Velas pandas, andas...: Ode Marítima e Os Lusíadas
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Sobre este e-book
Bruno Oggione
Bruno Oggione nasceu em 1990 na cidade do Rio de Janeiro. Graduado em Letras (UERJ) e mestre em Literatura Portuguesa (UERJ), compõe a equipe de produção editorial da Editora do Estado do Rio de Janeiro (EdUERJ). Além de integrar as coletâneas 3º prêmio literário Afeigraf (Scortecci), Não vão nos calar! (Persona), 1001 Poetas (Casa Brasileira de Livros), O que será do amanhã? (Censura Poética), Prosa poética (Persona), Zarpadas (Abarca) e Coletânea prosa poética 2023 (Persona), é autor dos livros Mãos de Ninguém (pequenas astúcias) (Morandi, 2021), Velas pandas, andas... – Ode Marítima e Os Lusíadas (Folio Digital, 2021), Do mar (Morandi, 2022), ondulações (Caravana, 2023) e Imperfeita solidão (Folheando, 2023). Tem trabalhos publicados nas revistas Mallarmargens, Aboio, Ruído Manifesto, Torquato, Tamarina, Sucuru, Pixé, Diversos Afins, Cultural Traços, Fluxos, D-Arte, Inversos, LiteraLivre, Fina, Mar de Lá, Cabeça Ativa, Trajanos, The Bard, Poesia na alma e Barbante.
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Velas pandas, andas... - Bruno Oggione
BRUNO OGGIONE
MARCUS ALEXANDRE MOTTA
VELAS PANDAS, ANDAS...
Ode Marítima e Os Lusíadas
Copyright © 2021 dos autores
Copyright © 2021 desta edição, Letra e Imagem Editora.
Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo
ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)
Grafia atualizada respeitando o novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Revisão: Priscilla Morandi
Imagem de capa: Marcelo Lins
CONSELHO EDITORIAL
Felipe Trotta (PPG em Comunicação e Dep. de Estudos Culturais e Mídia/UFF)
João Paulo Macedo e Castro (Dep. de Filosofia e Ciências Sociais/Unirio)
Ladislau Dowbor (Dep. de Pós-Graduação da FEA/PUC-SP)
Leonardo De Marchi (Faculdade de Comunicação Social/Uerj)
Luana Pinho (Faculdade de Oceanografia/UERJ)
Marcel Bursztyn (Centro de Desenvolvimento Sustentável/UNB)
Micael Herschmann (Escola de Comunicação/UFRJ)
Myriam Melchior (Instituto de Nutrição Josué de Castro/UFRJ)
Pablo Alabarces (Falculdad de Ciencias Sociales/Universidad de Buenos Aires)
Roberto dos Santos Bartholo Junior (COPPE/UFRJ)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
O34v Oggione, Bruno
Velas pandas, andas... Ode Marítima e Os Lusíadas / Bruno Oggione, Marcus Alexandre Motta ; ilustração da capa de Marcelo Lins. - Rio de Janeiro : Fólio Digital, 2021.
120 p. ; 14cm x 21cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-86911-12-1 (e-book)
1. Literatura brasileira. 2. Arte. I. Motta, Marcus Alexandre. II. Título.
2021-1886 CDD 869.8992
CDU 821.134.3(81)
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
Literatura brasileira 869.8992
Literatura brasileira 821.134.3(81)
www.foliodigital.com.br
Folio Digital é um selo da editora Letra e Imagem
letraeimagem@letraeimagem.com.br
www.letraeimagem.com.br
Para Marta Maria Crespo Rodriguez
(ela, ela, sem mais)
Marcus Alexandre Motta
Para Priscilla Morandi
para atravessar contigo o deserto do mundo
Bruno Oggione
SUMÁRIO
As Tintas
Postura
Bordo; a bordo
Loucura
Navio
Diário
Cais
Ondular
Seco
Referências
Este livro não é discurso, muito menos algo que se apresente poético. Se mantém o poemático, é por absurda navegação. Ele não explica e, quando compreende, resgata garrafas
sem mensagem nenhuma dentro. Só pensa ondulações. Os títulos dos seus bocados são rastros da matéria flutuante, a escapar das mãos. Cada um parte de algo e, quando chega ao seu final, atrai outro. Tão só acena. Cada entrada, portanto, só de modo acidental calha com o esperado. Desenha vazios impróprios, como aqueles que aparecem entre parágrafos. São eles os descansos da loucura
a mirar o aclarar da mente – maneira que arranjamos para fazer coincidir qualquer linha com o abandono de qualquer tema. E, por recurso indevido, é composição trincada. E, nas suas fendas, tantos outros fazem sinais. E os poemas, Os Lusíadas e a Ode Marítima, versam em qualquer dos nossos horizontes.
