Educação e Trabalho: Uma Questão de Competências
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Sobre este e-book
Nas novas formas de organização do trabalho que estão sendo desenvolvidas quando as restrições tecnológicas impedem o encurtamento do tempo de fabricação, o homem tenta imitar o avanço da máquina. Como os controles das máquinas agora são desenvolvidos de forma autônoma, deixam de ser "mudos", portanto "falam", comunicam-se por meios de sinais convencionados. Os trabalhadores passam a ser "equipes-falantes", em oposição ao trabalhador individual "sem-fala", típico do taylorismo.
A passagem do modelo baseado em conteúdo para o modelo de competências faz com que o foco não seja o ensino, mas a aprendizagem; não seja o conteúdo a ser ensinado, mas a competência a ser construída, em contextualização com a realidade. A transferência do "saber fazer" para o trabalho se dá com a apropriação crescente de sua dimensão pensante e das capacidades cognitivas que envolvem forte e intensamente a subjetividade do operário. Nessa dimensão, o "saber do pensar" é transferido para as máquinas que se tornam inteligentes, reproduzindo parte das atividades a elas transferidas pelo "saber pensar" do trabalho. Como a máquina não pode suprimir a competência do trabalho humano, necessita ela de maior interação entre a subjetividade que trabalha e a nova m&aac ute;quina inteligente.
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Educação e Trabalho - Manoel Pereira da Costa
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 do autor
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Aos meus pais, Urias e Maria Aparecida, in memoriam,
sem alfabetização acadêmica, mas sábios pela vida, amigos,
mestres e guias na instigante arte de viver.
À Claudia, minha esposa, companheira de todos os momentos,
com muito afeto, por tornar este livro possível e pelo incentivo a caminhar.
A Carla, Clariana, Fabiana e Bruna, minhas filhas, sempre presentes na ausência,
para mostrar que nossos sonhos podem se tornar realidades.
APRESENTAÇÃO
O livro Educação e Trabalho – uma questão de competências nos leva ao pensamento de Paulo Freire (1996, p. 55): Aqui chegamos ao ponto de que talvez nunca devêssemos ter partido. O do inacabamento do ser humano. Onde há vida há inacabamento. Mas só entre homens e mulheres o inacabamento se tornou consciente
.
Situa-se o livro no campo da educação profissional. Competência remete-nos a pensar em uma nova lógica. Essa mudança de lógica tem consequências importantes na gestão dos recursos humanos, na forma de pensar o transitório e o permanente. O que se pretende é demonstrar os pressupostos teóricos e metodológicos da noção de competência, sua relação com as matrizes do mundo do trabalho e como essa noção é apropriada no Brasil, em especial no seu sistema educacional.
As novas exigências mundiais de concorrência e os sistemas produtivos levam a refletir um padrão de comportamento flexível. Ressalta-se como em nome da flexibilidade o adestramento técnico formata o trabalhador e o transforma num robô em um determinado ponto da linha de produção na matriz taylorista/fordista, em um trabalhador flexível na matriz do modelo toyotista, em multicompetente na matriz neotaylorista e em polivalente na matriz holística. Essa instrumentalização ocorre, também, na educação. A esse respeito, Romão (2002, p. 16-17) afirma:
Há um relativo empobrecimento da Educação, mesmo que considerada na sua dimensão instrumental, quando voltada apenas para os objetivos do sistema ocupacional, qualquer que seja a sociedade, das mais simples às mais complexas. É que os homens e as mulheres de qualquer época não se reduzem a simples agentes do trabalho. Mesmo a politecnia tem um significado mais amplo do que a mera flexibilidade do comportamento produtivo dos trabalhadores.
A noção de competência, dessa forma, passa a ter uma diversidade de interpretações e significados conceituais e, assim, é questionado se se deve educar para o trabalho ou para a vida. Tal questionamento ocorre para os trabalhadores, com maior inovação nos sistemas de automação que ultrapassam a flexibilidade de uma esteira mecânica, feita por veículos elétricos que não são mais guiados por equipes, mas por uma central de computação. Nesse contexto, o paradigma de produção relaciona-se com a competência numa dimensão diferente dos aspectos prescritivos pelo fordismo, pela razão de a formação agora ter que ser não mais para um posto fixo de trabalho, mas para situações polivalentes.
Feitas essas considerações, o propósito que se deseja alcançar com este livro é o discutir a educação e o mundo do trabalho influenciando currículos por competências como elementos de mediação estratégica para propiciar condições ao desenvolvimento cognitivo para a mudança atitudinal e metodológica nas relações entre docente e discente. Pretendo, também, entender como se consubstanciam os itinerários de formação profissional, de indicadores de conteúdo, em função das competências e do perfil desejado numa matriz curricular a ser articulada. Algumas questões precisam ser colocadas, a saber: a do deslocamento do foco do trabalho educacional do ensinar para o aprender o que vai ser ensinado, o que é preciso aprender no mundo contemporâneo e no futuro; como superar, dessa forma, a visão dos conteúdos a serem ensinados para o foco nas competências a serem desenvolvidas e nos saberes a serem construídos. É certo que esses e outros questionamentos têm que ultrapassar o currículo como fim, como conjunto regulamentado de disciplinas. Porém é incerta a sua passagem para currículo como conjunto integrado e articulado de situações-meio pedagogicamente concebidas e organizadas para promover aprendizagens profissionais geradoras de significados para o trabalhador, num contexto no qual a formação por competência situa-se como uma metodologia de formação. São necessárias estratégias para flexibilizar o processo de aprendizagem e a reestruturação da infraestrutura escolar, para se ter a certeza de obtenção dos resultados esperados.
