Ansiedade E Depressão
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Ansiedade E Depressão - Alan Lima Da Silva
Ansiedade e depressão
O ciclo perverso do diagnóstico, da prescrição,
produção e venda do psicofármaco
SUMÁRIO
Capítulo 1
Introdução
Capítulo 2
Um pouco da história dos medicamentos16
Capítulo 3
Depressão
Capítulo 4
Ansiedade
Capítulo 5
A teoria dos neurotransmissores
Capítulo 6
Sobre inibidores e bloqueadores
Capítulo 7
Diagnóstico médico
Capítulo 8
O modelo de saúde No Brasil
Capítulo 9
O capitalimo da saúde
Capítulo 10
A prescriçãomedicamentosa
Capítulo 11
Eixo nutrição, atividade física e social
Capítulo 12
A origem da crise de opioides americana
Capítulo 13
Psicologia e saúde mental
Capítulo 14
Considerações finais
Considerações finais
Referências
Capítulo 1 - Introdução
Introdução
Segundo a Organização Mundial da Saúde (
oms
), no ano de 2019, quase um bilhão de pessoas tinham algum tipo de transtorno mental, sendo a principal causa de incapacidade.
Pessoas com problemas graves de saúde mental morrem em média de 10 a 20 anos antes da população em geral. Dados da
oms
indicam que no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%. Fatores como estresse, isolamento social, restrições, perda de emprego, sofrimento e morte de entes queridos levaram a um pânico sem precedentes na população mundial. Mesmo antes da pandemia de Covid-19, doenças associadas à saúde mental já correspondiam a uma parcela significativa nas questões de saúde. O suicídio foi responsável por mais de 1 em cada 100 mortes e 58% dos casos ocorriam antes de a pessoa completar 50 anos (
oms
2022).
Dentre as principais causas da depressão estão o abuso infantil, bullying escolar, social e familiar, desigualdades sociais e econômicas, emergências de saúde pública, guerra e crises climáticas. Mesmo em países de alta renda, apenas um terço das pessoas com depressão recebe atendimento formal em saúde mental. O estigma e a discriminação associados às violações nos direitos humanos contra pessoas com problemas de saúde mental são comuns nas comunidades e nos sistemas de assistência social em todo o mundo. Um relatório emitido pela Organização Mundial da Saúde (2022) aponta que os países mais pobres correm maior risco e também têm menos probabilidade de receber serviços adequados em saúde metal.
Diante desse cenário, temos um solo fértil para interesses mercadológicos tanto da indústria farmacêutica como da classe médica em produzir diagnósticos e promover prescrições. A indústria da saúde acompanha todo esse desenvolvimento como uma oportunidade de crescer e aumentar suas margens de ganho, isso inclui hospitais, centros de tratamentos especializados, farmácias, laboratórios e todos os demais setores envolvidos. Existem até profissionais especializados apresentando novas formulações e atualizações de medicamentos. Esse profissional é o propagandista farmacêutico, que trabalha para a indústria junto a profissionais médicos, clínicas, consultórios e hospitais tanto privados quanto públicos, oferecendo seus produtos, bem como lançamentos, palestras e cursos. Trata se de um excelente auxiliar técnico
prescricional à classe médica, praticamente um influencer da medicação.
No Brasil, com a reforma psiquiátrica (Lei 10.216 de 2001), em substituição, ou melhor, na diminuição do número de hospitais psiquiátricos, o Ministério da Saúde determinou, em 2002, a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (
caps
) em todo o país, ficando assim, alinhado à recomendação da
oms
, que estimula o desenvolvimento de políticas de medicina complementar e promove implantação de equipamentos especializados em rede (
raps
), diminuindo a escolha ao uso de psicotrópicos como primeira e única linha de tratamento.
Os
caps
se tornam, desde então, espaços de acolhimento de pacientes com transtornos mentais e/ou dependência em tratamento não hospitalar e têm como função prestar assistência psicológica e médica, visando à reintegração dos doentes à sociedade. De fato, uma ideia positiva e humana, porém observa-se cada vez mais que esses equipamentos (
caps
) se assemelham a miniclínicas
de prescrição medicamentosa ou de atendimentos em grupos com muitos pacientes e sem olhar individualizado.
Nesse movimento, com novo direcionamento às políticas públicas de saúde, saindo de uma situação hospitalocêntrica e dando capilaridade à nova estruturação da saúde mental no Brasil, a indústria farmacêutica vê oportunidades no aumento da produção de medicamentos tanto na esfera pública quanto na privada.
Nos Estados Unidos, vimos uma onda prescricional de drogas lícitas pela classe médica, impulsionada pela forte indústria farmacêutica americana, que após anos de práticas abusivas e sem controle, ocasionou uma crise sem precedentes na dependência de opioides.
No Brasil, impera uma onda, semelhante à americana, que para toda dor existe um medicamento, então toda e qualquer solução social, política e econômica passa a ter uma solução médica.
Nesse cenário, precisamos refletir sobre o direcionamento no tratamento em saúde mental e a nova realidade nos equipamentos de saúde mental no Brasil. Em relação a isso, é necessário olhar para o movimento hedonista vigente, as consequências da pandemia de Covid-19, o crescente número de novos medicamentos desenvolvidos pela indústria farmacêutica, a ideia de que o uso de psicotrópicos possui dimensões sociais e culturais e problemas não médicos passam a ser definidos e tratados como problemas exclusivamente médicos.
A busca de alívio para as dores e a infelicidade do cotidiano nos faz pensar a questão da real necessidade do uso indiscriminado desses medicamentos, com cada vez mais diagnósticos e prescrições e o aparecimento de novos transtornos e distúrbios devidamente catalogados em códigos (
cid
11,
dsm
v
).
