Comunicação e poder: Transparência pública, pós-verdade e inovação no mundo digital
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Sobre este e-book
Os autores buscam apresentar diversas abordagens e aspetos do fenômeno chamado "comunicação e poder", destacando que, quando assume compromisso com a verdade dos fatos, pode auxiliar na construção da história.
Ao longo dos capítulos, são discutidas questões como o acesso a informação, o uso estratégico (e as vezes prejudicial) das redes sociais, sobretudo na construção de imagem.
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Comunicação e poder - Alexsandro Teixeira Ribeiro
APRESENTAÇÃO
O advento das novas tecnologias tornou a comunicação fundamental nos processos de sociabilização cotidianos, privilegiando a expressão de ideias e opiniões como estratégia de informação. As experiências que transitam nas plataformas digitais propõem formas de expressão e de comportamentos que, por estarem no espaço virtual, constroem e divulgam conhecimento sobre os diferentes aspectos da linguagem que praticamos, baseados nas experiências midiáticas e também de mediação. A produção de conhecimento proposta nessa obra Comunicação e Poder: transparência pública, pós-verdade e inovação no mundo digital busca destacar a importância das linguagens e dispositivos essenciais para a comunicação e a sociabilidade num mundo de conexões, interações e discursos quase sempre midiatizadas e tecnológicas.
Esta publicação traça o percurso dos saberes por meio de cinco abordagens, a saber: A era do rádio: uma comunicação ibero-americana de Alberto Carlos de Souza que trata do surgimento do rádio e seus impactos na historiografia musical brasileira nos últimos anos do século XIX e os primeiros do século XX; Acesso à informação como ferramenta de transparência e de apuração jornalística de Aleksandro Ribeiro que aborda a comunicação como um direito do cidadão, e o acesso aos meios de produção de informação como forma de inclusão social, discutindo a Lei de Acesso à Informação (LAI) como um dispositivo de transparência pública; Sensacionalismo no discurso jornalístico: a construção do escândalo na notícia de Deborah Gomes de Paula e Regina Célia Pagliuchi da Silveira defendem que a construção textual-discursiva, por exemplo, da notícia, no mundo moderno, já não opera mais com o inusitado, mas com o impacto que a informação causa de modo a provocar determinada reação no leitor – dar adesão ou não ao ponto de vista apresentado; Entre performance e desestabilização: a atuação midiática do Presidente Jair Bolsonaro no seu papel de liderança frente à pandemia de Mariana Tenório de França Moura que discute a configuração da comunicação adotada pelo presidente Jair Bolsonaro e os contextos de desinformação que proliferam por todo o mundo, muitas vezes impulsionados por mídias partidárias, que dizem se opor à imprensa tradicional com versões alternativas dos fatos; Imagem governativa, democracia e media: uma breve revisão bibliográfica face ao desaparecimento da 1ª dama de Angola em tempo de pandemia de Paulo António Lucas evidencia que a crise sanitária atual, Covid-19, propiciou alguns fenômenos discursivos na questão do desaparecimento da primeira-dama de Angola.
É possível perceber, por esta breve apresentação, que a presente publicação é multidisciplinar e poderá ser entendida como perspectiva para a orientação do desenvolvimento de leitores e leituras proficientes. Não apenas no ambiente universitário, mas também na coexistência e convivência nas variadas relações sociais.
Prof.ª Drª Deborah Gomes de Paula
Docente do Curso de Graduação em Letras Licenciatura e Bacharelado nas Línguas Portuguesa e Inglesa na Universidade Paulista (Unip)
1. A ERA DO RÁDIO: UMA COMUNICAÇÃO IBERO-AMERICANA
Alberto Carlos de Souza
Um registro, no entanto, se faz necessário: no tocante à música dramática, entre o final do século XVIII e início do século XIX, a voz da soprano fluminense Joaquina Maria da Conceição da Lapa, conhecida como Lapinha, cantou e encantou o Brasil e Portugal. Trata-se da única cantora, ao longo de três séculos, de quem a história guardou o nome (Leeweun; Hora, 2008).
A voz de Lapinha perdeu-se no tempo: que falta nos fez o rádio!
