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Um País Celta
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E-book145 páginas2 horas

Um País Celta

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Sobre este e-book

Num mundo onde os celtas não perderam para os romanos, hoje em dia e bem escondidos, ainda há druidas e as suas escolas na Europa. Em Paris, Lania, 27 anos, está perdida na vida, com medo dos homens e da sociedade. Ela observa a sua vida de rapariga da cidade perguntando-se para onde terão ido os seus sonhos de infância e a magia que a rodeia. 

Mas Avalonia, a escola das Sacerdotisas de Avalon, não se tinha esquecido disso. Ela decidiu seguir esta espiritualidade feminina onde pensava estudar o Universo e os seus mistérios, mas onde curaria feridas muito mais profundas. Para ela, é agora que tudo começa. A sua vida será transformada por esta viagem, no coração da Europa, no fim do mundo. 

Neste conto iniciático moderno, com três volumes que mudam como as estações do ano, seguem as peregrinações de uma jovem parisiense à medida que aprende sobre a feminilidade sagrada...

IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de dez. de 2020
ISBN9781071579077
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    Um País Celta - Delenn Harper

    PRÓLOGO

    Foi-lhe dito que houve um tempo em que a nação celta era uma só. E a Bretanha, pequena e grande um só continente, um estado em que a mesma língua percorria o país. Atualmente, o continente estava dividido em dois, a Bretanha celtófone tinha sido afrancesada, mas de acordo com os antigos, do outro lado do mar ainda existia essa nação quimérica, a mesma que derrotara César e se retirara para a névoa desde então. Alguns falavam de Britonnia como o paraíso pagão. Outros preferiam mencioná-la como sendo a nação Celta. Tudo o que ela sabia era que, neste reino reunificado, os druidas tinham escolas para estudar e ensinar os seus alunos cada vez mais numerosos. Aos seus olhos, era um país estranho, estrangeiro pelos seus lados com os seus costumes bretões, demasiado higienizado pela religião oficial de um centro francês dominante. Demasiados anos tinham separado os dois continentes, contudo irmãos e, desde aí, das suas crenças, só restavam na Bretanha hábitos patrióticos com o significado primeiro esquecido.

    Quando era criança, tinham-lhe dito que, do outro lado do mar, neste país, os habitantes adoram a Mãe dos Deuses e veneram a terra que os carregou. Esta terra, para eles, era a coisa mais sagrada que era preciso servir e proteger. Também lhe tinham dito que neste país os habitantes amavam a terra e os seus frutos, e que por lá tudo o que envelhecia ganhava mais valor. Nesse passado, no universo em que tinha crescido, os druidas, dolmens, fadas e korrigans faziam parte da herança nacional, do inconsciente coletivo, da alma eterna de um país que partilhava o mesmo solo e alimentava os seus habitantes. As grandes personagens estavam naqueles mitos que eram contados às crianças, para reviver a grandeza de uma nação passada, aos olhos dos herdeiros e aos corações dos pais. De tudo isso, apenas a brisa do mar e as gaivotas a tinham informado. De tudo isso, ela nunca tinha visto a realidade até esta manhã precisa da sua infância, em que foi desde já simplesmente convencida. Tinham-lhe dito que ela pertencia à Bretanha e ela acreditava nisso, porque no próprio dia dos seus sete anos, como todas as outras meninas do seu clã, como sempre foi feito na história bretã, ela foi levada levado aos Anciãos.

    Ela tinha sido trazido para a beira de uma floresta e depois para uma sala escura e redonda. No meio, havia uma fogueira que tentava obstinadamente iluminar o rosto dos seus sequestradores. O ar esfumado picava os seus olhos e exalava um odor incomum, mas ela reconheceu facilmente o lugar como sendo o acampamento de Rouets. O local de encontro tinha sido decorado para a ocasião, mas continuava reconhecível porque ela ia lá sempre com a prima. O chefe do grupo interpelou-a nestes termos.

    — O sangue bretão flui nas tuas veias já há muitas gerações, jovem Lania, começou o primeiro.

