Moedor de carne
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Sobre este e-book
Os personagens que habitam e narram os contos interagem com as situações banais do cotidiano de forma performática e às vezes, absurda. Fazem isso com naturalidade e tédio. Alguns moram sozinhos em apartamentos, sentem falta de alguém, querem uma motinha com franjas coloridas no guidão ou gostam do cheiro de fumaça. Outros querem companhia para dividir como faxinam a casa, como aprenderam a falar francês ou como fazer um barquinho de papel.
O leitor adquire intimidade e imerge nesse conjunto de particularidades que ao longo da leitura vai se moldando e fazendo sentido.
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Pré-visualização do livro
Moedor de carne - Eduardo Lisboa
Sumário
Moedor de Carne
para Antônio
Cláudia
Alice
e Carolina
Isso é você.
Aquilo é quem você ama.
Esse é o Steven.
Dormir Cedo
Resolvi que era por falta de dormir. Não tinha tempo para que fosse qualquer outra coisa.
Esperei dar oito horas da noite e deitei na cama.
Já estava preparado há uns vinte minutos.
Pensei um pouco sobre os pais que colocam os filhos para dormir cedo. Depois sobre as pessoas que dormem cedo em fazendas.
Percorri todo o meu corpo desativando cada parte e dormi.
Escada
O meu apartamento é alugado. Janelas grandes, todo branco com piso de taco. Dois quartos, mas moro sozinho. Dividia com um amigo que se mudou quando a irmã veio. O prédio é antigo e fica numa esquina. Sete andares, quatro apartamentos por andar. Não tem porteiro, mas tem um síndico que funciona como um. Ele mora no térreo e aos sábados limpa os halls e a escada.
Acordei por volta das nove no sábado. Levantei, fiz uma torrada e um café com leite. Fui para a sala, abri a janela e sentei no sofá.
Espuma entrava por debaixo da porta.
Abri a porta e pisei descalço na espuma.
Era morna.
Fechei a porta atrás de mim e fiquei olhando a espuma descer pela escada.
Encostei na porta e deslizei até sentar na espuma. Com a cabeça, fui me afastando da porta até deitar na espuma. Deslizei até a escada.
Moro no quarto andar e fui assim até o térreo.
Samambaia
Ela chegou em casa um pouco antes do almoço com uma planta no banco da frente.
Chama caideira, não é uma samambaia.
Durante a faculdade trabalhei como seu estagiário. Hoje vim para traduzir um artigo.
Ela desceu do carro e pediu que eu a ajudasse a descarregar a planta. Tirei e coloquei em cima de uma cadeira. As gatas juntaram em volta. Ela comprou naquelas bancas ao longo do muro do cemitério. Disse que passou e lembrou de quando eu disse que queria ter plantas.
Me demonstrei agradecido e fomos almoçar.
No almoço ela me contou sobre um filme que assistiu ontem e que ainda não escreveu o que deveria para o curso de poesia. Deveria descrever um objeto de três formas. Primeiro sem emoção, depois somente com adjetivos e depois como se fosse o objeto.
No fim do dia ela me ofereceu uma carona até em casa que era caminho para a casa de sua mãe. Fui com a planta no colo.
Me deixou em frente ao prédio e partiu.
Pendurei a planta em um gancho na parede perpendicular à janela.