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Crónicas de Galádria III - Ensinamentos: Crónicas de Galádria, #3
Crónicas de Galádria III - Ensinamentos: Crónicas de Galádria, #3
Crónicas de Galádria III - Ensinamentos: Crónicas de Galádria, #3
E-book340 páginas4 horas

Crónicas de Galádria III - Ensinamentos: Crónicas de Galádria, #3

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Sobre este e-book

A caminho de um lugar esquecido em busca de respostas, Glaide vai descobrir que a sua percepção de Galádria aperfeiçoou-se, levando-o a ver de maneira diferente a situação daqueles com quem se vai cruzar e a demanda que lhe encomendaram.

Feliz por poder continuar a viver o seu sonho, mas percebendo que também tem de ver Galádria como os seus habitantes para poder agir com eficácia, a sua viagem anuncia-se rica de ensinamentos.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento6 de set. de 2018
ISBN9781547537914
Crónicas de Galádria III - Ensinamentos: Crónicas de Galádria, #3
Autor

David Gay-Perret

Bonjour et bienvenue ! / Hello and welcome (English further down) Heureux que vous fassiez un tour sur cette page ! Si vous souhaitez en savoir plus sur moi, sur mon livre (distributeurs, langues disponibles, infos sur le processus d'écriture...) ou sur la musique composée pour le livre, rendez-vous sur mon site : www.gayperret.com Vous trouverez ce que vous cherchez sous: "A propos => Qui suis-je?" "Chroniques de Galadria" "Musique => Mes compositions => Chroniques de l'Autre Monde" Enfin n'hésitez pas à prendre contact : david.gayperret'arobase'gmail.com ~~~~~ Glad you're taking the time to visit this page! If you'd like to know more about me, about my book (distributors, languages available, info about the writing process...) or about the music composed for the book, please visit my website: www.gayperret.com You'll find everything you need below: "About => Who Am I?" "Chronicles of Galadria" "Music => My Compositions => Chroniques de l'Autre Monde" Finally, don't hesitate to get in touch at david.gayperret'at'gmail.com

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    Crónicas de Galádria III - Ensinamentos - David Gay-Perret

    katana

    A totalidade das Crónicas de Galádria compõe-se de seis volumes disponíveis, em várias línguas, no formato e-book (para uma lista completa e actualizada das traduções e dos distribuidores, siga este link ou vá a www.gayperret.com, anexo Chronicles of Galadria, Translation):

    Crónicas de Galádria I – O Outro Mundo

    Crónicas de Galádria II – Encontros

    Crónicas de Galádria III – Ensinamentos

    Crónicas de Galádria IV – Tranquilidade

    Crónicas de Galádria V – Começar de Novo

    Crónicas de Galádria VI – Esperança

    ––––––––

    NB: É possível que alguns dos volumes ainda não estejam traduzidos na língua que está a ler neste momento. Para ver quais os disponíveis em que idiomas e os progressos das traduções, vá ao link indicado anteriormente.

    katana

    Índice

    Prefácio

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capitulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capitulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Mapa

    Prefácio

    Antes de se lançar na epopeia que o espera, gostaria de dizer que estou a tentar tornar este livro disponível no maior número de línguas possível. Se domina várias delas e se se sente tentado(a) pela aventura, vá ao site Babelcube para entrar em contacto comigo! A língua original é o Francês, mas estou aberto a outras, chamando a atenção para o facto de algumas já não estarem disponíveis.

    katana

    Gostaria igualmente de mencionar o meu último projecto relativo a este livro: tenciono fazer uma série de animação dividida em episódios, um pouco à maneira dos Anime japoneses. O ideal seria trabalhar em colaboração estreita com um estúdio de animação para beneficiar do know-how, dos conselhos e dos recursos dos profissionais, retribuindo com os meus pontos de vista e as minhas ideias para a realização e para as minhas músicas, assegurando, bem entendido, o respeito pelo ambiente da história.

