Inocente 5: Janeesia: Liga das Inocentes Sábias Profanas
De L.A. Zoe
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Sobre este e-book
Descrição do livro:
Com diploma de Artes Dramáticas na mão, Janeesia visa o estrelato de Hollywood. Enquanto vende inspeções de equipamentos de aquecimento e resfriamento por telefone para pagar suas contas.
Pretendendo obter mais experiência de atuação ela faz um teste pra cada oportunidade de papel que surge.
Mesmo numa peça "experimental" como a Blues da Ilha Deserta, escrita e dirigida pela tirânica Tatum, levando tudo muito a sério.
Janeesia não esperava representar um cacto, mas ainda é uma parte de fala, então ela aceita. Ela planeja brincar sobre isso quando ela aceita seu Oscar.
Ela também não planeja beijar Tatum, entretanto numa festa de elenco, de alguma forma é isso que ela faz. O que leva a uma data "amigável" para assistir a uma ópera - só porque os dois odeiam ópera - e um passeio noturno no calçadão que faz fronteira com o rio Mississippi.
Janeesia realmente se surpreende com o ocorrido naquela noite. Afinal, nunca se identificou como lésbica. O que está acontecendo com ela?
Janeesia também não sabe que Tatum ainda sofre com a mágoa de perder sua namorada mais amada para se casar com um homem, e se automedica em sua depressão com álcool.
Além do mais Janeesia não percebe o quanto o alcoolismo de seu pai perdura assombrando e sua ambição pelo sucesso comercial viola os padrões pessoais de pureza artística e política de Tatum.
Com tantos obstáculos é uma maravilha Janeesia ainda poder representar um cacto na peça de Tatum.
De Que forma elas podem viver este amor?
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Inocente 5 - L.A. Zoe
Inocente 5: Janeesia
Liga das Inocentes Sábias Profanas
L. A. Zoe
––––––––
TRADUÇÃO: OSVALDO CRUZ
ÍNDICE
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capíturo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e oito
Capítulo Trinta e nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e um
Capítulo Quarenta e Dois
Capítulo Quarenta e Três
Capítulo Quarenta e quatro
Capítulo Quarenta e Cinco
Capítulo Quarenta e seis
Capitulo Quarenta e Sete
Capítulo Quarenta e oito
Prefácio da Série Completa
Liga das Inocentes Sábias Profanas
––––––––
A longa mesa coberta por uma toalha de linho adamascada italiana branca acomodava nove lindas moças usando vestidos glamorosos de coquetel.
Dez esplendorosas jovens senhoras contando consigo mesma - Verônica Orlando.
Verônica concedeu ao seu coração alguns momentos para saborear o orgulho de trazer as dez juntas. Era merecedora disso.
O relógio de pêndulo na sala da frente da Suíte Presidencial do Hotel Cromwell Deluxe badalava dez horas da noite.
Um garçom de calça branca e jaqueta de camurça vermelha conduziu um carrinho de serviço de quarto estridente e barulhento, contendo o último dos pratos e talheres do jantar e depois fechou a porta atrás de si.
O ar ainda estava cheirando aos odores do filé mignon, aspargos cobertos de um creme branco com torradas cortadas de amêndoas, salada de ervas ao molho a vinagrete, batata cozida e empada de carne moída com creme chantilly.
Hora de começar.
Antes de começarem a afastar ou beberam muitas taças do incrível champanhe Moet & Chandon, várias garrafas submergiam em baldes de alumínio com gelo.
Veronica Orlando usou o controle remoto para desligar a música de fundo do Concerto para piano nº 1 de Brahms e bateu a tigela de uma colher brilhante contra a borda de seu fino copo de água cristalina.
- Senhoras, senhoras, ela gritou em voz alta, porém em tom suave, em seguida bateu palmas chamando atenção delas.
