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Lucas & Takashimi: e os sentimentos no tempo
Lucas & Takashimi: e os sentimentos no tempo
Lucas & Takashimi: e os sentimentos no tempo
E-book178 páginas2 horas

Lucas & Takashimi: e os sentimentos no tempo

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Sobre este e-book

Uma jornada além da imaginação.

Takashimi é um menino de espírito aventureiro e sonhador que vive no Japão com o pai. Disposto a resgatar sua amiga, que desapareceu num portal mágico em uma loja de eletrônicos, ele descobre um cata‑vento que o leva a Zanadiz, reino dos sonhos e dos sentimentos, repleto de magia e de animais falantes.

Lucas é um impetuoso garoto que vive com os pais artistas no litoral pernambucano. Ele também encontra um cata‑vento, que o conduz a uma jornada jamais imaginada.

Lucas e Takashimi, unidos pelo destino, viverão uma aventura de proporções épicas para impedir que uma terrível ameaça destrua não apenas o mundo de Zanadiz, mas todo o planeta.

Sua imaginação também é um cata‑vento. Apanhe-o e junte-­se aos personagens desta fantástica história de amizade, coragem e redenção.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de nov. de 2020
ISBN9786555610642
Lucas & Takashimi: e os sentimentos no tempo

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    Pré-visualização do livro

    Lucas & Takashimi - Mateus Costa

    Meu pai me pegou na escola um dia e fomos à praia. Estava muito frio para entrar na água, então sentamos em um lençol e comemos pizza. Quando cheguei em casa, meus tênis estavam com areia, e eu joguei a areia no chão do meu quarto. Eu não sabia a diferença. Eu tinha seis anos. Minha mãe gritou comigo por causa da bagunça, mas meu pai não estava com raiva. Ele disse que, há milhões de anos, a mudança da Terra e dos oceanos trouxe aquela areia para a praia, e eu a tirei de lá. Ele disse que mudamos o mundo todos os dias. É algo bacana de se pensar… Quanto tempo eu levaria para levar toda a areia em meus tênis, até que não existisse mais praia? Até que eu fizesse a diferença para alguém? Mas a verdade é que, cada vez que entramos na vida de uma pessoa, acendemos uma faísca. Sempre sendo luz ou procurando ser.

    No Japão, enfrentamos diversos problemas sociais; não é tudo um mar de rosas, como em qualquer outro país, desenvolvido ou não. Temos o lado bom, pessoas respeitosas e cordiais – a cultura oriental estimula isso. O país é lindo e calmo, habitado por gente que em sua maioria pensa igual. Japoneses não nasceram para dar errado na vida, e é possível notar na feição das pessoas o lado obscuro disso: falta contato e um pouco de amor humano. A herança oriental de trabalhar é conhecida no mundo todo pelo detalhismo e eficiência; para citar um pequeno exemplo, em alguns restaurantes a comida é entregue numa bandeja por um carrinho automático – basta fazer o pedido e, quando ele chega na sua mesa, uma garçonete vem até você para verificar se falta algo.

    Todavia, sabe­-se que a terra dos samurais e gueixas é um lugar onde as pessoas trabalham, em média, quatorze horas por dia, muitas vezes em até três empregos. Talvez por alívio ou distração, o hip­-hop, o r&b e as vestimentas peculiares – e até divertidas – infiltram­-se cada vez mais na cultura local.

    Era nesse país que vivia Kojiro, um homem vivido, de quase sessenta anos. Trabalhava meio período no escritório e a outra metade nas ruas como um simples músico amador. Vivia com todos os tipos de instrumento ao seu redor, como saxofone, violão, gaita e bateria. A música lhe trazia paz interior e ele a tocava até dentro de metrôs e ônibus. Havia momentos em que precisava economizar no almoço para comer na janta – tudo isso para trazer alegria e conforto ao seu filho pequeno.

    Sua vida se resumia a trabalho quase cem por cento do tempo, pois foi nele que aprendera a viver, acreditando que, por meio de dedicação e foco, todos os sonhos são possíveis. Ao mesmo tempo, era um homem infeliz no amor. Queria conquistar muitas coisas materiais, e com isso não dava atenção ao seu filho e não tinha tempo para si.

