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Pandemia: A difícil arte de conviver com Vírus e seres Humanos
Pandemia: A difícil arte de conviver com Vírus e seres Humanos
Pandemia: A difícil arte de conviver com Vírus e seres Humanos
E-book167 páginas1 hora

Pandemia: A difícil arte de conviver com Vírus e seres Humanos

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Sobre este e-book

A ciência desempenha um papel crucial em tempos de pandemia global, questionando a confiança que depositamos em práticas como vacinação e uso de máscaras. Nossa espécie, os Homo sapiens, orgulha-se de suas realizações tecnológicas e de sua autodenominada civilização, mas frequentemente se vê dividida entre crenças, valores e princípios pessoais e o conhecimento científico.
A pandemia da Covid-19 desafiou as normas que deveriam guiar ações humanitárias, desmistificando a ideia de que é necessário optar entre saúde e economia, quando, na realidade, ambas estão intrinsecamente ligadas. Nesse dilema, as mídias sociais desempenharam um papel central, expondo a polarização entre aqueles que apenas validam informações que confirmam suas próprias crenças e aqueles que seguem o método científico.
O debate acirrado na sociedade resultou em divisões surpreendentemente agressivas, separando antigos amigos e até mesmo familiares, impactando a adesão a medidas preventivas. Isso levou uma parte significativa da população a acreditar, por exemplo, que antibióticos são eficazes contra vírus, evidenciando os limites da racionalidade humana.
Neste turbilhão de desafios, é mais importante do que nunca lembrar que o conhecimento científico e a busca por soluções baseadas em fatos são vitais. Convidamos você, caro leitor, a ser parte da discussão informada, a pesquisar, questionar e se envolver de maneira construtiva para enfrentar não apenas os desafios da pandemia, mas também os dilemas maiores que moldam nosso mundo. Juntos, podemos promover um entendimento mais amplo e uma ação coletiva, trabalhando para um futuro mais saudável, seguro e equitativo.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento1 de mar. de 2024
ISBN9786525470269
Pandemia: A difícil arte de conviver com Vírus e seres Humanos

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    Pandemia - Wagner Melo

    Introdução

    O artista flamengo Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), produziu uma obra-prima visionária ao pintar O triunfo da morte , que nos faz pensar sobre a insanidade das ações humanas e suas consequências.

    Figura 1 - O triunfo da morte.

    Fonte: Bruegel ([1562], Madrid).

    Observe um exército de esqueletos, um rei à beira da morte, casas queimadas, barcos afundados e um cachorro mordiscando um cadáver. Ganância, guerra, devastação, morte, fome e peste. Não é um cenário real, mas não fica muito atrás dos campos de morte produzidos pelas sociedades humanas no planeta Terra, ainda que o conjunto das ações humanas demonstre que o nosso maior potencial seja, de fato, o construtivo e não o seu contrário.

    A identificação do ser humano como animal político — portanto, um animal social — significa que, independentemente da singularidade de cada um, as pessoas são essencialmente capazes de se organizar para uma vida em comum e de se governarem. Possuímos uma necessidade vital de convivência coletiva para a produção de bens e para combater os males do corpo, desenvolvendo, nesse processo, os próprios germes.

    Quanto mais gente, maior é o conhecimento e o desenvolvimento de técnicas e ferramentas, possibilitando o surgimento da chamada civilização, considerada o estágio mais avançado de determinada sociedade humana, associada à vida urbana, educada e saudável. Mas será assim mesmo?

    Ocorre que experiências históricas revelam que, em épocas de crise, como a que eclodiu em 2020 devido à pandemia, as relações de boa vizinhança e sociabilidade (prazer em levar a vida em comum e inclinação para viver em companhia de outros) fragilizam-se. É comum surgirem os bodes expiatórios da ocasião, geralmente apontados como responsáveis pelo que está dando errado.

    Mas quem são eles? São aqueles que não fazem parte da classe social de quem acusa, gente de fora, de outra etnia ou que defendem uma fé ou ideologia considerada inadequada.

    Os que se autodenominam civilizados costumam enxergar a si mesmos como bons e gentis, pois acreditam serem possuidores de regras mais refinadas nas relações sociais — passe-me o garfo, por gentileza! —, qualidades que acreditam não existir em outros grupos.

    Romper com concepções arraigadas que muitos seres humanos possuem sobre si e a sua posição no mundo enquanto espécie, parte de um coletivo ou indivíduo, não é uma tarefa fácil, como provou um naturalista inglês. Em 1859, o estudioso da natureza chamado Charles Darwin virou de cabeça para baixo o que a comunidade europeia pensava sobre a sua procedência. Ele publicou um livro chamado A Origem das Espécies. Até então, a raça humana era vista como uma criação particular de Deus, diferente dos outros animais, dotada de sabedoria e alma pelo Criador. Darwin bagunçou tudo isto (e até hoje é contestado), colocando os humanos no mesmo berço que os demais animais da terra. — Uma blasfêmia! — disseram seus contemporâneos. — NÓS NÃO SOMOS PRIMOS DOS MACACOS! — gritavam.

