Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Histórias De Bombeiros
Histórias De Bombeiros
Histórias De Bombeiros
E-book526 páginas3 horas

Histórias De Bombeiros

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Registra-se aqui mais de uma centena de histórias contadas por Bombeiros, principalmente de ocorrências de Incêndio, Salvamento e Resgate que fugiram à rotina envolvendo situações criativas, atípicas, pitorescas, curiosas, diferentes e algumas vezes até cômicas atendidas principalmente no estado de São Paulo a partir dos anos 60. Assinala alguns fatos de caserna, impressões pessoais e questões emocionais relacionadas ao Serviço de Bombeiro. Além de ocorrências interessantes, mostra um pouco das expressões, experiências, sentimentos e cultura de uma profissão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de mai. de 2022
Histórias De Bombeiros

Relacionado a Histórias De Bombeiros

Ebooks relacionados

Infantil para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Histórias De Bombeiros

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Histórias De Bombeiros - Mariza Lima / Edson Gonçalves

    HISTÓRIAS DE BOMBEIROS

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Gonçalves, Mariza Lima

    Histórias de Bombeiros / Mariza Lima Gonçalves,

    Edson Gonçalves. – São Caetano do Sul, SP :

    Ed. dos Autores, 2022.

    Bibliografia.

    ISBN 978-65-00-43771-3

    1. Bombeiros militares – Biografia 2. Corpo de Bombeiros Militar – Brasil 3. Defesa civil e gerenciamento de desastres e crises 4. Histórias de vidas 5. Relatos pessoais I. Gonçalves, Edson.

    II. Título.

    22-108618                              CDD-363.37092

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Bombeiros militares : Memórias autobiográficas

    363.37092

    Aline Graziele Benitez – Bibliotecária – CRB-1/3129

    Isabela Ferreira - Designer de capa

    HISTÓRIAS DE BOMBEIROS

    Mariza Lima Gonçalves

    Edson Gonçalves

    Sumário

    PREFÁCIO

    ADVERTÊNCIA

    COLABORADORES

    1 – TRAGÉDIAS

    ESPÍRITO DE BOMBEIRO

    UMA GRANDE LIÇÃO DE VIDA

    o primeiro SERVIÇO APÓS A formaTURA DE BOMBEIRO

    AS ESQUINAS DA VIDA

    FALTOU ALGUÉM!

    FATALIDADE MÚLTIPLA

    DESABAMENTO DE IGREJA

    INCÊNDIO NO EDIFÍCIO DA CESP NA AVENIDA PAULISTA

    EXPLOSÃO DE CALDEIRA

    Inauguração de Cemitério em Caraguatatuba

    Um salto no Joelma

    As coincidências existem?

    Alemoa

    O QUE MAIS IMPORTA NA VIDA

    2 – MULHERES

    O CURSO CERTO

    BOMBEIRAS VOLUNTÁRIAS

    POR QUE DECIDI SER BOMBEIRA

    3 - NAS HORAS DE FOLGA

    Escutando o Incêndio

    RESGATE NA ESTAÇÃO

    SEMPRE ALERTA!

    GUARDA-VIDAS DE FOLGA

    O PERIGO MORA PERTO

    Bombeiro de Táxi

    4 – AVENTURAS

    JORNADA DE SALVAMENTO

    A COBRA FUGITIVA

    RESGATE QUASE IMPOSSÍVEL

    INACREDITÁVEL

    5 – COISAS ESTRANHAS

    VIDA DIFÍCIL

    FALTA DE SOLIDARIEDADE

    SIMULADOS OU PREVISÕES?

    PODE ACREDITAR QUE É VERDADE

    Profissionalismo acima de tudo

    6 – ENGRAÇADAS E CURIOSAS

    O LOUCO

    OS BOMBEIROS NÃO DESISTEM

    PELO BEM DO SERVIÇO VALE QUALQUER ESFORÇO

    A ÚLTIMA MISSÃO

    CUMPRA-SE A LEI

    UM RESGATE INCOMUM

    MENSAGEM CENSURADA

    MUDANÇA RÁPIDA

    sonho E REALIDADE

    QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COMO GATO

    Impossível saber

    EXTINÇÃO DE INCÊNDIO E PREMIAÇÃO

    O que é pior?

