma

    ortográfica, em que mantenho acentos diferenciais, o trema,

    acentos nos ditongos fechados ei, oi, eu; e principalmente as

    palavras compostas cujos segundo componente, em

    começando por vogal, H, R ou S, sejam separadas do primeiro

    componente por hífen, mantendo-se assim a motivação

    fonética e etimológica das palavras da nossa língua, porque

    nem tudo é possível ser contextualizado, principalmente na

    leitura do texto.

    Sendo assim, ó paciente leitor, espero que frua este

    romance e que ele flua às suas vistas.

    Cristiano Júnior Balla, 27/04/2019.

    8

    CAPÍTULO 1 – UM SINAL NO CÉU DA ALAMEDA

    No início tudo era uma grande Alameda Verdejante e a

    grama úmida de gotículas de orvalho amanhecia acordando os

    habitantes que passeariam sobre ela quando o Sol raiasse no

    oriente. Tudo era paz sobre a terra e a beira do abismo estava

    distante daquelas plagas; pássaros anunciavam o arrebol

    próximo cheio de claridade e o Sol começava a brilhar calmo

    sobre os que ali habitavam, com suas cores amenas de um

    amarelo-alaranjado por entre nuvens plácidas e douradas que

    logo se abriam num céu do mais puro azul e os dias se faziam

    uma dádiva a cada manhã.

    A paz reinava no vale da Alameda e sua vegetação de

    cristais verde-esmeraldinos estendia-se por todo o chão fértil,

    tão suavemente que se podia pisar descalço a relva e mesmo

    deitar-se sobre ela e observar os céus, pátria natal e distante

    daqueles seus primeiros moradores.

    O refúgio dos alamedianos fez-se por amor, ao contrário

    dos povos do deserto que teimavam em ocultar aos próprios

    olhos o sentimento universal que une o Cosmo e a Terra, como

    quem cansa de ver ou enxergar, e cada vez mais eles se

    aproximavam da grande Alameda Verdejante, procurando um

    lugar diferente das terras desérticas que eles percorriam em

    suas andanças mirabolantes.

    As areias do deserto eram fagulhas serpenteantes a

    dançar sob seus pés, insinuando-se, enganado e picando a cada

    passo que davam em direção ao nada totalmente

    desconhecido; mas queriam a Alameda Verdejante de águas

    frescas e cristalinas como quem procura um bálsamo para sua

    sede implacável e secular. Viviam de sonhos e promessas que

    haviam ouvido de seus antepassados e calcavam a areia sob

    seus pés em busca da paz que não tinham e não sabiam o que

    9

    significava, mas que haviam escutado dos antigos visionários que era uma coisa boa que existia além do deserto seco e sem

    vida em que viviam a vagar ouvindo as vozes de um deus que

    não podiam ver nem tocar, um deus distante e que lhes

    queimava os olhos e rachava a pele estúpida pelo calor diurno e

    o frio noturno desérticos.

    Os alamedianos viviam em amor na Alameda Verdejante

    por vários e vários anos, em prazeres simples como o toque de

    uma pele macia ou o sabor de um fruto maduro. Apesar de

    tanto tempo ali vivendo, nunca se acostumavam aos pequenos

    detalhes idílicos da Alameda, tudo lhes era novidade a cada

    mordida. Suas adorações voltavam-se às criaturas que seu deus

    fizera com a terra da alameda e com a água do mar que

    margeava seu vale além das serranias que os separava das

    areias vítreas do deserto escaldante.

    Viam seu deus em tudo o que fora criado e sabiam

    disso, pois também haviam participado dos momentos

    anteriores à fundação do universo. Vieram para a Alameda por

    amor e sua empatia pelas criaturas irradiava-se por todo o vale

    que os habitantes do deserto perseguiam a qualquer custo;

    sem bússola a seguir, a não serem as promessas de um deus

    que não conheciam e jamais haviam visto.

    Não havia ruas na Alameda, e sim caminhos verdes

    ladeados por grandes árvores; andava-se pela relva com pés

    limpos e claros como o luar das noites calmas que ali fazia

    quando uma brisa suave lhes invadia as narinas e dormiam

    aconchegados aos corpos de suas mulheres e filhos.

    Os homens do Deserto diziam que ali fôra um paraíso

    perdido e o buscavam obstinadamente, sem estrela-guia ou

    rosa-dos-ventos, apenas com as vozes que ouviam no deserto,

    cheias de promessas de fartura que a areia escaldante não lhes

    podia dar.

