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Missão justiça
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E-book443 páginas6 horas

Missão justiça

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Sobre este e-book

UMA AVENTURA NÃO OFICIAL DE MINECRAFT
Embarque em uma emocionante jornada que vai muito além do mundo que você conhece. O servidor Elementia do Minecraft foi tomado pelas forças das trevas, e todos os jogadores novatos estão em perigo! Perseguidos e atacados por monstros e jogadores mais experientes, Stan, Kat e Charlie não desistirão até conquistarem liberdade e completarem a missão de salvar o servidor das mãos de um rei tirano.
Todos os dias há novos jogadores no Minecraft. Mas o rei do servidor Elementia decidiu acabar com isso. No próximo Dia da Proclamação, ele decretará novas leis que banirão todos os jogadores de nível baixo, e também aqueles que os ajudarem. O trio de novatos Stan, Kat e Charlie nem imagina as aventuras que os esperam até conquistarem o direito de permanecer na cidade de Elementrópole. No entanto, apesar dos perigos que podem ser fatais, eles decidem trabalhar juntos para desvendar os mistérios de Elementia e liderar a luta por justiça.
Missão justiça é o primeiro da trilogia Crônicas de Elementia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de jan. de 2016
ISBN9788581226330
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    Pré-visualização do livro

    Missão justiça - Sean Fay Wolfe

    jornadas.

    CAPÍTULO 1

    BEM-VINDO AO MINECRAFT

    Estava escuro na Mata Grande. As árvores altas que cercavam a colina florida impediam a visão, e sabe-se lá o que poderia estar à espreita nas sombras. As estrelas ainda brilhavam, porém, o quadrado branco que representava o sol já despontava no horizonte, dando ao céu estrelado um brilho levemente rosado. O uivo lamentoso de um enderman rasgou o silêncio da alvorada. Foi essa cena impactante do servidor Elementia de Minecraft que recebeu o novo jogador no Morro do Spawn.

    Não havia dúvidas de que se tratava de um novo jogador: ele não portava nada nas mãos retangulares e contemplava maravilhado os infinitos cubos de terra, grama e carvalho que compunham a colina e a floresta ao seu redor. Tinha cabelos castanho-escuros, vestia camisa turquesa e calças azuis, a aparência comum de um jogador de Minecraft que ainda não mudou a skin ou a aparência. Era a primeira vez que jogava Minecraft. Ele não tinha como saber, mas não poderia ter escolhido um momento pior para entrar naquele servidor. Seu nome era Stan2012.

    Uau, pensou Stan, enquanto contemplava o cenário matinal. Que fantástico! Tudo é feito de cubos! A terra em que piso, as árvores, até mesmo as folhas! E olhe só aquele rio. Até a água é feita de cubos perfeitos! Será que dá para pegar esses... blocos e usá-los para construir alguma coisa? Mas tem blocos por toda parte! Maravilha! Minha nossa, uau!

    Stan olhou ao redor. Aquele lugar certamente já havia sido visitado por outros jogadores, embora não houvesse ninguém ali no momento. Estava cercado por tochas pixeladas espetadas no chão, e havia também placas e objetos parecidos com baús. Uma das placas dizia para não roubarem as tochas, e outra, que ele estava no Morro do Spawn, por onde todos os novos jogadores entravam no servidor. Uma placa em particular, perto de um baú, chamou sua atenção: Caso nunca tenha jogado antes, pegue um livro no baú.

    Stan foi até o baú e o abriu. Era dividido em compartimentos. Um deles estava cheio de pães, outro havia sido preenchido pelo que pareciam ser espadas de madeira, e o último continha livros. Stan pegou um dos livros e desceu o morro. Sentou-se à margem do rio, pôs-se a balançar os pés na água e estava prestes a começar a leitura quando ouviu um grito às suas costas.

    – Ei, espere aí!

    Contra o azul vivo do céu, podia ver a silhueta do que devia ser outro jogador. Enquanto o estranho descia a colina, Stan observou seus trajes: uma túnica branca muito simples, calças do mesmo tom e botas marrom-escuras. Parecia um homem do deserto. O jogador chegou ao sopé do morro e parou diante de Stan.

    – Oi – cumprimentou ele. – Meu nome é ReiCharles_XIV, mas pode me chamar de Charlie. Nunca joguei este jogo e não faço ideia do que fazer. Você poderia me ajudar?

    – Talvez... Meu nome é Stan2012, mas pode me chamar de Stan. Também nunca joguei, mas ouvi dizer que é legal e que este servidor é excelente para aprender a jogar. Uma das placas lá em cima dizia que este livro ensina o funcionamento do jogo. – Ele exibiu o livro.