    InícIo inesquecível

    7 – CURTAS E BREVES

    A CAMINHO DO JOELMA

    NEM SEMPRE O QUE VALE É A BOA INTENÇÃO

    CADA COISA EM SEU LUGAR

    QUEM RI POR ÚLTIMO RI MELHOR

    COM OU SEM EMOÇÃO?

    Vazamento de Cloro

    ACIDENTE COM CARRETA DE GLP

    Coincidências?

    MUITO CAPACETE BRANCO

    ACIDENTE AÉREO NÃO DIVULGADO PELA IMPRENSA

    UM BAITA DE UM CABO AÉREO

    Inferno na Torre OU INCÊNDIO VISTO DA TORRE?

    A VISITA AO JAZIGO

    Ressuscitação ou Reanimação cardiopulmonar?

    O QUE É MAIS DIFÍCIL?

    Bêbado só atrapalha

    O BOMBEIRO E O SANTO

    LOUCO ARMADO DE FACÃO

    AVIAÇÃO DE CAÇA

    8 – RECRUTAS

    O BATISMO

    SE VIRA, VELHO!

    Que vergonha

    ESTREANDO COM LOUVOR

    TROTE NO ESTRANGEIRO

    A GREVE DOS BOMBEIROS NA VISÃO DE UM SENTINELA

    TEM CERTEZA QUE ELE ESTAVA MORTO?

    Pagando micos

    MERGULHADOR EM PERIGO?

    Acidente de trânsito digno de filme

    9 – ANIMAIS

    A CURIOSIDADE QUASE MATOU O GATO

    COBRAS

    O PAPAGAIO

    MÁQUINAS PERIGOSAS

    VACA EM POÇO ABANDONADO

    ALPlNISTA ARREPENDIDO

    AQUI É MEU TERRITÓRIO!

    ENRASCADA

    AUXILIAR NA SEGURANÇA DE BOMBEIROS

    VAI QUE A LEOA É MANSA!

    ELEFANTA ATACA HOMEM NO ZOOLÓGICO

    O TENENTE E O CÃO

    A VÍTIMA: UM CAVALO

    CAPTURA DE JACARÉ NO CENTRO DA CIDADE

    O homem e seu cão

    CUMPRA SEMPRE AS ORDENS RECEBIDAS

    Três gatos em uma árvore

    10 - DIVERSAS

    ESCOLHAS

    INTUIÇÃO

    A CRIAÇÃO DO RESGATE

    SUA VIDA É FORMIDÁVEL

    O TRADICIONAL PANETONE DO PAULO MARQUES

    COM JAPONA OU SEM JAPONA?

    É PRECISO MUDAR O FOCO

    Bombeiro sente medo?

    O BOMBEIRO PALHAÇO E MÁGICO

    A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE

    CHEGADA NO MOMENTO EXATO

    AFOGAMENTOS E RECONHECIMENTO

    O PROBLEMA FOI SOLUCIONADO?

    A SUICIDA

    Em qualquer emergÊncia, mantenha sempre a calma

    ACIDENTE NO QUARTEL

    ACIDENTE EM SERVIÇO

    CAIXINHAS DE SURPRESA

    Oito minutos

    SALVA POR UM TRIZ

    MARCAS QUE FICAM

    COMEMORAR É MUITO IMPORTANTE

    A Ocorrência mais marcante

    LEMBRANÇAS

    LÁ EM CASA TEM UM BOMBEIRO

    UM CORPO

    CURIOSIDADE

    CONVITE

    CANÇÃO DO CORPO DE BOMBEIROS DE SÃO PAULO

    PREFÁCIO

    Com uma imagem própria na Sociedade, os Bombeiros são vistos como alguém diferente, meio mágico, meio faz-tudo. Talvez porque normalmente rumem para os locais em que os demais buscam se distanciar. Ou porque se apresentam para tarefas em situações nem sempre normais.

