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Do Cultivo de Si ao Mundo Distribuído:: Práticas Políticas em Rede
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Do Cultivo de Si ao Mundo Distribuído:: Práticas Políticas em Rede
E-book256 páginas2 horas

Do Cultivo de Si ao Mundo Distribuído:: Práticas Políticas em Rede

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Sobre este e-book

Do cultivo de si ao mundo distribuído. práticas políticas em rede parte da noção do cuidado de si desenvolvida por michel foucault, cujos desdobramentos das relações de poder e saber implicam a forma como o sujeito contemporâneo, por meio da tecnologia e facilidade de acesso aos dispositivos móveis, pode fazer escolhas que lhe permitem administrar sua vida e influenciar a dos outros. Entretanto, somos suficientemente livres para selecionar o que deve ou não atravessar nossa vida pessoal, social, política e econômica?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de set. de 2020
ISBN9788547341695
Do Cultivo de Si ao Mundo Distribuído:: Práticas Políticas em Rede

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    Do Cultivo de Si ao Mundo Distribuído: - Drica Guzzi

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

    Ao hacker e ativista Aaron Swartz e à

    liberdade da informação na rede.

    (1986-2013)

    Agradecimentos

    Ao Rogério da Costa, orientador de minhas pesquisas de mestrado e doutorado, pelas aulas, indicações de textos que abordamos juntos, conversas e projetos compartilhados para a elaboração deste livro.

    Um agradecimento especial ao Fredric M. Litto, fundador da Escola do Futuro da USP, que sempre me inspirou e incentivou no desenvolvimento de pesquisas e projetos transformadores e me abriu as portas e oportunidades para o mundo digital.

    À Brasilina Passarelli, coordenadora científica da Escola do Futuro da USP, por seu apoio e incentivo na condução de estudos e projetos em comum.

    A todos da Escola do Futuro da USP e, em especial, a toda minha equipe do Lab e do Programa Acessa São Paulo, pela confiança e parceria durante 15 anos de projetos e ações na área de políticas públicas de inclusão digital.

    À minha filha, Nina, pela compreensão da dedicação que a redação deste livro exigiu e por toda a alegria que ela sempre produz em minha vida.

    À minha mãe, por sua generosidade e acolhimento, atendendo às minhas demandas em relação aos estudos de linguagem, ampliando minhas referências pragmatistas e incentivando-me a encarar a ponte entre o cultivo de si e o mundo distribuído.

    Ao Nando, meu irmão querido, por trazer à minha vida leveza, alegria e segurança.

    A toda minha família, pela paciência, força e solidariedade.

    Ao Gu pela força e disponibilidade nos momentos certos;

    Aos queridos amigos L’avenir pela linda amizade de nossos filhos e nossa família ampliada, em especial à Sandra Klinger Rocha, pelo incentivo à publicação deste livro e a tantos outros projetos.

    Ao meu querido amigo Ichiro Takahashi e a todos de nossa open sangha, pela inspiração, amor e reiterada vontade de transformar o mundo.

    Às queridas amigas, lindas e superpoderosas, Graziela Peres e Paula Sá, companheiras de celebrações, viagens e sonhos.

    A todos os amigos, companheiros de trabalho, de pesquisa, do ativismo da cultura digital e político, pela inspiração, inteligência e aprendizado constante , ao HD por sua visão e humor perspicaz, ao Koba pela clareza de suas concepções e ao Leo Ceolin pelas conexões inspiradoras.

    À Denise Damiani, pelas orientações inspiradoras, experiência e capacidade de ação.

    Às parceiras do VoteNelas, pela luta, com afeto, por mais mulheres na política.

    Ao querido Christian Dunker, por nossos encontros sempre produtivos.

    Ao amigo e filósofo Luiz Fuganti, pela abertura ao pensamento nômade, por nossas conversas na série Pensamento, Política e Tecnologias, e por tantas linhas de fuga compartilhadas.

    Ao querido Florestan, por nossas conversas, seus textos e análises críticas e éticas da política e da mídia.

    À Renata Ribeiro e à Luciane Albuquerque pela dedicação e comprometimento. Sem elas muitas coisas deixariam de acontecer.

    Um agradecimento especial ao meu amigo Roberto Martini, que me presenteou com a incrível capa deste livro.

    Agradeço pelo humor inteligente e a ajuda decisiva neste livro à querida Angela Tijiwa, que partilha comigo desta jornada desde seu início, às queridas Cacau Freire, Luciana Keiko, Marina Thomé e ao querido Júlio Boaro, pela perseverança e cumplicidade no uso inteligente dos dados neste livro e na transformação política.