    Darwin fez história, mas não mudou certa concepção tribal que ainda temos de mundo, algo que faz com que busquemos nos distanciar daqueles que julgamos ser diferentes de nós, o que pode causar alguns problemas em uma época em que a cooperação entre vizinhos, munícipios, estados e países é fundamental para fazer frente a um inimigo comum: o novo coronavírus.

    Humanos, germes e o surgimento da civilização

    Doença e humanidade

    Para muitos indivíduos ou grupos,

    ficar profundamente doente pode representar uma experiência capaz de alterar uma existência inteira ou pôr fim a ela. A doença é uma denominação genérica de qualquer desvio do estado normal, afetando negativamente parte ou o todo de um organismo vivo. Somos suscetíveis a uma imensa variedade delas, sofremos debilitações de nossa capacidade física e, em muitos casos, a morte.

    Causa de extermínio de populações inteiras, foi e ainda é utilizada como arma de guerra e terror. Por exemplo, na Idade Média, corpos infectados eram arremessados por catapultas sobre as muralhas de cidades sitiadas. Até a Segunda Guerra Mundial, mais vítimas morreram de fome, frio e micróbios do que de ferimentos de batalha.

    Figura 2 - A peste em Atenas.

    Fonte: Sweerts ([1652-1654], on-line).

    Ao longo da história, a doença esteve relacionada a forças sobrenaturais, espíritos, demônios e castigo divino. Foi também a fonte de poder de xamãs, feiticeiros e pessoas consideradas santas, além de outros grupos sacerdotais. Essas concepções levavam a considerar as enfermidades como um castigo de alguma divindade, resultando, muitas vezes, na expulsão do pecaminoso da comunidade. A nossa espécie é bastante conhecida por acolher ou discriminar seus membros de acordo com princípios que ela própria desenvolve.

    Nós, Homo sapiens

    É certo que a capacidade natural das doenças de causar mortandades foi observada pelos seres humanos, levando-os à dupla tarefa de buscar formas de cura: primeiro no campo do sobrenatural e, posteriormente, no uso de ervas por meio de infusões. Utilizavam também esses mesmos conhecimentos para difundir moléstias entre seus inimigos a fim de aniquilá-los. Esta é a história do Homo sapiens , criatura única em nosso planeta, capaz de criar valores considerados negativos ou positivos em relação a si mesma e ao próximo.

    Os nossos ancestrais genéticos mais antigos, que não se diferenciavam fisicamente de nós, surgiram há mais de 100 mil anos na África. Deles descendem os Nambiquaras, Maoris, Alemães, Chineses, Pigmeus, você, eu e assim por diante.

    Figura 3 - Homo sapiens.

    Fonte: Getty Images ([2021], on-line).

    Os registros fósseis e arqueológicos indicam que os sapiens só iniciaram o processo migratório para fora da África com sucesso entre 70 e 50 mil anos atrás. Supõe-se que isso tenha ocorrido devido a uma evolução cognitiva (aprimoramento da capacidade intelectual), momento em que a humanidade desenvolveu culturas mais elaboradas do que as de seus ancestrais.

    Essa evolução — há quem use a expressão revolução — deu início ao movimento histórico que levou nossa espécie a inventar barcos, lâmpadas a óleo, flechas, agulhas e roupas, além do desenvolvimento de um elemento qualitativo essencial para a ampliação das relações humanas: o aprimoramento da língua falada.

    Os sons podem assumir um universo imenso de significados, inclusive representar entidades que existem apenas no imaginário humano. As conclusões que um grupo poderia tirar sobre a origem de raios e trovões passavam a fazer parte do pensamento coletivo. Os mesmos medos faziam com que os sapiens cooperassem cada vez mais entre si, realizando interações entre ideias, imagens e fantasias.

    Figura 4 – Indígenas da etnia Karajá fazem ritual na Ilha do Bananal. Fonte: Wilma Araújo ([2018], on-line).

    Por sua vez, o surgimento de grandes comunidades humanas — com o advento da agricultura, avanço nos meios de transporte e a introdução do comércio — criou pontes entre diferentes povos, facilitando trocas de alimentos, ferramentas, conhecimento e... doenças.

    Enquanto os sapiens não passavam de pequenos grupos de caçadores e coletores, os germes não conseguiam se manter, pois tendiam a exterminar toda a comunidade infectada ou a extinguir-se antes de poder contaminar os vizinhos. Para se sustentarem, as enfermidades precisam de grandes concentrações humanas, sendo assim conhecidas como doenças de multidão.

    As aglomerações populacionais começaram há cerca de doze mil anos, proporcionando aos micróbios um curto caminho entre o corpo de uma pessoa e de outra. Acelerou-se o surgimento de cidades, enquanto condições sanitárias insatisfatórias estimulavam a transmissão de patógenos.

    As populações agropecuaristas, aquelas que possuíam armas e armaduras melhores, bem como governos centralizados com elites cultas, foram as que mais difundiram

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