    – Muito bem, vamos ler então – sugeriu Charlie. Ele se sentou perto de Stan e ficou ouvindo-o ler em voz alta:

    INTRODUÇÃO

    Bem-vindo ao mundo de Minecraft, novato. Este é um jogo muito divertido, e nele não há objetivos. Você já deve ter visto que o mundo ao seu redor é feito de blocos. Esses blocos podem ser retirados com determinadas ferramentas e então realocados. Depois que tiver um refúgio para se proteger dos monstros da noite, poderá trabalhar durante o dia na construção de estruturas fantásticas. Neste momento, você está no Morro do Spawn, o lugar por onde os novos jogadores entram no jogo. Antes de começar a construir invenções malucas, é bom entrar em uma comunidade.

    Sugerimos que siga a estrada. Ela o levará à Vila Adoriana, uma comunidade dedicada ao treinamento de novos jogadores. Como a viagem dura um dia inteiro, é bom levar uma espada de madeira e dois pães do baú. O pão vai mantê-lo alimentado até chegar à vila, e a espada servirá para se defender dos monstros da noite. Caso não chegue à vila até a hora do crepúsculo, pegue alguns blocos e construa um muro ao seu redor para se proteger dos monstros. Se precisar de alguma informação imediata, este livro está cheio de dados sobre blocos, criação de itens e monstros. Boa sorte, a gente se vê na vila!

    Stan virou a página. Aquele era o fim da introdução. Nas páginas seguintes, havia informações sobre os diferentes blocos e suas propriedades, instruções para fabricar ferramentas variadas e um punhado de verbetes sobre monstros.

    – Você sabia que havia monstros neste jogo? – perguntou Stan, virando-se para Charlie.

    – Bem, ouvi rumores sobre um tal ‘gripe’ ou algo assim, mas achei que fosse mentira.

    – É, vamos torcer para não toparmos com um desses, nem com monstro nenhum. Mudando de assunto, você por acaso viu alguma estrada? Porque meio que gostei da ideia de ir à tal Vila Adoriana.

    – Pois é, devíamos tentar encontrá-la. Mas cadê a estrada? Não estou vendo em lugar nenhum.

    Eles olharam ao redor. Não viram estrada, porém Stan encontrou outra coisa. Sob as sombras das árvores, havia outro jogador. A figura tinha a mesma altura e silhueta que eles, mas não era possível ver seu rosto.

    – Ei, Charlie, olhe ali! Será que ele sabe onde fica a estrada?

    – Pode ser. Vamos lá perguntar.

    Os dois caminharam na direção da figura. Estava escuro, e a folhagem das árvores tapava o sol. Quando chegaram perto, o vulto se virou num gesto brusco e andou na direção deles de braços estendidos.

    – Pronto, ele já viu a gente! Deve nos indicar o caminho! – exclamou Charlie.

    – É... – Mas Stan sentiu que havia algo de errado. O jogador os ignorou até terem chegado bem perto, e só então foi para cima deles com os braços esticados.

    – Charlie, cuidado!

    – Stan? Qual é o proble... Caramba!

    A figura que caminhava na direção deles tinha acabado de passar por um feixe de luz. Estava vestida como Stan, porém sua carne estava pútrida e faltavam-lhe os olhos. A criatura fedia a morte e grunhia. Ela continuava andando na direção de Charlie, que parecia paralisado pelo pânico, com os olhos arregalados. Stan investiu contra o monstro e fez a única coisa em que conseguiu pensar.

    Bateu com o livro na cabeça dele.

    O monstro cambaleou alguns passos, mas permaneceu de pé e logo voltou a andar, desta vez na direção de Stan. O garoto correu, mas o monstro veio logo atrás. Ele saiu da floresta, atravessou o campo e de repente parou. Acabara de notar uma ravina que cortava o campo de um lado a outro. Era profunda, não dava para descê-la. Estava encurralado, com uma queda fatal à frente e um monstro no seu encalço. Temendo morrer antes mesmo de começar a jogar, Stan cerrou os punhos e se virou para o monstro, pronto para lutar. Ao se virar, deparou com outra cena.

    O monstro não o perseguia mais: corria de volta para a floresta, afastando-se dele e de Charlie. A parte mais estranha disso tudo é que sua pele estava fumegando; Stan sentiu o odor pútrido de carne queimada. O monstro grunhia bem alto agora, e o garoto teve certeza de que ele estaria gritando se fosse capaz. De repente, a criatura desabou no chão e ardeu em chamas. Ficou se debatendo até morrer, deixando apenas um naco de carne podre para trás.

