Protocolos de atendimento às vítimas da Boate Kiss
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- Nota: 3 de 5 estrelas3/5Às vítimas que sobreviveram. Suas famílias, parentes, amigos e nós estamos arrastando correntes neste sofrimento, temos agradecer à quem nos guia, fortalece, incentiva, e nos (chama...não) ampara, condus , à recuperação
ao tratamento e a vitória de poder conquistar, agradecer VIDA! VIDA! VIDA!, PROFESSOR FERNANDO NOGUEIRA TROIS. FISOTERAPEUTA DE GRANDES QUEIMADOS DO HPS-PORTO ALEGRE. Muito obrigado.
Pré-visualização do livro
Protocolos de atendimento às vítimas da Boate Kiss - Adriane Schmidt Pasqualoto
Santa Maria, 2015.
Às vítimas do incêndio da Boate KISS.
A todas as pessoas vulneráveis a Acidentes e Traumas.
A todos os profissionais e voluntários envolvidos
que transformaram o luto em luta.
Capa
Dedicatória
Organizadoras
Autores
Prefácio
Apresentação
Protocolo de acolhimento
Protocolo de assistência de enfermagem em pessoas queimadas
Protocolo de assistência psicossocial
Protocolo de atendimento psiquiátrico de vítimas de estresse agudo e pós-traumático
Protocolo de atendimento pneumológico
Protocolo de atendimento neurológico
Protocolo de atendimento fisioterapêutico
Protocolo de atendimento de terapia ocupacional
Protocolo de atendimento fonaudiológico
Protocolo de assistência farmacêutica
Conclusão
Créditos
Adriane Schmidt Pasqualoto
Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutora em Ciências Pneumológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ana Lúcia Cervi Prado
Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Brasília (UNB).
Isabella Martins de Albuquerque
Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Marisa Bastos Pereira
Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UNB) e Chefe da Unidade de Reabilitação do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Renata Mancopes
Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Soeli Teresinha Guerra
Gerente de Atenção à Saúde do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Coordenadora do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA) do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Adriane Schmidt Pasqualoto
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Alessandra Naimaier Bertolazi
Médica. Professora Assistente do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Ana Fátima Viero Badaró
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Ana Lúcia Cervi Prado
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Angelo Batista Miralha da Cunha
Médico. Professor Adjunto do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Arlete Maria Brentano Timm
Enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Arnaldo Teixeira Rodrigues
Médico. Professor Assistente do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Beatriz da Silveira Porto
Médica. Professora Adjunta do Departamento de Pediatria e Puericultura da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Gerente de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Camila Mulazani Maria
Fonoaudióloga. Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Gestão e Atenção Hospitalar da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Camile Alves Cezar
Assistente Social do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA) do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Carla Aparecida Cielo
Fonoaudióloga. Professora Associada do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Caroline Schneider Xavier
Psicóloga do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Cláudia Sala Andrade
Farmacêutica do Hospital Universitário de Santa Maria(HUSM).
Elaine Verena Resener
Médica. Professora Associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Superintendente do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Fábio Vasconcellos Comim
Médico. Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Gabriela de Moraes Costa
Médica. Professora Substituta do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Grazielli dos Santos Lidtke
Médica Residente do Serviço de Pneumologia no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Gustavo Costa Fernandes
Médico do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Helena Carolina Noal
Enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Hilda Elisabeth Gonçalves
Médica do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Isabel Cristina Reinheimer
Farmacêutica. Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Sistema Público de Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Isabella Martins de Albuquerque
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Jonas Alex Morales Saute
Médico do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA - HUSM).
Juliana Maia Borges
Terapeuta Ocupacional do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA - HUSM).
Luiz Nelson Teixeira Fernandes
Médico. Professor Assistente do Departamento de Neurologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Mara Keli Christmann
Fonoaudióloga. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Maria Elaine Trevisan
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Marisa Bastos Pereira
Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Chefe da Unidade de Reabilitação do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Marisdey Parcianello Melo
Assistente Social do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA) do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Melissa Agostini Lampert
Médica. Professora Adjunta do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Melissa Orlandin Premaor
Médica. Professora Adjunta do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Michele Rechia Fighera
Médica. Professora Adjunta do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Mirnan Cândida Noal
Farmacêutica Bioquímica da Prefeitura Municipal de Santa Maria.
Raphael Machado de Castilhos
Médico do Hospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre (GHC).
Renata Mancopes
Fonoaudióloga. Professora Adjunta do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Rodrigo Targa Martins
Médico do Hospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre (GHC).
Salvador Angelo Zambrano Penteado
Psicólogo do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Chefe de Divisão do Cuidado do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Sheila Cristina Ouriques Martins
Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Consultora Técnica do Ministério da Saúde na Área de Neurologia.
Soeli Teresinha Guerra
Enfermeira. Gerente de Atenção à Saúde do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).Coordenadora do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA) do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Suzinara Beatriz Soares de Lima
Enfermeira. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Vice-Diretora de Enfermagem do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Vânia Lúcia Durgante
Enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Vitor Crestani Calegaro
Médico. Professor Substituto do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Ao organizarmos os escritos que ora apresentamos, destacamos como introdução o objetivo de compartilhar saberes a partir de algumas das lições que aprendemos com o desastre vivido em 27 de janeiro de 2013, na cidade de Santa Maria, que marcou não apenas a vida na cidade, mas também a vida em torno do mundo, dadas as proporções que a tragédia do incêndio da Boate Kiss tomou em termos de mortes, repercussões políticas e segurança pública.