À esquerda imediata de Verônica, Simone Beverly se endireitou com as mãos no colo, preparada para ouvir Verônica tão atentamente quanto fazia com todos os professores da faculdade. Trajava esmeralda brilhante pretendendo despistar seus olhos verdes, pele clara como leite e longos cabelos ruivos. Perto de um vestido formal o seu era mais conservado do que os outros, estendendo abaixo dos joelhos. Entre o pescoço e a cintura não deixou nenhum centímetro descoberto de pele, exceto antebraços e mãos. No entanto o brilho escarlate de seu batom sugeria paixão reprimida, apesar das características aristocráticas afiadas de seu rosto.
Veronica continuou: - Em uma semana, no próximo sábado à tarde, todas nos formaremos na Faculdade de Belas Artes de Aperfeiçoamento às Meninas da Miss Irene.
Elas carcarejaram por entre os dentes, Verônica fez uma pausa para deixá-las digerir seu texto. Claro que reconheceram o nome original de sua escola. Embora tanto a escola quanto o nome tivessem sido atualizados e modernizados há muito tempo e, desde que um processo da Organização Nacional para as Mulheres (ONM) foi aberto em 1995, os jovens rapazes passaram a frequentar a Escola de Belas Artes Cromwell.
Sentada à esquerda de Simone Beverly, Elena Morales sorriu amplamente da piada. Além de sua incrível beleza, seu bom humor descontraído a fez bem-vinda nos eventos sociais. Possuía o dom de não apenas aproveitar a vida, mas de ajudar os outros a enxergar a piada. Seu vestido amarelo-claro acentuava sua pele morena. Além de inglês e espanhol de nível nativo, ela falava mandarim francês transitável. No entanto, cortou o cabelo num estilo capuz complexo e estranho. Com sua figura larga e curva e seios grandes e altos, Verônica preferia chamá-la de latina
mais romântica e sexy do que a mais politicamente correta hispânica
.
- Somos diferentes em muitos aspectos, todavia em tantos outros mais importantes somos muito parecidas e, ainda assim, diferentes das universitárias comuns da EBAC ou de qualquer lugar.
Ao lado de Elena Morales, Brandy Ewing, em contraste com Elena, Brandy era a mais magra das dez. O vestido de seda pendurado por alças nos seus ombros deveria ter se agarrado a sua figura, porém em vez disso pendia frouxamente, enfatizando quão pequena estrutura óssea Brandy tinha. A cor escura do vestido azul combinava com sua pele de um marrom carregado e, então Brandy parecia quase desaparecer no fundo. Porém era alta, orgulhosa e suas feições tão longas e nobres quanto às de Simone. Muitas vezes sua timidez básica confundia com distanciamento.
- Um estranho olhando em direção a todos nós agora não adivinharia, mas todas nós viemos de origens humildes. Apenas algumas de nós recebemos auxílio financeiro de nossas famílias para frequentar a escola. Obtivemos subsídio relacionado a concessões de bolsas de estudo, empregos a tempo parcial e empréstimos estudantis. Chegar até aqui é, para todas nós, algo de que podemos nos orgulhar.
Alicia Wu sentou-se ao lado de Brandy Ewing. Exceto por suas roupas, ela era uma clássica beleza chinesa com amendoados olhos negros saindo de uma pintura da dinastia Ming. Cabelo preto brilhante que chegava quase até as costas dela, preso por um fecho dourado brilhante. Fazia uso de um pequeno vestido sem ombro preto de pulseiras, iniciando logo acima dos seios descendo até abaixo do meio das coxas lisas. Alicia quase tão pequena quanto Brandy não parecia magra só porque era muito menor, senão por seu corpo magro e curvado, sinuosidades não grandes, porem definitivamente femininas.
- Queremos mais da existência humana. Não ficaremos satisfeitas em apenas trabalharmos por padrão normal. Nosso encontro aqui no luxuoso Hotel Deluxe, vestindo roupas que tivemos que esticar pra alugar simboliza nosso compromisso com o melhor da vida.