    Torna-se necessário perceber que o lado conto iniciático das Crónicas é resultado de uma miscelânea de temas e ideias acrescentados à medida que me surgiam de maneira espontânea sem uma reflexão global a montante (um pouco como um diário). No entanto o fim da narrativa da aventura ficou marcada por uma compreensão e uma apreensão novas da minha vida e do mundo (elementos que não pude partilhar por a história, infelizmente, já ter terminado)! No entanto, à luz do que acabava de aprender, apercebi-me de que tudo aquilo de que queria falar já lá estava, se bem que mal expresso (já que não tinha construído a aventura com tal em mente). A criação de uma série de animação não permitiria, portanto, iniciar o processo criativo com tais temas e mensagens-chave em mente para em seguida os transmitir através da história de maneira clara, estruturada e lógica.

    Portanto, se conhece pessoas que trabalhem na animação e que possam estar interessadas ou se você mesmo está nessa situação, não hesite em contactar-me!

    ––––––––

    São horas de ir à procura da aventura que se avizinha. Boa leitura e boa viagem...

    Para todos aqueles que ainda são capazes de aprender...

    Capítulo 1

    OS sacos dos dois viajantes tocaram no solo com um ruído surdo. Kezthrem decidira passar a noite ali e esta já se fazia anunciar. O sítio não tinha nada de especial: algumas árvores no alto de um pequeno monte ofereciam uma protecção relativa, mas os dois indivíduos decidiram, mesmo assim, instalar-se. Glaide, aproveitando para se espreguiçar, disse para si que o lado bom daquela viagem era não ser necessário fazer turnos de guarda.

    Com efeito o jovem já conseguia distinguir o menor ruído suspeito durante o sono. O seu mestre e ele mesmo tinham sido surpreendidos uma vez durante a noite e tinham confrontado e vencido os seus assaltantes.

    Enquanto Kezthrem preparava a comida, Glaide tratava do fogo, encontrando sem dificuldade uns galhos que arderiam com facilidade e uns ramos mais grossos que permitiriam manter a fogueira acesa.

    Poucos minutos depois os dois viajantes estavam instalados e enquanto saboreavam o repouso e a refeição, o mais novo estudava o seu mapa. A viagem começara três dias antes. A princípio Glaide tivera dificuldade em dormir no chão, habituado que estava ao conforto de uma colchão a sério, mas rapidamente encontrara os seus velhos hábitos e a acção e o imprevisto, que não paravam de lhe apimentar o caminho, não lhe desagradavam!

    O rapaz também constatara que o ritmo de marcha de Kezthrem nunca era regular, o que o tornava extremamente desestabilizador! Por vezes mestre e discípulo continuavam a andar depois do anoitecer e por outras paravam quase a meio da tarde! Uma tal velocidade, desigual, tornava difícil qualquer cálculo, mas o adolescente, acabando por conseguir estimar a distância percorrida, constatara, por fim, que não tinham avançado quase nada. O rapaz deitou-se com um suspiro, com o olhar perdido nas estrelas.

    - Somos capazes de chegar a uma cidade dentro de uma semana – anunciou de súbito Kezthrem. Sobressaltado, Glaide sentou-se, ao mesmo tempo que o homem continuava: - Está indicada no mapa com o nome Ojilon.

    O adolescente voltou de imediato a sua atenção para o pergaminho, encontrou o nome com toda a facilidade a leste, próximo do limite, entre as montanhas de Oclin-Fer e a floresta por baixo e encontrou, por fim, o destino da sua viagem. O seu mestre não se dignara informá-lo e até ali ele contentara-se com suposições.

    O local misterioso devia ficar perto de Ojilon, pelo que para lá chegar precisariam ao todo de dez dias, enquanto Kezthrem dissera que a viagem duraria mais ou menos duas semanas. Quanto mais pensava, mais Glaide dizia para si próprio que o seu destino não se encontrava assinalado no seu mapa.