    Charlie saiu da floresta e contemplou o naco de carne, em estado de choque. Stan estava igualmente assombrado. Charlie se virou para ele e perguntou:

    – Que bicho era esse?

    – Não sei, cara, mas jogador é que não devia ser.

    – Talvez seja um daqueles monstros que o livro mencionou. Talvez seja o tal ‘gripe’ ou sei lá o quê.

    – Deixa eu ver.

    Stan abriu o livro na seção do bestiário e logo na primeira página encontrou o que estava procurando. Ele leu o verbete escrito ao lado de uma ilustração do monstro que haviam acabado de encontrar.

    ZUMBIS

    Zumbis são criaturas hostis que surgem à noite e nos lugares escuros. Trata-se da criatura hostil mais fácil de derrotar, pois seu comportamento se resume a caminhar na direção do jogador e tentar atacá-lo. Queimam quando expostos à luz do sol. São capazes de quebrar portas e representam a principal ameaça nos cercos a vilas de PNJs (Personagens não jogáveis). Deixam carne podre ao morrer.

    – Então aquilo era um zumbi? E esse troço é para ser o mais fácil de matar? – perguntou Charlie, assim que Stan concluiu a passagem.

    – Parece que sim – respondeu Stan e pegou a carne do chão. – Será que é seguro comer isto aqui?

    – Duvido. – Charlie franziu a testa ao olhar para o naco de carne rançosa. – Vamos ver no livro.

    Após uma breve pesquisa na seção de itens, Stan encontrou a página que descrevia a carne.

    CARNE PODRE

    A carne podre é um item deixado por zumbis e homens-porcos zumbis, encontrado nos templos. Ela é comestível, porém seu consumo é desaconselhado, pois há grande risco de intoxicação alimentar. Seu consumo por cães, contudo, não apresenta riscos.

    – Acho que é melhor não comermos, a menos que estejamos muito, mas muito desesperados – ponderou Charlie.

    – É, tem razão. Além do mais, cada um de nós tem direito a dois pães do baú, mais uma espada. Ela vai ser útil para enfrentar outros monstros que derem as caras.

    – De acordo. Vamos pegar a tralha e ir embora! Ainda está de manhã, temos o dia inteiro para chegar à Vila Adoriana antes que anoiteça e os monstros saiam por aí.

    Os dois jogadores subiram o morro de volta até o baú e pegaram os pães e as espadas de madeira. Então seguiram para o cume do morro e olharam ao redor, até Charlie avistar a estrada. Com os pães no inventário e as espadas na mão, Charlie e Stan pegaram a estrada rumo à Vila Adoriana.

    CAPÍTULO 2

    A PRIMEIRA NOITE

    As árvores ao longo da estrada para a Vila Adoriana haviam sido cortadas, e o caminho estava bastante iluminado. Não havia monstros ali, embora os garotos tivessem avistado alguns na mata. Os zumbis pareciam ser os mais comuns, estavam por todo lado, mas havia também outras criaturas. Charlie apontou para um vulto parecido com um zumbi, talvez um pouco menos corpulento, no fundo da mata, e Stan poderia jurar, pelo que conseguia ver em meio à penumbra, que carregava um arco e uma aljava cheia de flechas nas costas. Ao erguer o olhar para a copa das árvores, ele vislumbrou o brilho dos olhos vermelho-sangue que os contemplavam de cima dos galhos mais altos. Felizmente, nenhuma dessas misteriosas criaturas perseguiu os jogadores.

    – É melhor corrermos para chegar logo a essa vila – disse Charlie, nervoso. – Não quero estar aqui depois que escurecer e essas coisas saírem para caçar.

    Stan concordou com a cabeça, mas então tudo começou a se desencaminhar. A estrada ficou mais confusa à medida que cruzavam a mata, e algumas vezes acabaram pegando, por engano, trilhas secundárias que não levavam a lugar algum. Em um desses caminhos, deram de cara com um zumbi. Com muita dificuldade, Stan e Charlie correram até despistar a criatura.

    O céu começou a ficar com um lindo tom rosado, porém os dois jogadores não podiam parar para admirá-lo. Em vez disso, voltaram à estrada principal após o quinto desvio e não viram nenhum sinal da vila.

    – Acho que é melhor providenciarmos um abrigo para passar a noite – sugeriu Stan. – Podemos levantar um muro de dois blocos de altura, assim teremos uma barreira que os monstros não conseguirão atravessar com facilidade.