Janeesia Williams sentou-se do outro lado da mesa, em frente à Veronica, bebericando champanhe. Era a maior de todas as demais. Não a mais alta e sim, certamente, a maior. Quais anúncios pessoais foram descritos como figura-avantajada
. Embora não se parecesse com Oprah, as pessoas continuavam comparando-a, por causa do tamanho dela e porque Janeesia irradiava muito charme. Elena fez todo mundo parte da festa, Janeesia fez de todas sua amiga pessoal. Sem alças até os tornozelos era seu vestido, fazendo-a parecer uma cantora de tocha de um filme antigo tal qual Lady Day.
- E, naturalmente, desejava muito mais da vida. Incluindo os melhores homens. Os comuns não importam a elas quão bons sejam. Procuramos por homens extraordinários, o melhor disponível talvez pelo privilégio, embora não sejamos interesseiras ainda que tenhamos acesso à boa vida.
À esquerda de Janeesia, a primeira mulher sentada à direita de Veronica que mantinha sua insegurança no comando, estava Cynthia Desperes procurando manter seu rosto corajoso. Num vestido marrom, tão comum que ela podia usá-lo pra fazer compras ou ir à igreja, Cynthia era quem Veronica tinha que oferecer o melhor pra convencê-la a participar.
Cabelos castanhos, olhos cor de avelã figurava Desperes, dotada de tamanho médio, tinha dificuldade em acreditar que os rapazes poderiam achá-la bonita. Não obstante, muita modéstia sua além de seu padrão de qualidade tal e qual leite fresco integral tipo A, a garota americana junto à porta seduzia muitos garotos.
- Somos todas lindas! Todas inteligentes! Todas sofisticadas! Todas ambiciosas! Somos todas trabalhadoras árduas e diligentes! Somos a nata da nata das jovens mulheres americanas!
- Aqui! Aqui! Sarah Khampone gritou enquanto batia a colher contra o copo.
Como se compensando seus avós por terem escapado de um país que poucos americanos ouviram falar – Laos - Sarah era determinada a ter certeza de que ninguém poderia ignorá-la.
Trajava um vestido vermelho de brilho deslumbrante, extremamente pequeno. Realçado de fitas escarlates colorindo seu cabelo preto curto. Sarah bebeu mais do que o resto delas ou aparentava, porque muitas vezes era a agitadora mais barulhenta com o sonoro mixer do barril de chope. No entanto, seu ensaio final sobre Mark Twain rendeu-lhe sua primeira classificação "A" do Professor Kelly, premiado nos últimos cinco anos.
- Orgulhosas permanecemos e ficaremos ainda mais pelo que realizaremos com nossa conduta. Vivemos no melhor momento de sempre pra sermos jovens, vivos e prontos em busca da nossa fortuna.
Ao lado de Sarah Khampone, Katrina Manchester acondicionada no seu vestido azul-celeste, sorrindo de alguma piada particular. Nada e ninguém poderiam impedir suas rodas internas de girar. Especializada em línguas clássicas – latina, grega antiga e hebraica antiga – além de ela possuir qualificações máximas de mestrado e doutorado.
Quando em sala de aula, usava óculos grossos com molduras pouco elegantes não se importando com o resultado da aparência. Contudo, sem as lentes seu rosto largo e suave adquiria uma beleza vigorosa e amigável. Alta e um tanto magra, intimidava garotos sem intenção. O observador que vira seu estilo e óculos de armação dura seria muito recompensado.
Verônica continuou: - Então proponho uma disputa amigável entre nós. Daqui a cinco anos voltamos a esta sala. Cada uma contará sua história e decidiremos quem ganhou. Quem conquistou o coração do melhor homem?