    - Mestre – perguntou ele – não vamos encontrar-nos com ninguém antes de chegarmos a essa cidade?

    - Acho que sim, acho que não estaremos sempre sós. Na realidade há muitas aldeias de tamanho mais ou menos importante nas Terras Conhecidas, mas só as maiores é que estão assinaladas. De facto é provável que encontremos, pelo menos, algumas habitações isoladas.

    - E poderemos dormir nelas?

    - Depende. Se eles tiverem alojamento para nós, claro que podemos, mas se calhar teremos de trocar o abrigo e a comida por qualquer coisa.

    - Eu tenho dinheiro, como já vos disse – exclamou o jovem.

    - Sim, mas por vezes as pessoas não precisam de dinheiro, precisam de serviços.

    - Ah sim? - espantou-se o rapaz. - E que espécie de serviços?

    - Bem, lembro-me de uma mulher cujo marido partiu em viagem. O homem só devia regressar passados vários dias e ela precisava de lenha. Os filhos eram demasiado novos para manejar um machado e eu propus-lhe, naturalmente, tratar do assunto. Acredita, Glaide, a lenha foi-lhe mais útil do que algumas moedas.

    - Hmm... - murmurou o interessado. - Pois bem, ajudarei com prazer quem me alojar, seja em dinheiro seja em ajuda.

    Kezthrem sorriu, deitou-se e o seu discípulo fez o mesmo, ao seu lado.

    Pouco depois a voz profunda do homem ergueu-se de novo:

    - Segundo tu, Glaide, que nos mostram as estrelas?

    O jovem ficou sem saber o que dizer, naturalmente, já que nem sequer percebera a pergunta. Kezthrem respondeu no seu lugar:

    «Pela minha parte vejo felicidade, serenidade...

    - Como, mestre? - perguntou o adolescente, vivamente interessado.

    - Pensa, meu jovem discípulo - respondeu o homem com voz suave. - As estrelas só são visíveis de noite, mas existem o dia todo.

    - Tal como a felicidade... - murmurou Glaide, começando a perceber. - A felicidade está presente em todas as circunstâncias, mas nós só a vemos intermitentemente, durante curtos espaços de tempo...

    - E o que é que acontece quando há luz a mais?

    - As estrelas desaparecem. É preciso saber vê-las, procurá-las, desembaraçarmo-nos do que nos incomoda para as distinguirmos. Tal como a felicidade, a alegria...

    Glaide olhou para o rosto do seu mestre, iluminado pela lua e pelas chamas da fogueira, e viu que ele sorria.

    E foi assim que os dois viajantes passaram a sua terceira noite de viagem.

    katana

    Dois dias mais tarde mestre e discípulo continuavam sem se cruzar com ninguém. Kezthrem dissera desde o princípio que a direcção tomada era pouco frequentada e o adolescente não quisera saber porquê. No entanto o homem não lhe respondera com clareza, limitara-se a declarar que a resposta se imporia em breve por si mesma...

    Assim, a meio daquela tarde, os dois viajantes marchavam em silêncio quando Glaide, de súbito, parou, surpreendido, ao ver na sua frente uma pequena barreira. Pelo aspecto o jovem achou que devia ter vários anos. A madeira devia estar podre. O melhor era não tentar apoiar-se nela para lhe passar por cima.

    O mais espantoso, no entanto, era que estava no meio de coisa nenhuma. De facto não delimitava nada porque não havia qualquer campo, qualquer habitação ou qualquer rebanho na vizinhança. Com efeito dir-se-ia que não passava do vestígio de uma instalação maior, desaparecida muito tempo antes.

    Kezthrem aproximou-se da barreira, estudou-a por um momento sem pestanejar e depois disse:

    - Se nos aproximarmos, verás por que razão estas estradas não são utilizadas.

