Análise de textos literários
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Análise de textos literários - Wilbett Oliveira
[...] a tessitura, o ritmo e a ressonância das palavras superam o seu significado mais abstrato [...].
[ Terry Eagleton ]
SUMÁRIO
O PALCO DESCOMEDIDO DOS ANTI-HERÓIS EM AUTO DA COMPARECIDA
: COMÉDIA, SÁTIRA E IRONIA
A INQUIETAÇÃO COMO RUPTURA DO COTIDIANO NO CONTO A ROUPA
, DE MARIA LYSIA CORREIA
A LÍNGUAGEM APUNHALADA (OU O PUNHAL POÉTICO) DO EU LÍRICO EM PUNHAL A LÍNGUA
A LINGUAGEM DESNUDA EM A ROSA DO POVO
RELAÇÕES SIMBÓLICAS EM O VERDE BRILHA NO POÇO
, DE MARINA COLASANTI
O PALCO DESCOMEDIDO DOS ANTI-HERÓIS EM AUTO DA COMPARECIDA
: COMÉDIA, SÁTIRA E IRONIA
Nesta análise de Auto da Compadecida, nosso ponto de partida será os estudos propostos por Afonso Romano de Sant’Anna sobre paródia, apropriação, paráfrase e estilização ao ampliar os postulados de Bakhtin e Tynianov. Dessa forma, analisaremos o processo de intertextualidade na obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, com os textos do romanceiro popular nordestino. Discutiremos os conceitos de comédia, sátira e humor propostos por Aristóteles, Linda Hutcheon, Telarolli e Bergson para compreendermos como a obra suassuniana contrasta com o sabor arcaico
e se tornou um dos melhores textos do teatro brasileiro.
Este estudo consiste, então, na leitura da obra de Ariano Suassuna sob a perspectiva da estilização, processo bastante estudado por Afonso Romano de Sant’Anna e considerará a relação/apreensão dialética entre texto e autor, e também a liberdade que ele (o autor) tem de apresentar a sua própria versão a partir do exercício puro e simples da imaginação ou pesquisas documentais.
A análise da inserção dos romances populares nordestinos em Auto da Compadecida permitiu observar como o autor se utiliza da comédia, da sátira e da ironia para tecer críticas à sociedade.
Aspectos históricos e conceituais da comédia, da sátira e da ironia
Em Arte e retórica, Aristóteles construiu uma hierarquia que privilegia a tragédia em detrimento da comédia. Para o filósofo grego, a comédia [...] é imitação de maus costumes, não contudo de toda sorte de vícios, mas só daquela parte do ignominioso que é o ridículo
(Aristóteles, 1979, p. 56). O pensador grego atribui ao ridículo o sentido de defeito ou tara que não tenha caráter doloroso ou corruptor.
A comédia fora menos estimada que a tragédia e só tardiamente se lhe atribuiu um coro, e, quando assumiu certas formas, começou a citar os seus pseudoautores. A autoria das primeiras intrigas são de Epicarmo e Fórmis (Aristóteles, 1979). Ela consiste no uso de humor nas artes cênicas. Também pode significar um espetáculo que recorre intensivamente ao humor. De forma geral, comédia é o que é engraçado, que faz rir; é o espírito satírico que já existia na Grécia Antiga, como bem demonstram as comédias de Aristófanes (Telarolli, 1999, p. 66), e se realiza em torno do ridículo e da alegria decorrente. Quando o ridículo e a alegria são levados às últimas consequências temos a
farsa (Massaud Moisés, 1981, p. 205). O cômico pode ser entendido como uma forma de se apaziguar o mundo trágico e de reconciliar com ele o ser humano
(Jozef 1986, p. 277). Depreendemos que tal exercício de reconciliação se vale de um instrumento intrínseco ao ser humano, visto que não há comicidade fora do que é humano
(Bergson, 1987, p. 12).
Assim, podemos entender a comédia, a sátira, a ironia e o humor como formas de explicar as experiências humanas que emanam do próprio homem e de que o artista lança mão. Seguindo o pensamento bergsoniano temos que o cômico exige algo como certa anestesia momentânea do coração para produzir todo o seu efeito. Ele se destina à inteligência pura
(Bergson, 1987, p. 13).
O tema do cômico, segundo Frye, se estabelece na aceitabilidade do anti-herói pela sociedade ao final de sua jornada (apud Jozef, 1986).
Sátira (do lat. satira) é