    Este livro mostra, num universo maior, que ser Bombeiro não decorre simplesmente de terminar um curso e, a partir dele, pôr em prática as habilidades aprendidas. A formação de um Bombeiro passa pela presença em tragédias, desconfortos, situações imprevistas, alguns sustos e muitas situações desconhecidas do público em geral, as quais moldam esses homens e mulheres e a Organização que os acolhe. Por trás do uniforme, dos equipamentos, existe toda uma narrativa que gera a tradição que os conduz, apoia, e por vezes acalenta, com causos que são contados e recontados, em especial quando os veteranos se encontram.

    Acertos e deslizes viram História e histórias. Servem para instrução e papos descontraídos. Transformam-se em fundamentos de ação e em simples motivos de riso. Criam personagens.

    Quem é Bombeiro vai encontrar neste livro muitas histórias conhecidas e talvez se lembrar de outras, que poderá oferecer para futuros textos. Quem não é terá uma visão que remete ao dia a dia, às tarefas e ocorrências, e também às situações diferentes das que está acostumado a ouvir sobre esses profissionais.

    Conseguirá enxergar o homem/mulher Bombeiro, e não o Bombeiro imagem, pois esse último, meio super-homem, não chora, não ri, não morre. Encontrará o Bombeiro destemido, não porque não teme, mas porque vence seus medos normais, que sabe rir e brincar, que conhece a fragilidade da vida, e aprende como poucos profissionais a exata dimensão daquilo que é ou não emergência, que é ou não urgente. E que sabe como poucos o valor da equipe e do companheirismo.

    Nos textos adiante a Mariza e o Edson salvam e nos brindam com uma imensa gama de narrativas, até então pura cultura oral.

    Resta-nos ler, rir, emocionar-nos, admirar-nos e agradecer-lhes, desejando muito que seja o primeiro de uma série.

    Walter Negrisolo

    Cel Veterano do Corpo de Bombeiro da PMESP

    Curso de Bombeiro para Oficiais 1970/71

    Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP)

    ADVERTÊNCIA

    A ideia inicial para a criação desta obra, foi a de registrar algumas histórias contadas por Bombeiros, principalmente de ocorrências de incêndio, salvamento, e resgate que, além de trágicas e marcantes, fugiram à rotina envolvendo situações criativas, atípicas, pitorescas, curiosas, diferentes e algumas vezes até cômicas. Buscou-se também assinalar alguns fatos de caserna, impressões pessoais e questões emocionais relacionadas ao Serviço de Bombeiro.

    A intenção foi produzir um livro interessante, curioso, leve e não calcado somente em dados técnicos ou temas trágicos.

    As histórias foram escritas ou contadas também por parentes (esposas, filhos, irmãos) de Bombeiros que se envolveram em alguma situação relacionada ao assunto.

    Diz o ditado que: quem conta um conto aumenta um ponto, mas todos os colaboradores que narraram as suas histórias garantem que elas foram baseadas em ocorrências e fatos reais, e se desenvolveram principalmente no estado de São Paulo, em especial a partir da década de 60.

    Em algumas histórias, os nomes dos personagens correspondem à realidade. Em outras, foram propositadamente modificados e, algumas vezes, omitidos para evitar transtornos ou algum possível constrangimento.

    Os narradores das histórias se alternam: ora estão em primeira pessoa, tanto do singular quanto do plural e em outras histórias se distanciam e narram na terceira pessoa. Às vezes no presente, mais frequentemente no passado. Cada narrativa tem a sua característica e, assim, respeitou-se, tanto quanto possível a originalidade do narrador sem, entretanto, podar a liberdade literária dos autores.

    Mais de duas centenas de notas de rodapé foram inseridas para ajudar o leitor comum a compreender os termos técnicos, nomes de ferramentas, equipamentos, siglas, jargões e gírias da caserna normalmente usados pelos Bombeiros.

    O desafio maior foi tentar compilar, além de ocorrências interessantes, um pouco das expressões, experiências, sentimentos e cultura de uma profissão.