    Glaide não fez qualquer pergunta, mas procurou em volta uma resposta que encontrou, por fim, ao longe: uma aldeia...

    - Mestre, podíamos parar além – exclamou ele, apontando para a localidade.

    - Silêncio – ordenou o homem.

    O adolescente calou-se imediatamente. Havia qualquer coisa que não estava bem. Kezthrem aproximou-se dele, fixando a aldeia, ao longe.

    «Escuta-me bem, Glaide. Temos de ser discretos porque se ninguém vem aqui e se está tudo em ruínas, como acabas de ver, é por causa deste local. Diante de ti tens a única cidade das Terras Conhecidas da qual não te deves, nunca, aproximar. Aquela cidade é a morada de todos os discípulos de Baras que renegaram as suas origens: humanos de coração corrompido, bárbaros cegos pelo desespero, elfos negros, anões ávidos... Trata-se de um sítio perigoso, onde existem escravos e onde são cometidas mil atrocidades.

    O rapaz levou um momento a compreender o que o seu mestre dizia; até ali pensava que todas as cidades eram humanas e sob o controle de Rozak; nunca lhe passara pela cabeça que pudesse existir um sítio que servisse de abrigo aos seus inimigos...

    Os ogres e os outros monstros viviam no seio da natureza, mas não estavam sós e o rapaz sentiu-se furioso consigo mesmo por nunca ter pensado que os seus adversários também pudessem viver nas Terras Conhecidas. Uma tal negligência podia ter-lhe custado a vida, a si e aos seus amigos; tinham-se aproximado com confiança de todas as cidades e bastava que uma delas fosse inimiga para que os quatro tivessem morrido...

    De certa maneira o jovem via os anões e os elfos como que escondidos perto dos limites do reino, enquanto os bárbaros lhe apareciam como reclusos no extremo norte, o que lhes dava um lado mítico, longínquo, lendário... No entanto era lógico que em cada povo, incluindo os Homens, alguns tivessem decidido juntar-se a Baras, assim como também era lógico que tivessem decidido viver noutro sítio qualquer...

    Pondo rapidamente os seus pensamentos em ordem, Glaide fez uma pergunta que lhe parecia fundamental:

    - Nunca ninguém tentou deter os habitantes deste local? Se se trata da única cidade das Terras Conhecidas que abriga os nossos inimigos, não seria melhor destruí-la?

    - Seria preciso entrar em guerra com eles – respondeu o homem com um suspiro. - Eles são numerosos, estão armados e são bem treinados. Além do mais têm os ogres e todas as criaturas que tu conheces do lado deles. Enfrentá-los não está nos nossos horizontes. Actualmente eles atacam as aldeias próximas para pilhar, roubar ou, simplesmente, matar... Não existe nenhuma... aliás, já não existe nenhuma habitação num raio de várias dezenas de quilómetros em redor...

    Glaide concentrou-se na aldeia, como se quisesse vê-la mais de perto. A sua imagem, porém, permanecia indefinida, longínqua. Em vez de parecer ameaçadora, parecia-se com os outros burgos que o jovem conhecera até então. Mas se Kezthrem o punha em guarda, devia ter boas razões para isso e ele prometeu a si próprio não se aproximar demasiado dela no futuro.

    - Arriscamo-nos a encontrar um dos habitantes daquela aldeia, mestre? - perguntou o adolescente.

    - Se não fizermos muito barulho, correrá tudo bem – respondeu-lhe o seu interlocutor. - Se tivéssemos mais tempo, contornaríamos a Floresta dos Mundos para depois subir para Ojilon, mas temos pressa e o caminho é mais curto se atravessarmos as Terras Conhecidas na diagonal. Sejamos discretos e não nos demoremos.

    Glaide aquiesceu com um movimento de cabeça e os dois companheiros puseram-se em marcha em passo enérgico.