    – Tem razão – respondeu Charlie. – Vou pegar alguns blocos de terra. Você pode tentar trazer lenha da mata. Me encontre aqui depois.

    Stan fez sinal afirmativo, e os dois partiram em direções opostas.

    Obter terra foi mais rápido do que Charlie imaginou; após alguns golpes, os blocos se desprendiam, depois era só guardar no inventário. Quando voltou ao ponto de encontro, Charlie já havia preenchido um compartimento inteiro com blocos de terra.

    A tarefa de Stan não foi tão simples; ele tinha que esmurrar cada seção do tronco das árvores por um tempão até conseguir arrancá-las. E aquilo doía.

    – O... que... eu... não... daria... por... uma... serra... elétrica... – resmungou Stan por entre os dentes cerrados, enquanto golpeava o tronco, deixando a árvore suspensa no ar. Ele não demorou a perceber que o Minecraft nem sempre respeitava as leis da física.

    Mais ou menos uma hora depois, os jogadores se reencontraram na estrada e, quando a noite caiu, já haviam construído uma pequena caixa retangular, feita de terra e lenha, com dois blocos de altura de cada lado, sem cobertura. Comeram seu primeiro pão e se encolheram no forte.

    – Prepare-se – alertou Stan. – Os ataques devem começar a qualquer instante. – Charlie engoliu em seco e desembainhou a espada.

    Para sua surpresa, muito tempo passou sem que nada acontecesse. Eles ficaram sentados no abrigo, torcendo para não aparecer nenhum monstro. Às vezes, levantavam a cabeça por cima do muro para garantir que não havia nada, e foi exatamente isto que viram todas as vezes: nada. Quando a meia-lua atingiu o ponto mais alto do céu e Stan estava prestes a dizer que não havia monstros por ali, que eles deveriam desfazer o acampamento e seguir viagem, uma flecha passou assobiando por ele, atingindo sua camisa de raspão.

    – Estão atacando! – bradou para Charlie enquanto uma tempestade de flechas voava sobre suas cabeças.

    Charlie se abaixou, espiando por um buraquinho no muro e identificando a uma boa distância quatro esqueletos, que disparavam flechas contra o abrigo. Um segundo depois, sua visão foi bloqueada pela cabeça de um zumbi, e o garoto pulou para longe do buraco.

    – Zumbis! – gritou Charlie para Stan. – E esqueletos também! Um montão! – Ele espiou por algumas rachaduras nas laterais do abrigo. – Estão por toda parte em volta dos muros!

    Ele tinha razão. De todos os lados, os quatro esqueletos atiravam flechas contra os jogadores, e uns seis zumbis se amontoavam ao redor do abrigo, tentando atravessar as paredes. Mas o pesadelo não acabou por aí.

    – Tssskiii!

    Uma coisa imensa caiu de cima das árvores e aterrissou bem atrás de Stan. Sem nem pensar, ele desferiu golpes de espada para todos os lados com toda sua força. Acabou atingindo o alvo, que caiu para trás, recebeu vários outros golpes e, enfim, morreu. Só então Stan conseguiu ver o monstro, e seu coração disparou aterrorizado.

    Stan contemplava a carcaça da maior aranha que já vira. Olhos brilhantes e vermelhos se amontoavam na cabeça do bicho; o resto do corpo era peludo e tinha uma cor cinza-escura. Fora aquilo que ele vira no alto das árvores durante o dia. O cadáver da aranha desapareceu, deixando um fio de linha no lugar.

    Mais aranhas começaram a despencar das árvores.

    – Charlie! Socorro! – berrou Stan enquanto tentava rechaçar a horda de aranhas com sua espada de madeira. Charlie soltou um grito de terror ao ver o amigo cercado de aranhas e balançou a espada para chamar a atenção delas. No meio do ataque, Stan conseguiu quebrar o galho por onde elas estavam subindo para pular no abrigo, impedindo os aracnídeos de chegar por cima.

    – Não precisamos mais nos preocupar com elas. – Stan suspirou.

    Ele estava muito equivocado. As aranhas passaram a escalar o muro para atacar os jogadores, que se resignaram ao fato de que teriam que combater as criaturas a noite toda. Um de costas para o outro, sacaram suas espadas.

    Foi uma noite longa e árdua; a reserva de aranhas parecia não ter fim, e os garotos não podiam levantar muito a cabeça graças à saraivada de flechas atiradas pelos esqueletos. Milagrosamente, nenhum deles perdeu pontos de vida naquela primeira noite. As aranhas os atacaram, mas Stan e Charlie conseguiram manter os bichos longe e matá-los a golpes desvairados de espada.