Sentada à direita de Veronica estava Valentina Perez. Trajava um vestido rosa delicioso fisionomia bem mais juvenil que seus vinte e um anos. A figura de uma boneca Barbie Latina. Com seu sorriso doce demonstrava estar mais protegida e imatura das demais, apesar da beleza solene que seus artelhos chamavam-se dedos de um violino. No entanto, sua máscara infantil escondia um núcleo forte como granito sólido. Gostava de festas, entretanto os garotos que imaginavam conseguir facilmente levá-la para sair, logo descobriam o contrário.
- Quais são os nossos critérios para o melhor homem? Simplesmente sete. Ele deve ser obediente, fiel, rico, em boa saúde, bonito, disponível e boa companhia. Amor? Trata-se de querer exigir demais. Se ele é obediente e fiel por amor, isso cumpre minha exigência. O resto vocês administrarão de acordo com suas prioridades da maneira que melhor se encaixar.
Ela própria, obviamente: Veronica Orlando. Servindo-se de um rico vestido roxo real. Alta, esguia com cabelos loiros e olhos azuis. A Boneca Barbie original, todavia estava preparada para conduzir o mundo, se alguém quisesse ser rude e insultar.
Verônica prosseguiu, naturalmente. – Temos outra característica em comum, uma que não é valorizada pela nossa sociedade. Em oposição da maioria das outras universitárias, não entregamos casualmente aos rapazes acesso ao nosso corpo. Não que sejamos entediantes, reprimidas, obedecendo a antiquadas prescrições religiosas. Ou ingênuas e ignorantes. De modo nenhum, somos mulheres modernas que reconhecem nosso valor. Prezamos sobremaneira nossa beleza, para atrair os homens da mais alta qualidade - que preferem damas frescas.
Todas aplaudiram, depois começaram a encher os copos de cristal com champanhe das garrafas conservadas no gelo.
Verônica ergueu o copo repleto de vermelho cintilante.
- Senhoras! Aqui está a Liga das Inocentes Sábias Profanas!
Capítulo Um
A audição
––––––––
Janeesia Williams estava encostada a uma parede do pequeno saguão do teatro torcendo e se contorcendo.
- Odeio leituras frias, ela repudiava. - Eu as odeio! Eu as odeio! Eu as odeio!
De pé ao lado de Janeesia, seu camarada Dougie disse: - Relaxe, Neesi. Não estale corda do seu arco.
Os outros atores que esperavam por sua audição ocupavam a maior parte do piso de madeira de lei polida. Adultos jovens, adolescentes, até mesmo pessoas mais velhas.
Embora o ar-condicionado tivesse soprando muito ar frio, na tarde quente de junho, próximo ao saguão o ambiente tornava-se desconfortável.
Em seu longo vestido de cetim vermelho e saltos altos, Janeesia se sentia muito quente e notável. Todas estavam adequadas ao clima de verão. Ela queria se destacar pretendendo impressionar o diretor. Estilo showbiz.
Numa camiseta e short largos parecia com as outras de corpo inteiro, porém ostentando vermelho Janeesia projetava glamour.
Suas axilas tinham aquela sensação úmida e pegajosa que significava que seu desodorante estava se dissolvendo em transpiração e não poderia estar funcionando.
Nunca lhes permita vê-la suar.
Ainda pior: deixá-los cheirar seu suor.
Dougie entregou-lhe uma garrafa morna encharcada de água.
Ela tomou um gole. - Como está meu rosto? Ela perguntou a Dougie. - Minha maquiagem está escorrendo pela minha garganta ainda?
- Você está bem, pare de se preocupar.
- Nem sei se há algum papel com inclusão de mulheres afro-americanas.
- Se não houver qualquer participação de fala, você ainda pode ser uma portadora de lança, disse ele, usando a gíria literária comum para um personagem pequeno em romance ou peça.
- Obrigado, Dougie, disse Janeesia. - Só meus ancestrais provavelmente não permitiam que mulheres carregassem lanças e caçassem leões. Vou ter que segurar um jarro de água em cima da minha cabeça.
- Você sabe o que eu quero dizer, disse Dougie, mesmo que você seja apenas um rosto no meio da multidão, seja um ótimo rosto no meio da multidão. Declare no seu currículo. Você nunca sabe quem vai estar na plateia te assistindo.