    Algumas horas mais tarde, apesar de a noite ter caído, as duas silhuetas não pareciam decididas a parar. Kezthrem queria afastar-se o mais possível de Zakorth, o nome da aldeia hostil. Glaide, porém, incapaz de manter o ritmo porque já não estava habituado a trajectos longos, sobretudo àquela velocidade, deixou-se cair no chão, exausto.

    Kezthrem virou-se ao ouvir o barulho e o jovem, com medo de o desiludir, tentou levantar-se, mas não conseguiu, as pernas recusaram-se a transportá-lo. Com grande esforço o rapaz sentou-se e não mais se mexeu. O seu mestre deu meia-volta e sentou-se em frente do seu discípulo.

    - Acampamos aqui esta noite, apesar de ter as minhas dúvidas de que o sítio seja seguro – murmurou ele com ar sombrio. - Retomamos a marcha daqui a algumas horas. Aproveita para retomar as forças – acrescentou ele, tirando alguns frutos do seu saco. Glaide comeu-os em tempo record, tal a fome e em seguida, saciado, adormeceu no espaço de alguns minutos apenas.

    katana

    De repente, ainda de noite, o jovem acordou sobressaltado. O seu mestre mexia no seu saco e, apesar de discreto, o barulho bastou para o arrancar do sono. Ao vê-lo de olhos abertos, Kezthrem disse-lhe:

    - Ainda bem que já acordaste! São horas de partir.

    Glaide levantou-se com dificuldade. As pernas ainda lhe doíam, mas conseguiriam transportá-lo, pelo menos durante mais alguns quilómetros, se bem que mais tarde ou mais cedo tivesse de parar de vez, apesar de saber que naquele momento o melhor seria afastarem-se o mais possível de Zakorth. As estimativas de Kezthrem eram, no entanto, pessimistas. O homem achava que precisariam de mais dois dias para saírem de território hostil.

    Porém, Glaide não podia mais e no fim do primeiro dia implorou ao seu mestre que passassem uma noite completa no sítio onde estavam. O homem aceitou contrariado, observando, no entanto, que valia mais levarem tempo a sair daquela zona e serem capazes de lutar, a deixarem-se matar em caso de ataque por razões de fadiga.

    Glaide aproveitou assim, ao máximo, o repouso, mantendo, no entanto, os sentidos alerta. Durante a marcha o jovem dera-se conta várias vezes de que a presença do seu mestre a seu lado era reconfortante; sabia que não arriscava nada enquanto estivesse na sua companhia. No entanto, bem no fundo, uma pequena voz dizia-lhe que mais tarde ou mais cedo acabaria por ficar de novo só ou sob a guarda dos seus companheiros e se se visse obrigado a atravessar aquelas planícies, então a questão seria diferente e por isso afastou aqueles pensamentos sombrios, dizendo para si próprio que, chegado o momento, improvisaria.

    A noite passou-se bem e no início da jornada seguinte os dois viajantes viram-se praticamente chegados ao limite da zona de influência de Zakorth. O repouso pedido pelo adolescente, contudo, retardara-os, ao ponto de terem sido obrigados a passar outra noite em território inimigo.

    Noite que foi encurtada. De madrugada os sentidos dos dois combatentes reagiram de imediato ao som e no espaço de alguns segundos apenas estavam em pé, silenciosos, tentando determinar a origem e a natureza do som que os perturbara, adquirindo rapidamente a certeza de duas coisas: o som era feito por botas, o que queria dizer que se tratava de humanóides e os desconhecidos avançavam em grande número.

    Glaide e Kezthrem não tinham onde se esconder, tinham encontrado apenas alguns rochedos que lhes forneceram abrigo para passar a noite porque, em volta, as planícies dominavam tudo. O esconderijo, porém, permitiu-lhes distinguir os proprietários das botas e apesar da penumbra reconheceram rapidamente um batalhão de ogres. Glaide calculou o número numa meia centena.