    Agradeço por ter olhos que fazem ver a surpreendente

    escala de cores que me é oferecida para puro prazer.

    Agradeço também por poder ver no rosto das pessoas que conheço,

    conheci ou conhecerei, que cada uma traz uma incrível história

    não apenas de si mesmas, mas também a de seus antepassados.

    Que essa gratidão que sinto seja como um incenso queimando,

    de modo que todos ao redor possam sentir o seu perfume.

    Vuela. Vuela!

    Apresentação

    Humanos e máquinas. Nessa mistura de inteligência e afetos compartilhados, vemos mudar a velocidade e as formas de comunicação que trazem consigo o potencial de transformar a rede em um campo político privilegiado em termos de intervenções sociais, pessoais e de forças econômicas.

    Criamos narrativas, linkamos, expomos opiniões e análises mais profundas; conectamos perfis; habitamos espaços nos quais, aparentemente, nos é permitido fazer escolhas a cada instante.

    Mas até que ponto o fato de bilhões de pessoas poderem usar os dispositivos móveis conectados para acessar notícias e serviços, aprender, ensinar, trabalhar, conversar, enfim, estar em rede e considerar-se bem informado no dia a dia, reflete na configuração da política global contemporânea? Como lidar com a velocidade do big data, o imenso volume e variedade de dados armazenados, que inunda a internet sem cessar? E até onde é possível afirmar que estar em rede tem influenciado na invenção de novas práticas políticas ou de agir politicamente?

    Tais características do estar em rede motivaram as pesquisas realizadas para a elaboração de minha tese de doutorado à época em que se inauguravam, no século XXI, as manifestações de ocupação de redes e ruas que eclodiram no mundo todo nessa mesma época.

    É nesse cenário – o de um mundo mais distribuído e povoado por atuações e mobilizações desterritorializadas – que este livro se apresenta, não para indicar soluções prontas, mas com a proposta de potencializar o uso de ferramentas e dispositivos tecnológicos que contribuam para realçar modos de viver e pensar as práticas de liberdade sob um ponto de vista ético – o cuidado de si –, sem passar necessariamente por crivos institucionais.

    Ao longo do período histórico da democracia representativa, ou desde que o voto universal foi instituído no século XIX, o medo e a desconfiança em relação a eleições e campanhas demagógicas dos candidatos a representante das massas fizeram parte de um embate teórico e político que persiste, com avanços e retrocessos, até hoje.

    Todavia talvez esta segunda década do século XXI seja lembrada no futuro como um período marcado por manifestações de protesto em grande escala, em rede e nas ruas, relacionados com a crise do sistema representativo, midiático, político e econômico mundial, que evidentemente atingiu o Brasil.

    Mas será que a grande maioria das pessoas realmente compreende suas motivações ao emitir suas opiniões, compartilhar suas verdades nas redes e ir às ruas para protestar ou votar?

    Não há dúvidas de que as tecnologias digitais de comunicação são um avanço em termos de democracia, pois, ao se apropriar das ferramentas de ocupação em rede, a população em geral tem a capacidade de se informar e de expressar mais livremente suas opiniões do que em qualquer outro meio de comunicação tradicional. A questão da opinião, em especial a expressão da opinião pública, constitui o fundamento implícito de todas as democracias.

    No momento em que as urnas referendam, por exemplo, a saída do Reino Unido da União Europeia, num continente, e, no outro, elegem Donald Trump para presidente da República – duas posições conservadoras na contramão do que se esperava em termos de avanços políticos, num cenário sem precedentes de eleitores indecisos às vésperas das eleições –, é extremamente necessário retomar algo não muito discutido hoje, mas que merece uma boa reflexão: a questão da formação da opinião na era da internet. A opinião carrega em si uma intenção de racionalidade, quer ser objetiva, quer justificar-se, apesar de se situar no plano emocional e das crenças.

    Sabemos que, assim como não se desvincula uma opinião individual de um afeto, sentimento ou atitude particular, a formação de correntes de opinião é uma atividade política, cujo processo é bastante elaborado e complexo.

    O mundo encontra-se num tempo em que as maiores plataformas do planeta, as que abrigam bilhões de perfis cadastrados, processam uma leitura do big data, por meio dos algoritmos. Se, por um lado, ao realizar o cruzamento de buscas, usos e likes que um usuário faz a todo instante, esse sistema automatizado pode cortar caminhos para os serviços mais utilizados, por outro lado, o mesmo sistema, ao agregar dados e interesses pessoais comuns, acaba encapsulando-nos em bolhas de interação.