    Algumas horas depois, o céu começou a ficar rosado e, por fim, azul. A tempestade de flechas se dissipou. As aranhas pararam de subir pelos muros. Os jogadores estavam a salvo.

    – Que noite longa – resmungou Charlie, recostando-se no muro, cansado.

    – É, também estou a fim de dormir, mas temos que ir logo – respondeu Stan, mal contendo um bocejo. – Temos que chegar à Vila Adoriana antes do anoitecer, ou então enfrentaremos aquele monte de aranhas de novo.

    – Tem razão. É melhor irmos logo. – Charlie se levantou, porém soltou um berro e voltou a se agachar.

    – O que houve?

    – Não olhe por cima do muro. Vá por mim – choramingou Charlie, petrificado.

    Stan espiou por cima do muro. A cena revirou seu estômago.

    A estrada estava coberta de aranhas. Elas andavam para lá e para cá, por toda parte, lutando umas com as outras. Não havia mais nenhum zumbi nem esqueleto à vista. Em compensação, havia tantas aranhas que os joelhos de Stan fraquejaram, e ele desabou ao lado do amigo.

    – Por que elas não estão mortas? – indagou Stan. – Pensei que os monstros queimassem à luz do sol.

    – Parece que as aranhas não. O que faremos? Vamos ter que enfrentar todas? – Charlie examinou as espadas de madeira. Estavam cobertas de entranhas aracnídeas da noite anterior e, por baixo da camada de sangue, dava para ver que não durariam muito tempo. Mais alguns golpes e as espadas ficariam em pedaços.

    – Não é uma boa ideia – avaliou Stan, então algo lhe ocorreu. – Espere, Charlie. Se as aranhas ainda estão aqui, por que não estão subindo pelos muros para nos atacar, como fizeram ontem à noite?

    – É verdade. Será que só atacam à noite? – indagou o amigo, após refletir a respeito.

    – Só tem um jeito de descobrir. – Stan já sabia o que fazer. Ele foi em direção ao muro.

    – Ei, aonde você está indo? – gritou Charlie.

    – Vou ver se essas aranhas vão me atacar se eu sair do abrigo.

    – E se atacarem?

    – Aí já era.

    – Cara, não faça isso...

    – Alguma ideia melhor?

    – Na verdade... não...

    – Foi o que pensei. – Stan pôs-se a escalar o muro.

    – Espere – pediu Charlie. Ele estendeu sua espada para o companheiro. – Leve a minha arma. A sua está quase quebrando e, se tiver que enfrentar todas aquelas aranhas, vai precisar de uma espada.

    – Obrigado. Me deseje sorte – pediu Stan, sua voz traindo o nervosismo. O garoto pulou o muro e cerrou os olhos.

    Não aconteceu nada. Stan abriu os olhos. As aranhas continuavam cuidando das próprias vidas, como se ele jamais tivesse pulado o muro. Nas pontas dos pés, ele passou pelas criaturas, mas nenhuma delas percebeu sua presença. Fez isso o mais rápido que pôde, não queria correr nenhum risco, de modo que só parou quando chegou a um pedaço da estrada que não estava infestado de aranhas.

    – Tudo bem, Charlie, elas não estão agressivas. Pode vir.

    Charlie estava petrificado, suas mãos quadriculares tremiam ao pegar os fios deixados no forte pelos aracnídeos mortos – podiam ser úteis. Ele escalou o muro e passou zunindo pelo bando de aranhas para se juntar ao amigo.

    – Finalmente. – Charlie suspirou. – Ainda bem que acabou.

    – Nos safamos – concordou Stan. – Opa, olhe ali!

    Ele se aproximou de um monte de ossos e flechas empilhados e pegou um dos ossos.

    – Um dos esqueletos deve ter deixado isso cair, depois que começou a queimar à luz do sol. – Ele deu o osso para Charlie. – Será que serve para alguma coisa?

    – Vamos ver no livro – sugeriu Charlie, que agora examinava as flechas. – Procure ossos e flechas.

    Stan abriu o livro na seção itens e leu em voz alta:

    OSSO

    Ao morrer, os esqueletos deixam ossos para trás. Os ossos têm duas funções principais: uma delas é fabricar farinha de osso, e a outra é domesticar lobos, transformando-os em cães. A segunda pode exigir vários ossos.

    FLECHAS

    As flechas podem ser tomadas de esqueletos mortos ou fabricadas a partir de pederneiras, gravetos e penas. Elas servem de munição para arcos e ejetores de redstone. Também são usadas como projéteis por esqueletos.