Dougie era baixo e pequeno, porém musculoso de um jeito rijo. Não é grande, contudo encorpado, forte para o seu tamanho. Usava o cabelo loiro quase raspado nas laterais e nas costas, longo o suficiente em cima para ficar encaracolado com estilo permanente, cingindo quatro brincos na orelha esquerda, porém apenas uma na direita.
Sua camisa elástica de malha delineava seu peitoral torácico. Dotado de lábios grossos e sensuais como a boca de um palhaço se curvando para um sorriso do cupido Theda Bara.
Eles se tornaram amigos no decorrer do primeiro ano do curso básico de Drama na Escola de Belas Artes na Cromwell. Desde então ele sempre esteve lá por ela nos bons momentos e nos maus com mais frequência que gostaria de lembrar.
Agora a tinta de seus diplomas de quatro anos mal secara quando partiram juntos para galgar a escada em direção à fama e à fortuna.
Apenas este jogo recordava uma corrida muito pequena nessa escada. O grupo local Mulheres no Teatro - no qual Janeesia planejava se unir de fato em breve, a não ser que soubesse que eles passavam as reuniões discutindo se apoiariam ou não várias ações políticas - patrocinava sua produção alugando o Edifício da Pequena Comunidade Teatral sem ocupação durante o verão.
Ninguém sabia de mais nada, exceto que a peça tinha acabado de ser escrita por um membro do MNT, era experimental
, seja lá o que isso significasse, eles não divulgaram nenhum detalhe.
A peça presumivelmente escrita por um membro do Grupo visando à produção do MNT apresentava papéis femininos, entretanto muitos atores aspirantes também tentavam conseguir qualquer participação masculina, inclusive Dougie.
O grupo Mulheres no Teatro não parecia organizado. Ninguém chegou a abrir o teatro até quinze minutos após o horário de início, publicado para iniciar às dez horas. Os atores sabiam que, se chegassem quinze minutos atrasados para uma audição, provavelmente seriam rejeitados. Os professores de Janeesia e Dougie enfatizaram esses pontos ao dizer-lhes como fazer um teste.
E o MNT falhou em fornecer scripts, então ninguém tinha a menor ideia de qual era a peça ou de quais partes eles queriam testar.
Leitura fria pura.
Dívidas. Se você quisesse ganhar um Oscar, primeiro você teria que pagar suas dívidas.
Janeesia imaginou-se alguns anos no futuro, dizendo a um entrevistador do ENTRETENIMENTO SEMANAL:
Logo depois que me formei na faculdade, tentei um novo jogo tão vanguardista que não permitiria que um público assistisse. Para a audição, usei um longo e brilhante vestido de cetim vermelho numa tarde quente de verão e quase sufoquei na área de espera.
Talvez isso seja em conjunto com a aceitação do prêmio Artista do Ano
De certo haveria uma entrevista na câmera do programa NOITE DE ENTRETENIMENTO. O mundo inteiro riria junto com ela, pois queria esse papel tão desesperadamente que sofria de insolação sem ao menos saber qual era sua participação.
- Devolva-me a garrafa, disse Janeesia a Dougie.
A cada quinze ou vinte minutos, alguém emergiria do auditório com semblante austero, enojado e zangado. No entanto, recusavam-se a responder perguntas dizendo que estavam comprometidas com o sigilo.
- A audição deve ser um verdadeiro aborrecimento, Janeesia comentou com Dougie.
- Todo mundo que sai parece que foram forçadas a comer um prato de vômito de macaco.
––––––––
- Essa é uma expressão bonita, disse Dougie.
- Você deveria ser um dramaturgo em vez disso. Notícia conveniente pra nós, porque significa que elas não participaram, então ainda está aberto para nós.
Na porta, uma mulher com cara de vaca chamava um número, aparentemente ao acaso, não na ordem normal conduzindo um novo ator ao palco.