    - Não vale a pena ficarmos aqui – murmurou o homem. - Tentemos afastar-nos. Daqui a alguns quilómetros somos capazes de encontrar a civilização e talvez até um esquadrão de soldados.

    O jovem aprovou e, enquanto pegava no seu saco, perguntou a si próprio se o seu mestre estaria em condições de enfrentar tantos adversários ao mesmo tempo.

    Os dois companheiros, enquanto se afastavam, olharam uma última vez para trás e constataram que o grupo se dividira: a maior parte dos monstros tomara a direcção de Zakorth, deixando para trás uma dezena que se dirigia para os dois viajantes.

    Glaide sabia que podia vencê-los e não via razão para fugir, achando, com ódio, que quantos menos, melhor, mas quando se preparava para dar meia-volta, sentiu a mão do seu mestre no ombro. Este, com um sinal de cabeça, intimou-o a segui-lo. O adolescente obedeceu, contrafeito e murmurou:

    - Por que é que não nos desfazemos deles? Os tipos não têm a mínima hipótese!

    - Glaide, nós estamos em território inimigo – replicou Kezthrem com um suspiro. - Não sabemos quem se esconde por aqui. Isto pode ser uma emboscada e o resto da tropa pode estar à nossa espera mais à frente. Lembras-te de te dizer que comprometes a tua vida em cada combate?

    - Claro.

    O homem explicara-lhe que não devia, nunca, subestimar os seus adversários e que devia dar sempre o seu melhor em cada confronto.

    - E que devíamos ser nós a escolher as nossas lutas? - prosseguiu Kezthrem.

    - Sim, sim, lembro-me muito bem – respondeu Glaide, enervado. - E, justamente, quero travar esta. Quem sabe quantas pessoas matarão estes monstros no futuro? Se nos livrarmos deles agora, salvaremos várias vidas!

    - Glaide... - começou o homem, deixando a frase em suspenso ao ouvir um grande barulho.

    Mestre e discípulo olharam em todos os sentidos, à procura da origem do tumulto e de súbito Kezthrem empurrou o jovem para o lado. Este caiu, rolou, pôs-se de novo em pé e viu que no sítio em que estivera poucos segundos antes estava uma clava gigantesca.

    O proprietário não tardou em aparecer e Glaide percebeu com quem tinha de se haver: um troll das planícies, ligeiramente mais pequeno do que o seu homólogo das montanhas e menos ágil, mas mais maciço. A pele não parecia muito resistente e achando que conseguiria trespassá-la sem grande dificuldade, o rapaz decidiu desembainhar a sua espada, em vez de a fazer aparecer directamente na sua mão, já que o som do aço lhe dava coragem, e começou a aproximar-se.

    O monstro hesitou entre o mestre, que estava mais próximo, e o seu discípulo, mas foi aquele que o obrigou a escolher, provocando-o. E assim começou o duelo. O rapaz não teve tempo de contemplar um combate que se anunciava épico porque nas suas costas começou a ouvir-se a gritaria típica dos ogres. Glaide fez volte-face, viu as dez criaturas que Kezthrem recusara defrontar e um sorriso mau apareceu-lhe nos lábios.

    - Finalmente vieram meter-se na boca do lobo – murmurou ele.

    E enquanto o homem se batia contra o troll, Glaide carregava sobre os ogres.

    O combate durou uns bons cinco minutos. De vez em quando o jovem via o seu mestre às voltas com a desmesurada criatura, sem conseguir qualquer vantagem. Por seu lado o rapaz combatia com um frenesim pouco vulgar devido à excitação que sentia por combater ao lado do seu mestre como camarada e não como aluno, cada um com o seu adversário.

    O adolescente abatera metade dos seus inimigos, mas esquecera-se de um elemento que começava a complicar-lhe a tarefa. A fadiga, acumulada ao longo dos dias, começava a fazer-se sentir, ao ponto de o impedir de recuperar o fôlego. Os seus adversários, ao verem naquilo uma fraqueza, atiraram-se a ele com outro ânimo e o jovem começou a sentir o perigo.

