Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Sertão dos Coronéis
O Sertão dos Coronéis
O Sertão dos Coronéis
E-book71 páginas59 minutos

O Sertão dos Coronéis

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Muito além de poder político e econômico, os coronéis sempre usufruíram de influência social.  Grandes proprietários de terras e retratados quase sempre como homens brutos e cruéis, os coronéis construíram a fama e a popularidade ao lado de políticos por eles bancados, ou por concederem benesses ao povo mais pobre em troca de votos. Neste livro, a figura do coronel pode adquirir várias personalidades, não apenas aquela refletida na teledramaturgia ou na literatura. 

IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de mai. de 2024
ISBN9798224454273
O Sertão dos Coronéis

Leia mais títulos de Mailson Ramos

Relacionado a O Sertão dos Coronéis

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de O Sertão dos Coronéis

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Sertão dos Coronéis - Mailson Ramos

    — 1 —

    Três flores

    NO LONGÍNQUO vale da Serra do Sabiá, nos arredores da cidade de Riacho Seco, havia um fazendeiro chamado Firmino, cujas riquezas eram imensuráveis. Porém, a sua notoriedade não se deu apenas pelo acúmulo de bens materiais, mas pelas três filhas que criou com zelo, após a morte de sua senhora, D. Úrsula. Diziam que as três moças eram tão lindas que o homem as mantinha reclusas na casa da fazenda, protegidas das malícias e vicissitudes da vida. Elas eram pudicas e também religiosas, além de dedicadas cumpridoras dos afazeres domésticos. A beleza das suas feições e os cabelos encaracolados, eternamente brilhosos à luz do dia ou da noite, foram as descrições mais detalhadas sobre estas senhoritas, narradas por um vaqueiro atrevido que ousou observá-las por alguns minutos — e foi escorraçado a pontapés pelo dono da fazenda. Firmino alertava a todos os funcionários sobre o respeito que eles deveriam demonstrar diante das suas filhas. A quebra do decoro representava a expulsão imediata das suas terras.

    Questionado uma segunda vez sobre a beleza das moças, o vaqueiro defenestrado bebeu um gole de cachaça, sem fazer careta, e, com um ar de homem apaixonado, declarou que nunca mais veria tamanho esplendor por onde quer que andasse. As suas palavras despertaram a curiosidade em muitos homens naquela bodega. A maioria deles já conhecia a história das belas filhas do fazendeiro Firmino, porém, não tinham a certeza de que eram tão lindas assim. Então, a partir desta história, iniciou-se um périplo de pretendentes até a fazenda onde residiam as jovens.  Os primeiros foram escorraçados, obrigados a subir em árvores para não sofrer no focinho de cães ferozes. Estes não retornaram nunca mais ao portão da Asa Branca. Passou-se um bom tempo até que o segundo grupo de admiradores aparecesse com flores e violões, serenatas e poesias. Estes pelo menos conseguiram se livrar dos dentes afiados dos cães. Mas não demorou até que os vaqueiros os espantassem, um a um, debaixo de manguá. Bateram forte para espalhar no meio do caminho os buquês de flores que levavam e cimentar naquelas cabeças ocas a ideia de que Firmino não procurava maridos para as suas filhas e iria expulsar qualquer um que circulasse ao redor da casa grande. Tal foi o descontentamento dos homens de Riacho Seco que, por um período muito longo, ninguém ousou atravessar a estrada em direção à fazenda Asa Branca. Um ou outro tentava se consolar com a sensação de ter visto uma das jovens. No fundo, o que se avistou foi uma imensa frustração, caracterizada por uma humilhação atroz. Firmino poderia deixar as filhas no caritó, pois nenhum homem daquela região, tocado por seus cães ou vaqueiros, se interessaria por elas. Por detrás das pernas lanhadas e dos lombos açoitados pelos vaqueiros, havia homens com sentimentos sinceros. Muita gente na cidade compreendeu que as atitudes de Firmino eram apenas maldades de um homem sem coração.

    Passou-se um período após aqueles atos de humilhação. Riacho Seco parecia mais pacata do que nunca e o seu povo simples vivia a tacanhice de cada dia. Foi quando surgiu uma notícia que impressionou a todos: Firmino Asa Branca receberia a visita de um jovem fazendeiro, homem de posses como ele, que buscava conhecimentos sobre a criação de rebanhos de caprinos e ovinos. A notícia foi enviada por um emissário do próprio rapaz, que levou imediatamente à resposta positiva. Sem pestanejar, o homem que havia escorraçado os possíveis pretendentes de suas filhas, pobres miseráveis daquela região, abria as portas para um desconhecido se hospedar em sua casa. A novidade chegou a cada parte daquele sertão.

    Após alguns dias, confirmou-se que o visitante, Gaudêncio Ferrão, era podre de rico; tinha dinheiro para fazer mal ao diabo; e possuía imensos pedaços de terra espalhados por muitos municípios do estado. Era inteligente e tinha influência nos círculos políticos e do judiciário. Andava com gente importante de Brasília e se acostumou a conhecer fazendas pelo interior para adquirir experiência com a criação de gado. Alguém comentou que ele já havia visitado a cidade, ao lado do governador, quando este pisou no sertão para inaugurar uma praça. Outros afirmavam que Firmino era amigo do pai do rapaz e, por isso, não poderia negar-lhe uma boa

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1