Adriana Salazar: A pioneira olímpica
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Adriana Salazar - Lenivaldo Aragão
As condições físicas ainda não eram as ideais para entrar numa disputa. Mas ela não dava ouvido às adversidades. Estava dentro da piscina para dar o seu melhor. Era ali que se sentia cada vez mais viva. Era fevereiro de 1985 e as dores no corpo, resquícios de um sarampo pesado, que a manteve um razoável tempo no estaleiro, ainda se faziam presentes. Mas não a tiraram da disputa do Troféu Brasil, uma das competições mais importantes da natação brasileira. O local era o moderno e confortável Parque Aquático Júlio de Lamare, situado no Complexo do Maracanã, no Rio de Janeiro. Como sempre, Adriana Salazar defendia o Clube Náutico Capibaribe. Embora não estivesse cem por cento recuperada, procurou dar o máximo naquela prova.
Aos 22 anos, tinha sede por conquistas. Cada braçada na água carregava o significado mágico da superação. Ela sabia que as outras competidoras estavam inteiras, com os pulmões mais limpos para suportar o ritmo frenético da respiração numa disputa intensa. A sua força, no entanto, a impediu de sentir o mínimo temor. A perseverança foi premiada com o primeiro lugar na prova dos 50m Livre, sua especialidade, para a qual estava treinada e capacitada, apesar de ainda não ter recuperado a condição física por inteiro. Sabia do seu potencial e por isso competiu. O triunfo foi recebido com a sensação de quem se sente realizado pelo cumprimento do dever. As colegas sabiam da condição de fragilidade em que a pernambucana se encontrava, mas não deixaram de reconhecer o esforço e a resignação da nadadora do clube dos Aflitos. Por isso, ainda na piscina não se furtaram aos cumprimentos de praxe. Abraços aos vencedores depois da última batida na água são uma rotina, de acordo com o sentimento ético e desportivo que predomina entre as raias ocupadas pelos competidores. Naquele dia, a satisfação de Adriana ao receber o reconhecimento daquelas que até segundos antes tinham sido suas adversárias, duplicou. Acostumada aos aplausos e aos elogios, todavia, tudo para ela, naqueles instantes de consagração, tinha o sentimento de um grande triunfo e não apenas de uma vitória. Talvez nem todos os que presenciaram a prova soubessem das limitações físicas da pernambucana, cuja enorme satisfação era externada na face.
Adriana poderia ter-se dado por satisfeita com a disputa que terminara de protagonizar. Estava inscrita nos 100m Livre, outra prova que se acostumara a vencer, mas, diante da situação não totalmente favorável em que se encontrava, previa dificuldades. Porém, em momento algum pensou em desistir, porque essa palavra jamais fez parte do seu vocabulário de atleta. Voltou à piscina concentrada na perseguição de mais uma vitória. Se já não estava em perfeitas condições quando mergulhou para a primeira prova, o que dirá para os 100m Livre? Nada de se abater. Estava ainda mais firme. Buscava forças não se sabe de onde. Foi para a briga e terminou na quarta colocação. Estava satisfeita com o desempenho diante das circunstâncias. Ao sair da água, seguiu para os vestiários. Ainda tentando assimilar a história que havia escrito, a nadadora Adriana Salazar recebeu um tapa nas costas de um dirigente da CBDA (Confederação Brasileira do Desportos Aquáticos) e a seguinte sentença: É, já deu!
. Como se o mundo das disputas houvesse chegado ao fim naquele instante.
Para aquela destemida pernambucana, tudo ali estava só começando e não poderia encarar a declaração do dirigente como algo definitivo. A atleta já havia conquistado feitos históricos para a natação de seu estado. Cada conquista era um alimento para a alma. Tornava-a forte e confiante para escrever mais episódios vitoriosos. O já deu
que ouviu soou como um soco no estômago. Daqueles que te deixam sem ar. Mas ela não foi à nocaute. Adriana mostrou seu alto poder de resiliência. Absorveu e o seu efeito colateral foi um estimulante. A nadadora do Clube Náutico Capibaribe se empenhou cada vez mais nos treinos. Queria mostrar a si mesma e às pessoas que acompanhavam sua carreira que poderia alçar voos maiores. Não demorou muito para que ela pudesse dar a resposta. Em fevereiro de 1986, exatamente um ano depois, Adriana estava no Parque Aquático Júlio de Lamare, no Rio de Janeiro, para a disputa do Troféu Brasil de Natação. Depois de nadar os 50m Livre, Adriana viu seu tempo no cronômetro: 26 segundos e 66 décimos. Instantes depois, ouvia o sistema de som do parque aquático anunciar:
— Senhoras e senhores, temos o grato prazer de informar que a nadadora Adriana Salazar acaba de carimbar seu passaporte para o Mundial, na Espanha.
Foi um respiro profundo no mar de felicidade. Embora já tivesse conquistado feitos marcantes, quebrando recordes e levando as cores de Pernambuco para competições intercontinentais, Adriana Salazar enxergava nas suas braçadas a possibilidade de fazer história. A vaga no Mundial revelava a sua força, a determinação e vontade de mostrar que a natação pernambucana era capaz de superar qualquer barreira. O já deu
de um dirigente foi uma mágoa subvertida em energia positiva que resultou na vaga para o Mundial. A lamentação deu vez à glória e a certeza de que teria uma história importante a ser escrita. Foi