    – Parece que os ossos vão ser úteis se toparmos com um lobo. E é melhor arranjarmos um arco para usar as flechas – concluiu Stan, fechando o livro.

    Charlie concordou, e os dois voltaram para desfazer o abrigo e guardar os materiais para reaproveitá-los mais tarde. Retomaram a estrada rumo à Vila Adoriana, com a perspectiva de uma viagem tranquila e um dia inteiro pela frente. Tinham acabado de parar para comer o último pão quando algo saltou da mata.

    Tratava-se de um jogador com uma espada em mãos. A lâmina parecia feita de pedra e estava apontada para o peito de Stan.

    CAPÍTULO 3

    MINAS E CREEPERS

    Ojogador tinha um corpo semelhante ao de Stan e Charlie, mas sua aparência era feminina. Seus cabelos loiros se projetavam da cabeça quadrilátera em um rabo de cavalo, e ela vestia uma túnica de couro, short rosa-shocking e sapatos azuis.

    Por que estou reparando nisso? Ela está apontando uma espada para meu peito!, refletiu Stan.

    – Passe todos os itens pra cá – ordenou a garota, sem alterar o tom de voz –, ou seu amigo vai acabar com um buraco no peito.

    Charlie, que até então estivera paralisado de medo, começou a tirar tudo do inventário. Ele depositou no chão sua espada de madeira danificada, um pão, um monte de terra, um naco de carne podre, um osso, cinco flechas, um punhado de lenha e um emaranhado de teias de aranha. A garota os encarava com olhar de desgosto.

    – Eu devia ter imaginado. Vocês dois não têm nada que preste. – Era uma afirmação, não uma pergunta.

    – Não sei. Tenho... isto aqui! – Stan, que até então tinha permanecido completamente imóvel, sacou sua espada num gesto brusco. Aproveitando-se da distração da menina, ele lhe desferiu um golpe no peito, lançando-a para trás. Ela caiu no chão e se encolheu inteira; o ataque não chegara a ferir, mas a armadura de couro se desprendera, revelando uma camisa laranja com um coração rosa-shocking bem no meio, combinando com o short.

    Stan se ergueu sobre ela. Dessa vez, era ele quem lhe apontava a espada. Charlie não demorou a se juntar a ele, imitando o gesto com as mãos trêmulas.

    – Não bancaria a espertinha se fosse você. Somos dois, e você, só uma – bradou Stan, impostando muito mais coragem na voz do que realmente sentia.

    Ela se pôs de pé e, para a surpresa de Stan, assumiu uma postura de desdém.

    – Não se preocupe, não vou tentar nada. Não faria sentido. Matar vocês dois seria moleza, mas não levaria a nada. Vocês não passam de noobs. Não se esqueçam de me avisar quando decidirem se vão me atacar, me deixar ir embora ou sei lá o quê. Vou esperar sentada. – Ao dizer isso, ela se sentou em um toco de árvore, juntou as mãos atrás da cabeça, cruzou as pernas e fechou os olhos, como se estivesse pegando um bronzeado na praia, e não diante de lâminas apontadas para o peito. Stan enrubesceu.

    – Como pode saber se somos novatos? – questionou Charlie em tom desafiador, as mãos ainda trêmulas com a espada em riste.

    – É, e se formos verdadeiros mestres neste jogo e só estivéssemos carregando essas tralhas para enganar gente como você? – vociferou Stan, amargurado.

    Ela abriu os olhos e fitou o rapaz.

    – Em primeiro lugar, vocês estão na estrada que leva à Vila Adoriana, para onde vão os jogadores abaixo do nível cinco. Segundo, se fossem espertos, estariam empunhando suas melhores armas para se defender, agora que o rei decretou a nova lei. – Ela voltou a fechar os olhos.

    – Que nova lei? – indagou Charlie.

    – Terceiro, só sendo noob mesmo para não saber da lei que vai banir do servidor quem morrer, em vez de apenas perder tudo que tem e ser mandado de volta ao ponto de criação, como costuma ser no Minecraft. – Ela tinha repetido o gesto de abrir os olhos e responder à pergunta. Assim que se calou, voltou a fechá-los.

    – Espere um segundo – pediu Stan. – Se você não é novata, o que está fazendo com uma espada de pedra? Pelo meu palpite, eu diria que pedra é uma coisa bem comum por aqui.

    Ela abriu os olhos e fez uma expressão aborrecida.