Até o final do século XIX não dispomos de nenhuma investigação crítica que reflita nossa historiografia musical ou que busque relacionar obras universais que tiveram influência sobre o pensamento musical brasileiro. Até esse período, também, não havia recursos tecnológicos – nacionais ou importados –, que permitissem o registro musical.
Assim posto, a música brasileira, desde o século XVI – ponto de partida de nossa colonização –, até o início do século XX, é órfã de uma genealogia:
Infelizmente não dispomos, também, de nenhuma genealogia das obras musicais, brasileiras e/ou universais, que tenham tido ponderável influência sobre o gosto e sobre a criação musical entre nós. E aí incluiríamos os tratados teóricos, as atividades pedagógicas e as próprias condições objetivas, no plano sócio-cultural, de sua disseminação e influência relativa. (Duprat, 1989, p. 33)
Sobre as sensibilidades, Pesavento (2008) entende que estas traduzem emoções, sensações e experiência. Afirma, também, que é tarefa do estudioso em História buscar as evidências que lhe permitam apreender tais percepções.
Sob a inspiração de Nora, apontamos – a partir de fontes secundárias – os avanços tecnológicos que possibilitaram a invenção do rádio e os acontecimentos que marcaram, no Brasil, a sua difusão midiática: um lugar de memória, ainda que cheio de lacunas, da nossa história do rádio.
A memória é fato social, portanto, é arma como o rádio. Aliás, como afirmou Hobsbawm (1995), o papel do historiador é lembrar. Para lembrar é preciso constituir memória. Uma forma específica de memória cujo compromisso com a verdade lhe dá sentido. A memória como arma
constitui-se como uma das alavancas deste estudo; compromisso com a história cultural dos primórdios (registrados) e das sensibilidades despertadas pela música brasileira.
O conceito de lugares de memória, conforme concepção de Nora (1992), foi a baliza norteadora deste estudo que versou sobre a criação do rádio e de sua difusão enquanto dispositivo de comunicação de massa até os meados do século XX.
A Teoria dos Lugares de Memória foi formulada tendo como escopo os seminários orientados por Pierre Nora entre 1978 e 1981, na École Pratique des Hautes Études – em Paris. A partir de 1984, sob sua direção, iniciou-se a edição de Les lieux de mémoire, uma obra que, partindo da constatação do rápido desaparecimento da memória nacional francesa, propôs o inventariamento dos lugares onde ela ainda se mantinha de fato encarnada, graças à vontade dos homens e apesar da passagem do tempo. Para Nora, símbolos, festas, emblemas, monumentos, comemorações, elogios, comunicação, dicionários e museus são também lugares de memória.
O rádio: um salto cultural para a música popular moderna
Em 1877, Thomas Edison inventou o fonógrafo de cilindro mecânico – o primeiro aparelho de reprodução sonora. Com o fonógrafo estava inaugurada a era mecânica da tecnologia de áudio; esse dispositivo, que utilizava cilindros de cera como mídia para gravação dos sons (que eram gravados em forma de cavidades), chegou ao Brasil dois anos após a sua invenção, ou seja, em 1879. O cilindro de cera foi a principal mídia para consumidores em larga escala entre 1890 e 1910 (Sonoda, 2010).
O fonógrafo de cilindro mecânico possibilitou que os últimos anos do século XIX e os primeiros do século XX se constituíssem como um importante marco para a historiografia musical brasileira, pois é a partir desse período que se dão os primeiros registros fonográficos musicais.
Na perspectiva tecnológica, o ponto de ruptura a caminho de uma nova era – a era magnética –, se deu em 1893, em Cambridge, na Inglaterra, quando as ondas eletromagnéticas foram demonstradas teoricamente pelo físico James Clerck Maxwell. A partir desse evento, outros pesquisadores, entre eles o alemão Rudolph Hertz (1857-1894), se interessaram pelo eletromagnetismo (Sonoda, 2010).
Para Sonoda (2010), coube a Hertz a primazia de demonstrar o princípio da propagação radiofônica, em 1887, fazendo saltar faíscas através do ar que separavam duas bolas de cobre: estava