Literatura infantil juvenil – Diálogos Brasil-África
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Literatura infantil juvenil – Diálogos Brasil-África - Cleber Fabiano da Silva
SUELI DE SOUZA CAGNETI
CLEBER FABIANO DA SILVA
LITERATURA INFANTIL JUVENIL:
diálogos Brasil-África
Prefácio
Reginaldo Prandi¹
Estou na posição de quem escuta uma conversa e resolve dar seu palpite, meter o bedelho. Isso mesmo. A conversa é entre Sueli de Souza Cagneti e Cleber Fabiano da Silva, e está toda registrada neste livro. Literatura infantil juvenil: diálogos Brasil-África é um livro que fala de livros, e seu objetivo vai muito além da crítica literária que nos oferece e que, por si só, já mereceria a recomendação de leitura por parte dos que se importam com a arte de escrever tal como é praticada no Brasil.
Literatura infantil juvenil: diálogos Brasil-África trata de livros dirigidos a leitores crianças e jovens e que trazem temas, questões, personagens e situações que falam da nossa condição de país que tem a marca da África decisivamente inscrita na cor de nossa cara, nos liames de nossa cultura, nos passos de nossa história. É, portanto, um livro sobre leituras possíveis que podem ajudar a trazer para a nossa consciência de brasileiros a presença africana que, por séculos, tentamos apagar, esquecer, anular, vitimados que fomos, e em grande medida ainda somos, pela tragédia do preconceito racial, da intolerância à diferença, da negação do outro e da recusa de nossas origens multiétnicas.
É um livro sobre as leituras possíveis que jovens e crianças podem fazer de um Brasil real e de brasileiros que vivem essa realidade. É uma conversa sobre o que nossas crianças e adolescentes podem e devem ler para acessar esse nosso lado africano; mais que isso, para aprender a respeitar e amar um legado negro que está impregnado em tudo o que aqui se faz, quer se trate de música, ritmo, dança, carnaval, teatro, que se trate de romance, poesia, culinária, artes plásticas, lutas marciais, folguedos – para não falar da própria língua que falamos, de gostos que cultivamos, de valores que orientam nossa conduta e até mesmo do jeitinho característico do brasileiro andar. Mesmo quando nossos traços biológicos o negam. Tudo, evidentemente, vivido e sentido sem que tenhamos consciência do quanto africano a gente é. Porque está tudo posto na cultura, que forma nosso espírito, como a genética conforma nosso corpo.
A conversa entre Sueli e Cleber começa, como não podia deixar de ser, comentando a lei que instituiu recentemente a obrigatoriedade, nas escolas de nível fundamental e médio, do estudo da cultura, história e literatura africana e de seus descendentes, as dificuldades de sua efetivação em face de carências de formação docente e falta de material bibliográfico apropriado. Mas não para aí. Trata dos avanços editoriais e de distribuição de livros, de programas de formação de professores e leitores escolares, fala dos livros disponíveis, que, felizmente, são editados cada vez em maior número, mais bonitos e bem-tratados literariamente. Analisa textos e ilustrações, forma e conteúdo. O debate discorre sobre cursos, encontros, oficinas, congressos. O bate-papo se volta especialmente para a necessidade de sensibilização de leitores, professores, escolas e até mesmo autores. A conversa desses dois autores cuida exatamente de sua especialidade: a relação entre o livro e o jovem leitor, e tudo o mais que os envolve. Afinal, eles são do PROLIJ, o Programa Institucional de Literatura Infantil e Juvenil da Universidade da Região de Joinville (Univille), que há quinze anos se dedica a estudar, pesquisar, orientar, reunir e formar especialistas que ajudem os pequenos novos e futuros leitores a gostar de ler e amar os livros. Antes professora e aluno, hoje colaboradores e parceiros, Sueli e Cleber conversam informalmente sobre o que sabem e fazem, como se estivessem numa atividade rotineira do PROLIJ.
A conversa de Sueli e Cleber nos faz lembrar dos tempos em que a preocupação em fazer representar na literatura infantil e juvenil a África, o africano e o afrodescendente era praticamente inexistente entre nós, mais adiante identificando aqui e ali o surgimento de personagens e narrativas negras incipientes mas emblemáticas, até o momento em que já se pode falar de uma literatura temática, específica, que ganha corpo e importância. Em certo sentido, Literatura infantil juvenil: diálogos Brasil-África revela-se também obra importante sobre o pensamento brasileiro, de como o brasileiro pensa seu país e de como isso tem mudado, acompanhando de modo otimista as tendências mundiais de valorização das expressões do pluralismo cultural, étnico, mestiço.
O livro e sua conversa se afirmam como orientação em favor do amor à nossa condição africana, uma arma contra o preconceito racial e cultural de que tanto padecemos. Pois é gostando dos personagens literários negros, míticos ou ficcionais, se divertindo com suas aventuras e compartilhando pela leitura suas ações e pensamentos que a criança e o jovem podem se tornar sensivelmente imunes ao contágio