    Em algumas noites e nos fins de semana, ensinava música numa fundação chamada Lugar de Vida, que ele mesmo concebera, para aqueles que não tinham condição de pagar um conservatório mais refinado ou que apreciavam o som por lazer. Ali ele não ganhava um salário exorbitante, dependia das contribuições que os alunos conseguiam dar. Passava horas pensando em composições e melodias novas para seus alunos. Seu dom artístico era algo notável; chegara a se apresentar até em pequenos concertos em Osaka.

    O ano era 2020. Kojiro e seu filho moravam de aluguel, numa casa situada num pequeno barranco, em uma rua sem saída no bairro de Sumida. Sua esposa, Leona, infelizmente falecera já havia cinco anos por conta de um acidente de carro. Nos olhos com bolsas caídas de Kojiro via­-se uma pessoa desacreditada da vida e com inúmeros pesadelos. Não tinha resposta para tudo que seu filho perguntava, sempre se esquivava ou dizia metáforas, não importava onde estava. Acreditava que, assim, o menino buscaria respostas dentro de si.

    Takashimi, seu filho, tinha 11 anos. Menino cheio de vida e vontade, agitado e conectado o tempo todo. Ajudava o pai nos afazeres de casa, sempre com muita alegria e disposição. Ele sabia que ali era o seu lar. Em madrugadas de chuva, o telhado estremecia, goteiras se formavam, seu pai acordava, recolhia as telhas trincadas e tapava as rachaduras da pequena casa com folhagens novas. Kojiro percebia, ao subir as escadas que davam para os quartos, que seu filho estava lá, apoiando­-o moralmente, ajudando a manter o lar seguro.

    O garoto, de vez em quando, ligava a TV, ainda de tubo, e se refugiava nela como um modo de suprir a ausência materna. Viajava a lugares de frio escaldante e temperaturas jamais vistas dentro das reportagens. No seu aniversário de 11 anos, em janeiro, ganhara um binóculo cintilante, com fitas de LED que se acendiam simplesmente com um leve sopro. Descobrira mais tarde que, conforme assoprava, as luzes ficavam mais fortes e seus níveis de aproximação melhoravam. Aquilo era sua diversão para levar à escola e mostrar a todos os seus amigos. Fissurado em matemática – principalmente linguagem binária – e em futebol, tinha diversão garantida nos jogos e enigmas do celular do pai, quando ele o deixava jogar. Vivia resolvendo Sudoku e até assistia a lances de futebol brasileiro, sempre encostado no pufe de estrelas que ficava na sala, na frente do aquário de seu pai. Certo dia, viu um programa brasileiro que mostrava as belezas naturais do Brasil, além do futebol e samba, focando especificamente São Paulo. Ele ficou espantado com o povo brasileiro e seu jeito de se expressar. Ficou curioso para aprender mais, descobrir sobre aqueles estilos bem diferentes, que ali em Tóquio, onde nascera, não existiam habitualmente. Refletindo sobre tudo aquilo, vislumbrou um mundo novo, que teve muita vontade de conhecer.

    Foi assim que teve a ideia de visitar Akihabara, um importantíssimo centro comercial e turístico famoso pelo varejo de eletrônicos e animes. Talvez ali, em meio a tanta variedade, encontrasse alguns cacarecos do Brasil. Existiam camisetas, bandanas, bolas de futebol e amuletos nas lojas; sentia que podia ter conexões com seus programas preferidos de lá, como Lucas Silva e Silva e Castelo Rá­-Tim­-Bum. Talvez ali pudesse ter um gostinho, mesmo que mínimo, do que seria conhecer o Brasil.

    Na casa da esquina morava a sua melhor amiga, chamada Iko. Ah, como era bela a amizade entre os dois. Se conheciam desde pequenos. As artimanhas e traquinagens de ambos eram dignas de um livro. Iko era um pouco mais velha que Takashimi, tinha lá seus 14 anos. Seus olhos eram castanho­-escuros. Trajava­-se como uma garota que gostava de brincar na rua, principalmente com taco. Sempre pedia para sua mãe não jogar as latas de óleo ou refrigerante fora. Ali, junto com Takashimi e outros amigos da rua, os sentimentos de alegria ecoavam por horas e horas. Só que estava crescendo, precisava ajudar seus pais com as contas de casa e tinha cada vez menos tempo para imaginar brincadeiras ao lado de seu amigo.