    Ele fez uma pausa e deu a palavra a uma sombra que estava por trás do corpo principal do grupo. A sua voz profunda ditou o tom da assembleia:

    — Deves saber que a Bretanha deriva a sua herança das mulheres do nosso país e, portanto, do seu sangue. É por essa razão que estás aqui nesta hora matinal. Sabes o que significa o amanhecer?

    — Não, bem, sim. O amanhecer é quando o sol nasce.

    Ele assentiu e continuou.

    — O amanhecer é o começo. O começo do dia e o começo da vida. O amanhecer traz milhões de possibilidades que se abrem para nós. O amanhecer é a promessa de um novo dia. Ele parou, caminhou até ela e olhou para ela.

    — Tu estás aqui, para prometer à tua vida um novo dia, uma nova possibilidade. Nascemos bretões, mas para nos tornarmos completamente, devemos escolher ser ou não ser. Compreendes?

    — Sim, acho que sim, respondeu ela timidamente.

    — Então, Lania, filha de Katell, do clã Tudwall, como a tua mãe e a tua avó antes de ti, estás pronta para servir a Bretanha, o teu país e a tua terra como à tua vida?

    Lania fitou a sua vizinha do lado com um olhar preocupado, para saber se chegara o momento de responder, pois ninguém a tinha avisado de nada.

    — Estou pronta e prometo, ouviu-se responder com uma voz mais do que febril.

    Então, a pequena Lania como eles a chamavam, sentiu-se de repente a tornar-se grande e responsável, como depois de passar por uma prova difícil. Desde que ela se lembrava, Lania amava o seu país e a sua língua. Ela não era da cor certa, mas Lania era bretã por parte da mãe e, portanto, não podia duvidar da sua naturalidade.

    A mãe de Lania atiçava as chamas, sorrindo ternamente. Os reflexos do fogo iluminavam os cabelos loiros da sua mãe e suavizavam ainda mais os traços do seu rosto. Para comemorar o voto de fidelidade ao seu país, à noite, ela contou-lhe ao pé da lareira, a história do povo da Bretanha:

    — Era uma vez, e uma vez não era, uma história cheia de magia e de bruxos maus, começou ela. A história passa-se nos tempos antigos, quando a Grande e a Pequena Bretanha eram apenas uma só. Em tempos muito remotos, a nossa Pequena Bretanha era uma terra sagrada, tão sagrada quanto a da Bretanha onde reinava o rei supremo, Artur. Nesse tempo, havia uma ilha chamada Sein, que era tão famosa quanto a Floresta.

    — Qual floresta mamã?

    — A Floresta. Antigamente, Lania, a Floresta era um santuário, uma espécie de igreja feita de árvores onde se penetrava com receio ou respeito. No passado, a floresta era admirada e temida por todos. E se por alguns, não o era, é porque eles não a entenderam. Mas, apesar disso, até hoje algumas pessoas ainda vêm vê-la ou apercebê-la. Esta floresta é a Floresta de Brocéliande, mas já há muito tempo que ela adormeceu.

    — Porquê?

    — Porque as pessoas já não veem e já não querem entender os Mistérios. Os Mistérios costumavam fazer vibrar a Floresta, os mesmos Mistérios que as Sacerdotisas da ilha de Sein veneravam.

    — Sacerdotisas?

    — Sim, ouviste bem minha querida, Sacerdotisas. Muito antes da Bretanha conhecer a Virgem Maria, ainda assim se rezava à Nossa Mãe sob outro nome nas ilhas sagradas da Bretanha por mulheres que não eram consideradas santas, mas que eram religiosas à sua maneira. E essas mulheres estranhas que tinham o mesmo conhecimento que os homens assustavam os monges cristãos. Porque naquela época, os monges e os padres cristãos tinham todo o poder e representavam uma nova religião que queriam impor na Bretanha.

    — Mas porque é que eles tinham medo das mulheres, mamã?

    — Porque essas mulheres eram livres. Elas podiam fazer a guerra ao lado dos homens para defender o seu país, elas não pertenciam a nenhum homem, conheciam a medicina das plantas e chamavam pela Lua quando estavam em perigo.