    – Ah, longa história. Foi tipo a coisa mais idiota do mundo. Eu estava num servidor chamado Johnstantinopla, operado por um cara chamado John, vai entender, e até estava indo bem. Encontrei uma vila de PNJs abandonada, que tinha uma espada de ferro e um monte de maçãs guardadas no baú da forja. Estava matando uns monstros por aí quando um vândalo me pegou pelas costas e me matou! Voltei ao ponto de criação, matei um monte de creepers, juntei areia e fabriquei uma tonelada de TNT, depois troquei uma maçã dourada por bolas de fogo que um cara tinha trazido do Nether e vandalizei a casa do cara que me matou, mandando-a pelos ares! Infelizmente, o cara era o John, o tal dono do servidor, daí ele me baniu. Não é justo! Acabei tendo que entrar neste servidor idiota, não encontro sequer uma vila de PNJ, daí tive que matar um cara que estava dormindo, roubar esta espada tosca de pedra e... vocês não estão entendendo nada do que estou falando.

    Mais uma vez, era uma afirmação, não uma pergunta, e, mais uma vez, era verdade. Os rapazes estavam completamente perdidos, não tinham entendido nada daquele chororô desde que ela mencionara a tal vila de CNPJ ou seja lá o que fosse. Estavam tão aturdidos que a garota se levantou e já estava indo embora.

    – Ei! Aonde pensa que vai? – gritou Charlie.

    – Vou encontrar quem tenha alguma coisa que preste – respondeu ela, caminhando na direção da floresta.

    – Espere aí! – bradou Stan, indo atrás dela. – Por que você não vem com a gente?

    A garota se virou de supetão para ele.

    – COMO É? – gritaram em uníssono ela e Charlie.

    – Você não pode estar falando sério, Stan. Ela acabou de tentar matar a gente!

    – Você acha que vou ficar andando por aí com noobs feito vocês?

    – Ela vai nos trair assim que pegarmos no sono!

    – Se acha que vou proteger vocês, está redondamente enganado!

    – CALEM A BOCA! – berrou Stan tão alto que os dois o obedeceram. – Escute, se atacar gente mais bem armada do que você, vai acabar morta. Venha conosco à Vila Adoriana. Eles vão ajudá-la a conseguir uma nova espada de ferro, depois podemos seguir cada um seu caminho – propôs Stan, fitando a garota.

    Enquanto ela refletia sobre a ideia, Charlie resmungava em protesto, sendo prontamente ignorado por Stan.

    – Certo – decidiu a garota. – Vou com vocês, mas até chegarmos à Vila Adoriana. Depois disso, vão ter que se virar por conta própria.

    – Ótimo – respondeu Stan. Charlie lançou-lhe um olhar de descrença, mas percebeu que o amigo estava decidido e duvidou muito de que mudaria de ideia. – Vamos – prosseguiu Stan. – A estrada é por aqui.

    Ele se dirigiu à estrada, e os outros dois o acompanharam.

    – A propósito, meu nome é KitKat783 – apresentou-se a garota. – Mas podem me chamar de Kat.

    – Eu sou Stan, e ele é o Charlie – replicou o garoto, indicando o amigo que, por sua vez, respondeu com um aceno desanimado. Sem dizer mais nenhuma palavra, Stan pegou a estrada, seguido pelo sorriso debochado de Kat e pela careta de Charlie.

    Eles percorreram o caminho em silêncio. Kat vinha logo atrás de Stan, com Charlie na retaguarda.

    – Não confio nessa garota às minhas costas – sussurrara ele para Stan. Eles continuaram caminhando até meio-dia, quando Stan avistou algo na lateral da estrada e fez um sinal para os companheiros. Era um buraco margeado por pedras, e a escuridão que vinha de dentro se estendia profundamente no subterrâneo. Ele notou que havia manchas negras em algumas rochas.

    – É uma mina! – berrou Kat com empolgação. – Tem minério aí dentro para ser extraído! Vamos entrar!

    – Ficou maluca? – interviu Charlie, ainda irritado por ela ter vindo com eles. – Está um breu lá dentro. Deve estar infestado de monstros.

    – Deixe de ser chorão – zombou Kat. – Está vendo aquela coisa preta? – Ela indicou uma das rochas manchadas de preto. – Aquilo é carvão, que podemos usar para fazer tochas e espantar os monstros à noite. Além do mais, ainda que tenha monstros lá dentro, nós encaramos. Estamos todos armados. Todo mundo aqui é bem grandinho, mas sou a única sem medo de entrar ali.

