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Curto-Circuito e outras Histórias Geeks
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Curto-Circuito e outras Histórias Geeks
E-book138 páginas1 hora

Curto-Circuito e outras Histórias Geeks

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Sobre este e-book

“Todos temos nossas memórias; o violão ainda cantava...”

Esta coleção de vinte e nove contos de ficção científica tem momentos tanto tocantes quanto humorísticos, e outros que te deixam pensando. Cada um começa aninhado na familiaridade, mas leva o leitor por caminhos inusitados até o inesperado.

Servindo como lembretes pungentes da natureza efêmera da vida e da morte, estas histórias encapsulam o que significa ser humano; ser cativado pela música, pelo amor e pela própria vida.

Escrito como um amoroso tributo ao seu filho, Curto-Circuito: E Outras Histórias Geeks de Kenna McKinnon é um lembrete do legado deixado por um homem notável.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de jan. de 2021
ISBN9781071585610
Curto-Circuito e outras Histórias Geeks

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    Curto-Circuito e outras Histórias Geeks - Kenna McKinnon

    Dedicatória

    Para meu filho, Steven Robert Wild

    8 de abril, 1986 – 21 de setembro, 2012

    Você brilha vivamente em nossas memórias

    1.  O Mar e Seu Violão

    A dor era como música eletrônica em suas tripas, aplacada pela morfina. Ele dormiu até que o amigo o acordou.

    - Seu filho... O rapaz que você nunca conheceu adulto, que fim levou? O neto da sua mãe.

    - Encontrei ele no Brewster faz uns dias.  Ele não me reconheceu. Expliquei que não tinha o que fazer, as ausências, o silêncio, tudo me foi imposto pela família dele.

    - Ele sabe disso?

    - Não sei. Meu filho toca violão, também. E guitarra elétrica. Minha mãe comprou o primeiro violão dele.

    - Muito legal.

    - O violão preto e o Godin são meus.

    - Você tem três amplificadores e um é muito bacana, um Vox vintage dos anos 60 que cê comprou no Craigslist[1].

    - Não, eu peguei no Kijiji.  Moro em Alberta, o Kijiji é grande por aqui.  Peguei um ônibus até o lugar, paguei o cara em dinheiro vivo, no ato.

    - Maneiro, o Vox.

    - Eu vejo os pôsteres, consigo espiar a rua e o sol pela janela quando a cortina tá aberta, como agora.

    - Você tá a quilômetros do mar, mas eu vejo seus vídeos de mar preferidos na Netflix, Van Gogh e O Grito na parede da sua sala.

    - Sim, gosto do mar e do Grito. Gosto das estrelas. Minha irmã mora em Vancouver. Fomos ver as baleias algumas vezes; tiramos muitas fotos incríveis, e vimos o Aquário. As águas-vivas são minhas prediletas, tem cores e formatos lindos.

    - Você quer voltar lá um dia? Morar lá?

    - Perto demais da falha geológica e longe demais de casa. Sou caseiro.

    - Que pena. O mar é nosso amante.

    - Sim. Música é nossa amante também. As estrelas e O Grito.

    O amplificador Vox de cor creme ficava no canto, ignorado pelo neto depois que seu pai se cercou com o oceano; com o mar escuro e agitado e a música, mergulhou na noite do submundo e nadou até o outro lado do Universo, onde as estrelas ardem e o Grito foi deixado para trás.

    - Tenho as minhas memórias - disse o filho do pai enquanto recusava uma foto recente do jovem bonitão, nos seus quarenta anos, a face, iluminada, os olhos, sábios e humorados.

    Todos temos nossas memórias, o violão ainda cantava - seu violão acústico preto, em particular, cantava nas mãos do amigo, que moderou a celebração da vida do falecido quando o mar e a Luz o reivindicaram novamente, de volta ao seio da Inconsciência, livre da dor.

    2.  Um Encontro Clássico

    Ela chegava aos vinte e nove anos naquele ano, em setembro de 1974, e também cedo para a primeira aula da manhã. Sentou-se na primeira fila, virada para a direita, na direção da qual a professora veio, entrando pela porta.

    - Uma mulher é como uma rosa - disse a professora, se debruçando no púlpito e lendo uma obra grega.

    Alegria intermitente - aflição intermitente - se seguiram pelos próximos trinta e nove anos. Maridos intervenientes, filhos, guerras e política. A aluna valorizava o pensar; a professora valorizava a carreira acadêmica. Aquela que valorizava o pensar se enroscou nos próprios sentimentos. Aquela que valorizava os sentimentos foi atraída por uma profissão que valorizava o pensar.

    Afrodite (Vênus) e Atena entraram numa corrida para ganhar uma maçã dourada do belo Páris. Afrodite ganhou.

    Não há escapatória de Afrodite, a deusa do amor, nem mesmo para Atena, que nasceu, sábia, da testa do pai, Zeus.

    Ambas gentis e amáveis mulheres. A professora e a aluna.

    Ambas tiveram filhos bonitos e filhas lindas. As joias da coroa de suas vidas.

    As joias, à medida que envelheceram, e a maçã, passaram para outras mãos.

    3.  Um Caubói em Maidenhead

    Abaixo da curva de seu chapéu de caubói, o rosto afro-canadense de Ross Graham era moreno e áspero. A barba por fazer fez cócegas no queixo de Cynthia quando ele se curvou para beijá-la na bochecha. O avental branco que ela vestia a fazia parecer mais baixa e redonda que o normal. Ross gostava daquilo. Não puxe conversa com ele sobre dietas e perda de peso, musculação ou corridas.