    Ela continuou a atiçar o fogo, como quando abrimos uma ferida antiga.

    — Por querer implantar a sua religião pela força, esses padres que tinham medo do que não sabiam, proibiram todas as outras crenças. Segundo alguns, é lamentável para nós que a França tenha incluído a Pequena Bretanha nas suas fronteiras, porque atualmente, a ilha de Sein está cheia de gaivotas e turistas, e a Floresta adormeceu enquanto espera pelo regresso improvável das suas Sacerdotisas. Mas o Seu espírito continua lá, disse ela, erguendo a cabeça numa explosão de esperança, vigiando os lugares sagrados enquanto esperava que os homens se relembrem dos Mistérios.

    — O que mais faziam as Sacerdotisas da ilha?

    — Nesta ilha foram guardados, ensinados e celebrados os segredos antigos, minha querida. Os que se aprendiam em Avalon.

    Lania ouvia a mãe enquanto bebericava um sumo de maçã quente que ela lhe tinha preparado. As suas mãozinhas gordinhas envolviam a chávena quente e aqueciam-na.

    — Eram chamadas de Sacerdotisas de Avalon porque era aí que ficava a sua escola, mas elas viviam na ilha de Sein, na costa da Bretanha, porque antes de mais, elas eram bretãs. Diziam muitas vezes nessa época que a Pequena Bretanha tinha o seu Avalon bretão, uma ilha onde ninguém podia entrar sem ser convidado ou chamado. E tu, minha filha, disse-lhe ela, enquanto sondava a sua alma jovem olhando-a diretamente nos olhos. Um dia, tu acordarás a Floresta e serás convidada para a Ilha.

    — É verdade? Disse-lhe ela arregalando os olhos, cheia de esperança.

    — Claro que é verdade! Assentiu ela. És descendente de uma linhagem de mulheres que eram todas devotas da Deusa sob todos os Seus diferentes nomes e aspetos. E chegou a sua hora de voltar para a Pequena Bretanha sob o Seu primeiro nome. A cada um o seu destino, minha filha, o meu foi bem diferente. Vai ser difícil, mas nada é fácil, tu sabes. Nos momentos de dúvida, minha pequenina, nunca te esqueças de onde vens, nem quem tu és. E acima de tudo, nunca esqueças o teu nome, minha querida, porque foi Ela quem to deu.

    Os anos passaram desde esse evento, que lhe parecia hoje uma anedota na lembrança enevoada do seu espírito. Lania deixou a Pequena Bretanha para trabalhar e estudar em Paris. Durante anos calmos e felizes, até mesmo ingénuos, esforçou-se por pensar que a sua vida corria bastante bem.

    O calor escaldante do verão ainda estava bem presente e Lania não conseguia encontrar o seu lugar em lado nenhum. Paris parecia congelada no calor do verão e a cidade tornou-se sufocante nesta estação. As férias terminaram e ela teve de continuar a viver, mesmo sem futuro, sem trabalho, sem namorado e sem amigos. Pelo menos, sem a sua antiga vida. Precisava de reencontrar as suas marcas, dizia para si mesma, ela tinha de encontrar os seus pontos de referência naturais nesta vida que já não o era. Algo estava errado, o cenário da sua vida não se encaixava.

    Decidiu partir por alguns dias para a Pequena Bretanha, para rever a sua família e a sua paisagem natal. Alguns Fest Noz mais tarde, a sua vida bretã e seus amigos de infância recuperaram os seus direitos, ela dizia a si mesma que tinha recuperado força suficiente para lutar na selva urbana. Quando um correio estranho chegou para ela na casa familiar. Ela olhou atentamente para o envelope, porque o endereço a intrigava. Segurou o envelope entre os dedos, virou-o e voltou a olhar para ele. Uma corrente de perguntas surgia de cada vez que ela olhava para este envelope. Tudo nele era exótico, ou diferente. O selo, a letra, a forma como o remetente tinha escrito o seu endereço. Mas a coisa mais intrigante era que tudo estava certo.


    Lania, filha de

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