    10

    Beckbal vivia com sua família numa baixada do vale da

    alameda há muitos anos, numa fortificação bem construída a

    caminho do mar, mar grande entre terras áridas que podia

    levar longe quem o soubesse singrar; ele costumava dizer que o

    mar semelhava os olhos de sua amada, que eram opalas de azul

    celestino raiadas de corais esbranquiçados, o restante era

    infinidade, espelhos do céu.

    Beckbal subiu um morro, fazia uma hora que a noite

    escura caíra sobre eles, via-se o mar escumando e rugindo suas

    ondas na praia ao leste da Alameda, levava seu amado filho

    mais novo pela mão a fim de contemplarem o céu; assim que

    observou a estrela vermelha eclipsar-se na Lua ainda crescente

    como um embrião no útero da noite nebulosa, soube que o

    perigo era iminente: o povo do deserto aproximava-se. As

    famílias pacíficas de seus irmãos seriam mortas ao fio da

    espada dos povos do deserto; seria terrível, e o que era pior,

    eles não saberiam se defender, pois, mesmo havendo sido

    guerreiros, seu espírito de luta dera lugar à paz a que se

    entregaram. Teriam que fugir da Alameda em direção às terras

    que o mar entre as terras lhes oferecesse.

    - Veja a estrela vermelha unindo-se à lua crescente, Fênix,

    essa é a única vez que verá esse fato. Terá início uma guerra

    infinita.

    - Eu sei, meu pai; sinto isso há muito tempo, antes de ver

    este eclipse.

    Beckbal agiu logo e reuniu-se com seus irmãos e

    decidiram que apenas ele e sua família ficariam ali no vale, pois

    era o único que ainda dominava a arte da guerra e estava mais

    bem equipado para longas batalhas; os demais partiriam

    11

    levando suas famílias a terras distantes através dos mares que

    se abriam além do vale da alameda verdejante. Embarcariam

    na próxima lua cheia. Não podiam se apegar à terra, uma vez

    que não eram naturais dela. Iam se estabelecer em qualquer

    parte que houvesse paz. Sabiam que uma guerra só lhes traria a

    perda de entes queridos. Dentro de sete dias a Lua cheia

    clarearia os mares e partiriam nas embarcações do estaleiro

    que Beckbal construíra com sua família; aliás, foi assim que

    surgiu a navegação, através do gênio inventivo de Beckbal. E

    agora singrariam o mar para longe da terra que habitavam,

    para longe da guerra com os povos do Deserto.

    - Nós ficaremos aqui, Fênix. Protegeremos nossa cultura e

    nos defenderemos dos povos do deserto. Só você e eu e nossa

    família. Nenhum de nós morrerá. Os outros irmãos irão a

    outras terras.

    - Não há como evitar essa guerra, pai?

    - Não. Mas apenas vamos nos defender, no fim tudo será

    conforme as tábuas do destino, você verá!

    12

    CAPÍTULO 2 - A INVASÃO

    Os povos do Deserto tinham um grande líder que os

    havia guiado até as serranias limítrofes da Alameda Verdejante;

    antes era só deserto, agora vislumbravam a esperança das

    árvores copadas e altas numa terra que lhes saciaria a alma.

    Estavam obstinados a conquistá-la, mesmo que para isso

    tivessem que matar a fio de espada os seus habitantes,

    derramando sangue pacífico e inocente.

    Esperariam a lua crescer no céu e invadiriam a Alameda

    Verdejante. Não era mais um oásis de vegetação rala no meio

    do deserto, era uma terra para habitarem enquanto vivessem,

    eles e seus filhos e, depois destes, seus mais fortes

    descendentes.

    Tudo estava combinado entre os guerreiros, chegariam

    de surpresa durante a noite de lua cheia, mas o grande líder,

    desde que avistou o verde da alameda cobiçada, ficou

    perturbado e, entre a esperança e a ansiedade da conquista,

    viveu apenas mais um dia.

    Enquanto a lua crescente tomava contornos menos

    delgados, como um feijão ou um rim, expirou seu último sopro,

    deixando o corpo cair nos limites entre o deserto e a alameda

    verdejante, causando alvoroço entre os povos do deserto.