    - Aproveita suas refeições, moça, e se cê voltar pra Alberta, no Canadá, comigo, eu te asso o bife Angus mais suculento que você já provou em um churrasco. E Club Whisky canadense com gelo.

    - Melhor do que o Beefeaters? Cynthia se referia ao gim.

    - Melhor do que gim com limão. Ross fazia drinques para eles com frequência naquela primeira semana, e fumava charutos cubanos dentro de casa, com as janelas abertas.

    - Melhor do que cocaína - ele disse.

    - Ô Ross. Cynthia torceu as mãos e estalou a língua. - O jeito que você fala. Caramba.

    O caubói Afro-Americano vestia jeans azuis desbotados com uma fivela redonda de níquel enorme, afivelada de um lado, embaixo da barriga. Havia um pacote de chicletes no bolso de trás. Quando estava na casa de Cynthia, ele tirava as botas. As botas eram bem trabalhadas, com dois centímetros e meio de salto, manchadas de suor, e tão apertadas que ele tinha que tirá-las sentado em uma longa calçadeira.

    Cynthia não acreditava nas suas histórias cômicas sobre seus ancestrais criando gado nas Hébridas, antes da expulsão das Terras Altas, antes dos seus bisavós imigrarem para o Canadá. Ela não era idiota. Ela sabia de Alberta, Montana, e dos Estados Unidos. A casa dele no Canadá, para ela, era o mesmo que Montana ou as Hébridas. Um caubói era um caubói.

    O que ele estava fazendo aqui, na Inglaterra? Em Berkshire? Em Maidenhead?

    Cynthia nunca havia encontrado uma figura como aquele cara moreno, de camisa xadrez e botas. Ela morava em uma habitação social em Maidenhead, parte do Bairro Real de Windsor e Maidenhead. Ross Graham tinha alugado um caminhão preto no aeroporto de Heathrow e partiu para o Bairro Real. Ele acabou em um pub em Maidenhead, onde o velho Tom Squire o levou até o alojamento de Cynthia, café da manhã incluso. Eles se deram bem logo de cara, e ela ofereceu lugar e refeições para ele pela semana inteira.

    - Onde está esse Príncipe de Gales? Perguntou Ross, no dia em que ele se instalou em seus novos aposentos. - Eu vim lá de Londres pra encontrar esse cara que vai ser o rei.

    Eles estavam sentados em um sofá de cetim rosa na sala de estar dela. Ela estava resolvendo questões de um teste da MENSA.

    - Você quer dizer o Príncipe Charles?

    - Sim. O cara que gosta de árvores e prédios antigos. Charles, Príncipe de Gales.

    Ross tirou um lápis e fez um floreio na equação com a qual Cynthia estava tendo dificuldades.

    - Tá aí. Isso completa a solução logarítmica do problema, Cynth.

    - Elegante - ela disse. - Essa era a única questão que tava difícil pra mim.

    O alarme de incêndio berrou. Vapor escapava da panela de pressão na cozinha.

    - Ah, caramba! - Ross largou o lápis. - Vai explodir.

    Cynthia se afundou mais no sofá do século 19.

    - Provavelmente.

    Ross grunhiu e admirou a solução dele.

    Cynthia espiou a reposta.

    - Ah, olha só, meu bem. Aqui diz que estamos no top três. Somos craques.

    Um assobio contínuo veio da cozinha, e a panela começou a chacoalhar no fogão velho.

    - É. Vai explodir - disse Ross. - Nunca confiei nessas panelas de pressão.

    - Batata, carne em conserva, nabo sueco pra todo lado - disse Cynthia. - Vai ser uma bela bagunça.

    - Rutabaga - disse Ross.

    Ele escolheu um charuto cubano de uma caixa de madeira e mordeu a ponta fora, então riscou um fósforo e o acendeu.

    Deu uma longa tragada no charuto fino. Cynthia abriu uma janela. O alarme de incêndio ainda berrava. Ela tirou a bateria e tentou salvar o ensopado. Uma golfada de vapor irrompeu da cozinha, um assobio agudo cresceu, e então a panela explodiu.

    Nabos suecos, batatas, carne e molho escorriam das paredes amarelas e do teto. Era visível até do quarto ao lado. Ross tragou o charuto novamente. O alarme de incêndio gaguejou por um instante e então parou. Cynthia soltou um gemido em lamentação.

    Ross começou a cantar, com um sotaque arrastado:

    - Cavalgue um cavalo de madeira até Banbury Cross, para ver uma fina moça em um cavalo branco.

    Anéis nos dedos e guizos nos tamancos, ela terá música...

    Por todos os cantos.

    Cynthia limpou as mãos no avental e desatou o nó nas costas.

    - Eu podia ter morrido - ela disse.

    - Bom, vamos comer fora hoje, né? - O alto afro-canadense levantou-se e começou a vestir as botas.

    - Boa ideia - disse Cynthia. - Só me dá um minuto. Ela apontou para um naco marrom e viscoso de carne escorregando parede abaixo, perto do medidor elétrico.

    - Seu caminhão ou o meu carro?

    - Minha carreta. Não curto a sua lata de sardinha. Ross contemplou o molho na parede.

    - Vou levar a carreta num

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