AS TINTAS
Tinta que desliza, e não desliza, a minha na tinta que parte quem escreve a escrita, sendo o que desliza e muito mais do que aquela que digo deslizar o que me é devido no espaço próprio do papel a viver do que se escreve, da escrita, do desenho, nas tintas que se derramam em ondas que há, cujo marulho, sem mais, verte fluxos e refluxos na tinta que lhes escreve – e digo, então, que a linguagem é raio que faço vir agora no respirar, o qual golpes de lápis sobre o papel sancionam. E, desde certo dia de outubro de 1939, nunca mais escrevi sem também desenhar (ARTAUD apud KIFFER, 2016, p. 51).
Parte a escrita do canto de alguém que pronuncia as ondas nessa, ou naquela, transparência, ou indireto, navegação, do que desliza, por acesso, ainda ondas de vida, tiradas ou dadas à partida. Existe sempre tinta vivaz em qualquer instância de aventura, e mesmo em qualquer tinta. Dívida ao vazio do silêncio que se viajaria, e se viaja, ou não viaja, mas parte, ou não, em cada onda vivida ou singrada. Navios que hão de partir por mares e céus, pois é verdade que é preferível ter o espírito ardente, por mais que tenhamos que cometer mais erros, do que ser mesquinho e demasiado prudente
(VAN GOGH, 2019, p. 26-27).
E a mão da mão embala o abismo de todos os livros, e escorrega na linguagem de qualquer cabo, por dentro e nas bordas insondáveis do mundo, e dobra-se nas costas que é a nossa, e range como se os barcos pequeninos de papel os pudessem atravessar, e assobia, e estende velas que são arranhadas pelos ventos, e frui as concavidades de cada um. E o que há por descobrir, por intelectualidade, já foi alcançado uma, duas, várias vezes – tudo está dito, e viemos tarde demais, há mais de sete mil anos que há homens que pensam: é assim que é preciso começar
(NANCY, 2016, p. 44). À medida que navego, o horizonte se torna mais distinto, mais intrincado nesse problema de distinguir sombras e luzes, pois o horizonte é uma linha escura sobre a linha clara do céu branco e azul
(VAN GOGH, 2019, p. 168).
Transparecer. Os poemas, Os Lusíadas e Ode Marítima, somente a si mesmos tocam. Tudo deve ser navegado aqui e ali. Não interessa, sabes, o espaço é infinito, / sabes, não precisas voar, / sabes, o que se escreveu em teu olho / aprofunda-nos o fundo
(CELAN, 2014, p. 91).
Experienciando, experienciando-se, ou experienciado, experienciado na experiência, experiencio o chamado das águas. A cadência da expedição desliza o risco das tintas, tanto dessa tinta que parte quanto de qualquer outra, sentida na escrita ou lida no silêncio de tintas vivazes na tinta dos espíritos. Na sombria neblina, os poemas são absorvidos, ressaltados, pela linguagem grisalha da arte, e a arte não é porventura mais, em sua forma suprema, que a infância triste de um deus futuro, a desolação humana da imortalidade pressentida
(PESSOA, 1974, p. 255). As tintas dormem sobre os vazios que deixam.
Tintas de espuma, tintas de sal, suspensas em veleiras viagens, viagens do que há muito repousam sob a espuma, nutrindo a intimidade, galgam seus giros. Divina, canta-me a espuma, a franja e a pérola das ondas no mar tinto, e a do amor que vem lavar os lábios, e aquela também que resta nos lábios do cantor, o canto findo, o mito disperso
(NANCY, 2016, p. 311). Tintas para cima, tintas para baixo. Corte e sangue. Desponta a escrita, o desenho, e um novo horizonte para o silêncio e o sentir se apresta. A tinta da escrita desliza e ondula na alvura da vela. A Ode Marítima e Os Lusíadas estão aqui, ou ali, ou mais além. Em sua partida. Não importa: quando começamos a considerar as coisas com um olhar livre e confiante, não podemos voltar atrás e nem hesitar
(VAN GOGH, 2019, p. 25).
Apesar do horizonte, a tinta experiencia e se experiencia em fluxos e refluxos. E durante mais algum tempo poderei ainda escrever e dizer isto. Mas um dia virá e a minha