    Glaide não conseguia respirar e os golpes não tinham precisão nem força. O jovem conseguiu matar outro ogre, mas já com a cabeça a andar-lhe à roda, a ver estrelas por tudo quanto era sítio e a sentir-se desvanecer. Com os sons a tornarem-se cada vez mais distantes, o rapaz pensou ouvir um ruído surdo no meio da neblina que se lhe apoderara do espírito e de súbito sentiu que o agarravam e o atiravam ao chão. Pouco a pouco Glaide regressou à realidade, tentando ao mesmo tempo recuperar o fôlego e viu Kezthrem ao seu lado, impassível.

    - Pensei... pensei que ia desmaiar – murmurou o rapaz.

    - Faltou pouco.

    O adolescente lançou um olhar em redor e constatou que o ruído surdo fora provocado pela queda do corpo do troll. Havia também dez cadáveres de ogres, obrigando-o a admitir, com um acesso de cólera e sem qualquer sentimento de gratidão, que o seu mestre salvara-lhe a vida.. Por que aquela fraqueza súbita? Por que razão, após cinco minutos apenas de combate, se sentira tão cansado?

    - Porquê? - murmurou ele.

    - Por várias razões – respondeu-lhe o homem, perfeitamente consciente do que dizia o seu discípulo. - Primeiro por combatermos de madrugada, sem termos comido nada e depois porque eles eram oito contra um.

    - Mas durante a batalha com Ydref e Arline combati durante muito mais tempo sem me cansar! Eu...

    Glaide calou-se ao sentir-se desfalecer de novo.

    - Na ocasião – continuou Kezthrem – combatias por razões diferentes: vingar Rackk e provar a ti próprio que eras mais forte. E, mais do que tudo, estavas perfeitamente descansado, o que não foi o caso aqui.

    - Nesse caso, faço o quê? - perguntou o rapaz, na esperança de poder resolver rapidamente o problema.

    - Bem, o problema é o seguinte: a cada golpe que paravas, contraías os músculos todos para encaixar o choque, mas ao fazê-lo perdias a flexibilidade, a velocidade e, sobretudo... a resistência; ficaste com o corpo tenso e começaste a bloquear a respiração, ao ponto de quase asfixiares.

    - E pensava eu que tinha terminado o meu treino... - resmungou Glaide, furioso consigo próprio, percebendo que ainda tinha muito que aprender. Se não ficara tão cansado durante os anteriores confrontos, fora, por um lado, porque tinham sido bastante menos complicados e por outro porque, de facto, não estava cansado.

    No futuro, quantas vezes teria de defender a sua vida sem ter descansado convenientemente? Quantas vezes teria de lutar contra vários adversários ao mesmo tempo? As condições nem sempre seriam as melhores! E estava fora de questão desmaiar. Tinha de trabalhar a resistência; tinha nível técnico suficiente para se bater contra vários adversários, mas faltava-lhe a força física.

    Os dois viajantes continuaram o seu caminho.

    Capítulo 2

    GLAIDE não abriu a boca durante toda a manhã, absorvido nos seus pensamentos, a maioria dos quais virados para o último combate considerado uma derrota, incapaz de encontrar a menor solução, obrigado a resignar-se; por ocasião do confronto seguinte tentaria desenvencilhar-se o melhor possível e se tal não fosse suficiente, continuaria a tentar até conseguir a devida resistência.

    Entretanto a tensão, provocada pela proximidade da zona de influência de Zakorth, começou a desaparecer. Na sua frente, a algumas centenas de metros, via-se uma habitação, sinal de que os habitantes da cidade inimiga não se tinham aventurado até ali. Os dois indivíduos aproximaram-se dela com um grande sorriso nos lábios.

    Enquanto caminhava, Glaide disse para consigo que Kezthrem e ele acabavam

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