O Livro dos Sonhos - A Vingança de Adolpho Mister
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Sobre este e-book
Renato Fulgoni
BIOGRAFIA - Renato Cosme Fulgoni nasceu em 27 de setembro de 1977, no Rio de Janeiro. Foi militar do Exército Brasileiro de 1996 a 2001, tendo sido condecorado com Honra ao Mérito pelos excelentes serviços prestados ao país. Em 1998, casou-se com Marcia Fulgoni, com quem tem dois filhos, Alexandre e Janayna. Em 2001, já em São Pedro da Aldeia, recebeu, em 2012, o título de Cidadão Aldeense pelos relevantes serviços prestados à cidade, sendo editor do jornal Notícias de São Pedro da Aldeia. Formou-se em Marketing pela Universidade Norte do Paraná em 2015 e se especializou em Mídias Digitais e Fotografia. Atualmente exerce a função de diretor de marketing, jornalista, fotógrafo e editor do Jornal Notícias de São Pedro da Aldeia. É Acadêmico da Academia de Letras e Artes da Região dos Lagos (ALeArt) e da Academia de Letras e Artes de Cabo Frio (ALACAF).
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O Livro dos Sonhos - A Vingança de Adolpho Mister - Renato Fulgoni
Adolpho Mister nasceu em 1443 em Domrémy, na França. Pertencia a uma família muito pobre, seus pais eram camponeses e levavam uma vida dura e muito trabalhosa. Na infância, ele trabalhou muito ajudando o pai na plantação de alimentos para o consumo próprio. O que sobrava, eles negociavam numa feira que era realizada todos os domingos. O pai de Adolpho nunca levava muita vantagem no escambo, pois suas hortaliças tinham pouco valor.
Em plena Guerra dos Cem Anos, a vida não era fácil para Adolpho Mister. Aos dez anos perdeu o pai, morto pela temida peste negra, transmitida pelas pulgas oriundas de ratos infectados pela doença. A peste tornara-se epidêmica por causa da falta de saneamento básico e das precárias condições higiênicas da Europa à época.
Um ano após a morte do pai, Adolpho Mister começou um estudo sobre sonhos. A mãe sentia muito orgulho do filho. Ela não sabia escrever, e ele, com apenas 11 anos, já escrevia e lia muito bem. Viúva, ela passou a confeccionar cestos de palha para poder sustentar a casa. Adolpho começou a colher dados sobre sonhos, cujos resultados ele mesmo observava. Logo pela manhã, ele perguntava para as pessoas o que elas haviam sonhado e passava a observá-las durante todo o dia. Adolpho Mister passou a ser conhecido como o Menino dos Sonhos.
Já com 18 anos, Adolpho tinha muitos textos escritos sobre o seu estudo e muitos moradores o consultavam antes de começarem o dia de trabalho.
- Adolpho, hoje eu sonhei que minha mão estava decepada - comentou um morador.
- Caro amigo, isso não é bom. Uma desgraça está por vir - disse Adolpho Mister.
Todos ficaram surpresos com a profecia do Menino dos Sonhos, pois naquele mesmo dia o casebre no qual o homem morava pegou fogo.
- Adolpho me salvou!!! Ele salvou minha vida! - gritava o morador.
Todos abraçaram Adolpho e ele passou a ser consultado por todos os moradores da cidade.
Aquela grande movimentação popular chamou a atenção da Igreja, que acionou o Tribunal da Inquisição, instituído na Idade Média para combater a heresia. Na época, qualquer ideia e doutrina contrárias às ideias e doutrinas cristãs eram severamente combatidas. Os condenados eram queimados vivos ou estrangulados.
Numa noite, Adolpho sonhou com um tigre.
- O inimigo deseja me prejudicar - disse ele, de posse do livro.
Adolpho tomou uma decisão que não agradou a mãe. Ele partiu, fugindo da Inquisição, deixando com ela o livro. Depois de fugir por meses, Adolpho Mister foi capturado e julgado culpado.