Neste livro, de forma bem sucinta, será abordada a prática prescricional, os modelos de manuais diagnósticos (códigos de doenças), a estrutura das instituições clínicas/hospitalares, a base dos tratamentos com monoaminas, os medicamentos utilizados para o tratamento da depressão e ansiedade, a ciência do funcionamento dos neurotransmissores, a busca e o interesse da indústria farmacêutica nesse mercado da saúde — que gera bilhões de dólares em faturamento todos os anos — e outras possibilidades complementares de tratamento não medicamentoso.
O objetivo deste livro é dar luz e reflexão nesse caminho tortuoso das drogas lícitas e seu uso indiscriminado, pois pouco se sabe sobre consequências de longo prazo e a dependência das ditas pílulas da felicidade
.
Por que um psicólogo resolveu escrever sobre esse tema tão importante e impactante na vida das pessoas?
Algumas respostas eu já tenho, outras ainda não, mas fica claro que é muito frustrante acompanhar a vida e as histórias de pacientes que constantemente procuram soluções rápidas para problemas tão complexos quanto a construção da saúde mental. Na fórmula do psicofármaco, a sedação dos problemas vem de forma desejante, porém em médio e longo prazo, torna-se extenuante e tolerante, com a necessidade de doses cada vez maiores ou troca farmacológica do princípio ativo, e isso me faz lembrar muito do papel do dealer na dependência química.
Estou longe de ser o maior entendedor farmacológico no assunto, porém as notícias não são promissoras no campo da saúde mental em se tratando de psicofármacos. A indústria se reinventa, resgatando antigas formulações e com marketing pesado, obscuro e silencioso, influenciando a classe médica com soluções ditas inovadoras
em tratamento. Sozinhos, esses agentes farmacológicos, não conseguem dar conta de transtornos que acometem a humanidade de forma tão incapacitante, como a depressão e a ansiedade. Já que se trata de transtornos multifatoriais, não se pode atribuir a um único método de tratamento, mesmo assim, poucas alternativas são apresentadas.
Os planos de saúde controlam a quantidade de profissionais disponíveis para atendimento e pagam valores fixos em tabelas próprias, longe de uma realidade de valores no atendimento particular. Profissionais médicos e psicólogos atendem de forma rápida, comprometendo a qualidade e o tempo de escuta, atendendo assim à demanda das empresas de saúde.
Nesta proposta de reflexão, vamos abordar soluções coadjuvantes ao tratamento medicamentoso e formas mais descritivas e atentas ao processo de diagnóstico. Após mais de 70 anos desde o lançamento dos primeiros fármacos para o tratamento de processos psicopatológicos, e isso inclui os estados de depressão e ansiedade, algo precisa ser ponderado nas práticas atuais, e a remodelação passa por um processo de reflexão e possibilidades para mudança.
Espero dar a mínima contribuição nesse assunto que custa tão caro à sociedade.
Desejo uma boa leitura!
Conceitos e orientações importantes
Cada país tem suas próprias regras quando o assunto é a autorização para comercialização de produtos, como alimentos e remédios. Por exemplo, um medicamento vendido no Brasil pode não ser permitido na União Europeia ou nos Estados Unidos. Em cada região ou país existem órgãos reguladores que usam determinados critérios de avaliação.
Nos Estados Unidos, um dos importantes órgãos de fiscalização e controle é a
fda
(Food and Drug Administration), já no Brasil é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
No Brasil, de acordo com a Lei 5.991/1973, medicamento é todo produto farmacêutico, obtido ou elaborado de forma técnica, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. Assim, qualquer produto para o qual sejam feitas alegações terapêuticas, independentemente da sua natureza (vegetal, animal, mineral ou sintética), deve ser considerado medicamento e requer registro na Anvisa para ser fabricado e comercializado.
Para que um medicamento venha a ser registrado e comercializado, é necessário que a agência avalie a documentação administrativa e técnico-científica relacionada à qualidade, à segurança e à eficácia desse medicamento.
Doença é uma alteração biológica do estado de saúde do sujeito ou de um órgão em sua totalidade, estando associada a sintomas específicos ou causada por fatores externos, resultando em enfraquecimento, enfermidade ou moléstia.
Transtorno é qualquer anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica ou mental. O termo transtorno é muito utilizado na psiquiatria ou psicologia, devido ao quadro clínico apresentado não ter todas as características de uma doença.
Síndrome é um conjunto de sintomas e sinais que definem manifestações clínicas de uma ou várias doenças, ou condição, independentemente da etiologia que as diferencia (exemplos: a síndrome de Down, as síndromes gripais).
Sintoma é uma percepção que a pessoa tem e se manifesta do que está sentindo (exemplos: fome, sede, tontura, delírio, esquecimento).
Sinal é aquilo percebido por outra pessoa, podendo ser um profissional de saúde. Algo que a pessoa demonstra ou se manifesta, mas que não tem a mesma percepção que o outro.
O hedonismo é uma doutrina moral e filosófica que prega a ideia de prazer extremo, um bem supremo que traz sentido para a vida e existência humana. Elaborado na Grécia Antiga, acredita que a busca incessante pelo prazer e a negação das dores são meios para o encontro da felicidade. Atualmente, o hedonismo passou a ser associado aos comportamentos individualizados e voltados para a realização de prazeres passageiros.
Hormônios são substâncias produzidas pelos órgãos endócrinos. Existem quatro grupos químicos que se diferem quanto à sua característica e forma de síntese, armazenagem, meia-vida, forma de transporte e mecanismo de ação.
Neurotransmissores são mensageiros ou substâncias químicas produzidas pelos neurônios, que passam informações a outras células ou neurônios pelo processo de sinapse.
Existem dois códigos ou manuais em saúde mental, que são os mais utilizados no Ocidente –
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