A próxima pessoa a sair do auditório uma loira na casa dos quarenta num collant laranja brilhante, sussurrou em voz alta: - É uma ilha deserta.
Ilha deserta? Disse Janeesia. - Tipo, Robinson Crusoé? Isto é apenas uma parte. - Você somente conversa consigo mesma, enlouquecendo.
- Talvez seja como a ilha de Gilligan, disse Dougie.
Janeesia admirava o seu senso de humor sarcástico e esperto, contudo nunca sabia quando estava brincando. – Isto é supostamente experimental.
- Ele encolheu os ombros. - Antigo programa de TV experimental.
- Janeesia tentou relaxar e manter um foco interno em sua autoconfiança.
Ela reviu tudo na sua bolsa.
Fotografias três por quatro? Verifica.
Retomar o período para incluir seu papel na peça do semestre final - Sra. Louella Soames na nossa cidade, em Arte Dramaturgia de Belas Artes, grampeado na parte de trás a foto três por quatro? Verifica.
Seu rosto profissional e seu coração de estrela? Verifica.
- Número cinquenta e cinco! A mulher de cara de vaca gritou.
Janeesia, prestes a desmaiar no chão, gritou: - Obrigado, Jesus!
Dougie deu um tapinha no ombro dela. – Cuidado! Vai quebrar uma perna, Neesi.
Janeesia caminhou lentamente pelo corredor até a área entre o palco e as mulheres nos assentos do teatro, concentrando-se para manter equilíbrio, digna e charmosa.
Praticando passear como uma modelo enquanto usava salto alto, Janeesia tinha sido boa nisso, porém não podia esquecer um pequeno deslize no momento de balanço, pois lembraria mais um hipopótamo sobre Rollerblades do que a reencarnação de Bessie Smith.
O ar-condicionado do auditório potente o bastante para esfriar uma casa lotada e uma iluminação cênica brilhante, esfriara as cadeiras quase vazias de um subártico menos cinquenta graus.
As luzes irradiavam para o pequeno X no meio do palco. Atrás nos assentos da primeira fila sentavam-se duas mulheres. Janeesia mal podia vê-las. Sabia que seria pior quando pegasse sua identificação porque estariam além da iluminação.
Uma delas relanceou para Janeesia, depois ergueu as mãos num gesto clássico de consternação dramática. - O que temos aqui? Agora eu vi tudo. Esta não é uma boate dos anos quarenta no Harlem.
- As palavras entraram no coração de Janeesia, porém se recusou a deixar a dor refletir em seu rosto. Por direito estaria justificada em apenas se virar e ir embora, deixando que eles tivessem sua brincadeira estúpida sem insultá-la.
Mas, depois de quatro anos de faculdade, ela entendeu que esses gestos fúteis não conseguiram nada. Desejava ser uma atriz profissional, precisava de uma atitude profissional.
Completaria a audição. Se nada mais, isso lhe daria experiência. Se eles não a quisessem em sua peça, somente faria um teste para o próximo. O que ela faria numa ilha deserta, afinal?
Em poucos anos ela riria deles no NOITE DE ENTRETENIMENTO.
Mantendo seu equilíbrio, ela caminhou até o palco entregando uma foto três por quatro e o currículo a cada uma das duas mulheres. Sorriu e acenou.
- Olá, eu sou Janeesia Williams. É tão bom conhecê-la, disse ela, dirigindo-se a cada uma delas.
Seus professores de teatro disseram que a maioria dos diretores de elenco não queria apertar as mãos. Muitas pessoas, muitos germes, alguns o fizeram.
Mas essas duas mulheres não pareciam amigáveis, então Janeesia continuava sorrindo sem invadir seu espaço.
Uma das mulheres com autoridade estampada tão profundamente em seu rosto que deveria estar no comando, disse: - Onde você conseguiu esse vestido?
Ela sentou-se alto em seu assento, era magra