    Mariza Lima Gonçalves            Edson Gonçalves

    Todos os recursos obtidos com a venda desta edição serão destinados à FUNDABOM – Fundação de Apoio ao Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, entidade sem fins lucrativos, que tem por missão promover e difundir a produção do conhecimento cultural e científico na área de emergências e apoiar, de modo efetivo, o Corpo de Bombeiros de São Paulo.

    www.fundabom.org.br

    COLABORADORES

    Agradecimento especial aos Bombeiros abaixo citados (em ordem alfabética), que colaboraram voluntariamente na produção desta obra fornecendo textos, gravações, detalhes, versões e sugestões:

    Adilson de Toledo Souza – Cel

    Alfonso Antonio Gill – Cel

    Antonio dos Santos Antonio – Cel

    Antonio Joaquim de Oliveira Júnior – Cel

    Antonio Maldonado – 1º Sgt

    Augusto Carlos Cassaniga – Cap

    Celso Eduardo Guidete – Maj

    Celso Matias dos Santos – 3º Sgt

    Daniel Lima Gonçalves – Cap

    Edson Brasil Teodoro – Cel

    Edson Sampaio – Cel

    Eduardo Boanerges Soares Barbosa – Maj

    Eduardo Vieira Cristo – Ten Cel

    Frank Itinoce – Cel

    Itaici Ciríaco de Carvalho – Cel

    Jaime Viana – Ten Cel

    João Batista de Castro Rapaci – Cap

    João Sidney de Almeida – Cel

    João Antonio Brás Neto – Cel

    José Antonio de Freitas – 2º Ten

    Luciana Soares Guenca – Cap

    Luiz Roberto Carchedi – Cel

    Marco Antonio Geraldini – Cel

    Milton Aparecido dos Santos – Cel

    Nilton Divino D’Addio – Cel

    Odilon Pinheiro Magalhães – Cel

    Olinto Neto Bueno – Cel

    Orlando Rodrigues de Camargo Filho – Cel

    Paulo Gonçalves – 3º Sgt

    Paulo Humberto Serafim Leite – 1º Sgt

    Paulo Lopes de Freitas – Cel

    Paulo Rodrigues de Moraes – 1º Ten

    Pedro Antonio Carlini Pereira de Souza – Cel

    Reinaldo Antonio Stalba – Cel

    Roaldson Jocenildo de Melo – Maj

    Roberto Alboredo Sobrinho – Cel

    Roberto José Minozzi Nogueira – Cel

    Rogério Bernardes Duarte – Cel

    Sérgio Gonzales Franco – 1º Sgt

    Sidney Teixeira da Silva Braga – Cel

    Silas Varela Sendin – Cel

    Tamara Cristina Rossatti – Sd

    Taneo Campos – Cel

    Thiago Pinheiro Duarte – Cap

    Valter Carrasco Júnior – 2º Ten

    Wagner Bertolini Júnior – Cel

    Walter Negrisolo – Cel

    Wilson de Oliveira Leite – Cel

    1 – TRAGÉDIAS

    ESPÍRITO DE BOMBEIRO

    No dia 3 de março de 2020 por volta da 01:30h da madrugada, recebi um telefonema. Era o Supervisor de Serviço¹ dizendo:

    - Estamos com uma ocorrência em andamento, na qual dois Bombeiros do seu Subgrupamento foram soterrados.

    De maneira instintiva eu repeti, em voz alta, o que tinha acabado de ouvir, acordando a minha esposa e minha filha. Para o meu desespero eu não podia fazer nada, pois estava ilhado em Praia Grande. Não conseguiria, naquele momento, sair de casa e me deslocar ao Guarujá, pois todos os caminhos estavam alagados ou interditados.

    Naquele momento, a única coisa que eu podia fazer era entrar em contato com os Bombeiros de folga, que moram no Guarujá e pedir para que eles se deslocassem ao Morro do Macaco Molhado para tentar ajudar os dois irmãos Bombeiros, até a chegada de apoio de viaturas e efetivo de outras cidades.

    Hoje eu fiquei sabendo que um destes Bombeiros, de folga, largou a sua casa, que estava totalmente alagada, e não pensou duas vezes em ajudar o irmão de farda. Assim como ele, vários outros atenderam a solicitação e deixaram suas famílias para dar o apoio necessário.