    Ninguém se dispôs a contrariar a garota. É verdade que Stan ficou um pouco nervoso diante da perspectiva de entrar na escuridão da mina após o episódio das aranhas. No entanto, precisaria de uma arma nova logo, e seria legal ter uma espada de pedra, em vez de madeira, muito embora não fizesse ideia de como fabricar uma. Além disso, ficou intrigado para saber quais outros tipos de minério encontrariam ali. O desejo e a curiosidade venceram o medo, e então ele disse:

    – Beleza, Kat. Também vou.

    – Pensem o que quiserem de mim, eu é que não ponho os pés aí – retorquiu Charlie. – Ainda não esqueci as aranhas. Vou ficar quietinho aqui, muitíssimo obrigado. – Ao dizer isso, foi para o meio da estrada, jogou um bloco de madeira no chão e aboletou-se nele. Por fim, cruzou os braços e ficou encarando Stan e Kat com ar de rebeldia.

    – Certo – disse Stan. – Pode ficar aqui fora. Veja se consegue arranjar mais comida, estamos quase sem. Kat e eu vamos catar carvão, pedra e mais algumas coisas. – Ele se virou e foi na direção da mina.

    – Espere – interrompeu-o Kat, arremessando-lhe um objeto. Ele o examinou e viu que se tratava de uma picareta feita de pedra. Ela ergueu no ar outra idêntica.

    – Extrair minério no braço vai te deixar todo arrebentado, demora pra caramba e não rende quase nada. É melhor usar uma picareta.

    Stan se sentiu um pouco idiota pela ignorância. Entrou na mina, picareta em mãos, seguido de perto por Kat. A primeira parada foi logo onde avistaram a mancha negra. Com a ajuda da picareta, Stan extraiu uma pepita de carvão em questão de minutos. Percebeu que o carvão corria em um veio, e em pouco tempo já havia juntado umas dez pepitas. Ele as levou a Kat, que escavava uma parede de pedra.

    – Muito bem – disse ela. – Deixe-me ver. – Ele lhe entregou as pepitas. Ela tirou alguns gravetos do inventário e os juntou ao carvão para fazer tochas. Cada pepita de carvão rendia quatro tochas, de modo que podiam fazer quarenta.

    – Agora podemos ir até o fundo, onde não bate luz do sol – explicou ela.

    Eles desbravaram a mina, afixando tochas nas paredes à medida que prosseguiam. Stan notou que as tochas se acendiam no instante em que Kat as prendia, não havendo necessidade de fósforos, isqueiro ou coisa parecida. Estranho...

    – Ei, olhe só! – Stan correu até uma mancha negra no chão. – Mais carvão! Vou escavar isso aqui. Você me arranjaria um pouco de pedra para fazer uma espada nova? Para o Charlie também.

    – Pode ser. – Ela começou a bater em um novo ponto da parede, amontoando quantidades imensas de pedra. Stan escavava o veio de carvão. Estava prestes a arrancar a oitava pepita quando Kat disse: – Ei, Stan! Venha cá ver uma coisa!

    O garoto foi até onde ela estava. Kat fizera um estrago e tanto na parede e contemplava um bloco diferente dos outros ao redor. Ele era salpicado por manchinhas semelhantes às de carvão, embora tivessem um tom marrom-claro, em vez de preto. Kat deu um passo atrás.

    – Nunca vi isso antes. Será que é ouro?

    – Talvez seja. Espere aí, acenda uma tocha – pediu Stan. Kat atendeu ao pedido. O garoto pegou o livro e abriu na seção dos blocos. Encontrou a página que descrevia o ouro e mostrou a Kat.

    – Não – concluiu ela. – A cor não bate. O minério de ouro produz manchas amarelas; estas são cor de pele. Dê uma olhada no resto do livro.

    Stan voltou uma página e mostrou a ilustração a Kat.

    – É isso mesmo! – exclamou ela. – Que minério é esse?

    Stan leu em voz alta:

    MINÉRIO DE FERRO

    O minério de ferro costuma ser encontrado em minas e regiões montanhosas. Quando derretido, produz um lingote de ferro.

    Stan ergueu os olhos.

    – Você por acaso sabe o que é um lingote de ferro? – perguntou ele.

    – Olhe no livro – respondeu Kat, dando de ombros.

    Foi o que ele fez.

    LINGOTE DE FERRO

    O lingote de ferro é um material muito usado por artesãos. Costuma ser obtido ao se derreter minério de ferro, mas também é encontrado em baús de masmorras, fortalezas, poços de mina abandonados, templos, vilas de PNJs ou na carcaça de golens de ferro e, raramente, de zumbis. É um item essencial para a

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