Navegar Chicago
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Pré-visualização do livro
Navegar Chicago - Vários autores
sumário
Capa
Folha de rosto
Introdução
Parte 1. Chicago só poesia
Em Chicago
Cidade ausente
Às margens da primavera
The Loop
Navegar Chicago
Hood is just the english word for bairro
Linha vermelha
Um bairro de Chicago
Broadway & Argyle
Adams & Wabash
Parte 2. Chicago toda prosa
A sereia do lago Michigan
Um blues com pneumonia
Tarde em Edgewater
A primavera invisível
A ambição de Mies van der Rohe
Soninho’s magnificent mile
O encontro com a Vitória
Conto de um Chicago Boy
Quando te pedem uma foto da neve
Thcicógou
Dia perfeito
Instantâneas
Sobre os autores
Créditos
introdução
Inicialmente idealizado para ampliar a formação de estudantes em letras inscritos nos cursos de português em instituições de ensino no exterior, o festival Printemps Littéraire Brésilien inscreve-se numa perspectiva pedagógica e se estende aos campos da promoção e divulgação da cultura e da literatura lusófonas. Desde a sua criação, em 2014, o evento já se consolidou como um importante espaço de discussão literária, potencializando leituras e enriquecedoras experiências culturais em torno da língua e da cultura de expressão portuguesa.
Com o patrocínio da Northwestern University a primeira edição do festival nos Estados Unidos aconteceu em 2018, seguida de uma segunda edição realizada em 2019, sob a coordenação geral dos professores Leonardo Tonus, (Sorbonne Université) e César Braga-Pinto (Northwestern University). Ambas contaram com a presença de renomados prosadores, poetas e ilustradores brasileiros e latino-americanos que durante vários dias participaram de debates, leituras, saraus literários e ateliês de escrita criativa. Nagevar Chicago dá continuidade ao projeto iniciado com as antologias Olhar Paris (2016) e Escrever Berlim (2017) que se propunham registrar a geografia sentimental praticada ou imaginada pelas escritoras e pelos escritores convidados do festival Printemps Littéraire Brésilien.
Realizado em parceria com a Editora Nós, o presente volume reúne textos da maioria dos participantes do evento na Northwestern em 2018 e 2019. Alguns deles não puderam integrar, por razões diversas, o presente volume. Por outro lado, incluímos poemas inéditos em português do premiado poeta Reginald Gibbons, professor na Northwestern. A antologia subdivide-se em duas partes que delineam alguns temas centrais da poética urbana. Para além do tradicional tópico do cidade-labírintica a que se conjugam a perda e a errância de vozes autorais não-autorizadas, Chicago surge nos textos apresentados como um possível espaço da hospitalidade. A entrega deste Navegar Chicago deixa, neste sentido, a sensação de tarefa cumprida nomeadamente no que tange à própria função da Printemps Littéraire Brésilien enquanto locus do afeto, do abrigo e da resistência. Ou como sugere a escritora Cíntia Moscovich no presente volume: em Chicago ser flor para dar primavera a quem precisasse. E para sempre ninguém soltar a mão de ninguém
.
A primavera em Chicago foi possível graças ao fomento do Departamento de Português e Espanhol, o Alice Kaplan Institute for the Humanities e o Buffett Institute for Global Studies, da Northwestern University. Nossos sinceros agradecimentos ao conjunto das instituições organizadoras, bem como às autoras e aos autores participantes que, durante estas duas edições, conosco navegaram Chicago sem nunca esquecer o lema de sua cidade-irmã francesa: Fluctuat nec mergitur, sacudido pelas ondas, [o barco] não se afunda. Pois mais que nunca, navegar é preciso!
os organizadores
PARTE 1
CHICAGO SÓ POESIA
EM CHICAGO
Leonardo Tonus
pelas improváveis ruas sem abrigo
rumo delizando sem prumo
o que não conheço.
calo-me diante da verticalidade horizontal
da cidade-vertigem que paralisa,
que me incisa.
aqui esqueço-me de tudo,
de minha origem,
do teu perfume.
esqueço-me do teu rosto
ao abandonar meu corpo
ao espaçamento que
a nada conduz.
simples caminho de mim a mim mesmo
em direção de um eu que outro já é.
pura tensão de uma possibilidade
que todo caminho induz.
CIDADE AUSENTE
Leonardo Tonus
nada direi da ausência de mim,
do abandono do meu corpo
ao silêncio do mundo,
ao mundo.
nada direi da cidade fora do lugar
que um dia ruínas fora
na espessura de um espaço,
sem estrias.
pela labirintidade de suas avenidas caminho.
sem parar caminho para frente,
para a direita caminho,
para a esquerda até o ponto cego,
sempre alheio caminho pela cidade–
ilha onde tudo é movência.
heterotopia de tempos e espaços,
Chicago é um lago ausente de referências.
ÀS MARGENS DA RIMAVERA
Pádua Fernandes
… a neve às margens da primavera
faz lembrar que aos olhos do centro
somente há margens ou espelhos;
as aulas às margens do lago às margens da neve
indagam se no centro da fala
temos o nado ou o naufrágio;
a literatura às margens das aulas às margens do lago
aposta que a neve e a primavera derreterão juntas;
a literatura estrangeira, às margens
da universidade às margens do lago às margens da metrópole,
segue trem abaixo para o centro:
os estrangeiros nos reconhecemos
antes da chegada à estação,
encontramos os pedintes e bêbados
que tornam vivos os caminhos,
os portadores da malha American Dream,
que integram esta terra
da mesma forma que as nações pertencem ao exílio,
no movimento de descida da periferia
sem o qual o centro queda imóvel;
o trem parte com o velho negro que vocifera
no idioma composto dos restos da garganta
e de algum silêncio tão antigo que esqueceu como calar-se
em meio à indiferença dos analfabetos desta língua
reconstruída mil vezes até a baldeação;
nela, retira-se amparado pela bengala do grito;
ouvimos na língua
a prática comunitária