    Consegui sair de casa às 03:30h da madrugada e cheguei ao Morro do Macaco Molhado próximo das 05:00h e o que eu vi lá, certamente, foi uma das cenas mais tristes da minha vida. Um dos Bombeiros, o Cabo Rogério de Moraes Santos já havia sido retirado, infelizmente sem vida, mas um de nós ainda estava lá e, além dele, outras pessoas ainda estavam soterradas².

    Em meio a tanta tristeza e destruição uma coisa positiva se destacou: a força e união de todos os Bombeiros. Vi Bombeiros de folga, de férias, Bombeiros de outros Grupamentos, entre eles alguns Guarda Vidas, Bombeiros Veteranos e Bombeiros de serviço, do dia anterior, que se recusaram a ir para casa, para encontrar as vítimas e o nosso irmão, o Cabo Marciel de Souza Batalha. Vi também Bombeiros Civis, Brigadistas, moradores ou apenas voluntários, prontos a ajudar.

    Não tínhamos a mínima noção da quantidade de pedras e lama que haviam descido morro abaixo, muito menos do perigo que estávamos correndo com risco de novos deslizamentos. Naquele momento pipocavam as informações de outros deslizamentos com vítimas na Baixada Santista. Mas, mesmo diante de um cenário de tantas incertezas, todos estavam prontos para e em condições de³, pois entre as vítimas, um dos nossos precisava muito da nossa ajuda.

    Após tomadas algumas decisões, com base em informações de alguns moradores, começamos a escavação manual. Dias depois tivemos a noção de que seria praticamente impossível encontrarmos as vítimas apenas cavando manualmente.

    O sentimento que moveu todos os Bombeiros que saíram de suas casas ou que permaneceram, mesmo após o término do seu turno de 24 horas, é o que chamamos de espírito de Bombeiro. O extremo espírito de Bombeiro também tiveram nossos irmãos Cabo Moraes e Cabo Batalha que, mesmo com tantos motivos para fugir, decidiram entrar para verificar se não havia ficado ninguém para trás, mesmo que com o sacrifício da própria vida!

    Um Bombeiro de verdade não se faz com selfies ou frases de efeito postadas em redes sociais. Um Bombeiro de verdade vai de encontro ao perigo, para garantir que todos saiam seguros. Um Bombeiro de verdade aparece nas situações mais desfavoráveis e arriscadas e, mesmo quando todos já perderam as esperanças, saca do bolso uma luva e com uma pá começa a fazer a diferença.

    Tenho muito orgulho de trabalhar com pessoas honradas no Corpo de Bombeiros, no 6° Grupamento de Bombeiros e, principalmente no meu Subgrupamento. Seria impossível nominar todas as pessoas que ajudaram nas buscas, mas naquele primeiro dia me lembro muito bem de todos os Bombeiros que, de alguma maneira, atuaram para amenizar o sofrimento dos familiares das vítimas e para encontrar os nossos heróis que estavam soterrados. A todos vocês fica o meu sincero respeito e admiração.

    A vida segue e, após superada a dor da perda, restará a saudade e as lembranças dos bons momentos. Que jamais percamos o espírito de Bombeiro, pois é ele que realmente nos faz ser diferenciados!

    (Thiago Pinheiro Duarte)

    UMA GRANDE LIÇÃO DE VIDA

    Quando um Capitão que estimo muito telefonou me consultando para ir para Branquinha, no estado de Alagoas, a fim de apoiar em uma ocorrência de alagamento que havia afetado diversas cidades, eu aceitei prontamente, mas não imaginava o que viria pela frente. Era junho de 2010 e boa parte do planeta acompanhava a Copa do Mundo.

    Quando desliguei o telefone me senti alvoroçado, pois sabia que aquela não seria uma ocorrência qualquer, e sim uma das maiores ocorrências de minha carreira. Eu tinha vontade de participar de uma ocorrência deste tipo desde que entrei para o Corpo de Bombeiros, e minha hora tinha finalmente chegado.

    Tomei as providências necessárias para juntar e preparar os equipamentos necessários e, após vários percalços administrativos e políticos, finalmente embarcamos em cinco Bombeiros, em um voo cedido por uma companhia aérea, com destino a Maceió. Os demais integrantes da Equipe permaneceram em SP pois não tínhamos conseguido transporte para todos até aquele momento.

