Mooca: Só quem tem história pode contar
De Beatriz Lia
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Sobre este e-book
Localizada na Zona Leste de São Paulo, a Mooca é um dos distritos mais antigos e queridos da cidade. Com passado operário, no início do século XX, o bairro foi ocupado por imigrantes europeus que deixaram muitas histórias para contar. Por meio de perfis, essa obra pretende narrá-las.
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Mooca - Beatriz Lia
Prefácio
A ideia de escrever um livro sobre a Mooca existe em mim faz tempo. Foi de uma conversa com meus pais, há alguns anos, que me inspirei para a concepção deste projeto.
Os dois se conheceram em um bailinho do bairro, por volta dos anos 1960. Minha mãe, adiantada para a época, foi atrás do meu pai na festa. Depois daquele encontro, nunca mais se separaram. Estão casados há mais de 40 anos.
Assim que ouvi a história, percebi que poderia contar muitas outras sobre um dos distritos mais antigos de São Paulo.
Desde cedo gostei de morar na Mooca. Mas, no começo, não era nada especial. O bairro era seguro e tranquilo, e isto era suficiente para explicar os motivos por não querer me mudar de lá.
A paixão mesmo veio no ano em que entrei na faculdade. Em janeiro de 2016, assisti a um jogo do Juventus pela primeira vez. Os cannoli, a atmosfera, as pessoas, a camisa grená… Finalmente entendi. Eu me sentia em casa.
Descobri, ainda, que a região era tradicionalmente operária. No início do século XX, a Mooca foi destino de imigrantes europeus em busca de melhores condições – afinal era lá que estava localizada a Hospedaria dos Imigrantes. Por conta disto, diversas indústrias se estabeleceram no distrito, dentre elas a Alpargatas (proprietária da Havaianas), União (refinadora de açúcar) e Companhia Antarctica Paulista (atual Ambev).
Por outro lado, a área concentra pontos gastronômicos e culturais, como por exemplo Di Cunto, Javari Streat Park, Casarão do Vinil e até o passeio de Maria Fumaça.
O contato com os colegas da graduação em Jornalismo só reforçou o amor. Os olhos deles esbugalhavam quando eu dizia que vivia na Zona Leste. Porém se explicava que era da Mooca e tudo que tinha ali, suas expressões começavam a mudar.
Cansei-me das vezes que chamei meus amigos para conhecer o Estádio da Javari ou visitar o Museu da Imigração. As desculpas eram sempre as mesmas: Ah, não tenho tempo
. Ou: Ah, é muito longe
– porque o distrito é depois do rio Tamanduateí.
Depois de quatro anos de faculdade, consegui resolver o problema. Unindo o útil ao agradável, transformei as histórias do bairro no meu Trabalho de Conclusão de Curso. Fui aprovada com excelência e ganhei um prêmio da Universidade Presbiteriana Mackenzie pela obra. Agora publico-a, na esperança de demonstrar o carinho que eu tenho pelo bairro.
Espero que você, leitor(a), possa explorar os lugares e personagens da Mooca e sentir o que é fazer parte do distrito mais tradicional de São Paulo.
Gostaria de ressaltar ainda que os encontros relatados neste livro aconteceram em 2019, antes da pandemia mundial de coronavírus. Portanto, em tempos que ainda podíamos aglomerar, beijar e abraçar.
Bom passeio e boa leitura!
Beatriz Lia
Agradecimentos
Agradeço, primeiramente, à Denise Paiero, minha orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo que acreditou no meu potencial e na criação deste livro desde o começo.
Agradeço ao Bruno Leão, diagramador da primeira versão desta obra, que soube traduzir em editoração tudo aquilo que eu queria.
Agradeço à Daniela D’Errico, revisora também da primeira versão, que teve um olhar cuidadoso com este livro-reportagem.
Agradeço ao Morpheu Lyma, fotógrafo caprichoso da imagem inserida na contracapa e de tantas outras utilizadas na divulgação do livro.
Agradeço à Drica Lyma, maquiadora impecável, cujo trabalho se pode ver na minha fotografia.
Agradeço à Andresa Maciel de Queiroz, amiga e ilustradora que conseguiu transformar minha ideia de capa em realidade.
Agradeço a toda equipe da Viseu, editora que abraçou a publicação deste projeto e se mostrou comprometida e responsável com a obra desde o princípio.
Agradeço ao Nicolas Bertoni, meu namorado, motorista, auxiliar de câmera, e meu primeiro leitor.
Agradeço aos meus pais, Rosana Lia e Antonio Munhoz. Sem eles, jamais saberia o que é viver em um dos bairros mais queridos de São Paulo. Também nunca entenderia o que é amar.
E, agradeço a toda espiritualidade por não ter falhado em nenhum momento comigo.
Dedicatória
Dedico este livro ao meu avô, Nelson Soares Santiago.
Vô, lembro-me da correria para imprimir uma cópia sua, afinal, sua idade e estado de saúde revelavam que não teríamos tanto tempo juntos.
Infelizmente não consegui te entregar um exemplar em mãos. Mas sei que em um dos seus últimos dias de vida ainda se preocupou em perguntar sobre os preparativos da obra.
Queria dizer ao senhor que eu consegui!
Espero que eu possa deixá-lo orgulhoso, esteja onde estiver.
Eu te amo muito.
Só quem tem história pode contar
Às 16h35m de uma sexta-feira, a padaria Santa Branca ainda não está tão cheia. Em outros horários, como no almoço ou jantar, corpos disputam o espaço no estabelecimento para pegar a fila do pãozinho, escolher o que vão comer do self-service, e se sentar à melhor mesa.
Naquela tarde, era possível observar um cidadão lendo o jornal com a vista da rua à sua direita. Uma mulher de traços orientais com seu bebê tomando o café da tarde. A família que buscara a filha no colégio e desfrutava de um doce para comemorar o fim da semana. Duas senhoras que aguardavam impacientemente a próxima fornada de baguete. E algumas pessoas apreciando a própria companhia.
Além dos Oi, tudo bem?
e Nossa, como seu menino cresceu
que se ouvia de quem se encontrava na padoca, pedidos eram anotados e pagamentos feitos no caixa: Obrigado. Próximo!
. Também era possível escutar o tim-tim dos talheres e pratos do almoço sendo recolhidos e lavados para a próxima refeição.
A Santa Branca é um lugar de gente diversa, segundo Carlos Alberto da Costa, um dos sócios da panificadora. Alto e encorpado, sua presença é dificilmente ignorada no local. Com seus óculos azuis e algumas rugas que não revelam os 60 e poucos anos, ele comentou que raramente observa os mesmos frequentadores ali.
Eu não sei de onde sai tanta gente… É uma incógnita
, falou.
Cerca de 2 mil pessoas passam pelo estabelecimento diariamente. Ou, pelo menos, passavam antes da pandemia da Covid-19. O movimento tornou-se mais intenso após uma modernização em 2012. Desde então, com a ampliação dos espaços, novos serviços foram oferecidos. São eles: a comida por peso; as sopas tão