    O efeito é claro: o usuário tem a impressão de que suas opiniões estão sempre certas ou adequadas perante uma série de acontecimentos e problemas do mundo, já que suas timelines dos perfis são ocupadas por amigos, noticiários e publicidade que podem compartilhar pontos de vista semelhantes.

    O problema das bolhas é que, por meio de nossas atitudes, baseadas no modo autônomo com que realizamos as tarefas mais simples pela internet, nosso comportamento pode ser psicometrado¹ ou, em outras palavras, sempre que um dedo clica em determinado produto ou serviço, deixa rastros utilizados posteriormente pelos algoritmos e por sistemas que acessem os milhares de bancos de dados para fazer novos cruzamentos, relacionar outras variáveis e posteriormente classificar e identificar perfis específicos e até avaliar que está encontrando as pessoas certas para determinada ação ou as ações certas para determinada pessoa.

    Nesse sentido, é legítimo questionar até que ponto esse mesmo sistema pode acabar agindo e pensando por nós, e influenciar ou formatar nossas opiniões e ações, ao inseri-las em determinadas correntes de opinião, com as quais podemos ter afinidades apenas parcialmente, já que temos múltiplos afetos e nem sempre os compartilhamos, pois dependem também de nosso momento e estado de ânimo.

    Indo um pouco além, haveria algum impacto político causado por uma busca sobre inovações tecnológicas, a compra de um produto de uma determinada marca numa loja virtual, dar um like numa foto postada de uma viagem ao Caribe ou apenas emitir uma opinião qualquer contra ou a favor de uma causa, e assim por diante?

    A questão é que os mesmos algoritmos que servem para a pesquisa do big data passaram a ser utilizados de maneira muito eficiente por influenciadores digitais. A figura desse novo profissional na área de formação de opinião é um agente de ocupação da internet que cresce de maneira exponencial em termos de parcerias tanto para o uso comercial em grande escala quanto para campanhas políticas partidárias ou ideológicas. Celebridades, políticos, autoridades, experts, ativistas de meio ambiente, defensores de animais, terroristas, loucos, jornalistas, no papel de influenciadores digitais, podem estar na lista de favoritos de sua timeline, sem que você ou as pessoas desses grupos tenham optado por isso.

    Esse é um dos usos possíveis da internet e de avanços tecnológicos que não param de acontecer. A cada inovação de ferramentas de comunicação que o mundo distribuído apresenta em termos de ocupação em rede, novos dilemas se seguem.

    Entretanto não se deve atribuir à internet o fato de determinado candidato ganhar uma eleição devido à estratégia de sua campanha plantar fake news² para combater o oponente às vésperas de eleições, deixando-o com maior acesso e visibilidade. Independentemente de tudo, se isso aconteceu, é preciso buscar a reflexão em outros comportamentos da sociedade contemporânea.

    Michel Foucault indica-nos que há muitos fluxos coletivos que ditam nossos ritmos subjetivos, como os de consumo, de arte, científicos, de opinião, que são constantemente modulados e que permitem que as potências midiáticas participem ostensivamente dos processos de formação de uma subjetividade estereotipada em termos de percepções e afecções, o que acaba exercendo controle sobre nossas atitudes.

    É inerente à condição humana desejar pertencer a um grupo, e há um princípio até rudimentar da psicologia social de que ninguém gosta de se sentir rejeitado. A questão é entender até que ponto é preciso fazer ecoar palavras de ordem de grupos majoritários para nos sentirmos pertencentes a um coletivo. Na prática, perguntamos: não há outra forma de participar politicamente de grupos minoritários, porém com força suficiente para ganhar visibilidade política e ajudar a promover transformações de mentalidades mais profundas?

    Grupos de ativistas que se iniciam e se propagam nas redes sociais, como mulheres contra a violência doméstica, assédio e cultura do estupro, de estudantes por melhoria do ensino público, de apoio a refugiados, de prevenção a suicídios, de DIY (faça você mesmo), de causas relativas ao meio ambiente e aos recursos naturais, como o cuidado com a água, a terra e a alimentação, diversidade de gêneros, antirracismo, entre tantos outros, considerados minoritários em termos de participação política, começam a se tornar visíveis a ponto de conquistarem cada vez mais espaço na mídia de massa e consequentemente favorecendo a quebra de preconceitos e estigmatizações.

    No contexto desses agenciamentos micropolíticos, o principal desafio com o qual nos defrontamos e insistimos é a questão básica da aprendizagem e da educação em rede, em que pessoas de todas as idades, nível social e de instrução devem ser convidadas a participar.

    A observação de como nos afetamos pelo mundo a partir de nossos corpos e ideias é o começo de um longo caminho para o entendimento das motivações

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