Adolpho Mister foi queimado vivo numa fogueira aos 18 anos de idade.
- Vocês irão pagar pela minha morte! A humanidade vai se arrepender de não valorizar a minha descoberta!
Essas foram as últimas palavras do Menino dos Sonhos antes de morrer queimado pelo fogo da Inquisição.
A enorme plateia ainda gritava:
- Morra, seu bruxo!
- Queime no fogo do inferno!
- Morra, seu feiticeiro!
Após queimarem Adolpho, os hereges ainda confiscaram os bens dele. Esse foi o motivo pelo qual Adolpho tinha abandonado a mãe, a qual guardou o livro do filho até a morte.
Um belo dia de sol iluminava um cartaz colado no poste, no qual se lia: Não percam a grande e inédita Feira de Antiguidades neste fim de semana, no Parque de Exposições Municipal.
- Olha! Essa feira eu não perco!
- Você não perde nenhuma, Marcelo... Só não quero que você se esqueça de pagar a fatura do nosso cartão de crédito, que irá vencer na segunda-feira - disse a mulher que o acompanhava.
- Eu sei, Letícia!
Marcelo era um historiador com muito prestígio na cidade. Ele lecionava no colégio e na faculdade e, por isso, era muito conhecido. O professor tinha cabelos castanhos, pele clara e olhos esverdeados. Casado com Letícia há dez anos, o casal tinha dois filhos, Juan, de 8 anos, e Beatriz, de 10. Letícia era bonita, com cabelos pretos e olhos da mesma cor.
A vida na cidade de Aroeiras era muito tranquila. Com uma população de mais ou menos cinquenta mil habitantes, ela estava longe de ser uma cidade de interior daquelas que têm uma praça com uma padaria, farmácia, mercearia, açougue e uma igreja. Aroeiras tinha um bom desenvolvimento e, com a cidade vizinha, Bela Vista, possuía um polo industrial e muitas riquezas naturais. Estas atraíam mais de setenta mil turistas por ano.
- Delegado André, o prefeito mandou chamá-lo.
- OK, Carlos! Peça que o avisem que já estou indo.
André era delegado há mais de quinze anos e era, praticamente, a lei em pessoa. O delegado era respeitado por todos.
Já na prefeitura, André foi conversar com Quiquinho do Churros, prefeito de Aroeiras.
- Bom dia, seu prefeito!
- Bom dia, delegado! Sente-se, eu chamei o senhor aqui porque quero saber sobre o esquema de segurança da feira de antiguidades.
O delegado explicou tudo para o prefeito, que aprovou o esquema.
De volta à delegacia, André conversou com Carlos, um de seus melhores investigadores, a fim de esclarecer todas as dúvidas relacionadas à grande feira.
O sábado amanheceu lindo e o parque abriu as portas por volta das dez da manhã. Marcelo foi um dos primeiros a entrar no salão da feira. Ele ficou perdido no meio de tantas antiguidades, mas um livro chamou a atenção. Na capa estava escrito: LE MYSTÈRE DES RÊVES par Adolpho Mister (O Mistério dos Sonhos
de Adolpho Mister). Marcelo pegou a obra e começou a folheá-la. Ele percebeu que o livro era uma raridade e não resistiu.
- Qual o preço?
- Essa bela raridade, do século XV, está saindo por apenas cento e cinquenta reais - disse o vendedor.
- Mas não tem nenhum desconto?
- Desconto não, mas podemos parcelar o valor.
- Fechado!
O livro era todo manuscrito em francês, o que atraiu mais o interesse do historiador. Dizia Marcelo que um manuscrito carregava, junto com ele, a alma do escritor.
- Mas que alma cara! - disse Letícia, que não gostou da compra do livro.
- Mas esse livro, meu amor, é uma antiguidade nunca vista antes.
- Como todas aquelas bugigangas que você tem no seu quarto de trabalho.
- Não são bugigangas, são antiguidades.
- Ah! São.
O clima ficou quente, e a briga só acabou com a chegada de Juan.
- Oi, pai! Oi, mãe!