    Era o único que ouvia as vozes do deserto e conseguiu,

    através delas, guiar os povos até ali. Diziam que conseguia

    encontrar água no meio das pedras e apaziguar seu povo com

    histórias de tempos vindouros, tempos de glória e riqueza para

    os que o seguissem. Mas a honra não cabe aos tolos e a glória

    não cabe aos covardes. Seguiram-no até ali; mas como o líder

    morrera, estavam confusos e eufóricos, desnorteados. Haviam

    perdido a bússola, mas talvez não seu zênite.

    13

    Para que não se dispersassem, um seu general decidiu

    convocar os principais guerreiros para uma grande reunião.

    Decidiram invadir a alameda no próximo dia, e assim o

    fizeram. Todos os homens e também as crianças participariam

    da batalha contra alamedianos. Ainda era lua crescente e a

    escuridão dominava os céus estrelados que os seus habitantes

    contemplavam em silêncio e paz. Sabiam o que fazer, só não

    previram a antecipação da batalha que se daria em seu solo.

    Os alamedianos também haviam decidido zarpar em

    seus navios quando a lua estivesse cheia, para que a claridade

    os guiasse na infinitude do mar entre as grandes terras,

    levando-os a regiões pacíficas e sem sombra de guerras e

    cobiça de povos estranhos vindos do deserto em busca de algo

    que não conheciam: A paz!

    Como ainda deveriam esperar por mais quatro dias para

    que a lua se tornasse cheia e luminosa, dando sua claridade de

    satélite branco-amarelado na tenda celeste, foram pegos de

    surpresa pelo ataque dos povos do deserto, que anteciparam a

    invasão devido à morte do líder e cobiça do general.

    Beckbal havia preparado os navios do seu estaleiro e os

    provido de mantimentos e demais bagagens para uma longa

    viagem. Seus filhos e irmãos o estavam ajudando nessa tarefa

    de adeus a uma terra que os acolhera por tantos anos, mas

    sabiam que não podiam se apegar ao pó e sim às pessoas e aos

    céus. Nem tudo que haviam desenvolvido na Alameda

    Verdejante fora levado com eles; deixaram muita coisa para

    trás e, devido à invasão repentina dos povos do deserto,

    tomaram seus filhos pelas mãos ou no colo e adiantaram-se em

    uma fuga frenética em direção ao porto nos fundos do vale

    onde ficava a fortaleza de Beckbal. Não olharam para trás, mas

    brandiam seus escudos em todas as direções.

    14

    Os povos do deserto decidiram pelo ataque numa

    guerra decisiva, haja vista a surpresa ser o melhor ataque. E

    assim atacaram. De espadas nas mãos, desferindo golpes

    contra tudo e todos, insurgiram contra as famílias da Alameda.

    Morte era comum entre os combatentes e suas espadas

    riscavam o ar, zunindo aos golpes metálicos.

    A noite ainda era escura e somente se viam flechas e

    dardos inflamados riscando os ares na direção aos corpos dos

    alamedianos em fuga. Seus escudos protegiam a quase todos

    na partida para o porto onde estavam os navios mal

    preparados para uma fuga antecipada. A surpresa estampava-

    se em seus rostos atônitos e seus olhos já se haviam esquecido

    da arte das batalhas. Só poderiam fugir levando consigo o que

    pudessem, salvando a vida de seus pequenos.

    Os povos do deserto pegaram os alamedianos de

    surpresa durante a lua crescente; levavam suas mulheres pelas

    mãos numa fuga noturna e inesperada; elas, com filhos no colo,

    gritavam em pânico e eram quase que arrastadas, mesmo que

    tropeçassem numa pedra, guiadas pelos maridos.

    A noite tétrica ficaria gravada na memória dos fugitivos

    para todo o resto de suas vidas. Gritos e flechas de fogo

    misturavam-se aos gritos de pavor e, de quando em quando,

    conseguiam furar o bloqueio, indo cravar-se nos corpos dos

    que fugiam; uns tombavam de súbito nas areias enquanto

    outros resistiam e seguiam corajosamente com dardos

    cravados em seus membros, salvando suas famílias e a si

    próprios heroicamente. A noite anunciava-se longa, mesmo

    que quisessem fugir logo do inferno em que os povos do

    deserto transformaram a sua bela Alameda.