    Ao chegar lá, o Capitão que comandava a Operação definiu que precisávamos de transporte aéreo até o local do desastre. Fiquei pensando como iríamos conseguir aquilo sem recursos financeiros. Seguimos, então, para a Base do Exército dentro do Aeroporto, onde um Capitão nos recepcionou e disse que poderia nos ajudar levando-nos até as cidades afetadas.

    Depois de algum tempo, fomos até o helicóptero, que estava em condições ruins. Nele havia somente um banco, que era o do piloto. Tanto o tripulante quanto nós, Bombeiros, ficávamos sentados no piso da aeronave.

    Ao decolar, eu iria marcar os pontos de interesse no GPS⁴, e acabei ficando com a fonia da aeronave, que permitia a comunicação minha com o piloto e com o tripulante. Durante o trajeto, por várias vezes o tripulante teve que alertar o piloto sobre a presença de urubus no ar, que poderiam causar a queda da aeronave. A quantidade de urubus era muito grande, devido à enorme quantidade de animais mortos em decorrência do alagamento.

    No caminho, podíamos ver que as águas tinham arrancado tanques das usinas de álcool que, ao descerem o rio, destruíram todas as pontes que o atravessavam, dificultando todos os acessos.

    Ao sobrevoar a cidade de Branquinha, o Capitão que comandava a operação me pediu para que solicitasse ao piloto se seria possível pousar a aeronave, pois aquela era, certamente, a cidade mais afetada pelas chuvas. Quando fiz a pergunta ao piloto, ele respondeu:

    - Posso pousar, mas não posso ficar muito tempo no solo. No máximo uns cinco minutos.

    Quando repassei essa informação ao Comandante da Operação, que estava no meu lado no helicóptero, ele me disse algo que eu realmente não esperava:

    - Fala para ele que não precisa esperar não. Pode pousar e ir embora. A gente dá um jeito de voltar.

    Confesso que fiquei surpreso. Estávamos sem muita estrutura de apoio. Eu já tinha passado por vários sufocos⁵ na carreira, mas confiava nos Bombeiros que estavam comigo.

    Quando passei o pedido do Comandante ao Piloto, ele me indagou:

    - Deixar vocês aí? Tem certeza? Eu não vou poder voltar depois, hein!

    Quando afirmei a ele que sim, que podia deixar nossa equipe naquele lugar arrasado pela natureza, ele só disse uma coisa:

    - Meu irmão, vocês são f*** mesmo, hein!

    Essa afirmação teve um tom engraçado e ao mesmo tempo assustador, pois vinha de alguém que tinha noção do que iríamos enfrentar.

    Após sairmos do helicóptero, que pousou no que restava da cidade, a lama já estava por todos os lados. Quando ele se afastou, um silêncio mortal tomou conta do local.

    - Agora é de verdade, pensei.

    Quando chegamos no que restara do centro de Branquinha, o cenário era assustador. Pouca coisa havia ficado intacta, depois das fortes chuvas. O cenário era composto de casas destruídas ou prestes a desmoronar e muita, muita lama. O volume das águas foi tanto que chegou a arrancar os trilhos de uma estrada de ferro do chão e os retorceu de forma inacreditável.

    Andamos pela cidade à procura de algum rastro de poder público para que pudéssemos nos juntar a ele, mas tudo que encontramos foi a Prefeita cercada de umas cinquenta pessoas, todas querendo resolver suas situações particulares. Conversamos com ela e sugerimos que juntasse seus Secretários e demais funcionários da Prefeitura, para que pudéssemos organizar as ações de Busca e Salvamento e demais ações de Defesa Civil. Depois de andar na rua principal, com lama até a altura da canela, organizamos uma pequena reunião, em que definimos algumas missões para cada um dos setores da Prefeitura.

    Após a reunião, definimos algumas prioridades juntamente com os funcionários da Prefeitura e combinamos de nos encontrarmos no mesmo local no final da tarde para acompanhar o desenvolvimento das ações de cada um. Ao sair da reunião, o Comandante da Operação

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1