Naquele dia contavam-se 234 mortos no local, muitas vítimas hospitalizadas, aproximadamente 600 pessoas atendidas em hospitais, quase uma centena em estado grave e, em poucos dias, totalizavam-se 242 mortes. Um contingente incontável de atingidos a serem atendidos em todos os âmbitos, vítimas diretas do incêndio e milhares de vítimas indiretas às quais se somava o luto pelas perdas prematuras de seus filhos, amigos e familiares. A cidade parou.
A organização da sociedade civil, a força tarefa designada pelas instâncias governamentais e o auxílio de muitas instituições públicas e privadas foram responsáveis pela estrutura de atendimento e socorro às vítimas que se iniciou ainda na madrugada do dia do evento. Foi no maior ginásio da cidade que se concentrou a referência para identificação dos corpos e também onde se iniciou o acolhimento psicossocial com equipes compostas por médicos psiquiatras, assistentes sociais e psicólogos. Juntaram-se às equipes muitos voluntários que colaboravam na organização do velório coletivo e dos processos burocráticos ligados aos óbitos. Nesse dia e nesse local, foi possível vivenciar uma experiência sem igual quanto à capacidade humanitária da sociedade e quanto à força de trabalho dos profissionais de saúde.
Nossa formação tradicional/profissional não nos prepara para esse tipo de acontecimento. Entretanto, como profissionais de saúde, temos o dever de disponibilizar nosso conhecimento e nossas habilidades para o acolhimento da situação e das pessoas nela envolvidas. Tanto assim que as atividades no ginásio contaram com diversos voluntários, entre os quais, a maioria deles, profissionais da saúde, estes que, orientados pelas equipes do Comando de Incidentes, acolheram e ofereceram amparo às pessoas que lá se encontravam. Notadamente os profissionais da área psicossocial tiveram papel fundamental nesse trabalho, desdobrando-se tanto para o atendimento direto das famílias quanto para o matriciamento das demais equipes de saúde que lá atuavam. Considere-se que numa situação de emergência/desastre não existe espaço organizado e nem tempo de atendimento; não se faz terapia e sim acolhimento. Enquanto isso, no espaço hospitalar, incansáveis, os profissionais das diversas especialidades, nas equipes de urgência e cuidados intensivos, lutavam pela sobrevivência dos pacientes.
Concomitante à organização do Gabinete de Crise, assim denominado pelas autoridades, ainda no dia 27, foi aberto o Acolhimento Psicossocial 24 Horas fora do espaço do ginásio utilizando-se o espaço de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para a organização imediata de oito frentes de trabalho assim designadas: Núcleo de Gestão, Equipe de Acolhimento 24h, Equipe de Regulação em Saúde Mental, Apoio aos Familiares nos Hospitais, Apoio às UPAS e ao SAMU, Equipe de Cuidado aos Cuidadores, Equipe de Atenção Psicossocial com Foco na Atenção Básica e Apoio Psicossocial em Ritos e Despedidas. Na atualidade, o movimento do Luto à Luta tenta acompanhar os desdobramentos do desastre, mantém-se a atenção psicossocial e foi fundada a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, a qual mantém uma barraca na praça central da cidade para que a memória coletiva seja da cidade. Aprendemos muitas coisas nesse dia e sobre isso. O que parece é que a população atingida ainda padece de sofrimento intenso, mas encontra conforto e apoio em suas estratégias comunitárias e cotidianas.
Uma segunda fase de atendimento foi se colocando na medida em que os pacientes começavam a ter alta hospitalar. Foi aí que a equipe de saúde preocupou-se com o destino que esses tomariam e as condições em que as altas estavam se dando, o que levava o grupo de profissionais a traçar objetivos para a reabilitação. Considerando-se que os desdobramentos da lesão inalatória não eram de todo conhecidos e que os pacientes necessitavam de atenção multiprofissional não havia como trabalhar de modo diverso que não interdisciplinarmente, sem equipe.
Diante da realidade das altas, pensar na reabilitação tornava-se mandatório. Assim, um grupo composto de profissionais das diferentes áreas da saúde e de diferentes instâncias assistenciais, de ensino e de entidades de classe reuniu-se para propor-se ao trabalho com os gestores das esferas municipal, estadual e federal.
O saldo positivo desse embate resultou na criação do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (CIAVA), o qual se propõe até hoje ao trabalho em equipe multidisciplinar na recuperação da saúde dos jovens atingidos pelo desastre daquela noite.
Considerando que o serviço ficaria sediado no Hospital Universitário da UFSM (HUSM), cada área de especialidade precisou enfrentar um grande desafio inicial: lançar mão do seu referencial técnico para um atendimento rápido e inesperado e para um volume grande de pacientes; cuja resolutividade e encaminhamentos deveriam ser também imediatos. Além disso, tornava-se necessário que as especialidades conhecessem umas as outras, identificando proximidades e diferenças, compartilhando saberes complementares em tempo real e, de fato, trabalhando em equipe, a fim de atingir a integralidade.
Assim, as diferentes profissões se colocaram como integrantes da equipe do CIAVA, trabalhando nos mutirões de atendimento que foram organizados pelo grupo gestor, quando foram realizadas triagens, enquanto o atendimento ambulatorial específico para esse grupo especifico de usuários era estruturado e ofertado regularmente durante três dias da semana.
Além da competência técnica e da atualidade do conhecimento que devem ser compartilhadas com quem ainda não conhece o fazer dos diferentes campos profissionais, foi preciso estar ciente e alinhado aos princípios do SUS e às políticas que alicerçam o atendimento em saúde. É preciso ressaltar também que não é sem embate que se defende o direito à saúde e o direito à integralidade da assistência. Também aprendemos esta