    No dia 22 de julho de 2020, uma quarta­-feira, os dois foram ao mercado, a cinco quadras dali, logo após o sinal da escola tocar. Takashimi gostava de subir nas costas da amiga, mais alta e mais forte que ele, onde se sentia nas nuvens. Quando não estava nas costas dela, ficava brincando de pisar no pé da garota; e ela ficava furiosa com aquilo, ainda mais num tênis que acabara de sair da vitrine! Os dois, mesmo nas brigas, se entendiam como ninguém. Chegaram ao mercado. Iko apanhou o celular para verificar a relação de produtos que sua mãe pedira, e solicitou que Takashimi a ajudasse. O menino se distraiu e foi parar no setor de bolachas recheadas, tentando encontrar alguma marca nova. Foi quando Iko gritou:

    – Pare, menino, vamos nos concentrar aqui! Já chega, seu pestinha! – Ela bateu o pé no chão e gesticulou com as mãos. – Quando você chegar na rua de casa, vai ver só!

    Takashimi estava com a prova do crime na boca e em uma das mãos. Acabou devolvendo e foi ajudar Iko. Ali não havia mais pessoas trabalhando no caixa, era modernizado, com autosserviço.

    Na hora de pagar, o garoto viu que Iko estava tentando utilizar o cartão do ônibus.

    – Takashimi, por que estamos aqui de novo? Já não fizemos essas compras ontem? – indagou ela, tentando forçar o cartão errado na máquina.

    Takashimi viu aquela cena, confuso, e percebeu que algo em sua amiga havia mudado. Como ela não se lembrava de onde estava? Para piorar, quando ela colocou o cartão correto, estava saindo sem levar nenhuma sacola. Takashimi ficou estático. Iko, uma garota tão cheia de vida, estava mudada e ele não havia percebido quando isso acontecera. Logo imaginou que ela não estava bem e que poderia estar doente de alguma coisa que ele ainda não sabia.

    Resolveu ficar calado e não comentar com ninguém; podia ser apenas um lapso de memória. Dividiu com ela as sacolas e saíram. Ele tentava alcançar a amiga, que já estava uns metros à frente.

    Tique­-taque, tique­-taque, tique­-taque. O relógio parecia estremecer o quarto do menino, indicando o horário de dormir. Eram quase dez horas da noite. Seu pai ainda não tinha chegado da fundação. A barriga do garoto começou a roncar. Foi até a cozinha para beliscar algo antes de cair no sono. Em seguida, deixou uma refeição preparada para Kojiro: um hambúrguer vegetariano dentro do micro­-ondas e um copo de suco de laranja, que o seu pai chamava de elixir favorito. Antes de cair de braços abertos na cama, fez um pedido especial às energias do universo para que curassem sua amiga e lhe mostrassem o melhor caminho para ajudá­-la em formas terrenas. Vestiu sua camiseta amarela preferida, com o número 11 estampado nas costas, indicando um famoso jogador de futebol do Brasil.

    De vez em quando, naquelas noites de solidão, ele ia ao sótão, onde seu pai guardava diversas fitas de vídeo de jogadores famosos da década de 1970. Ele então se imaginava naquele vídeo, tentando imitar um de seus jogadores preferidos. Havia outras coisas bem legais naquele sótão. Alguns itens de pesca, miniaturas de barcos empoeiradas… Ficou curioso e assoprou para saber o que estava escrito em um daqueles objetos, um barco aparentemente pequeno, todo branco e com pequenas listras ao redor. Viu as inscrições Até o mar, profundo mar Rem, sem entender o que significava. Seu pai, além de músico, fora pescador um dia.

    Deitado na cama e perdido nessas divagações, ficou pensando no quanto admirava sua amiga Iko, em como imaginava as iniciais deles gravadas para sempre numa árvore. Seu amor pela amiga era forte, mas ingênuo, puro. Perto de atravessar a ponte para o sono, lembrou­-se do bilhete que deixou para a amiga dentro da sacola de cereais, convidando­-a para ir a Akihabara. Seria um dia legal. Finalmente apagou, adentrando o mundo dos sonhos.

    No dia seguinte, Takashimi e Iko se encontraram perto de um hostel no bairro Nihonbashiko, para então tomarem um ônibus a Shinjuku. O garoto falou, empolgado:

    – E então, Iko, recebeu meu bilhete? Vamos visitar Akihabara? Há novos produtos sobre o Brasil lá, creio que você irá gostar também. – Suas mãos se entrelaçavam de euforia, e seu corpo todo dava voltas para tentar fazê­-la dizer sim.

    – Menino, tudo

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