    Cerca de 120 navios estavam no porto ao lado do

    estaleiro e as famílias dos irmãos de Beckbal corriam para lá

    sofregamente, como quem espera a salvação no mar, de tanto

    15

    horror pelos ares e pela terra. Flechas de fogo voavam pelos ares e atingiam alamedianos em plena fuga. Tudo era terror e

    fuga. E a fuga antecipada tinha que ser precisa para não afetar

    os navios. Beckbal havia planejado tudo, menos uma partida

    antecipada, menos o tempo. O tempo era coisa para se saber

    de antemão, não às vésperas de um ataque genocida. Tudo

    agora eram flechas vermelhas de fogo no meio do céu escuro

    da alameda. Terror era o nome do ataque dos povos do

    deserto. Terror, terror, terror!

    Foram embarcando família após família nos navios, cuja

    energia fazia as hélices potentes rasgarem o mar salgado.

    Beckbal havia preparado a estrutura dos navios. Suas invenções

    levariam longe os seus familiares, até onde não mais fossem

    perseguidos por flechas chamejantes dos povos do deserto.

    Tudo seria calmaria no meio do oceano, com delfins os

    acompanhando ladeados por algas verdes e, à frente, uma

    terra desconhecida e talvez pacífica.

    Beckbal possuía toda a ciência de seu tempo e havia

    desenvolvido boa parte dela; havia arquitetado os navios, o

    porto e o estaleiro para sua fabricação e havia equipado os

    barcos com a energia que lhes impulsionavam os motores. Sua

    engenhosidade era pacífica, mas como previa tempos de

    dificuldades como os que estavam atravessando naquela

    batalha, desenvolvera uma terrível máquina de guerra.

    Ele e sua família prepararam as embarcações para a

    fuga dos alamedianos e esses debandavam em meio às

    saraivadas de flechas sobre suas cabeças, pois haviam sido

    pegos de surpresa. Beckbal havia desenvolvido uma grande

    máquina para a guerra, era blindada contra ataques dos

    projéteis primitivos dos povos do deserto e possuía foices de

    aço que cobriam 36 metros quadrados e disparava raios contra

    seus inimigos. Com essa máquina, Beckbal protegia a

    16

    retaguarda dos seus familiares que conseguiam fugir. Nesse

    carro de guerra monumental, ele ia destruindo todos os que se

    aproximavam das praias do porto e o terror se fazia inesperado

    entre os povos do deserto, que, diante de tal defensiva, não

    mais atacavam, posto que todos os que se aproximavam de

    Beckbal certamente morriam mutilados.

    Corpos desmembrados jaziam no chão verde e os

    invasores apenas podiam lançar suas flechas contra os navios,

    na esperança de que os inflamassem em plena evasão, mas os

    barcos tinham motores potentes e os impeliam quebrando as

    marolas até que chegassem ao mar aberto e pudessem navegar

    distantes da guerra.

    No meio da batalha entre a máquina de guerra de

    Beckbal e os povos do deserto, uma cena se fez notar pelos

    céus e por toda a eternidade: era Fênix salvando Zoex, sua

    pequena amiga. A garota havia se perdido de sua família em

    fuga e ficara a mercê dos ataques inimigos; tentava correr para

    a praia quando topou com Fênix com um escudo que a poderia

    abrigar até o porto. A pressa ia junto de ambos. Atrás deles

    apenas destruição e guerra.

    - Me ajuda a fugir deste inferno, Fênix...

    - Eu te levo até o navio de seus pais, abaixe-se sob meu

    escudo e venha.

    Beckbal havia exterminado todos os que pretendiam

    tomar sua baixada e sua fortificação; sua máquina de guerra

    era poderosa, tinha foices afiadas nos lados e voava com a

    precisão de uma águia, ninguém lhe era páreo, todos os que se

    aproximavam eram mortos num átimo. Sangue e vermelhidão

    manchavam a couraça de sua máquina de guerra. Os guerreiros

    dos povos do deserto que se aproximavam de Beckbal logo

    17

    morriam e viram que não haveria trégua entre eles, então os povos do deserto se reuniram para negociar uma trégua com o

    terrível guerreiro da Alameda.

    Enquanto a trégua não vinha, Zoex acompanhava Fênix

    e a pequena acabou caindo nas areias próximas do porto,

    deitaram-se nas areias da praia e sentiam as flechas de fogo

    rasgarem os ares em busca dos navios de seus parentes e pais.

    A noite estava escura e o céu riscava-se de vermelho-sangue.

    Zumbidos de projéteis soavam nos ares e os dois infantes ali na

    areia receavam que não mais se pudesse embarcar Zoex no

    navio de seus pais. As flechas iam em direção ao mar, umas

    apagavam-se nas ondas espumosas, outras fincavam-se nos

    cascos dos navios que

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