O Ministério da Educação (MEC), baseado na LDB,¹, chegou a um novo perfil para o currículo, apoiado na ideia de currículo por competências. Na óptica do MEC, dir-se-ia que havia um ensino descontextualizado, compartimentalizado e baseado no acúmulo de informações. Ao contrário disso, almeja o Ministério dar significado ao conhecimento escolar, mediante a contextualização; evitar a compartimentalização, mediante a interdisciplinaridade; e incentivar o raciocínio e a capacidade de aprender.
Resulta o presente livro em experiências e vivências no campo de educação profissional, na busca de entender seu direcionamento para competências. Pretende-se, então, mostrar como competência
se apresenta como processo cognitivo e de aprendizagem na escola e no mundo do trabalho, passando pela análise conceitual no contexto internacional e qual a sua influência na educação profissional no Brasil.
Os recortes que fiz para este livro estão circunscritos à perspectiva da pedagogia de competências que privilegia metodologias centradas no sujeito que aprende, que valoriza o docente no papel de facilitador e mediador da aprendizagem, que pretende formar alunos com autonomia, iniciativa e capazes de conduzir sua autoformação e aperfeiçoamento e que enfatiza a importância do planejamento sistemático das atividades pedagógicas realizadas pelos docentes. De acordo com Perrenoud (1999, p. 153), Revolução das Competências
só ocorrerá se, durante a formação profissional, os docentes experimentarem-na pessoalmente. Sem essa experimentação é muito difícil trabalhar na perspectiva das competências. E acrescenta:
Não podemos esperar, no entanto, que tudo fique claro para agirmos. Toda a prática educacional tem por base certas apostas teóricas. Aceitas tais apostas, é importante ganhar o maior número delas. A amplitude das incertezas e a complexidade das noções implicadas não são os menores obstáculos, ao contrário, um dos maiores desafios é conquistar um maior número de parceiros nesta luta e caminhar em conjunto. É necessário coletivizar incerteza, reconhecer os próprios limites e os limites da instituição, e, dentro desses limites, avançar o máximo possível, e só saberemos os limites do possível se tentarmos o impossível.
PREFÁCIO
O bom educador sabe que disseminar o conhecimento é preciso, que democratizar o saber faz parte de sua nobre missão. Escrever um livro é meio estratégico para potencializar o acesso de todos, sem distinção, à formação ou ao aprimoramento cultural, de competências diversas. Manoel Pereira da Costa sabe exatamente como desempenhar esse papel, com a maestria de quem vive da educação, para a educação. Literalmente dono de vasto currículo, que inclui profícua gestão como gerente de Educação Profissional do Senai e à frente da Diretoria de Educação e Tecnologia do Senai e Sesi em Goiás (1999 a 2014), professor Manoel brinda-nos com esta obra, que orgulhosamente descrevemos, em missão confiada certamente por sua enorme generosidade.
De inestimável importância para a Educação Profissional no Brasil, Educação e Trabalho – uma questão de competências, baliza-se nos conceitos constitucionais e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que preceituam
[...] a preparação para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade às novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.
O livro reflete a busca para o ensino de qualidade, em que globalização, competição, reestruturação produtiva, inovações tecnológicas, novas tecnologias organizacionais, novas qualificações, trabalhadores polivalentes, desemprego tecnológico, flexibilização do mercado de trabalho são temas recorrentes. Pauta atual, que denota as grandes transformações que ocorrem nas sociedades e nas economias de todos os países. No Brasil, o paradigma orientador do processo de desenvolvimento, no que se refere à educação, foi o de pouca exigência de escolaridade e de educação profissional. O mesmo não se dá a partir da década de 80 e 90, quando pressões para maior flexibilidade, qualidade e produtividade passaram a exigir competências e capacidade de aprendizado da empresa como um todo. Nesse quadro, não basta mais que o trabalhador saiba fazer
, é preciso também conhecer
e, acima de tudo, saber aprender
para poder ser
.
A educação e a qualificação são os instrumentos importantes para a formação da capacidade competitiva de um país. Além da relevância para a competitividade, a educação básica é condição fundamental não só para formação de trabalhador com consciência de sua cidadania, como também tem impacto decisivo sobre a distribuição de renda. É necessário investir na ampliação da capacitação humana da sociedade, tanto na fronteira do conhecimento, uma vez que a pressão competitiva exige uma dose cada vez maior de inovação, quanto na base da sociedade, já que os novos processos de produção impõem o desempenho de tarefas múltiplas e diversidade de qualificação.
O autor mostra como o foco da integração educação e trabalho se desloca, pois, das qualificações para as competências, ou seja, capacidade e saberes que os trabalhadores revelam ter para resolver situações concretas de trabalho. Implica isso na capacidade para planejar o próprio desenvolvimento na área de atuação profissional. Como as novas formas de organização produtiva são baseadas no trabalho coletivo, em equipes, as competências exigidas para o mundo do trabalho têm de ser múltiplas em conhecimentos e habilidades, flexíveis, para facilitar o deslocamento dos trabalhadores dentro de uma determinada área ocupacional ou, mesmo, de uma área para outra. Assim educação e trabalho
mostram a convergência, não a subordinação, e que o desafio do século